De: Roberto Segre
Para: Maria Lucia Leone Massot
Enviada em: segunda-feira, 23 de outubro de 2000 22:40
Assunto: Re: Favela Bairro
Vou ler o seu homepage. Mas acho que você enviou o
mail ao pessoa errada, porque eu sou um dos críticos de
arquitetura que mais divulgou o programa Favela Bairro no
mundo. Acaba de aparecer um livro em Itália sobre a
arquitetura popular no Terceiro Mundo, com as propostas, e eu sugeri
a obra de Jorge Jauregui e as suas intervenções para
obter um prêmio mundial de urbanismo que oferece Harvard. Ele
ganhou o premio.
Atenciosamente,
Roberto Segre.
Maria Lucia Leone Massot wrote:
Prezado Senhor,
Gostaria que acessasse a homepage abaixo. Nem todas intervenções urbanas
tiveram sucesso, pelo contrário, muitas por erro de projeto, da proposta e
conflitantes com as leis vigentes, causaram conflitos sociais, o que é
inadmissível.
Maria Lucia Massot
De: Roberto Segre
Para: Maria Lucia Leone Massot
Enviada em: quarta-feira, 25 de outubro de 2000 00:58
Assunto: Re: Favela Bairro
Prezada Maria Lucia, não vou entrar em um debate
infinito com você até ler o seu texto. Só desejo
esclarecer que não é necessário morar dentro o
perto das favelas para conhecer o que acontece. Para tirar as suas
possíveis dúvidas, tenha conhecimento que sou um
arquiteto revolucionário, que morei 31 anos em Cuba
socialista, cortei cana de açúcar sete anos, foi
assistente de pedreiro nas Microbrigadas, e morei sempre em uma casa
tipo "mutirão", daquelas onde não moram os
arquitetos brasileiros. Acredito que tenho experiência
suficiente para compreender o que acontece nas favelas do
Rio.
Atenciosamente,
Roberto Segre.
Maria Lucia Leone Massot wrote:
Sei perfeitamente quem é o senhor e por isso o estou contatando. Um crítico sobretudo de arquitetura tem que saber o que se passa para divulgar algo. Caso contrário não é crítico, mas relações públicas. Que bom que Jorge Jauregui recebeu um prêmio em Harvard por indicação sua. Talvez eu também possa sair daqui, isto é, da favela criada pelo Poder Público, e defendida pelo senhor, na minha porta. Ganhei em 1ª Instância 150.000 UFIRS, n 5ª Vara de Fazenda Pública pela desvalorização da minha casa pelo Favela Bairro Canal das Taxas. É óbvio que isso não será dito em Harvard. Essa será a primeira ação contra o Favela Bairro das muitas que certamente virão para parar a irresponsabilidade do Poder Público e de críticos de arquitetura. O senhor mora dentro ou perto de um Favela Bairro? Obrigada,
Maria Lucia Massot
arquiteta
De: Maria Lucia Massot
Para: bobsegre@uol.com.br
Enviada em: quarta-feira, 25 de outubro de 2000 02:03
Assunto: Re: Favela Bairro
Prezado Senhor Roberto Segre,
Não vou aborrecê-lo mais.
Obviamente, os arquitetos brasileiros jamais moraram em casas de "mutirão". Sobretudo muitos não puderam ir para Cuba e trabalhar cortando canas e de ajudante de pedreiro. Alguns, como eu, trabalharam como babá em Paris, mas isso é apenas uma elite.
Tenho entretanto as mesmas mãos que ajudaram um pedreiro Daniel, morador da favela Canal das Taxas assassinado em 1997 dentro da favela, a colocar pedras nas paredes e pisos de minha casa.
Nós, os arquitetos brasileiros não temos grande importância: nem ao menos somos ouvidos quando Harvard premia por sua indicação.
Certamente Cuba não é muito parecida com o Rio de Janeiro, que está mais para Miami.
Agradeceria que acessasse na minha homepage entre as inúmeras reportagens as abaixo citadas:
Morar na Rocinha é tão caro quanto em Copacabana
Agradeceria ainda que lesse os artigos da socióloga brasileira Licia Valladares, que também se encontra na minha homepage, e que morou 20 anos na favela da Rocinha, estudando a mesma e hoje dá aulas na Universidade de Paris.
Para finalizar veja também:
Déficit Habitacional do Estado do Rio de Janeiro
Vou aguardar ansiosa sua resposta após ler minha homepage.
Em tempo: não estou discutindo, apenas colocando meu ponto de vista com é comum numa democracia, mesmo capenga como a nossa.
Um abraço
Maria Lucia
De: "roberto segre"
Para: "Lucia"
Enviada em: terça-feira, 31 de outubro de 2000 08:26
Assunto: Favela Bairro
Prezada Maria Lúcia,
fico costrengido com o
seu problema. Tomara que tevesse ganho as eleções
Benedita, para ver se conseguia ajuda. Triste destino o da classe
média no mundo, tem sempre as de perder. Por esso, eu passei
da alta burguesia (na Argentina) ao proletariado (em Cuba). Agora, no
Brasil, acho que eu também fico na classe média, mas
por sorte sem dineiro ne propriedade nenhuma....
Um abraço,
Roberto Segre.