Reportagens 2007 (continuação II)
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Reportagens (continuação) |
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Reportagens 2007
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Tópico 26 Missão possível |
Tópico 27 Força-tarefa sobe Chácara do Céu, derruba
puxadinho e notifica donos de casas irregulares |
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Topo TÓPICO 1
Foco na casa popular |
Jornal O Dia, 21/out
Ministro Mantega recebe propostas de combate ao déficit habitacional
O sucesso no setor habitacional mexicano também atraiu o presidente do Sinduscon-SP, João Cláudio Robusti, e mais 25 empresários. Eles estiveram em março no México para conferir os métodos usados na
construção de moradias
populares, o modelo de negócios das empresas e o sistema de financiamento. A visita técnica rendeu um estudo, em parceria com a FGV Projetos, contendo 10 propostas para incrementar a produção de habitação de
baixa renda no Brasil. O material foi entregue no início deste mês ao ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Dentre as sugestões, es-"tão a criação de um novo programa do FGTS, para a concessão direta de financiamento aos titulares de contas ativas ou inativa do Fundo de Garantia; a criação de um fundo com recursos
do Orçamento, que forneceria seguro de crédito aos agentes financeiros; e a racionalização da concessão de subsídios, para atender a um número maior de famílias que as assistidas atualmente.
Mantega prometeu analisar as propostas, com sua equipe. "Estamos dispostos a tomar as medidas necessárias para que o mercado cresça ainda mais", afirmou.
Para Robusti, o empresariado está tendo a ousadia de apresentar ao governo as medidas que, trabalhadas em conjunto, podem ajudar a erradicar o déficit habitacional no Brasil. Ele explica que um dos maiores
desafios é modificar a cultura brasileira, que rejeita a implantação de conjuntos habitacionais em larga escala:
"Precisamos mudar essa cultura. No México, o modelo é plenamente aceito e são comuns empreendimentos com 60 mil unidades".
Para o presidente do Grupo AGM, Augusto Martinez, o Brasil precisa aperfeiçoar algumas etapas do processo para viabilizar em larga escala a produção de imóveis para a baixa renda. Dentre as medidas, a
ampliação do prazo de financiamento, a redução dos juros, a melhora da legislação ambiental e mais agilidade na aprovação dos projetos populares.
"Para aprovar um projeto como esse, levamos pelo menos seis meses. No México, em dois meses, o governo libera a construção de um empreendimento com 60 mil unidades", explicou Martinez. Ele lembra que, no
México, a taxa de juros é de 4% ao ano e o prazo de pagamento, de 30 anos. |
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TÓPICO 2
Lopes anuncia nova divisão para atender à baixa renda |
Valor, Patrícia Nakamura, 23/out
A Lopes criou uma unidade de negócios, a Habitcasa, voltada para comercialização de imóveis para o mercado de baixa renda. A empresa estima colocar à venda cerca de 44 mil unidades em todo o país em até 12
meses, o que pode garantir um volume geral de vendas (VGV) de R$ 5,1 bilhões, de acordo com o diretor de novos negócios da empresa, Tomás Salles.
As unidades custarão entre R$ 60 mil e R$ 180 mil, faixa de preço que já é responsável por 50% do volume de vendas da Lopes. A metragem dos imóveis varia entre 45 e 65 metros quadrados, com até três
dormitórios. São Paulo vai concentrar até 50% dos lançamentos; Rio de Janeiro e a região Sul, 45%; o Nordeste ficará com o restante. "A princípio vamos concentrar as vendas nas capitais e depois
direcionaremos as vendas para outras grandes cidades
do interior". Salles disse acreditar que este é o filão com maior potencial de crescimento no país, por conta do déficit de 7,2 milhões de moradias no país. "O crescimento da renda e o maior acesso ao
crédito vão contribuir para o desenvolvimento desse mercado", afirmou.
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Voltar ao Topo TÓPICO 3
Xeque-mate contra favelização |
Jornal do Brasil, Duilo Victor, 23/out
A tomada do final da ladeira por traficantes armados com fuzis do Morro dos Cabritos, a poucos metros da Rua Sacopã - área onde moradores pagam, em média, R$ 2.500 de IPTU - levou a Secretaria Estadual de
Segurança Pública a aceitar a proposta de instalação de um destacamento militar no parque municipal invadido pela favela. Tiroteios e ameaças a moradores se tornaram freqüentes desde o início do ano,
inclusive ontem quando, pela manhã, a PM travou batalha de 20 minutos e feriu um bandido, além de aprender seis quilos de maconha.
O conflito ocorreu depois que a presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, vereadora Aspásia Camargo (PV), pediu proteção policial para fazer uma vistoria nos parques municipais Fonte da Saudade e
José Guilherme Merquior, em que um dos acessos é pela Rua Vitória Régia, pequeno trecho em seguida à Rua Sacopã. Como representante da Secretaria de Segurança, o coronel Aristeu Leonardo mapeou o local e
constatou que o tráfico tomou uma região onde, sob o ponto de vista militar, é estratégico para impor o poder de fogo em outras favelas da Zona Sul.
- O bandido tem, a partir do parque, uma visão privilegiada de Copacabana, Ladeira dos Tabajaras e Botafogo - avaliou o coronel. - A expansão da favela em área de proteção ambiental não pode ser atribuída à
falta de cooperação da polícia para proteger a fiscalização da prefeitura. Sempre que for solicitado, daremos apoio, como fizemos desta vez.
A medida tem o apoio da Secretaria Estadual do Ambiente. Segundo o coronel Leonardo, para permitir a instalação de um destacamento florestal, é necessário que a prefeitura delimite a área do parque. Ontem,
na vistoria, um técnico de Meio Ambiente da prefeitura teve dificuldades em apontar onde começava o Parque Fonte da Saudade.
De acordo com moradores ouvidos pela Comissão de Meio Ambiente, é comum o acesso de caminhões carregados de materiais de construção pela Rua Sacopã, para atender a expansão da favela. No Morro dos Cabritos é
possivel flagrar pilhas de tijolos, sacos de cimento e prédios com até quatro andares. O tiroteio de ontem não foi o primeiro: em março uma operação policial para flagrar furtos de água da Cedae na Rua
Vitória Régia só começou depois que policiais civis trocaram tiros com traficantes por 10 minutos.
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Voltar ao Topo TÓPICO 4
Favelização das encostas aumenta riscos de desabamentos |
O Globo Online, 26/out
Cidade cercada por montanhas, o Rio tem favelas cravadas em grande parte das suas encostas. De acordo com reportagem publicada na edição desta sexta-feira do Globo, a peculiaridade, além de evidenciar um
problema social, aumenta os riscos de desabamentos. Nessas comunidades, as construções são precárias, já que os moradores não condição de arcar com as obras de contenção.
Os exemplos não faltam: na Rocinha é possível observar barracos próximo a uma das embocaduras do Zuzu Angel. Na Central do Brasil, casas do Morro da Providência estão construídas logo acima do Túnel João
Ricardo. O mesmo se repete nas imediações do Túnel Santa Bárbara e na Avenida Niemeyer. Além da ocupação desordenada, o lixo despejados nas encostas também deixam o solo ainda mais vulnerável.
- O risco cresce à medida em que o imóvel é construído numa encosta cujo grau de inclinação é mais elevado. Muitas vezes se passam anos sem que haja qualquer problema. E de repente ocorre um deslizamento,
após um temporal. Isso acontece porque as construções foram erguidas em pontos que são cursos de escoamento das águas de chuvas - explicou o professor Willy Lacerda, do Departamento de Geotécnica da Copee/UFRJ. |
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TÓPICO 5
Xeque-mate contra favelização |
Jornal do Brasil, Duilo Victor, 23/out
A tomada do final da ladeira por traficantes armados com fuzis do Morro dos Cabritos, a poucos metros da Rua Sacopã - área onde moradores pagam, em média, R$ 2.500 de IPTU - levou a Secretaria Estadual de
Segurança Pública a
aceitar a proposta de instalação de um destacamento militar no parque municipal invadido pela favela. Tiroteios e ameaças a moradores se tornaram freqüentes desde o início do ano, inclusive ontem quando,
pela manhã, a PM travou batalha de 20 minutos e feriu um bandido, além de aprender seis quilos de maconha.
O conflito ocorreu depois que a presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, vereadora Aspásia Camargo (PV), pediu proteção policial para fazer uma vistoria nos parques municipais Fonte da Saudade e
José Guilherme Merquior, em que um dos acessos é pela Rua Vitória Régia, pequeno trecho em seguida à Rua Sacopã. Como representante da Secretaria de Segurança, o coronel Aristeu Leonardo mapeou o local e
constatou que o tráfico tomou uma região onde, sob o ponto de vista militar, é estratégico para impor o poder de fogo em outras favelas da Zona Sul.
- O bandido tem, a partir do parque, uma visão privilegiada de Copacabana, Ladeira dos Tabajaras e Botafogo - avaliou o coronel. - A expansão da favela em área de proteção ambiental não pode ser atribuída à
falta de cooperação da polícia para proteger a fiscalização da prefeitura. Sempre que for solicitado, daremos apoio, como fizemos desta vez.
A medida tem o apoio da Secretaria Estadual do Ambiente. Segundo o coronel Leonardo, para permitir a instalação de um destacamento florestal, é necessário que a prefeitura delimite a área do parque. Ontem,
na vistoria, um técnico de Meio Ambiente da prefeitura teve dificuldades em apontar onde começava o Parque Fonte da Saudade.
De acordo com moradores ouvidos pela Comissão de Meio Ambiente, é comum o acesso de caminhões carregados de materiais de construção pela Rua Sacopã, para atender a expansão da favela. No Morro dos Cabritos é
possivel flagrar pilhas de tijolos, sacos de cimento e prédios com até quatro andares. O tiroteio de ontem não foi o primeiro: em março uma operação policial para flagrar furtos de água da Cedae na Rua
Vitória Régia só começou depois que policiais civis trocaram tiros com traficantes por 10 minutos. |
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TÓPICO 6
Sem verba, com favela |
Jornal do Brasil, Duilo Victor, 24/out
No lugar de policiais, barreiras de cabo-de-aço. A secretária municipal de Meio Ambiente, Rosa Fernandes, vai cercar três parques municipais que fazem limite com o Morro dos Cabritos - favela instalada entre
Copacabana,
Botafogo e Lagoa - para controlar a ameça de invasão da área verde pela construção civil irregular. O anuncio veio um dia depois que a presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal, Aspásia
Camargo (PV), propôs a união administrativa dos parques - Guilherme Merquior, Catacumba e Fonte da Saudade - para facilitar a instalação de um destacamento da Polícia Militar no local e proteger moradores da
ação de traficantes armados. O motivo é a falta de verba.
Na segunda-feira, a Secretaria Estadual de Segurança, por meio de um representante enviado para vistoria da comissão na favela, informou que a união dos parques seria condição para iniciar a análise de
instalação de uma unidade florestal da PM na área de proteção ambiental.
Rosa Fernandes, no entanto, informou que para garantir a união dos parques seria necessário pagar indenizações para donos de terrenos e casas que estiverem no caminho, o que exigiria dinheiro que a
prefeitura não tem.
- Temos que cuidar do que cabe à minha pasta, que é preservar o verde. Para isso é que vamos instalar os eco-limites. A presença do tráfico na comunidade é questão de segurança pública.
A denúncia da vereadora Aspásia, no entanto, vai além do domínio do tráfico e menciona a expansão do Morro dos Cabritos, sobretudo de maneira vertical, com prédios de até quatro andares, é explorada por um
esquema de construção civil pirata, como já foi constatado pela CPI na Rocinha.
- Recebi relatos de moradores que pagam R$ 300 pelo aluguel de um quarto na favela. Está claro que o dinheiro que financia a expansão vem de fora.
Além dos prédios e do acesso da favela pela Rua Vitória Régia, a comissão registrou também um depósito de tijolos no interior dos Cabritos, o que, segundo a vereadora, é indício de que o mercado imobiliário
paralelo está em franca atividade.
- Em vez de investir em habitação e tirar os moradores das condições insalubre a que são submetidos, a prefeitura gasta dinheiro com a construção de passarelas e escadas que só legitimam a irregularidade.
A secretária de Meio Ambiente nega que a favela tenha invadido a área protegida do parque. |
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Topo TÓPICO 7
Estudo aponta favelização como causa do aumento de 130% dos casos de deslizamentos |
O Globo Online, 30/out
O número de deslizamentos de terra cresceu 130% entre 1997 e 2004, de 3.984 para 9.184 casos. As ocorrências desse tipo cresceram de carona dn expansão das favelas. O levantamento e a conclusão constam em uma
tese de mestrado da arquiteta atamento constam na tese de mestrado da arquiteta e ex-funcionária da Defesa Civil, Cláudia Muniz, e foi defendida em março no Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Escola
Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP-Fiocruz).
Conforme o estudo, até 1986 a maioria dos deslizamentos se devia a fenômenos naturais. Naquele ano, os registros provocados pelo acúmulo de lixo e aterro nas favelas, além de resíduos de pedreiras abandonadas,
assumiram a
liderança. De janeiro de 1997 a fevereiro de 2005, os bairros com maior ocorrência de deslizamentos ou que registraram ameaças de queda de encostas foram: Jacarepaguá (320), Tijuca (250), Ilha do Governador (152)
e Rio Comprido (137), segundo a tese. Para a Defesa Civil, porém, o que aumentou foi o número de deslizamentos, mas sim o de atendimentos por parte do órgão. |
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Topo TÓPICO 8
Em 2004 já existiam 139 favelas na região |
Jornal do Brasil/ Barra/02/11/07
Em 2004 já existiam 139 favelas na região.A taxa de crescimento chega a 10% ao ano
Mais um exemplo na Vila Taboinha
O crescimento da comunidade Vila Taboinha, em Vargem Grande, engrossa as estatísticas do aumento do índice de favelização na região. Vizinha da comunidade Rio Bonito, Taboinha começou a ser erguida há pouco
mais de um ano,em área de preservação permanente. A construtora Debret, que abriu falência há mais de quatro décadas, foi apontada como principal proprietária de um dos terrenos invadidos. Os líderes da
ocupação foram o segurança Narciso Evangelista de Oliveira e o funcionário público Dorceli dos Santos Pereira, presidente e vice da associação de moradores de Taboinha. Até o ano passado, eram 150 famílias
cadastradas na associação dos moradores. Em menos de seis meses, o número dobrou. Segundo Narciso Evangelista de Oliveira, atualmente 300 famílias dividem o espaço de cerca de 60 mil metros quadrados.
Tratava-se de uma área improdutiva e abandonada há mais de 40 anos. Isso não foi invasão, mas ocupação em busca de moradia. Aqui não tem tráfico nem milícia. Seguimos Jesus. Estamos fazendo o que a
prefeitura não fez, arrumar moradia para os menos favorecidos. Existem muitas áreas abandonadas e improdutivas nas Vargens lamenta Narciso. Em breve, levantaremos casas de alvenaria e centro social que
está sendo criado. Daremos assistência não somente a nossa comunidade, mas outras vizinhas. Em fevereiro, a prefeitura tentou coibir a invasão, pelo menos quatro vezes, através de ações da subprefeitura da
Barra, com apoio da Comlurb, Polícia Militar e patrulha ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smac). Apesar da remoção de 92 barracas de lona e alguns integrantes terem sido fichados na
polícia, a invasão continuou. Vila Taboinha já tem telefone público e projeto de centro social. Quando soubemos da invasão, tomamos providências cabíveis, mas por se tratar de uma área particular, os
proprietários já entraramcom ação e reintegração de posse, que está sub judice explica o subprefeito da Barra, André Duarte. Fizemos ações recentes para evitar a proliferações de construções irregulares,
no Largo de Vargem Grande, comunidade Beira Rio e na Rua Santa América. Invasões irregulares podemcausar danos irreversíveis ao meio ambiente. É o que atesta o ambientalista e professor da Unigranrio, David
Zee. As comunidades são erguidas em áreas não edificantes, sem plano de estudo, geralmente na beira de lagoas ou em áreas de risco. Por não haver a utilização de tecnologia adequada, o solo pode ser
prejudicado, causando graves problemas para o ecossistema diz o ambientalista David Zee. Ele aponta a necessidade imediata de ações de fiscalização do governo na contenção das invasões irregulares. Não
adianta esperar a construção de 10 barracos para tentar remover as famílias. É preciso que o governo corte o mal pela raiz, fiscalizando as áreas freqüentemente. Principalmente em Rio das Pedras, a favela
que mais cresce e encontra-se em área de fragilidade ambiental. A população está em contato
CAOS URBANO
Pesquisas do IPP e do IBGE confirmam dados. Cesar Maia vê `dinâmica positiva`
Baixada de Jacarepaguá lidera ranking de favelização no Rio
ARQUIVO JB/EVANDRO TEIXEIRA
Rio das Pedras, em Jacarepaguá, apresenta o maior crescimento populacional da região. O número de habitantes podechegar a 90 mil, segundo a associação de moradores
Pat Zinger
A Baixada de Jacarepaguá é a re- gião com maior índice de crescimento de favelas no município. Um estudo contratado pelo sistema da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan),
baseado no cadastro do Instituto Pereira Passos (IPP), já apontava 139 favelas na região, em 2004, enquanto que as zonas Sul, Norte e Central contabilizavam 80 favelas, indicando que o crescimento das
comunidades no Rio não foi homogêneo. O maior aumento da favelização está concentrado especialmente na área de planejamento 4 (Jacarepaguá e Barra) com taxas de crescimento respectivas de 7,5% e 10% ao
ano. A favela Rio das Pedras é apontada como a com maior aumento populacional. Segundo o IBGE , 43.900 habitantes vivem no local, mas a associação de moradores diz que o número pode chegar a 90 mil. A
comunidade Comandante Luís Souto, na Praça Seca Muzema, e Morro do Banco, no Itanhangá,são outras áreas que crescem desenfreadamente. Já o Canal do Arroio Pavuna foi parcialmente desocupado pela
Secretaria municipal de Habitat, enquanto que outras 56 favelas analisadas na Baixada de Jacarepaguá tiveram a área ampliada e 76 permaneceram no mesmo espaço. A prefeitura realizou intervenções do
Favela-Bairro e obras em muitas comunidades da Baixada de Jacarepaguá, entretanto, não possui projeto em pauta para evitar a proliferação das favelas no Rio. Segundo o IBGE, o município do Rio terá 1,3
milhão de moradores em favelas em 2010, representando 210 mil a mais do que 2000, se não houver políticas públicas para conter o aumento populacional nas favelas da cidade. O vereador Luiz Antônio Guaraná
(PSDB), que preside a Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal, atribui à falta de políticas habitacionais do governo, voltadas para a baixa renda, como principal fator da proliferação das
favelas. Temos uma legislação complicada, que encarece a construção civil voltada para os menos abastados diz Guaraná. Outro fator é a falta de fiscalização da prefeitura, que espera a formação de uma
comunidade para depois verificar o processo de favelização. Se continuarmos assim, daqui a 10 anos estaremos vivendo sob julgo dos traficantes lamenta o vereador. O conselheiro do Conselho Regional de
Arquitetura e Engenharia (Crea-RJ), Canagé Vilhena, relembra que o Plano Lúcio Costa foi traçado sem esquecer das moradias populares. Mas, no entanto, não foi cumprido à risca. O Plano Lúcio Costa
previa um crescimento paralelo ao desenvolvimento imobiliário da região. Por isso, indicava a importância de áreas desapropriadas pelo Estado para absorver a população, a maioria de mão-de-obra que vinha
em busca de emprego
e queria se fixar nas proximidades do trabalho. Infelizmente, isso não ocorreu diz Canagé. Já o prefeito Cesar Maiaacredita que o crescimento das favelas está contido, diferentemente do que aponta os
números das pesquisas realizadas pelo IPP e IBGE. A taxa de crescimento fortemente decrescente mostra que, com exceção da migração, o processo está em dinâmica positiva respondeu o prefeito, por
e-mail. |
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TÓPICO 9
Moradia: fim do déficit custa R$ 110 bilhões |
Monitor Mercantil, 25/nov
O déficit habitacional brasileiro só será resolvido se houver subsídios do governo federal de R$ 110 bilhões, de 12 a 15 anos, e mecanismos para a habitação social ser atendida pelo mercado. A avaliação é do
presidente do Sindicato das Indústrias de Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), João Cláudio Robusti.
O Sinduscon-SP apresentou levantamento sobre o déficit habitacional do país, realizado em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"Não há hipótese de a baixa renda, que ganha até cinco salários mínimos, acessar moradia digna, no valor de R$ 35 mil a R$ 60 mil, sem subsídios", disse Robusti. Considerando-se um déficit de 8 milhões de
moradias ao preço médio de R$ 40 mil, de acordo com o presidente do Sinduscon-SP, seriam necessários R$ 320 bilhões para resolver o problema da habitação, dos quais R$ 110 bilhões subsidiados pelo governo.De
2005 para 2006, o déficit habitacional absoluto cresceu de 7,830 milhões de moradias para 7,964 milhões de moradias, enquanto houve produção de 1,5 milhão de unidades, o que resultou em queda do déficit
habitacional relativo ante 2005: "O déficit não teria aumentado se tivéssemos produzido 1,7 milhão de unidades em 2006", disse Robusti. |
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TÓPICO 10
O triste retrato da falta de moradia |
Jornal Extra, 24/novembro/2007
Déficit habitacional é de quase oito milhões de residências
O déficit de moradias no Brasil avançou em mais de 500 mil unidades ao longo do governo do presidente Lula, atingindo 7,964 milhões de residências em
2006, de acordo com uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com base em dados do IBGE.
Segundo o estudo, a carência afeta 93,1% das famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos (R$ 1.900). Entre 1993 e 2006, o déficit absoluto
(número de domicílios inadequados ou com várias pessoas sob o mesmo teto) cresceu em 1,7 milhão de unidades, registrando aumento de 27,2%. Quando se leva em conta o déficit relativo (porcentagem dos
domicílios inadequados em comparação aos existentes), o índice cai de 16,9% para 14,6%.
Dados regionais
Em termos absolutos, as maiores carências estão nos estados de São Paulo (1,517 milhão), Rio de Janeiro (752 mil) e Minas Gerais (632 mil). Quando a
comparação envolve o déficit relativo, Maranhão, Amazonas e Pará ocupam os primeiros lugares.
Essa falta de novas casas, segundo a secretária de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, deve ser fortemente reduzida nos próximos 15
anos, por meio de políticas para clientes potenciais com renda de até cinco mínimos.
- Hoje, o máximo que o mercado oferece são produtos entre R$35 mil e R$60 mil. Se quisermos chegar na base da pirâmide, não dá para falar nessas
quantias - disse a secretária.
Segundo Inês Magalhães, um dos instrumentos que poderiam atrair mais clientes seria o uso ampliado de recursos do FGTS, já que a maioria dos candidatos
a mutuários são cotistas com depósitos na faixa de R$ 3 mil. Hoje, os recursos só podem ser resgatados se o trabalhador for demitido do emprego ou se aceitar condições de financiamento pouco acessíveis
aos que ganham pouco.
A democracia depende da adesão cotidiana e voluntária de todos os cidadãos. Isto significa que todos temos que nos comprometer com as instituições, os
princípios de lei e ordem e a igualdade dos cidadãos perante a lei. |
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TÓPICO 11
Favelas crescem em áreas nobres e moradores do asfalto querem depositar IPTU em juízo |
O globo, Selma Schmidt , 13/dezembro/2007
E-mails denunciando o movimento intenso de caminhões carregados de material de construção por dentro de um parque e por ruas de imóveis de classe média, com o objetivo de alimentar o crescimento de favelas,
têm sido encaminhados às associações de moradores do Alto Leblon e da Fonte da Saudade, na Lagoa. Insatisfeitos com a falta de providências das autoridades para impedir que o Morro dos Cabritos continue se
expandindo, moradores da Fonte da Saudade estão ameaçando depositar o IPTU de 2008 em juízo, por causa da favelização na área.
Criamos uma comissão que analisará se isso é possível. Nosso bairro está em risco. Já existem casas dentro dos parques da Fonte da Saudade e José Guilherme Melquior. Arrebentam os eco-limites da prefeitura e
constroem na área dos parques - diz a presidente da Associação de Moradores da Fonte da Saudade (Amofonte), Ana Simas.
Segundo e-mails de moradores, caminhões com material de construção têm passado pelas ruas Sacopã e Vitória Régia. Na terça-feira, num dos acessos ao Morro dos Cabritos, havia sacos com pedras e areia, que
pareciam ter dois objetivos: servir de barricada e de material de construção.
Chácara do Céu já é vista de Ipanema Para o prefeito Cesar Maia, o crescimento no Morro dos Cabritos é vertical e não horizontal. Num levantamento feito para o programa Favela-Bairro, em 2000, foram
contabilizadas 3.754 unidades. Ele garante que toda a área está mapeada e fala de dificuldades para conter a expansão no alto da Vitória Régia, embora transfira responsabilidades:
A questão lá em cima, da qual reclamam corretamente os moradores da Fonte da Saudade e entorno, é a presença ostensiva de traficantes se movimentando de um lado para o outro. Isso só com a polícia.
No Leblon, a Chácara do Céu já pode ser vista da Praia de Ipanema e do Arpoador. Há um ano, isso era impossível, segundo a presidente da Comunidade do Alto Leblon, Evelyn Rosenzweig: À noite, a Chácara
parece uma árvore de Natal subindo pela mata, que é área de preservação. Estão fazendo o que querem nessa favela, sem que o poder público interfira. |
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TÓPICO 12
Favela-Bairro |
A favela surgida recentemente no fim da Rua Vitória Régia, na Lagoa Rodrigo
de Freitas, já abriga prédio-barraco de seis andares. |
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TÓPICO 13
Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente se instalará em favelas para evitar novas construções |
O Globo, Selma Schmidt , 14/dezembro/2007
Pela primeira vez, a polícia se instalará numa favela tendo como uma de suas missões impedir desmatamentos para a construção de novas casas. Você conhece favelas em expansão ou formação? Clique aqui e mande
o seu relato sobre as áreas onde o problema ocorre. O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, anunciou nesta quinta-feira que a unidade do Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais (Gpae) que será
inaugurada em março na
Babilônia, no Leme, terá um braço ambiental: ao lado e com o apoio de PMs atuarão membros da Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais (Cica) e da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente.
Favelas crescem em áreas nobres e moradores do asfalto querem depositar IPTU em juízo Embora a APA (Área de Proteção Ambiental) da Babilônia seja municipal, vamos intervir e fiscalizar porque o que está se
configurando é
crime ambiental. Não queremos que a APA continue sendo devastada - afirma Minc.
A próxima favela que Minc promete intervir é que se expande no Morro dos Cabritos, entre Copacabana e a Lagoa, avançando sobre a APA da Saudade e os parques municipais da Fonte da Saudade e José Guilherme
Merquior. secretário diz que começa este mês a fazer um levantamento para que possa fazer um dignóstico da situação do local.
Chácara do Céu já é vista de Ipanema
Para o prefeito Cesar Maia, o crescimento no Morro dos Cabritos é vertical e não horizontal. Num levantamento feito para o programa Favela-Bairro, em 2000, foram contabilizadas 3.754 unidades. Ele garante
que toda a área está
mapeada e fala de dificuldades para conter a expansão no alto da Vitória Régia, embora transfira responsabilidades:
A questão lá em cima, da qual reclamam corretamente os moradores da Fonte da Saudade e entorno, é a presença ostensiva de traficantes se movimentando de um lado para o outro. Isso só com a polícia.
No Leblon, a Chácara do Céu já pode ser vista da Praia de Ipanema e do Arpoador. Há um ano, isso era impossível, segundo a presidente da Comunidade do Alto Leblon, Evelyn Rosenzweig:
"É nobre, entre as mais nobres, a arte de julgar; mas é arte de tremendas responsabilidades, que joga com a alma, com os bens, com a liberdade, com a própria vida dos que batem às portas da justiça, ou
perante a justiça são arrastados." |
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Topo TÓPICO 14
A escalada dos morros |
O Globo, Selma Schmidt e Ludmilla de Lima, 15/dez
Seja um crescimento vertical, como diz o prefeito Cesar Maia, ou horizontal, o fato é que favelas da Zona Sul estão escalando morros. Fotos aéreas, feitas pela Associação de Moradores do Alto Gávea (Amalga)
no último dia 10,
mostram que na Chácara do Céu, que rasga a encosta do Morro Dois Irmãos, no Leblon, há casas com quatro andares. Já fotografias tiradas por integrantes da Associação de Moradores da Fonte da Saudade (AmoFonte)
constataram a
ocupação de áreas dentro dos parques José Guilherme Merquior e Fonte da Saudade, que, em 2000, ganharam marcos delimitadores (batizados, em 2001, de eco-limites), durante obras do programa Favela-Bairro no
Morro dos Cabritos.
Não é possível que deixem a mata se perder. Se nada for feito, e rapidamente, o verde vai desaparecer.
Espero que as autoridades se sensibilizem diz a presidente da AmoFonte, Ana Simas.
Numa das imagens, feitas em 23 de outubro, vê-se um eco-limite sem o cabo de aço que interligava essas barreiras físicas, e uma casa construída dentro do parque José Guilherme dentro do parque Merquior.
Outra foto indica uma casa, tendo material de construção ao lado, numa área do Parque Fonte da Saudade.
A secretarias municipais do Habitat de Meio Ambiente transferem as responsabilidades de zelar pelos dois parques da Lagoa. A de Meio Ambiente alega que os limites foram foram instalados pela Secretaria do
Habitat.
A do Habitat argumenta que apenas realizou as obras no local, cabendo à de Meio Ambiente fazer a manutenção, por se tratar de Área de Proteção Ambiental (APA).
Presidente da Comunidade do Alto Leblon, Evelyn Rosenzweig, lamenta não só o crescimento da Chácara do Céu, como o uso por moradores da favela de um acesso ao Parque Penhasco Dois Irmãos como estacionamento.
Ela também foi
informada que uma quadra dentro do parque é palco de bailes funk de quinta a sábado.
Diante do crescimento das favelas Chácara do Céu, Rocinha e Parque da Cidade, e a conseqüente desvalorização de seus imóveis, moradores do Alto
Gávea estão pleiteando a modificação da legislação urbanística do lugar, onde só podem ser erguidas residências. Em assembléia, cerca de 300 pessoas aprovaram idéia da Amalga que flexibiliza as normas de uso
dos imóveis. Pela
proposta, seriam permitidos no Alto Gávea ateliês, antiquários, editoras, galerias de arte, produtoras, pequenas clínicas, consultórios e escritórios.
A proposta foi entregue à vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB), para que seja apresentada à Câmara como projeto de lei. Está havendo um esvaziamento no Alto Gávea. A lei de zoneamento diz que aqui só pode
ter casa, e
residencial. Isso dificulta ainda mais alugar ou vender os imóveisafirma Luiz Fernando Peña, diretor de urbanismo da Amalga. Andrea Gouvêa explica que realizará um plebiscito para saber o que querem os
moradores do Alto Gávea.
Ela conta que foi procurada por pessoas se dizendo contra e a favor da mudança na legislação.
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, por sua vez, está convocando representantes de órgãos estaduais, municipais e federais para uma reunião na sexta-feira. Na pauta, a discussão de medida
integradas visando a conter a expansão de favelas. Não se pode deixar destruir e achar que a responsabilidade é do outro comenta Minc.
Minc já anunciou que a unidade do Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais (Gpae), da PM, a ser inaugurada no primeiro semestre de 2008 no Morro da Babilônia (Leme), terá um braço ambiental. Além de
cuidar da segurança, os PMs do Gpae darão apoio à equipe da Secretaria do Ambiente que se instalará lá, para tentar impedir que a APA da Babilônia continue sendo devastada. Segundo o secretário, nas favelas
da Rocinha e do Complexo do Alemão, onde serão feitas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, as vias que cercarão as comunidades serão barreiras físicas, a partir das quais
nada poderá ser erguido.
Identificamos 200 terrenos ao longo da SuperVia onde poderão ser construídas casas para 80 mil pessoas de baixa renda. Para se resolver o problema da expansão das favelas, é necessário um conjunto de
medidas avalia Minc.
Universidade Federal Fluminense (UFF), Gerônimo Leitão, não há solução para o crescimento das favelas sem uma política habitacional que promova moradia para as pessoas de menor renda (de um a três
salários-mínimos).
Observo, ainda, que o poder público tem demonstrado incapacidade para evitar ocupações, mesmo em favelas urbanizadas, seja pelo quadro de violência que se instalou nas favelas, seja por falta de pessoal para
fiscalizar. É
preciso também engajar as comunidades nesse processo, convencê-las que ocupações irregulares podem comprometer obras e ocasionar deslizamentos de encostas analisa Leitão. |
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Topo TÓPICO 15
MP processará município por não impedir favelização de área de preservação no Leblon |
O Globo,Selma Schmidt e Ludmilla de Lima, 18/dezembro/2007
Advogados especializados em direito ambiental, urbanistas e o Ministério Público contestaram nesta segunda-feira as explicações da Secretaria municipal de Meio Ambiente ao justificar o motivo de não impedir
a entrada de caminhões de material de construção no Parque municipal Penhasco Dois Irmãos para conter o crescimento desordenado da Favela Chácara do Céu. A assessoria da secretária Rosa Fernandes alegou que
não existe uma legislação urbanística que fundamente a repressão. Já os especialistas sustentam que a prefeitura tem poder de polícia para reprimir as irregularidades:
Quem fiscaliza a a ocupação e uso do solo são os municípios. Se existe uma área de preservação ambiental e ela está ameaçada, deve interferir imediatamente - explicou o advogado Rogério Zouein.O presidente
da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara de Vereadores e ex-subprefeito da Barra, Luiz Guaraná (PSDB), disse que a falta de
fiscalização acaba servindo como um estímulo para a expansão irregular. Guaraná lembra que o prefeito Cesar Maia, em sua primeira administração (1993-1996), promoveu várias ações de demolição nas áreas
públicas e particulares.
Já o governador Sérgio Cabral diz que a polícia está à disposição para combater o crescimento desordenado do Rio:
Em nome de uma falsa dicotomia no Rio se permitiu ocupação desordenada do espaço urbano que foi nefasta para todos. O maior beneficiado pela lei e da ordem é o pobre. Não é o cara da classe média que já tem
a câmera, o segurança da rua, do condomínio. Este, de alguma forma, já está se protegendo. O pobre, sem lei e sem ordem, está nas mãos da selvageria - disse Cabral .
Há quatro meses, o prefeito Cesar Maia editou um decreto fixando gabaritos estabelecendo o número máximo de pavimentos em cada área da favela. A idéia era limitar as construções de um a cinco pavimentos. Mas
a fiscalização não foi reforçada e a Rocinha continua a crescer.
Em entrevista por e-mail, o prefeito Cesar Maia garantiu que a fiscalização existe.Não sei quem são esses lideres comunitários que reclamam, pois a fiscalização tem sido permanente - disse.
Diante do crescimento das favelas Chácara do Céu, Rocinha e Parque da Cidade, e a conseqüente desvalorização de seus imóveis, moradores do Alto Gávea estão pleiteando a modificação da legislação urbanística
do lugar, onde só podem ser erguidas residências.
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc anunciou que a unidade do Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais (Gpae), da PM, a ser inaugurada no primeiro semestre de 2008 no Morro da Babilônia
(Leme), terá
um braço ambiental. Além de cuidar da segurança, os PMs do Gpae darão apoio à equipe da Secretaria do Ambiente que se instalará lá, para tentar impedir que a APA da Babilônia continue sendo devastada .
"É nobre, entre as mais nobres, a arte de julgar; mas é arte de tremendas responsabilidades, que joga com a alma, com os bens, com a liberdade, com a própria vida dos que batem às portas da justiça, ou
perante a justiça são arrastados." |
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TÓPICO 16
Política de habitação |
Jornal do Commercio, 18/dezembro/2007
As limitações dos programas existentes e a insuficiência de seus resultados, face ao déficit habitacional brasileiro, são amplamente reconhecidas pelos analistas do setor e, por isso mesmo, a necessidade de
iniciativas que
contribuam, efetivamente, para a redução desse déficit, fica cada vez mais clara e ganha prioridade inconteste em qualquer estratégia de bem-estar social realmente digna desse nome, e em cujo contexto o
direito à moradia sobressai como ponto nuclear.
O fato é tanto mais digno de nota se considerado o ritmo de expansão que a indústria da construção civil tem registrado desde o ano passado e que não tem logrado ainda, por diversos fatores, proporcionar o
atendimento da
demanda por moradias de baixa renda, de forma a beneficiar famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos.
Apesar de grandes empresas terem anunciado, como se sabe, no período recente, empreendimentos destinados a essa faixa da população, de fato o que se verificou é que as unidades produzidas o foram para
famílias cuja renda
está acima desse nível de renda, o que não deixa, de certo modo, de invalidar a consecução dos objetivos, tais como a esse respeito enunciados.
Nesse sentido é significativa, por sinal, a posição do presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), João Cláudio Robusti, para quem não é possível que a
população com renda dentro daquele limite tenha acesso à chamada "moradia digna" se não contar com subsídios para a compra do imóvel.
De 2005 para 2006, aliás, o déficit habitacional absoluto, no País, cresceu de 7,830 milhões para 7,964 milhões de moradias, ou seja, 134 mil unidades, concentrado, numa proporção de 93%, justamente nas
famílias com renda até cinco salários mínimos. Já o déficit habitacional relativo registrou redução em 2006, ano em que foram produzidas 1,5 milhão unidades. Segundo o presidente do Sinduscon-SP, o problema
do déficit habitacional brasileiro só será resolvido se houver subsídio do Governo federal, de R$ 110 bilhões, no período de 12 a 15 anos, e mecanismos para que a habitação social seja atendida pelo mercado.
Por sua vez, a secretária nacional de Habitação, Inês Magalhães, do Ministério das Cidades, informa que propostas e sugestões oferecidas das ao Plano Nacional de Habitação, que ora está sendo elaborado,
estimam em 15 anos o prazo para a eliminação do déficit habitacional brasileiro, o que depende, a seu ver, não só de subsídios como da oferta, pelas empresas, de produtos a preços compatíveis.
Eis o desafio com o qual nos defrontamos e cuja superação é um imperativo para a elevação dos índices de desenvolvimento humano, os quais têm na moradia referência fundamental e instrumento para reverter o
processo de favelização, a atingir, como atinge, nas regiões metropolitanas, níveis socialmente inquietantes. |
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TÓPICO 17
Vizinhos de bairro, habitantes trabalham na Zona Sul |
Valor, 18/dezembro/2007
A origem do nome favela como sinônimo de comunidade carente não encontra consenso entre os historiadores. A versão mais comum, no entanto, dá conta de que a primeira favela do Rio de Janeiro data do final do
século XIX, quando ex-soldados da Guerra dos Canudos foram morar no Rio com a promessa de receber moradias do governo federal. Como a promessa não se confirmou, eles se instalaram nas encostas de onde é hoje
o Morro da Providência, atrás da Central do Brasil. O local foi chamado de favela por ser este o nome de um morro que serviu de acampamento para os soldados na guerra contra os seguidores de Antônio
Conselheiro em Canudos, na Bahia. A partir daí, o nome favela se espalhou e passou a ser parte da paisagem urbana brasileira.
Nas décadas de 30 e 40 do século passado, a sociedade brasileira iniciou um longo período de urbanização. Números do IBGE mostram que a taxa das pessoas que moram em cidades do Brasil era de 26% nos anos 40
e na década de 90 já chegava a 80%. Com o crescimento desordenado das cidades, sem planejamento do poder público e a intensificação das desigualdades sociais, veio também o aumento da população nas favelas.
Somente no Rio, havia 750 favelas cadastradas em 2005 pelo Instituto Pereira Passos (IPP), ligado à prefeitura. A população nessas comunidades somava cerca de um milhão de pessoas, aproximadamente 20% da
população da cidade.
A área onde está situada a comunidade do Cantagalo foi ocupada em 1907, depois de ter servido de refúgio de escravos na segunda metade do século XIX. Já a ocupação do morro Pavão-Pavãozinho veio um pouco
mais tarde, em 1930. O crescimento mais significativo da população dessas áreas só aconteceu a partir dos anos 60, com a chegada de migrantes do interior do Estado do Rio, de Minas Gerais e da região
Nordeste do país. Por sua localização próxima a bairros considerados nobres, como Ipanema e Copacabana, os moradores dessas comunidades trabalham ali mesmo na Zona Sul como empregados domésticos, porteiros,
motoristas de ônibus, mensageiros, operários da construção civil e garçons, entre outras funções.
Como em todo o país , essas ocupações profissionais recebem remuneração reduzida e a baixa renda desses trabalhadores os manteve na parte inferior da pirâmide social. No Pavão-Pavãozinho, por exemplo, 54%
dos responsáveis pelo domicílio recebiam entre um e três salários mínimos no ano 2000, segundo o Censo realizado pelo IBGE. As pessoas que se declararam sem renda somavam 9%, enquanto apenas 0,8% recebiam
mais de dez salários mínimos. Com relação à escolaridade, 18,7% dos chefes de família não tinham instrução e 42,2% tinham até quatro anos de estudo. Aqueles que estudaram de cinco a oito anos atingiam 27%.
E, acima de 12 anos de estudo, havia apenas 2,3% entre os chefes de família.
As precárias condições de habitação dessas comunidades chamaram a atenção do poder público somente em 1983, quando fortes chuvas provocaram deslizamentos de terra e perda de vidas no Pavãozinho. O então
governo do Estado instalou um Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) no Cantagalo, construiu casas e unidades habitacionais em edifícios no Cantagalo e Pavãozinho, além de um bonde em plano inclinado no
morro Pavão-Pavãozinho.
A partir do ano 2000, a presença de policiamento na entrada do morro e as iniciativas desenvolvidas por Organizações não-governamentais (Ongs) reduziram os graves índices de violência gerada pelo comércio de
drogas ilegais. "Antes disso, 60% da comunidade estava envolvida com o tráfico. Agora, uns 98% dos moradores não estão envolvidos", diz Luiz Bezerra do Nascimento, presidente da Associação dos Moradores do
Morro do Cantagalo. Morador da comunidade há 40 anos, Bezerra não esconde o otimismo com as possibilidades que se abrem com as obras do PAC para os cerca de 20 mil habitantes das duas comunidades. |
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TÓPICO 18
Construtoras começam a brigar pela baixa renda no Rio |
(Agência Estado, Alessandra Saraiva e Chiara Quintão, dez/07)
Apesar das limitações de área para a construção de novos empreendimentos, o mercado imobiliário na cidade do Rio de Janeiro passa por uma excelente fase, com um crescimento acima da média nacional. No
momento, a disputa
travada entre as construtoras é pelas melhores localizações e por projetos residenciais, voltados para a classe média. Para os próximos anos, a tendência é de que a briga esteja voltada para a conquista da
população de menor poder aquisitivo.
A maior demanda por imóveis está concentrada na classe de menor pode aquisitivo - estima-se que as famílias com salário mensal de até cinco salários mínimos representem 90% do déficit habitacional. Além
disso, à medida que as condições macroeconômicas - taxa de juros e prazos de financiamento - se tornaram mais favoráveis à aquisição de imóveis, muitas empresas de construção passaram a apostar na
diversificação de segmentos de renda, ampliando o leque de ofertas da classe alta e média-alta para a classe média, em seguida para a média-baixa e depois para a baixa renda.
O
movimento começou em São Paulo, mas empresas do setor já começaram a anunciar estratégias para produzir empreendimentos para a baixa renda em outros mercados, como o Rio de Janeiro. A Cyrela Brazil Realty,
por exemplo, fechou parcerias em agosto para atuar no segmento econômico. A empresa havia anunciado, em junho, o primeiro lançamento da marca Living, destinada à classe média baixa carioca. Em setembro, a
Inpar divulgou parceria com a Tibério Construções e Incorporações para empreendimentos residenciais nos segmentos econômico, médio, médio-alto e alto no Rio de Janeiro, além de São Paulo e do Espírito
Santo.
A Goldfarb, empresa controlada pela PDG Realty Empreendimentos e Participações, lançará seu primeiro projeto no Rio de Janeiro em dezembro, com Valor Global de Vendas (VGV) de R$ 20 milhões, na Freguesia,
bairro desmembrado de Jacarepaguá, na zona Oeste da cidade. O empreendimento terá casas e apartamentos, com valor de R$ 90 mil a R$ 130 mil, e será destinado à classe média com renda mensal de R$ 3 mil a
R$ 5 mil, segundo o presidente
a Goldfarb, Milton Goldfarb.
Em 2008, o mercado carioca responderá por parcela de 10% a 15% do VGV da empresa, com lançamento de 2 mil unidades. A Goldfarb optou por dar início aos seus empreendimentos na cidade
pela classe média por considerar o segmento o mais adequado aos preços dos terrenos disponíveis, de acordo com o executivo. A intenção da empresa é atuar, a princípio, apenas nesse segmento no Rio de
Janeiro e, depois de conhecer o mercado local, definir se expandirá seus projetos também para a média-baixa renda.
Após a onda de IPOs observada no setor da construção civil, as empresas ficaram mais capitalizadas e, portanto, com condições de capital de giro mais adequadas para o lançamento de novos projetos. De
janeiro a agosto de 2007, o volume de crédito imobiliário concedido no mercado carioca cresceu 87% em relação ao mesmo período de 2006, enquanto o nacional avançou 72%, segundo dados do governo federal
citados pelo superintendente de crédito
imobiliário do Banco Real, Antonio Barbosa. A tendência é de que esse movimento de alta persista nos próximos anos. Segundo o consultor de desenvolvimento urbano da Associação de Dirigentes de Empresas do
Mercado Imobiliário (Ademi), Davi Cardeman, esse ciclo virtuoso deve continuar por pelo menos dois ou três anos.
Com o apetite das construtoras renovado, acirrou-se também a disputa pelas melhores localizações. A concorrência na busca por matéria prima inflacionou o valor dos terrenos na cidade. As áreas mais
disputadas continuam sendo as
localizadas na zona Sul e na Barra da Tijuca. No caso desse último bairro, que fica na zona Oeste, o número de novos empreendimentos cresceu tanto que há o risco de saturação, na análise do presidente do
Sindicato das
Indústrias da Construção Civil do Estado do Rio (Sinduscon-Rio), Roberto Kauffman.
Para o vice-presidente do Sindicato de Habitação do Rio (Secovi-RJ), Manoel Maia, a quantidade de oferta de imóveis é resultado de uma "concorrência saudável". Ele observa que o bom cenário no setor do
Rio, classificado como "áureo", é reflexo da economia aquecida, com taxas de juros mais baixas, em relação aos anos anteriores. A sustentabilidade desse movimento, no entanto, encontra dificuldades na
disponibilidade e localização dos terrenos, principalmente na capital fluminense. Há poucas opções de expansão para os empreendimentos. Os especialistas ressaltam que a cidade não tem planaltos e nem
planícies para incorporar novos projetos, assim como não há grandes terrenos disponíveis para grandes empresas. Mas, mesmo com as incertezas sobre onde construir, as empresas parecem dispostas a continuar
aproveitando o momento aquecido. |
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TÓPICO 19
Parque sitiado |
O Globo, Fernanda Pontes, Luiz Ernesto Magalhães e Selma Schmidt, 19/dez
Vistas do alto, favelas que avançam sobre uma das maiores florestas urbanas do mundo ameaçam o Parque Nacional da Tijuca, onde estão localizados cartões postais do Rio, como o Corcovado e a Pedra da Gávea.
Durante sobrevôo feito ontem, o superintendente regional do Ibama, Rogério Rocco, identificou três áreas em Jacarepaguá, Água Santa e Méier onde é visível o crescimento de construções irregulares sobre o
verde. Das 48 favelas que estão próximas de limites do parque, o Ibama também se mostra preocupado com outras 11 comunidades, entre as quais Cerro-Corá e Guararapes (Cosme Velho), e o trecho da Rocinha
conhecido como Laboriaux.
O fato de as favelas estarem consumindo a floresta nos deixa apreensivos. Há uma omissão grande da prefeitura. Essa área de mata tem que ser cuidada. Há os efeitos de borda sobre o parque, que acaba sendo
atingido. Ou seja, a proximidade da favela leva lixo, fogo, esgoto e animais para dentro da reserva, o que é nefasto afirma Rocco.
No sobrevôo de ontem, foram marcados cinco pontos geo-referenciados. De helicóptero e usando os recursos de GPS e uma câmera fotográfica, a cada dois meses os mesmos ângulos serão monitorados. Dessa maneira,
será possível fazer um acompanhamento para identificar áreas sobre as quais existe pressão.
Ritmo intenso de construções
O panorama não é diferente visto do asfalto. No Cosme Velho, o CerroCorá e o Guararapes já tomaram conta da encosta, tendo como limites muros que cercam propriedades particulares e vias. Nessas duas
comunidades, o adensamento é visível e o ritmo de construção de novos andares é intenso. Em alguns pontos é possível observar casas que, de tão próximas, disputam a paisagem com o Cristo.
Ao contrário do que o prefeito Cesar Maia diz, a expansão das favelas no Cosme Velho também é horizontal. Ao contrário do que o prefeito Cesar Maia diz, a expansão das favelas no Cosme Velho também é
horizontal. Isso
acontece, inclusive, na encosta do Túnel Rebouças, aos pés do Corcovado. Se nada for feito, teremos toda a encosta ocupada. Esta é a herança que vamos deixar para os cariocas? pergunta Sávio Neves, diretor
da empresa Trem do Corcovado.
Apesar do crescimento das favelas, Rocco garante que os 3.953 hectares do Parque Nacional da Tijuca ainda estão preservados. Segundo ele, dentro da região de proteção existem algumas casas de funcionários e
ex-empregados do
parque. Além disso, há cinco casas no alto do Morro Dona Marta que ultrapassaram os limites, entrando na área do parque. Há uma pressão grande de favelas e condomínios na direção do parque.
O Dona Marta é uma das 11 favelas que preocupam o Ibama. Outras são Nova Divinéia, no Grajaú; Formiga, Salgueiro, Turano, Borel e Casa Branca, na Tijuca. As duas últimas se juntaram fisicamente. Uma favela
próxima à
impressionante Cachoeira Grande, perto da Estrada de Furnas, no Alto da Boa Vista, também está na lista daquelas consideradas motivo de apreensão. Junto a essa favela há ainda casas de classe média subindo a
encosta.
Já a Inácio Dias, em Jacarepaguá, é uma das três favelas que representam mais ameaça ao parque, por causa do crescimento visível. O analista ambiental e chefe substituto do Parque Nacional da Tijuca,
Bernardo Issa, conta que, no fim de 2006, um trabalho de reflorestamento que estava sendo feito no local teve de ser interrompido, quando a favela, que era controlada por traficantes, passou a ser
dominada por uma milícia. Moradores que executavam o projeto foram expulsos. O Ibama espera retomar o programa ano
que vem. Camarista Méier é outra favela que se expande. O Ibama identificou crescimento ainda, durante o sobrevôo, numa favela na altura do Túnel da Covanca, em Água Santa. Na encosta,
observam-se algumas casas construídas recentemente.
Embora sem impacto direto no Parque Nacional da Tijuca, durante o sobrevôo foi possível constatar que a Favela do Vidigal desce em direção ao condomínio das Yucas, em São Conrado. Do lado da Gávea, a Favela
Parque da Cidade aparece como um aglomerado de prédios e casas. Mas é ao longo das encostas da Auto-Estrada Grajaú-Jacarepaguá que se vê a maior quantidade de novas construções.
Em meio a críticas, Cesar Maia decidiu ontem culpar a União e o estado pelo cenário. Cesar reconheceu que a favela Chácara do Céu (Leblon) está crescendo, mas apenas na vertical. O prefeito admitiu que os
moradores do Alto Leblon têm razão para reclamar da situação. E que, se morasse no bairro, certamente também se queixaria.
Cesar criticou os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele condenou a proposta de implantar um elevador ligando o PavãoPavãozinho ao Cantagalo, que poderia se tornar um risco à segurança.
Diz que atiradores poderiam aproveitar o equipamento para atingir inimigos. Na Rocinha, a crítica é ao projeto da via interligando a favela, que facilitaria o deslocamento de caminhões com material de
construção.
O Ministério das Cidades disse ontem que o PAC foi negociado com o estado e o município. |
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TÓPICO 20
Favelas antigas ganham extensões pelas matas |
O Globo, Selma Schmidt , 20/dezembro/2007
As favelas dos morros da Formiga, na Tijuca, e dos Tabajaras, em Copacabana, ganharam uma espécie de rabicho. De suas janelas, moradores dos fundos de prédios da Rua Conde de Bonfim, próximos à Rua Uruguai,
começaram a ver o
surgimento de um novo trecho da Formiga.Vizinhos do Túnel Velho (Alaor Prata) também acompanham a construção de cerca de sete casas sobre a saída da galeria sentido Botafogo Copacabana .
As casas, erguidas sobre um túnel antigo, podem comprometer a sua estrutura. Existe perigo adverte a presidente da Câmara Comunitária de Copacabana, Ema Fonseca .
Árvores são derrubadas para dar lugar a casas Árvores estão sendo derrubadas para dar lugar às novas casas sobre o Túnel Velho. Algumas das moradias já têm moradores. Outras, no entanto, ainda estão sendo
construídas e sequer
têm janelas. Advogados especializados em direito ambiental, urbanistas e o Ministério Público estadual sustentam que a prefeitura não precisa de autorização judicial para derrubar casas ainda em construção
em áreas de preservação ou de risco.
Como não têm rede de saneamento, os moradores dessas casas jogam na encosta o seu esgoto, que acabaescorrendo e caindo no asfalto conta um vizinho do túnel, que pediu para não ser identificado.
Um policial militar que trabalha numa cabine instalada na Praça Vereador Rocha Leão, de frente para as obras sobre o túnel, constatou:
É só deixar que eles vão esmatando e ocupando Residente em Vassouras, Nara Gondim Miranda de Oliveira foi visitar os pais na Tijuca, há cerca de dois meses, e se surpreendeu ao ver um pequeno aglomerado de
casas, construídas junto a torres da Light, no morro em frente à janela do apartamento.Nara relatou a sua indignação ao GLOBO Online. "Percebemos que o Rio está, realmente, sucumbindo em meio aos barracos",
lamentou em e-mail.
Nara ainda redigiu e distribuiu no condomínio um aviso com foto do "rabicho" da Formiga, endereços, e-mail e telefones da prefeitura, do governo do estado, do Ibama e de jornais. "É importante que todos se
mobilizem, telefonando e/ou enviando email para os órgãos competentes, para que alguma providência seja tomada, o que é de interesse de todos os que residem em áreas vizinhas", escreveu Nara no folheto.
Mãe de Nara, a dona de casa Maria Madalena Gondim Miranda faz coro É preciso haver mobilização. As pessoas têm de cobrar providências das autoridades municipais, estaduais e federais. Nossos imóveis estão
desvalorizando.
Maria Madalena mora há 25 anos no mesmo prédio. Ela lembra que, há poucos meses, via apenas uma casa no alto do morro: De repente me espantei ao ver essa nova favela surgindo.
À noite, vejo várias luzes no morro conta ela Marido de Maria Madalena, o aposentado Manoel de Almeida afirma que o problema já foi relatado a autoridades: Além da favela, que destrói nossa mata, tem
também o perigo de essas casas estarem coladas à rede de alta tensão acrescenta Manoel.
Vizinho do casal, o aposentado Luis Carlos Buonocore, que mora no mesmo prédio há 30 anos, também protesta:
A gente tem que protestar, fazer algo para tentar impedir que as favelas do Rio continuem crescendo. |
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TÓPICO 21
Cesar Maia joga a toalha |
O Globo, Luiz Ernesto Magalhães e Ruben Berta , 21/dezembro/2007
O prefeito Cesar Maia lavou as mãos em relação à Favela Chácara do Céu, na encosta do Morro Dois Irmãos, no Leblon. Cesar descartou ontem, pelo menos por enquanto, a possibilidade de enviar à Câmara o
projeto de lei elaborado
pela Secretaria de Urbanismo declarando a favela Área de Especial Interesse Social, mecanismo legal que poderia também ajudar a conter o crescimento da comunidade. Sem citar nomes, Cesar alegou que as
denúncias sobre o crescimento da favela não passam de exploração política e que ele não trabalha sobre pressão.
Vínhamos conversando com moradores e discutindo os problemas da Chácara do Céu. Na hora em que se resolve tirar proveito político da situação, a área deixa de ser prioridade. Vamos cuidar de outra
comunidade disse Cesar em reunião com o secretariado no Planetário.
No último domingo, o secretário de Urbanismo, Augusto Ivan, disse que somente a aprovação de lei fixando regras na Chácara do Céu permitiria que a prefeitura impedisse o crescimento desordenado da favela.
Com a aprovação da lei, seria possível implantar na comunidade um Posto de Orientação Urbanística e Social (Pouso) para fiscalizar e reprimir as obras ilegais.
Cesar acrescentou que, se a Câmara quiser, pode votar o projeto do líder do governo, Paulo Cerri (DEM), que já prevê um tratamento especial para a comunidade. O projeto do vereador, no entanto, não contém
informações que
integram projetos sobre a demarcação de comunidades, como mapas e a descrição dos limites. O próprio Cerri diz que não há mais tempo hábil para tratar da Chácara do Céu antes do recesso de fim de ano. Na
semana que vem a Câmara votará projetos eleitos como prioritários e só voltará aos trabalhos depois do carnaval.
Entre outros assuntos, temos que votar o Orçamento de 2008 e a concessão de autorização para a prefeitura contrair o empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento para o Favela-Bairro 3. Não há tempo
para votar outros projetos ainda este ano disse Cerri.
Promotor rebate ataques ao MP
Ontem, antes de saber da decisão do prefeito, a secretária municipal de Meio Ambiente, Rosa Fernandes, disse não poder impedir que caminhões com material de construção entrem no Parque Dois Irmãos para levar
tijolos e cimento para os moradores da Chácara do Céu.
Os moradores alegam que estão fazendo reformas, não tenho como provar que o objetivo seja ampliar a comunidade. Com a existência de um Pouso, os técnicos informariam qual a verdadeira natureza das obras
disse Rosa, que deixará o cargo em janeiro para reassumir seu mandato de vereadora.
Não é a primeira vez que o prefeito muda sua estratégia de ação por se sentir pressionado. Em outubro de 2005, em meio a críticas, Cesar adiou por quase seis meses a remoção da Vila Alice, em Laranjeiras. Na
época, chegou a sugerir que os próprios vizinhos do asfalto indenizassem os moradores da favela. Em seu livro "Nó górdio", o ex-secretário de Urbanismo, Alfredo Sirkis, relata que Cesar se recusava a agir
"pautado pela mídia".
Em seu blog, Cesar também partiu para o contra-ataque em relação ao MP, dois dias depois de o promotor de meio ambiente Carlos Frederico Saturnino anunciar que processará o município por não impedir a
favelização do Morro Dois Irmãos.
No texto divulgado na internet, o prefeito citou uma recomendação feita pela 2ª Promotoria de Tutela Coletiva do MP à Subprefeitura da Barra no ano passado para que casas construídas irregularmente no Canal
do Cortado não fossem demolidas pela prefeitura. E classificou as atitudes do MP como "contraditórias" e "incompreensíveis".
Cesar referiu-se indiretamente a Saturnino, que vem criticando a falta de repressão do município no crescimento de favelas: "Enquanto o MP leia-se um procurador fazia declarações à imprensa
responsabilizando a Prefeitura do Rio em relação a uma ou outra ocupação irregular ou ilegal do solo, o mesmo MP leia-se outro procurador, acionava a prefeitura por ter retirado uma ocupação ilegal do
solo", escreveu Cesar.
A polêmica em torno da remoção no Canal do Cortado começou em agosto do ano passado. Ao todo, 40 famílias teriam sido indenizadas por uma construtora e tido suas casas demolidas pela prefeitura. Pelo menos
cinco, no entanto, não teriam concordado com o acordo e encaminhado uma denúncia à 2ª Promotoria de Tutela Coletiva, que abriu um inquérito civil público para apurar o caso.
O promotor Saturnino explicou que não há contradição entre a postura que vem adotando e a da 2ª Promotoria de Tutela Coletiva. Segundo ele, a atitude do MP foi correta no caso do Canal do Cortado porque a
prefeitura queria demolir casas já habitadas, sem a realização de um processo judicial: A prefeitura pode e deve demolir construções irregulares quando elas ainda estão em andamento. Agora, quando já há
moradia, é preciso ter o consentimento dos moradores ou um mandado judicial, exatamente como diz a recomendação feita pela Tutela Coletiva no caso do Canal do Cortado explicou Saturnino, que evitou
críticas diretas ao prefeito. |
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TÓPICO 22
Terreno é oferecido por R$ 9 milhões na Rocinha |
O Globo, Selma Schmigt, 21/dez
A quem passa pela Estrada da Gávea, via que corta toda a Rocinha, da Gávea a São Conrado, se espanta ao passar em frente ao número 527, diante de um enorme anúncio pintado no muro do galpão, com letras
vermelhas e pretas. O terreno, com 880 metros quadrados (44 metros de frente e 20 metros de fundos), está sendo oferecido por nada menos do que R$ 9 milhões, numa favela sem saneamento básico, e com
abastecimento de água e iluminação precários. Como atrativo, o dono informa: "Eu pago IPTU".
Para alguém comprar um terreno por esse preço na Rocinha, teria que construir um novo espigão de 11 andares.
Do contrário, não teria lucro comentou um morador do Alto Gávea, que pediu para não ser identificado, logo após passar ontem pelo local.
O galpão é utilizado como garagem. Por uma vaga mensal, o interessado que não quer deixar seu carro na rua tem de desembolsar R$ 170.
Compradores querem negociar preço
O proprietário do galpão e de outros imóveis colados, alugados para comércio e moradia, é o argentino Mario Andres Sabrich, de 82 anos. Segundo o filho Kim, um dos quatro de seu último casamento, Mário vive
na Rocinha há 50 anos. Para justificar o preço fixado para a venda do galpão, Kim alegou que o pai tem problemas de saúde:
É propaganda enganosa brincou Kim Mas teve gente que nos procurou interessada em comprar o terreno. Só que querendo negociar o preço.
O novo presidente da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha, Luiz Cláudio de Oliveira, o Claudinho da Academia, não levou a sério o pedido de R$ 9 milhões por um terreno na comunidade: Essa é uma
propaganda sem pé nem cabeça. Parece piada. O dono do terreno não deve ter noção do que sejam R$ 9 milhões, nem deve saber quanto custa um apartamento na Barra da Tijuca.
Moradores da Rocinha contaram que, após o governo do estado anunciar um projeto de urbanização e, depois, o governo federal informar que serão feitas obras com recursos do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) na comunidade, o comércio de compra e venda de terrenos para a construção se acentuou na favela. Se for levado em conta o decreto do prefeito Cesar Maia criando gabaritos para a Rocinha,
assinado em agosto, poderiam ser construídos prédios de até quatro andares no trecho da Estrada da Gávea onde está o galpão. |
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TÓPICO 23
Fim do déficit precisaria de R$ 280 bi |
Jornal do Commercio, Renée Pereira e Rosângela Dolis, 21/dezembro/2007
A destinação de mais R$ 3 bilhões do FGTS para o setor habitacional é um passo importante para o País reduzir o déficit de moradias, de cerca de 8 milhões de unidades, mas o aumento dos recursos é apenas um
começo. "Supondo que cada imóvel custe R$ 35 mil, chegamos à cifra de R$ 280 bilhões. Esse seria o montante para eliminar o déficit habitacional no País. Em 12 anos, significaria ter de investir cerca de R$ 22
bilhões por ano no setor", calcula o presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais e Residenciais de São Paulo (Secovi-SP) João Crestana. Segundo ele, nos
últimos anos, o governo tem destinado cerca de R$ 5 bilhões do FGTS para o financiamento de imóveis.
"É um número baixíssimo, especialmente se considerarmos que o fundo tem disponível cerca de R$ 50 bilhões para habitação." Crestana avalia que o aumento do volume destinado ao setor é bastante positivo e vai
beneficiar famílias de baixa renda.
BANCOS PRIVADOS. O superintendente-geral da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), José Pereira Gonçalves, afirma que o reforço no orçamento ocorreu em razão da demanda
mais forte dos bancos privados por esses recursos para financiar a população que tem renda entre R$ 1.875 e R$ 4.900. O Itaú e o Real foram os primeiros bancos privados a firmar convênio com a Caixa Econômica
Federal para repassar recursos do FGTS em financiamentos habitacionais.
Para 2008, o Itaú, que já oferece a opção desde o dia 7, reservou com a Caixa um total de R$ 1 bilhão para essas operações. O Real, que oferecerá o financiamento a partir de janeiro, fez uma reserva de recursos
inicial de R$ 350 milhões, mas, diante da verba suplementar de R$ 3 bilhões liberada nesta quinta-feira pelo Conselho Curador do FGTS, deverá elevar o valor, segundo Antonio Barbosa, superintendente executivo do
Banco Real.
Outros bancos privados também estudam oferecer financiamentos com recursos do FGTS, entre eles, Bradesco e Santander. O forte crescimento do crédito imobiliário com recursos da poupança no segmento de imóvel
avaliado em até R$ 120 mil a R$ 130 mil - nicho em que atuam as linhas com recursos do FGTS - tem motivado os bancos a buscarem fontes de financiamento mais baratas, como o FGTS. Segundo Barbosa, "hoje 70% do
total de financiamento com recursos de poupança atendem a essa faixa de preço, o dobro de 2005". |
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TÓPICO 24
Favela agora é caso de polícia |
O Globo, Luiz Ernesto Magalhães, 22/dezembro/2007
O avanço das favelas na mata virou caso de polícia. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) abriu ontem inquérito para investigar a existência de casas na Chácara do Céu, no Morro Dois Irmãos, no Leblon,
em trechos da encosta onde não pode haver edificações, por serem áreas de proteção permanente (APPs). A ação, que incluirá medidas como a demolição dos imóveis em situação irregular, será estendida a outras
regiões da cidade, como anunciou o secretário estadual do Ambiente,Carlos Minc, em reunião com representantes da União, do estado e da prefeitura. O encontro serviu para discutir a criação de um plano integrado
para evitar que as construções ilegais, em favelas ou no asfalto, continuem a degradar o meio ambiente.
O entendimento do governador Sérgio Cabral é de que se trata de uma política de segurança pública conter a degradação ambiental. Se preciso, agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) serão mobilizados
para as operações disse Minc.
Na próxima sexta-feira, o secretário, agentes da DPMA e peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) farão uma vistoria na Chácara do Céu, para mapear as construções em desacordo com a legislação
ambiental. Ações semelhantes serão desencadeadas a curto prazo também nos morros dos Cabritos (Copacabana), na Ladeira dosGuararapes no Cerro-Corá (Cosme Velho) e em Piraquara (Parque Estadual da Pedra Branca, em
Bangu).
O objetivo não é lidar com a questão da favela em si, como se a existência delas fosse algo criminoso.
O que é crime é expandir construções em áreas de preservação ambiental, sejam elas na favela ou no asfalto. É isso que nós vamos combater. Em alguns casos, a atuação será preventiva, como no Morro dos Cabritos,
para evitar que a favela se expanda até a Fonte da Saudade explicou Minc.
Já no caso do Cerro-Corá, o objetivo é reduzir o risco de a comunidade chegar ao Parque Nacional da Tijuca. Outrasmedidas que já foram adotadas podem ajudar na fiscalização.
Anteontem, a Secretaria do Ambiente firmou um convênio com o Batalhão de Policiamento Florestal da PM. O objetivo é que os policiais da unidade também possam atuar como fiscais do estado na repressão aos crimes
ambientais.
O delegado titular da DPMA, Luiz Marcelo Xavier, disse que as construções em áreas de preservação são suficientes para comprovar os crimes ambientais, e o objetivo é identificar os responsáveis, para indiciálos.
A lei 4771/1965, que criou o Código Florestal, proíbe construir acima da chamada cota 100 (ou seja, a partir de cem metros acima do nível do mar). Também veda construções em encostas com declive superior a 45
graus, devido aos riscos de deslizamentos.
No caso da Chácara do Céu, como O GLOBO mostrou ontem, com base em fotos e levantamentos topográficos, foi possível concluir que cerca de 30% da favela está localizada acima da cota 100. A legislação cita ainda
outros casos que configuram crime ambiental, como construir nas faixas marginais de proteção de rios e lagoas. Minc chegou a dar como certa a realização de algumas parcerias com a prefeitura que não foram
confirmadas. Numa das frentes, o secretário prometeu liberar recursos doFundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam) para o IPP passar a usar
imagens de satélites, a fim de monitorar a expansão de favelas e outros focos de crescimento irregular da cidade, como loteamentos clandestinos. Hoje, esse controle é feito por fotografias aéreas tiradas de
tempos em
tempos.
Procurado pelo GLOBO, o presidente do IPP, Sérgio Besserman, não deu entrevista. Mas, em notas oficiais, o instituto deu a entender que a verba seria mais útil se fosse gasta pelo próprio governo do estado em
suas instituições.
"O meio mais eficiente de apoio é a disponibilização de recursos humanos e financeiros para a fundação Cide, viabilizando os trabalhos técnicos conjuntos e preenchendo as lacunas de informações existentes,
especialmente
na Região Metropolitana", diz uma das notas divulgadas pelo Instituto Pereira Passos. Minc acrescentou que entregou ao governador Sérgio Cabral e ao prefeito Cesar Maia uma proposta de co-gestão do Parque
Estadual da Pedra Branca, que estaria bem encaminhada, para ajudar a combater construções irregulares. Elas seriam
mais de duas mil, erguidas em favelas e condomínios de classe média.
Em entrevista por e-mail, o prefeito Cesar Maia disse desconhecer a proposta. No entanto, afirmou que ela poderia ser estudada.
"Ainda não recebi nada. Esse é um assunto muito importante e centenário.
Fico ansioso para receber os termos propostos para analisar.
Creio que a divisão do trabalho com o estado em algumas áreas e nós em outras pode funcionar bem", disse o prefeito. |
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TÓPICO 25
A multiplicação dos barracos |
Jornal O Globo, 27/dezembro/2007
Já faz tempo que a Ladeira dos Tabajaras era uma favela de Copacabana. O crescimento da comunidade fez com que as casas atingissem a mata sobre o Cemitério São João Batista, em Botafogo. E, como já mostrou O
GLOBO-Zona Sul em edições anteriores, forma um complexo com comunidades vizinhas, como Cabritos e Nova Mangueira.anteriores, forma um complexo com comunidades vizinhas, como Cabritos e Nova Mangueira.
Em agosto, Abílio Tozini, do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental dos Morros da Babilônia, São João e Leme, onde está localizada parte da favela, dizia que tentava organizar uma vistoria nos Tabajaras,
com órgãos
da prefeitura, para apurar relatos de novas construções e crescimento vertical. Mas a recomendação da associação de moradores local foi a de que a visita não acontecesse, por questões de segurança. De lá para cá,
ele afirma que as denúncias continuaram, situação que se repete em outras favelas, a maioria de pequeno porte, em bairros como Botafogo, Laranjeiras e Catete.
Para o professor Pedro Abramo, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ, essa região atrai população dos subúrbios e de municípios periféricos, principalmente por causa da
proximidade dos
centros de emprego e da renda que proporciona. Renda cai, e solução são os puxadinhos
Para Pedro Abramo, o monitoramento do crescimento das favelas está sendo dificultado pela tendência de acontecerem microocupações, geralmente contíguas às comunidades carentes, e não mais grandes movimentos
populacionais organizados, como ocorria nas décadas anteriores.Além disso, ele destaca a perda de capital real das famílias de baixa renda nos últimos 15 anos, explicando que, em muitas favelas antigas, os filhos
dos moradores
já estão em idade adulta. Desta forma, saem de casa ou continuam na própria comunidade, mas não mais com os pais. Isso leva à redução dos rendimentos e, como solução, Abramo aponta o aumento dos que constróem
puxadinhos ou repartem sua casa para alugar: Assim, é gerado um adensamento domiciliar em
local.
O professor destaca que pesquisas realizadas pelo Ippur apontaram que em 2002, 15% do mercado imobiliário nas favelas correspondiam ao aluguel de imóveis. Já o estudo do ano passado revelou que, em pouco tempo,
esse
percentual dobrara, chegando a 30% e ultrapassando a taxa média do mercado
formal, de 20%.
Sérgio Ferraz Magalhães, professor da pós-graduação em Urbanismo da UFRJ, diz que mais do que deficiência no planejamento urbano, o crescimento das favelas reflete a falta de financiamento habitacional,
principalmente para a
população mais pobre, mesmo o mercado tendo indicado aumento do crédito para famílias de classe média recentemente.
Se essas família tivessem crédito para a compra de moradia, certamente a expansão das favelas reduziria afirma o urbanista. Ele ressalta que a omissão a ausência do Estado em comunidades maiores têm gerado
outro
fenômeno: Nelas, não é raro o surgimento de construções com uma lógica empresarial, embora provavelmente de empreiteiras não legalizadas.
Não são mais construções de um morador que usa a própria mão-de-obra. Magalhães diz que mecanismos como o Posto de Orientação Urbanística e Social (Pouso), da Secretaria municipal de Urbanismo (SMU), são
importantes, mas não suficientes caso não haja atuação concreta de fiscalização. Nesse sentido, Abílio Tozini destaca o caso da Vila Benjamin Constant, na Urca, que é uma Área Especial de Interesse Social, mas
onde a fiscalização descontinuada, segundo ele, favorece que obras ilegais avancem:
A prefeitura embarga e, no outro dia, as intervenções continuam e, em seguida, tem gente morando lá diz. A Secretaria municipal de Urbanismo afirma que a fiscalização é eficiente e destaca que, quando há uma
obra irregular, o procedimento é embargo, multa, autuação e aumento das multas. Se não for resolvido, o caso é enviado à Procuradoria Geral do município. |
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TÓPICO 26
Folha de São Paulo(Janela) 23/dezembro/2007
O mais recente estudo elaborado pelo SindusCon-SP com a FGV Projetos aponta um déficit habitacional de 8 milhões de famílias no Brasil. Ou seja, cerca de 32 milhões de pessoas moram em residências inadequadas,
dentro de favelas, cortiços etc., ou residem em coabitação, o que significa mais de uma família compartilhando a mesma moradia.
Como complemento deste estudo, estimou-se a demanda habitacional para os próximos anos. Concluiu-se que até 2020 será necessário edificar mais 25 milhões de residências novas no país. O cálculo leva em conta não
somente
uma projeção do crescimento vegetativo e da renda, como o fato de que as crianças e jovens de hoje serão os adultos de amanhã que constituirão novas famílias e necessitarão de moradia.
Suponhamos que, num cálculo otimista, 2 milhões de moradias do atual déficit. habitacional correspondam a famílias que voluntariamente desejam permanecer em coabitação. Isso significa que precisaremos construir 6
milhões de residências para enfrentar o atual déficit, e mais 25 milhões até 2020, totalizando 31 milhões no espaço dos próximos 13 anos.
Trata-se de um desafio gigantesco, mas que a construção civil tem plenas condições de superar. A industria de insumos do setor já começou a realizar grandes investimentos para ampliar a É factível construir .31
milhões de
moradias no Brasil para atender a demanda até 2020 capacidade de produção. Há financiamentos acessíveis para aquisição e até para a importação de maquinário.
A necessidade de mão-de-obra especializada tem sido enfrentada com a abertura de mais vagas nos cursos universitários e técnicos, e com o aumento do treinamento dos trabalhadores pelo Senai e pelas próprias
construtoras. No primeiro semestre de 2008, o SindusCon-SP lançará um programa com essa finalidade para todo o Estado de São Paulo,No âmbito nacional, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e o
governo federal assinaram convênio para proporcionar cursos de pedreiros, pintores, azulejistas e outras atividades específicas da construção a dezenas de milhares de adultos atendidos pelo Bolsa Família, que
poderão se integrar ao mercado de
trabalho.
Há um volume crescente de recursos voltados ao financiamento da habitação nos bancos privados e na Caixa, e um interesse dos agentes financeiros de ampliar o crédito para atender segmentos crescentes da população de
famílias de média e baixa renda. Grandes investidores privados, alguns deles estrangeiros, já estão se movimentando ativamente neste mercado.
Falta apenas articular o amplo acesso à habitação digna para as famílias de baixíssima renda que necessitam de subsídios para realizar o sonho da moradia. As propostas para a concretização desta meta já estão
delineadas e foram lançadas pelo SindusCon-SP em novembro, com o apoio de dezenas de entidades. A partir de então, formou-se o movimento "Moradia para todos. Esta meta é possível", que buscará nos próximos meses o
amplo envolvimento
da sociedade e dos governos da União, Estados e Municípios com a meta do déficit habitacional zero. Se houver sensibilidade política, em 2020 estaremos no Primeiro Mundo no quesito moradia.
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TÓPICO 27
Força-tarefa
sobe Chácara do Céu, derruba puxadinho e notifica donos de casas
irregulares |
O Globo, Cláudio Motta, 29/dezembro
Um puxadinho em construção foi derrubado e moradores de 26 casas
na Favela Chácara do Céu, no Leblon, foram notificados ontem
pela força-tarefa montada pela Secretaria estadual do Ambiente.
Os imóveis foram alvo da ação por estarem acima da cota 100 (cem
metros acima do nível do mar, onde é proibido construir).
Durante a operação, que não teve a participação da prefeitura,
os fiscais multaram ainda o condomínio Quintas e Quintais, no
Alto Leblon,
por causa de uma quadra de tênis dentro do Parque Municipal
Penhasco Dois Irmãos - e também acima da cota 100. De acordo com
o secretário do Ambiente, Carlos Minc, foi a primeira de uma
série de operações. Numa série de reportagens publicadas este
mês, O GLOBO mostrou o crescimento acelerado da Favela Chácara
do Céu.
As próximas operações serão realizadas em janeiro nos morros da
Babilônia (Leme), dos Cabritos (Copacabana), do Cerro-Corá
(Cosme Velho) e em Piraquara (no Parque da Pedra Branca, na Zona
Oeste).
Também ficaremos atentos às mansões de Jacarepaguá. Nosso
objetivo é montar um plano de médio prazo, para que as operações
sejam semanais. Não vamos deixar a Mata Atlântica ser destruída,
apesar de sabermos que esse passivo
ambiental é muito maior do que as nossas forças - disse Minc.
A operação teve apoio de 20 policiais da Delegacia de Proteção
ao Meio Ambiente, além de peritos ambientais do Instituto de
Criminalista Carlos Éboli. Técnicos do Instituto Estadual de
Florestas, funcionários da Coordenação de Integração de Combate
aos Crimes Ambientais e operários da Serla, que derrubaram o
puxadinho, também atuaram. O grupo usou fotos de satélite,
aparelhos de localização via GPS e inclinômetros para detectar
encostas com mais de 45 graus de inclinação, onde a construção é
proibida. Moradores ficaram apreensivos.
Essa operação toda é lamentável. Ficamos com pena dos moradores
que gastaram seu dinheiro e agora podem ter as casas derrubadas
- disse Francisco Figueiredo, um dos integrantes da comissão que
representa os moradores.
Moradores terão que plantar mudas de árvores
O puxadinho foi derrubado por estar em construção e vazio. Já as
casas cujos moradores foram notificados poderão ser demolidas,
caso haja determinação judicial. De acordo com Minc, seus donos
assinarão um documento, no qual se
comprometerão a não aumentar o tamanho de suas moradias, e um
termo de ajustamento de conduta (TAC). Nele, estará previsto que
cada um plante 20 mudas de árvores.
Nosso foco são as ocupações recentes. O fato é que não
encontramos qualquer casa da Chácara do Céu dentro do Parque
Penhasco Dois Irmãos, mas acima da cota 100. Na comunidade,
recebemos a denúncia de que o condomínio do Alto Leblon estaria
dentro do parque. Confirmamos o fato e, além de pagar multa, de
R$200 a R$50 mil, eles precisarão fazer o replantio da área -
afirmou Minc.
O síndico do condomínio, que não quis se identificar, afirmou
que a quadra foi construída em 1979, ou seja, antes da criação
do parque (1992). Para Minc, o fato de a quadra estar acima da
cota 100 já configura irregularidade. O condomínio, segundo o
síndico, já vem pagando à prefeitura uma taxa mensal de R$2,5
mil por ocupação temporária. Além disso, os moradores arcaram
com os custos do replantio de 1.700 mudas de árvores na encosta
do parque.
Para a presidente da Associação de Moradores do Alto Leblon,
Evelyn Rosenzweig, a fiscalização é positiva:
A lei vale para todos. Mas temos informações acerca do
crescimento vertical na Chácara do Céu. Isso nos preocupa muito. |
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