Jornal RECREIO ON LINE,
Ano 1, número 4, Maio 1996
Houve época em que o terreirão era uma favela braba. Hoje é
uma comunidade tranqüila, onde qualquer pessoa pode entrar sem
ser olhada com desconfiança. Não tem ponto de fumo. A criação
do Centro Comunitário com seus programas sociais, a união dos
evangélicos e a presença da 7ª CIPM ajudaram muito a população
se tomar ordeira. "O povo se diverte, bebe sua cerveja dentro
de um clima de respeito e amizade", disse-nos o Secretário da
Associação de Moradores do Terreirão.
LIGAÇÃO DA
AV. DAS AMÉRICAS COM A PRAIA DO RECREIO
Três são as principais ligações entre a Av. das Américas e a
Praia do Recreio. Todas elas passam por dentro do complexo
Canal das Taxas e são pelas seguintes ruas: Rui Carneiro,
Gilka Machado e Guiomar Novaes. Basicamente, dependem de obras
no Canal das Taxas. A passagem da R.
Gilka Machado foi, precariamente
resolvida através do aterro do
pantanal criado pelo rio das Taxas.
Esta solução, além de provocar, por ocasião das chuvas,
inundações no Terreirão e na Vila da Amizade, tem o
piso da rua cheio de buracos. Um
projeto melhor estudado com um
provável pontilhão e
correta drenagem da região, viria
solucionar o traçado desta rua.
A Prefeitura paralelamente ao Projeto Favela-Bairro Canal das
Taxas iniciou uma frente de trabalho para ligar a
Rua Guiomar Novais a praia. O
traçado da rua provocará a demolição de
10 casas. Para alojar as suas 10
famílias foram construídas 10
casas já entregues pela prefeitura com as escrituras
devidamente legalizadas.
COMPLEXO CANAL DAS TAXAS
Formado por duas comunidades carentes (Terreirão e Vila da
Amizade) este complexo de favelas
não tem envolvimento com tráfico de drogas.
Esquecida pelo Poder Público, as duas comunidades sempre
tentaram resolver os seus problemas por
si próprias, buscando auxílio em instituições particulares,
como AMOR, Lions e Rotary que muito ajudaram. O
Terreirão possui eficiente centro comunitário creche, mantendo
programas sociais que beneficiam toda a população.
A da Amizade, através de mutirão
- moradores conseguiu uma creche escola com material doado
Condomínio Alfa Barra. Tem
promessa da Secretaria do Desenvolvimento Social de lhes
fornecer a estrutura necessária para operacionar a escola.
Cada comunidade tem a sua associação de moradores. As duas
associações estão sempre na linha de frente para resolver os
problemas do Canal das Taxas.
O
Canal das Taxas é onde os construtores de casas da classe
média e alta do Recreio vão buscar a mão-de-obra para
trabalhar nas suas obras.
Projeto
Favela-Bairro Canal das Taxas
A
população aguarda com expectativa a transformação do complexo
Canal das Taxas em bairro. Tudo começou
há cerca de 2 anos quando o
ex-subprefeito Eduardo Paes escolheu a Região para ser
incluída no projeto Favela-Bairro.
Pela 1ª vez, as duas comunidades eram lembradas pelo poder
público e alguma coisa era prometida fazer por elas. Apesar
disso o projeto era recebido com muito ceticismo.
Os moradores tinham medo de que seus barracos e casas fossem
derrubados e eles, deslocados para terrenos longe da sua
comunidade. Era reivindicação dos moradores de que os
reassentamentos fossem em terreno perto de suas atuais casas
de maneira a não se desfazerem os vínculos de emprego, de
escolaridade e mesmo de amizade entre os moradores.
A equipe do Arquiteto Humberto Cerqueira, a prefeitura e as
duas associações de moradores, vêm trabalhando no sentido de
fazer crer que as suas condições de vida serão melhoradas com
a implantação do Projeto Favela-Bairro. "Eu avalio que
atualmente 80% da população começa a acreditar que o complexo
do Canal das Taxas venha a se transformar em Bairro"-
disse-nos o 1ª secretário da associação dos moradores do
Terreirão. O projeto começa a conquistar a credibilidade da
população com os primeiros sinais de obras.
Foi iniciada a construção de 66 casas
em terreno da prefeitura localizado na
própria comunidade pela firma
A.Fonseca. São destinadas ao
reassentamento de 60 famílias do Terreirão e
6 da Vila da Amizade que moram em
áreas de risco. A população está impaciente com o atraso das
obras e ansiosa para vir a morar nas casas que estão sendo
construídas. Uma equipe de educação
sanitária formada de técnicas de SMH e de agentes da
comunidade, trabalha no projeto levando esclarecimentos a
população sobre prevenção de doenças e fazendo levantamento de
condições de vida da população.
Jornal RECREIO ON LINE,
Ano 1, número 4, Maio 1996
O bairro do Recreio dos Bandeirantes ocupa uma área aproximada
de 3.435 ha. que corresponde a quase 20% da XXIV Região
Administrativa onde englobam-se os bairros do Joá, Itanhangá,
Barra da Tijuca, Camorim, Vargem Grande, Vargem Pequena,
Recreio dos Bandeirantes e Grumari.
A região do Recreio dos Bandeirantes é limitada a oeste pela
Serra de Guaratiba, ao norte pela Estrada dos Bandeirantes, o
Oceano Atlântico ao sul, e a leste pela Av. Salvador Allende.
A sua real ocupação iniciou na década de
80 quando a população de então era da ordem de
5.600 habitantes. Em
10 anos a sua população
triplicou, saltando para mais de 16.000
habitantes (Fonte: Anuário Estatístico 1990 - Iplan Rio).
Atualmente (1996) podemos considerar uma ocupação superior a
40.000 habitantes. A situação é
preocupante pois quem mora no Recreio sente que nestes
últimos cinco anos a qualidade de vida
do bairro decaiu.
O motivo desta piora deve-se
ao rápido desenvolvimento sem uma infra- estrutura urbana
adequada de esgoto, drenagem, água e respeito ao código
de edificação estabelecido para o bairro.
Vamos tentar caracterizar as principais ações no bairro e suas
características.
CONSTATAÇÃO I
Pelo Decreto nº 3.046 de 27
de abril de 1981, os critérios de edificação estabeleciam
gabaritos de no máximo dois
pavimentos para a região executando para lotes com
testada para a Av. Sernambetiba
com área superior a 2.000 m2
onde se permitiria gabaritos de até
cinco pavimentos. Hoje observa-
se uma profusão de edificações com gabaritos discordantes aos
estabelecidos. Como conseqüência observa-se uma
desorganização, para não se dizer caos,
no plano urbanístico original provocando um
verdadeiro empilhamento de caixotes de
concreto descaracterizando as residências ajardinadas e de
fachadas variadas.
Uma maior fiscalização e controle por parte das autoridades
municipais competentes seria suficiente para sanar este tipo
de pressão negativa.
CONSTATAÇÃO II
O rápido crescimento provoca um aumento natural dos resíduos
produzidos. Entretanto através de um
decreto transferiu-se uma responsabilidade que é do poder
público (saneamento básico) para a comunidade. O
próprio decreto estabelece que para habitações unifamiliares o
sistema de tratamento é de
fossa - filtro - sumidouro.
Contudo devido ao rápido aumento do volume de efluentes
lançado no sub-solo, o mesmo já se encontra saturado e
contaminado pois o tratamento nem sempre consegue atingir os
níveis ideais.
Em conseqüência deste saturamento, em muitos pontos observa-se
aforamentos superficiais de águas
fétidas e apodrecidas comprometendo a saúde e a
qualidade de vida do bairro.
Outras vezes os
efluentes das fossas são conectadas a
uma galeria de águas pluviais cujas tubulações conduzem
as lagoas (ex-lagoinhas) e
canais que
chegam ao mar. Como conseqüências, estes efluentes que
contém, substâncias nocivas ao meio ambiente (nutrientes),
provocam uma proliferação anormal
de aguapés e algas nas lagoas sem contar com a elevação do
índice de coliformes (lagoa e mar).
A
privatização ou a
retomada da responsabilidade de
prover saneamento básico para população por parte do
poder público em função até dos
impostos e destes serviços
não prestados seriam suficientes para
atender a demanda.
CONSTATAÇÃO III
A ocupação das margens dos rios e lagoas, além do próprio
solo, provoca uma impermeabilização do mesmo que por ocasião
das fortes chuvas facilita o escoamento
das águas, ao invés da sua
absorção pelo solo, para os rios
e lagoas. Este escoamento facilita o
arraste do lixo e sedimentos para dentro
da calha dos rios e lagoas provocando o seu assoriamento.
Como tempo o escoamento destas águas, concentradas em curto
espaço de tempo, provoca o transbordamento e o alargamento de
extensas áreas baixas como o caso da maior parte do Recreio
dos Bandeirantes, principalmente ao longo da Av. Sernambetiba.
A solução é a execução de um programa de dragagem nas lagoas e
a abertura das calhas dos canais e rios para facilitar a
drenagem pluvial bem como a construção de bacias de contenção
para reter o lixo e os sendimentos.
A desocupação das margens dos rios e
lagoas bem como a sua revegetação também seriam medidas
necessárias.
CONSTATAÇÃO IV
Outro problema latente,
conseqüência do rápido crescimento do
bairro é a falta d'água.
Com a entrega das obras de grandes
condomínios, o crescimento de
edificações comerciais, e a
estagnação do aumento da capacidade da rede de abastecimento
da CEDAE, fatalmente vai faltar água.
Este problema se agrava nas férias com o aumento do consumo e
da ocupação plena de várias residências de
verão e alugadas para turistas.
A solução pode se processar
através da privatização do emissário
submarino da Barra cuja empresa vencedora vai também
aumentar a capacidade de fornecimento
d'água.
Resta-nos contudo, pressionar as autoridades competentes do
Estado na efetivação da licitação do emissário que anda
paralisada.
Atualmente pode-se citar outras
iniciativas isoladas já em
implantação e que poderiam ser melhor
integradas e potencializadas por
uma liderança seja da própria
comunidade local, seja pelo
poder municipal, ou mesmo pelo
estado.
Dentre estas iniciativas dignas de nota, pode-se citar:
- Retomada da recuperação da Estação de
Tratamento de Esgoto do Condomínio Barra Sul,
paralizada a mais de 5
anos e que lança seus efluentes
in natura na
Lagoa de Marapendi.
- Desenvolvimento de tecnologia ambientais alternativas e de
baixo custo de manutenção, a nível de tratamento terciário de
efluentes domésticos, tais como os "wetlands" . Este processo
se baseiam no aproveitamento da capacidade de depuração de
efluentes pela vegetação das áreas
baixas e marginais das lagoas.
- O crescimento da participação da sociedade civil através de
associações, câmaras, e grupos de trabalho da denúncia dos
problemas e na procura das soluções junto com o poder público
visando o benefício de toda uma coletividade.
- A conscientização e a
maturidade do espírito da cidadania
por parte da população nos últimos anos.
Enfim,esta breve reflexão, desenha um quadro parcial da
situação das principais carências do Recreio dos Bandeirantes
com uma sinalização de suas soluções. Entretanto, creio que a
principal mensagem ou estratégia para que a comunidade do
Recreio acelere o processo de melhoria da qualidade de vida do
seu bairro seria...
Se você não ajudar a reivindicar as melhorias do seu bairro,
quem o fará?
DAVID ZEE
ECOLOGISTA |