Reportagens 2005

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Reportagens ( 9ª parte)

Reportagens 2005

Tópico 1 Favela não pára de crescer no Recreio
Tópico 2  Quatro em cada 10 latino-americanos vivem em favela, diz Cepal
Tópico 3  Alerta contra a pobreza extrema
Tópico 4  Recreio quer reformas em avenidas
Tópico 5   Pobreza em endereço nobre na Zona Sul
Tópico 6  Jardim Botânico quer retomar o que é seu
Tópico 7  Caça aos grileiros em Jacarepaguá
Tópico 8  Fiscais ameaçados por loteadores e grileiros
Tópico 9 Tiroteios diários provocam um êxodo em Vila Isabel
Tópico 10 Recordista de crimes ambientais
Tópico 11 Policiais são suspeitos de grilagem
Tópico 12 Vende-se o Rio em qualquer esquina
Tópico 13 Pancadaria em desocupação
Tópico 14 Operário morre baleado em morro
Tópico 15 Cruzada à espera de um horizonte
Tópico 16 Tráfico desafia a polícia na Favela da Rocinha
Tópico 17 Remoção de barracos custará R$ 10 milhões
Tópico 18 Encontrado acampamento do tráfico
Tópico 19 ONU projeta déficit habitacional para 3 bilhões de pessoas em 2030
Tópico 20 Comerciante é assassinado no Recreio
Tópico 21 Vale tudo na Rocinha
Tópico 22 Desordem sob investigação

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Favela não pára de crescer no Recreio


Jornal do Commercio, 10/janeiro de 2005

Imóveis próximos custam até 50% menos

Rodeada por casas de luxo e a duas quadras da praia, a favela do Canal das Tachas, no Recreio dos Bandeirantes, não pára de crescer. A população local, que em 2000, segundo a Prefeitura, era de 8 mil pessoas, já chega a 12 mil,
de acordo com a associação de moradores. Apesar disso, a comunidade, também conhecida como Terreirão, não deve ser contemplada pela nova fase do programa Favela-Bairro.


E é justamente a falta de estrutura urbana, como iluminação pública, rede de esgotos, coleta de lixo, que acaba levando à desvalorização de até 50% nos imóveis de classe média a média alta da região.

Para o presidente da Câmara Comunitária do Recreio, Nilton Moura, é necessário mais investimentos do poder público na comunidade. Segundo ele, a convivência entre os moradores do bairro e da favela é pacífica, mas poderia
ficar ainda melhor se houvesse reestruturação e padronização dos imóveis.

- Não temos problemas com a favela, até porque ela não tem tráfico de drogas e violência. Mas é inegável que os imóveis situados no entorno da favela sofrem uma grande desvalorização, de até 50%, que poderia ser um pouco menor se ela recebesse uma reformulação arquitetônica - analisa Moura.

De acordo com ele, muitas casas situadas próximas à favela poderiam valer cerca de R$ 600 mil, se estivessem localizadas em outro ponto do Recreio. Mas, como estão próximas à comunidade, elas são vendidas por, no máximo, R$ 400 mil. São residências amplas, com piscina, sauna, churrasqueira, em condomínios fechados. Mas a proximidade com o Terreirão acaba espantando possíveis compradores, com receio de morar muito próximo à favela.

Maior investimento pode reverter a situação

O presidente da Associação de Moradores do Recreio (Amor), Cleomar Paredes, defende maiores investimentos da Prefeitura no local para tentar amenizar o problema da desvalorização. Segundo ele, é necessário uma urbanização total no Terreirão.

- Fazer melhorias na favela, significa melhorar a qualidade de vida de todos os moradores do Recreio, inclusive de quem não mora na comunidade..

O maior problema da comunidade é a falta de saneamento, o que prejudica os moradores do bairro. Não é só deixar o local mais bonito, mas também melhorar as condições de higiene da população da comunidade. Não podemos
esquecer que as casas próximas acabam sofrendo com a falta de estrutura da favela", defende Paredes.

Além disso, ele criticou a pouca fiscalização da Prefeitura em relação ao crescimento da favela. "Se não tem como remover a comunidade, então tem que limitar o seu crescimento. Vemos prédios crescendo e chegando a até cinco
andares. Cadê a fiscalização?", observa.

Remoção das famílias está descartada

Uma das alternativas para melhorar a valorização dos imóveis do Recreio seria a remoção da favela, com a realocação dos seus moradores para um outro lugar próximo, com mais infra-estrutura.

Porém, segundo a Subprefeitura da Barra da Tijuca e adjacências, a possibilidade de retirada da favela do local é praticamente nula. Apesar da desvalorização dos imóveis próximos, a comunidade já está instalada no
bairro há muitos anos e possui uma grande estrutura de moradia e comércio.

- O trabalho que tentamos fazer é impedir o seu crescimento. Sempre que uma casa é construída de forma irregular, nós retiramos a construção. Mas, não há dúvidas de que não podemos tirar a favela de lá, por mais que haja
desvalorização de imóveis, porque já existe uma malha formal em seu interior - diz o subprefeito, André Duarte.

Ele afirma que a Subprefeitura realiza parte do recapeamento da comunidade e mantém um compactador da Comlurb para limpeza da comunidade, o que ajuda a impedir o acúmulo de lixo no Canal das Tachas, que corta a favela e passa
próximo às residências do Recreio.

Entretanto, André ressalta que é preciso tomar cuidado para não criar o que ele define como uma indústria de ocupação. "Não podemos esquecer que o Terreirão é fruto de uma ocupação irregular. Não pretendemos retirar ninguém da comunidade e tentamos mantê-la dentro das possibilidades, mas, aquele terreno foi invadido há muitos anos", acrescenta.

Hoje são aproximadamente 3.500 casas e 150 lojas cadastradas. O preço mínimo de uma casa na comunidade - que ocupa um espaço de 10 mil metros quadrados - é de R$ 25 mil, segundo a associação dos moradores. Há 58 anos, a favela era uma pequena colônia de pescadores, que, com o passar do tempo, se transformou em uma grande comunidade carente.

Segundo o presidente da associação de moradores da comunidade, Alcir Matias Machado, o programa Favela Bairro já foi realizado no local, trazendo muitas melhorias, mas foi interrompido antes da conclusão total das obras. "Não
sabemos porque parou o trabalho, mas gostariamos que fosse retomado para o bem de todos, incluindo os moradores do bairro", afirmou.

A informação é rebatida pela Secretaria Municipal de Habitação, que diz terem sido concluídas as obras do Favela-Bairro no local. A Prefeitura está buscando verbas junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas
para aplicar em outras favelas.

 

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http://noticias.uol.com.br/economia/ultnot/afp/2005/01/18/ult35u39113.jhtm

18/01/2005 - 15h50

SANTIAGO, 18 jan (AFP) - As condições de pobreza junto à desigualdade fazem com que 44% da população da América Latina viva em favelas ou bairros precários, que só oferecem as condições mínimas para sobreviver, segundo um estudo da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) divulgado esta terça-feira


A maior parte das favelas se concentra nas cidades, onde vivem três de cada quatro latinos, de acordo com o documento "Pobreza e precariedade do habitat na América Latina", preparado pela Cepal, que tem sede em Santiago.

Do total de lares em bairros pobres, 76% apresentam problemas na qualidade de sua construção e de seus serviços básicos, além das questões de segurança.

Em sua maioria, são lares encabeçados por mulheres que, por sua vez, acumulam o trabalho de dona-de-casa com o de chefe da família, mas nem sempre o estado de pobreza se deve à informalidade do trabalho do provedor da casa.

"As famílias que vivem em favelas e casas precárias não necessariamente subsistem com base em empregos informais, assim como muitos lares que dependem de um trabalho informal desfrutam de uma boa casa", afirma o texto.

A situação de precariedade aumenta ainda mais nos bairros pobres localizados nas pequenas cidades dos países da região, aonde, em sua maioria, não chegam os recursos estatais.

"O grande desafio é prover de saneamento adequado cerca da metade dos lares pobres existentes nos centros urbanos", assinala o documento.

Nas áreas metropolitanas as condições de vida são menos agudas, mas seus habitantes são menos favorecidos quanto ao acesso regulamentado a residências no que diz respeito à posse.

"Nos aglomerados metropolitanos ocorreu uma consolidação material da informalidade", afirma o documento da Cepal, descrevendo a falta de escrituras que caracterizam a posse da maioria dos lares construídos nesses lugares.


No entanto, o estudo constatou uma tendência ao crescimento vigoroso dos centros urbanos onde já existe uma acentuada pobreza.

A Cepal prevê que nos próximos 15 anos a população das grandes cidades da região aumentará cerca de 2% por ano, cifra que chega a 3% na Bolívia, Guatemala, Haiti, Honduras e Paraguai, os países mais pobres da América
Latina.
 

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Alerta contra pobreza extrema

Jornal O Globo, Rio, 19 de janeiro de 2005 

Enio Vieira
BRASÍLIA

O Brasil deverá atingir as metas fixadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o fim da pobreza extrema até 2015, mas terá que dar atenção nos próximos anos a 13 bolsões de miséria que englobam 600 municípios em regiões com 26 milhões de pessoas. O coordenador-residente do sistema ONU no Brasil, Carlos Lopes, disse ontem que o país poderá adotar nestes locais várias das 16 ações de impacto rápido que estão no relatório "Investindo no
desenvolvimento, um plano prático para atingir os objetivos de desenvolvimento do milênio", preparado por especialistas e divulgado anteontem em Nova York.

Segundo a ONU, os 13 bolsões - que têm população equivalente a do Marrocos, ocupando território quatro vezes maior que o da França - apresentam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) comparável ao de Uganda, um dos piores do
mundo. Os focos de miséria estão espalhados pelo Brasil, à exceção de Rondônia, Roraima, Amapá, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte. No Estado do Rio, o bolsão de miséria batizado de Bacia do Itabapoana
reúne municípios do Norte fluminense e os de Espírito Santo e Minas Gerais.

Como deve alcançar objetivos de daqui a dez anos, a ONU sugere que o Brasil adote metas mais ambiciosas de redução da pobreza, para cumpri-las até 2015, ou diminua o prazo fixado.

- Serão necessárias políticas bem focalizadas nestes 600 municípios porque se trata de um país muito desigual. Também deve haver coordenação para evitar a fragmentação de políticas entre os governos federal, estadual e
municipal - disse Lopes.

Especialista critica desigualdades

As 16 ações de impacto rápido sugeridas vão da redução de custo de matrícula escolar à criação de fundos para reabilitar bairros de grandes cidades, passando por planejamento familiar e reflorestamento. Para o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), os bolsões de miséria não estão só no interior como do Nordeste e do Vale do Ribeira (SP), mas também são graves em metrópoles como Rio e São Paulo.

- No Rio, observam-se IDHs que vão do patamar da Espanha à Suazilândia. O problema também já existe nas cidades médias do interior - disse o coordenador do Pnud no Brasil José Carlos Libânio.

A ONU considera pobreza extrema a condição de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia e sem serviços como água tratada e esgoto. O documento da ONU consta do Projeto Milênio, ação para acabar com a pobreza extrema de 2000 a 2015 e foi elaborado por 250 especialistas, coordenados pelo economista Jeffrey Sachs.  No Brasil, foi contratada uma equipe de seis pessoas, entre elas Paulo Renato de Souza, ex-ministro da Educação do governo Fernando Henrique. Carlos Lopes disse que o país avançou em áreas como combate à Aids e ensino
fundamental de 7 a 14 anos. Os problemas estão em meio ambiente, saúde (doenças como hanseníase) e desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Para ele, o governo Lula tem enfocado corretamente o combate à pobreza.

- O governo Lula tem avaliação positiva em adotar essas políticas sociais. Não tem sentido comparar as políticas do governo passado e o atual: um ficou oito anos, este só tem dois anos. Deve haver continuidade das políticas e
inovação, como o Bolsa Família, agrupando programas.

Segundo Libânio, há muita pobreza na zona rural do Nordeste e há um componente racial, pois oito em cada dez pessoas em pobreza extrema são pardos ou negros.

- O Brasil tem recursos para (resolver os problemas) nos 600 municípios em pobreza extrema.

AL: 44% vivem em favelas ou precariamente

SANTIAGO. As condições de pobreza e a desigualdade fazem com que 44% da população da América Latina vivam em favelas ou subúrbios com estrutura precária, que apenas lhes dão as condições mínimas para sobreviver, alertou
ontem a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). A maior parte das favelas está nas cidades, onde vivem três de cada quatro latino-americanos, disse a Cepal em seu estudo "Pobreza e precariedade do
habitat na América Latina".

Dos domicílios em bairros precários, 76% têm problemas de qualidade da construção e dos serviços básicos, como saneamento e iluminação. E a maioria desses domicílios é chefiada por mulheres.

A situação de precariedade é maior nos subúrbios das cidades do interior, que, em sua maioria, não chegam a receber ajuda federal. As condições de vida nas regiões metropolitanas são melhores; em compensação, poucos têm
título de propriedade de sua moradia.

A Cepal estima que, nos próximos 15 anos, a população das grandes cidades crescerá 2%. Em Bolívia, Guatemala, Haiti, Honduras e Paraguai - os países mais pobres da região - esse aumento será de 3%.

Bird: crédito rápido de US$ 2,2 bi

Martha Beck

BRASÍLIA. O Banco Mundial (Bird) e o governo brasileiro estudam uma forma de acelerar a liberação de recursos da instituição para o país. Um dos alvos dos financiamentos seriam as recém-aprovadas Parcerias Público-Privadas
(PPPs). Segundo a vice-presidente do Bird para América Latina e Caribe, Pamela Cox, a idéia é permitir que o banco consiga emprestar para o Brasil os US$ 2,2 bilhões previstos para 2005.

Nos últimos anos, o organismo não liberou todos os recursos disponíveis ao país porque os governos - União, estados e municípios - não tiveram condição de oferecer contrapartida financeira, por restrições na área fiscal. Em
2004, o governo conseguiu receber do Bird US$ 1,4 bilhão, do total de US$ 1,5 bilhão previsto. Mas o Brasil teve de pagar US$ 1,5 bilhão relativo à amortização de empréstimos de anos anteriores. Ou seja, o país pagou mais do
que recebeu da instituição.

Pamela afirmou que o banco tem interesse em investir não apenas na área social, mas em infra-estrutura e saneamento. Ela elogiou a política econômica e disse que o Bird tem interesse em atuar nas PPPs:

- O banco tinha uma previsão de crescimento de 5% do PIB para a economia brasileira em 2004. Ainda não temos os números para 2005, mas esperamos que a expansão continue porque o país teve bom desempenho com sua política
econômica.

O Bird passará a direcionar recursos para projetos que não exijam contrapartida financeira do governo. São programas já previstos no Orçamento da União - o país precisa apenas se comprometer a fazê-los. O Bolsa Família,
que deve receber US$ 572 milhões do Bird este ano, é um exemplo. No fim do ano passado, o banco já havia liberado um empréstimo de US$ 505 milhões para o incentivo a políticas ambientais nesse mesmo formato.

- O banco está comprometido com o Brasil e estamos estudando uma maneira de permitir que o país consiga mais investimentos - disse Pamela, que visita o Brasil pela primeira vez como vice-presidente do Bird para América Latina e
Caribe.

Pamela teve encontros ontem com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, do Meio Ambiente, Marina Silva, e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Patrus Ananias. Pamela disse a Patrus que o Bird quer que a
experiência brasileira com o Bolsa Família sirva de exemplo para a criação de um programa social a ser financiado pela instituição no Egito. A representante do Banco Mundial convidou o ministro do MDS para acompanhar a
missão da instituição àquele país, no próximo dia 19.
 

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Recreio quer reformas em avenida


Jornal do Brasil, Barra, 11 de janeiro de 2005

Moradores da Av. Guiomar de Novaes reivindicam melhorias como as realizadas na Gilka Machado

As obras de duplicação da Avenida Gilka Machado, no Recreio dos Bandeirantes, foram concluídas no mês passado, agradando aos moradores da região. Agora é a vez de os moradores e comerciantes do entorno da Avenida Guiomar de Novaes, no mesmo bairro, solicitarem melhorias.

Segundo eles, a via, uma das principais da comunidade do Terreirão - faz ligação entre a Praia do Pontal e a Avenida das Américas, na Barra -, precisa de sinalização e fiscalização de trânsito.

- A falta de educação dos motoristas daqui, que estacionam no meio do via, e a carência de placas e de fiscalização fazem com que o trânsito da local fique tumultuado. Principalmente nos horários de pico, quando os ônibus chegam a interromper a pista - comenta o presidente da Unificação das Associações de Moradores da Zona Oeste, Antônio Carlos Matias, 40 anos.

Antônio Carlos, que citou a duplicação da via como uma solução para os problemas, lembrou também que essa mudança pode prejudicar moradores que vivem às margens da pista:

- Uma duplicação, como a que foi feita na Gilka Machado, seria a melhor solução. Mas não temos espaço aqui. Por isso, outras melhorias podem ser feitas inicialmente - ele sugere.

O mecânico Fernando Rodrigues, 38 anos, que há 32 vive no local, é outro que reivindica mudanças. Mas, para ele, somente a duplicação de toda a via seria a solução para o trânsito congestionado:

- Essa via é muito estreita. Mesmo sendo de mão dupla, não há espaço para o fluxo de carros. Para mim, a duplicação deve ser feita, mesmo que, para isso, moradores tenham que ser despejados de suas casas - opina.

- A via está muito bagunçada. Falta sinal e, além disso, os carros e as Kombis param em qualquer lugar. Só uma reforma como a da Gilka Machado, com duplicação, solucionaria nosso caso - acrescenta outra moradora, a dona de casa Lúcia Oliveira, 51 anos.

A ampliação da via é solicitada principalmente no trecho da ponte do Canal das Taxas à Praia do Canto do Recreio, local onde a rua ainda possui somente uma pista para as duas mãos de trânsito.

Segundo a Secretaria Municipal de Obras, a prefeitura tem interesse em dar continuidade às obras de infra-estrutura e reformas da região, mas a prioridade do órgão para 2005 são as vias ainda não urbanizadas.

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Pobreza em endereço nobre na Zona Sul



Jornal O Globo, 13 de fevereiro de 2005


Cruzada São Sebastião completa 50 anos no coração do Leblon

São pelo menos três endereços oficiais: Avenida Borges de Medeiros 699, Rua Humberto de Campos 95 e Rua Padre Bruno Trombetta 99. O local conhecido também por "aquela rua", a "rua da igreja" ou apenas "ali" é onde foi implantado o maior e mais polêmico projeto social no coração do Leblon. Oficialmente nascida em 29 outubro de 1955, a Cruzada São Sebastião está completando 50 anos. O conjunto habitacional nasceu de um convênio firmado
entre o então presidente da República, Café Filho, e Dom Hélder Câmara, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Criado para ser o plano piloto da meta de Dom Hélder de acabar em dez anos com as 150 favelas existentes na cidade naquela época, dando a seus moradores vida digna, esse conjunto habitacional enfrentou grandes
interesses imobiliários, pois está situado numa das áreas mais valorizadas do Rio.

Com 910 famílias e cerca de quatro mil moradores distribuídos em dez prédios, com apartamentos conjugados, de um ou dois quartos, o conjunto conta com escola, creche e cursos. Tem hoje pelo menos 300 moradores de
nível superior, entre médicos, advogados, professores e psicólogos. Mas nada disso parece mudar o estigma que transformou a comunidade em enclave social num dos bairros mais ricos da cidade.

- O estigma de favela continua, mas hoje muito menor. O que existe de preconceito é de fora para dentro. Antigamente, eram os moradores que se sentiam como favelados. Mas a Cruzada não é favela. Temos todos os serviços públicos de infra-estrutura, escola, creche. Vários serviços sociais e um vestibular próprio. Trata-se de um conjunto de baixa renda - diz o padre Marcos Belizário Ferreira, há 14 anos na Igreja Santos Anjos, construída
como parte do projeto de Dom Hélder.

Segundo ele, toda vez que acontece um crime no bairro a polícia e a imprensa voltam logo suas atenções para a Cruzada.

- No outro dia disseram que o assaltante responsável pela morte de uma ciclista era da Cruzada. Fui verificar na delegacia e não era. É claro que enfrentamos os mesmos problemas de outros locais, como desemprego e drogas -
conta o padre.

Delegacia tem fotos de moradores com ficha policial

Primeira suspeita da polícia em todos os crimes que ocorrem no bairro, a Cruzada responde por 20% dos casos, segundo levantamento do comissário Orlando Arruda, da 14ª DP (Leblon). A delegacia tem um álbum de fotografias
intitulado "Cruzada", com 91 imagens de moradores com ficha policial no bairro, alguns deles condenados e presos. Na maior parte dos casos, são ladrões de bicicleta, assaltantes de transeuntes e residências. Mas também
há traficantes:

- O tráfico aqui é uma extensão do que existe no Morro da Mangueira e em outros da mesma facção criminosa. Não é o maior problema, até porque não há tiroteios, eles não matam moradores ou rivais na comunidade. Aqui o maior
problema são os assaltos a transeuntes no Jardim de Alah - diz o comissário.

Quase 75% dos imóveis têm dívida do IPTU

Total do valor não quitado chega a R$1,1 milhão. Moradores formaram comissão para tentar evitar despejo

Se antes corriam o risco de ser varridos do Leblon pelo processo de remoção de favelas da Zona Sul do Rio, hoje os moradores da Cruzada São Sebastião têm na dívida de R$1,1 milhão de IPTU o seu maior pesadelo. Dos 910 imóveis,
676 estão inscritos na Dívida Ativa do Município, ou seja, 74,28%. Destes, 456 estão sendo cobrados judicialmente. Cinco apartamentos estão na iminência de irem a leilão. Outros 220 estão tendo a dívida cobrada
amigavelmente.

O fantasma do despejo judicial levou alguns moradores a criarem uma comissão para buscar apoio político e jurídico para o problema:

- Decidi convocar uma reunião depois que vi um cartaz da Amorabase (Associação de Moradores do Bairro de São Sebastião do Leblon) dizendo que a entidade não tinha responsabilidade sobre os leilões. Acho que todos,
incluindo a associação, somos responsáveis pela Cruzada. Se a associação representa seus moradores, então ela tem que acompanhar o problema. Estamos buscando um meio legal de mudar esta situação - afirmou Márcia Vera de
Vasconcelos, que é presidente da Federação das Associações de Moradores (Fame) e ex-presidente da Amorabase.

Segundo o fotógrafo Carlos Cardoso, a solução pode estar na isenção do IPTU:

- Temos que examinar a lei, mas há bairros que conseguiram isto. Vamos ver. Estamos buscando os advogados da comunidade para estudar o problema.

Segundo o prefeito Cesar Maia, as dívidas com a prefeitura podem ser parceladas:
- Em geral, em casos como esse, se oferece um parcelamento longo e com isso se equaciona um momento difícil por que as famílias passam. Isso temos feito sempre.

Segundo o padre Marcos Belizário Ferreira, muitos moradores enfrentam o problema do desemprego. Graças a um convênio feito com apoio do presidente da Associação de Moradores do Leblon, João Fontes, uma empresa do bairro doa mensalmente cestas básicas, que são entregues na Igreja Santos Anjos para serem distribuídas entre moradores mais necessitados. Com a ajuda de empresas, ele conseguiu também convênios para cursos de informática e um
jornal comunitário produzido por estudantes da PUC.

- O João Fontes é um dos moradores do Leblon que lutam pela interação social da Cruzada São Sebastião. Eu assumo a responsabilidade por sua canonização - brinca o padre.

Morador que pulava muro de clube virou funcionário

Um projeto que já assustou os moradores da Cruzada hoje é apontado como uma nova chance de futuro para a comunidade. Graças a um convênio com a prefeitura, as associações de moradores e a empresa Cencon (formada pelos grupos BVA e Santa Isabel), o Shopping Leblon, que está em obras, promete empregar mão-de-obra da Cruzada enquanto a prefeitura do Rio cuida da revitalização do canal Jardim de Alah, que já foi chamado até de Faixa de
Gaza devido aos constantes assaltos a transeuntes:

- A prefeitura, na reforma do Jardim de Alah, determinou espaços interativos com a Cruzada. Um pouco antes o fez com o mesmo objetivo na Lagoa Rodrigo de Freitas - diz o prefeito Cesar Maia.

Entre os espaços interativos, está o do projeto Gol de Placa, que tem entre seus fundadores o ex-jogador de futebol Adílio. O projeto é uma escolinha de futebol, que promete formar jogadores para atuarem em grandes times. A
iniciativa, que começou na Cruzada, já está em 50 comunidades do Rio.

O projeto da Cruzada São Sebastião teve início no 36º Congresso Eucarístico Internacional, realizado em julho de 1955 no Aterro do Flamengo, sob a coordenação do então secretário-geral da CNBB, Dom Hélder Câmara. Ao final
do congresso, Dom Hélder decidiu usar seu poder de organização para tocar a iniciativa. A favela escolhida para a experiência piloto foi a Praia do Pinto, no Leblon.

Os recursos substanciais para o projeto foram garantidos somente em 1956, com o decreto do presidente Juscelino Kubitschek de transferência para a Cruzada do terreno no lado direito da Avenida Brasil até Irajá, onde hoje
funciona o Centro de Abastecimento São Sebastião. Os prédios começaram a ser entregues aos moradores em janeiro de 1957.

O engenheiro Gilberto Paixão, que participou das obras para a realização do Congresso Eucarístico, foi convidado por Dom Hélder para fiscalizar os trabalhos na Cruzada São Sebastião:

- Participei das obras desde a colocação dos tapumes. Era um momento muito difícil, houve muita resistência à construção do conjunto habitacional em área tão valorizada. Se o projeto da Cruzada São Sebastião tivesse vingado
em outras áreas da cidade, certamente não haveria o número de favelas que temos hoje no Rio.

Em 1964, a Cruzada sofreu um duro golpe: com a entrada do regime militar, o projeto foi esvaziado, Dom Hélder enviado para Recife e os quatro mil moradores do conjunto viram a casa de seus sonhos virar gueto.

- Foram anos terríveis, cansei de pular o muro para fugir dos tiros. Os policiais entravam de camburão atirando para todo lado. Eles chegavam, abriam a porta do camburão e recolhiam moradores na rua como se fossem
bandidos - lembra Adílio, ex-jogador do Flamengo, o mais ilustre morador da Cruzada.

Adílio, o craque que virou herói do bairro

Adílio foi escolhido pelo padre Bruno Trombetta, pároco da Igreja Santos Anjos na época, para ser o exemplo a ser seguido por outros moradores. Uma responsabilidade que mudou definitivamente sua vida:

- Até hoje eu não bebo e não fumo. Eu tinha 17 anos, quando o padre Trombetta disse que eu deveria aproveitar o fato de ser jogador de uma equipe campeã do mundo para mostrar que na Cruzada havia boas pessoas, com
qualidades e que deveriam ter as mesmas oportunidades que outras - lembra ele.

Adílio já era conhecido quando, durante uma blitz na Cruzada, um policial do 19º BPM (Copacabana) pegou sua mochila e jogou no chão todos os seus pertences. Uma cena constrangedora, ocorrida na frente da namorada do
jogador:

- Como sempre fui muito calmo e disciplinado, não reagi. Três dias depois, fui homenageado por um major do 19º BPM, que perfilou os policiais para a minha passagem. Um amigo meu reconheceu o policial que havia me ofendido e
ele só não foi preso a meu pedido.

Para acabar com a violência exercida na época por policiais, Adílio e padre Trombetta conseguiram apoio para a instalação de um posto de policiamento comunitário no local, que funciona até hoje. Adílio tornou-se jogador
pulando o muro do Clube de Regatas Flamengo. Seus amigos, os irmãos José e Carlos Cardoso, também pularam muita vezes o muro da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e acabaram mudando a relação entre o clube e a
incômoda vizinhança:

- Eu pulava para pegar bola de tênis para os jogadores do clube. Acabei arranjando um emprego e com o tempo me tornei coordenador de atividades esportivas. Conseguimos convênios e hoje o clube tem muitos atletas que
vieram da Cruzada. As crianças da Escola Santos Anjos fazem recreação no clube - diz José.

Carlos Cardoso é hoje fotógrafo oficial da AABB, mas também é o historiador da Cruzada e participa dos projetos sociais.

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Jardim Botânico quer retomar o que é seu

Jornal O Globo, Rio, 27 de fevereiro de 2005 

Paula Autran

Criado em 1808 numa área destinada a uma fábrica de pólvora, o Jardim Botânico está prestes a ver explodir uma situação que se arrasta há quase cem anos. A União - que é dona daquelas terras, hoje em nome do Ministério
do Meio Ambiente - já conseguiu cinco sentenças de reintegração de posse das cerca de 240 ações movidas a partir de meados dos anos 80 para tentar reaver terrenos ocupados hoje por 589 casas. Divididos em bairros como Vila
Caxinguelê, Vila da Major e Morro da Margarida, os imóveis abrigam cerca de 3 mil moradores. As decisões judiciais são as primeiras de uma série, acredita o presidente do Jardim Botânico, Lizst Vieira, que quer ampliar a
área de pesquisa de um lugar considerado parte da Reserva da Biosfera mundial pela Unesco e que já perdeu 15,8% de sua área devido a ocupações e invasões.

Administração precisa de novas áreas de estudo

Parte desse projeto será concretizada até o dia 12 de junho, quando o Jardim Botânico completa 197 anos. Para esta data está marcada a inauguração da primeira expansão do arboreto (área de visitação do jardim) em mais de cem
anos. No meio do caminho estão duas casas de moradores já em processo de despejo. A polícia pode ser chamada para retirar as famílias de Conceição Marins Maciel e de Amâncio Ramos Moreno a qualquer momento do local .

- As desocupações são para a expansão do arboreto, uma ampliação de cinco mil metros quadrados que interessa não só do ponto de vista ambiental, por ampliar a área de estudo das espécies, mas também cultural e histórico, já
que agora estamos podendo recuperar o Aqueduto da Levada, do século XVIII. Lá também estamos criando um novo estacionamento de visitantes - explica Lizst.

- Não temos áreas novas para introdução de coleções. Também precisamos de uma área de "quarentenário", onde ficariam novas plantas antes de serem introduzidas, e de uma área de tratamento de lixo, um centro de compostagem
para produzir adubo. O que temos é uma área de floresta, de recuperação de Mata Atlântica, que não pode ser ocupada e interessa para pesquisa - completa Celso Bredariol, diretor da prefeitura do Jardim Botânico.

Recentemente, a casa do morador de um terreno vizinho foi derrubada por solução negociada: ele foi morar na casa da viúva de um ex-funcionário, que se mudou. Também naquela área, uma parte da quadra de bocha do clube
Caxinguelê foi reapropriada. Do outro lado do Jardim Botânico, uma casa da Rua Major Rubem Vaz, na Gávea, também é alvo de despejo. E um imóvel vizinho, já retomado pela União, foi transformado na Pousada dos Pesquisadores.

- Com este avanço, as situações de moradia irregular e favelização acabam aparecendo. Hoje já há um consenso: ninguém quer novas invasões. Manter a área já será uma vitória - diz o procurador-chefe do Jardim Botânico, Renato
Rabe, da Advocacia Geral da União.

Os primeiros moradores do Jardim Botânico eram funcionários, incentivados a viver ali por problemas de acesso ao local. O que na época eram algumas poucas casas em meados da década de 90 já havia se transformado em 474
imóveis. Em dez anos, com os "puxadinhos" construídos por parentes dos ex-funcionários e invasores de outros bairros, este número aumentou 25%. Na área do Jardim Botânico também há uma escola municipal, uma delegacia, um quartel dos Bombeiros e o Grêmio Recreativo do Caxinguelê.

- O que estão fazendo é uma covardia. Moradores idosos receberam prazo de trinta dias para deixar as casas. A gente não quer ser apontado como invasor - reclama Emília Maria de Souza, presidente da Associação dos
Moradores do Horto (AMA-Horto), que é filha de um ex-funcionário e vive há 50 anos no local - Nossa maior preocupação é não aumentar a comunidade. Ninguém mais pode construir qualquer coisa aqui. Se houve aumento, foi por causa do próprio Jardim Botânico, que não fez qualquer controle ao longo dos anos.

Para resolver o impasse entre solucionar o problema habitacional e o ambiental, foi criada uma comissão interministerial (Planejamento e Meio Ambiente), que está estudando a situação. Ela tem três meses, contados a
partir de 28 de janeiro, para apresentar um relatório.

Visitantes ganharão novos acessos e estacionamento

Em meio ao conflito, o Jardim Botânico - que recebe 500 mil visitantes por ano - também ganhará de aniversário as inaugurações do centro de compostagem, de novos acessos com bilhetagem eletrônica, de um estacionamento na Pacheco Leão, do chafariz central recuperado, da casa dos pilões (onde funcionava a casa de pólvora, hoje museu), igualmente reformada, e de um totem de informações eletrônico.

Moradores temem despejo

A casa simples do funcionário aposentado do Ministério da Agricultura Amâncio Moreno, de 73 anos, fica num dos bairros mais valorizados da Zona Sul, tem uma pequena piscina e um invejável jardim. Valor do "aluguel": R$ 60, para o Serviço de Patrimônio da União. Amâncio comprou a posse do imóvel do marido de uma prima, que trabalhou no Jardim Botânico e morava ali.

- Há 22 anos a gente acorda e pensa: será que é hoje que vou ter que sair? Lógico que eu não gostaria de sair daqui, mas eu só queria que me dessem um terreno e material para eu construir minha casinha - diz ele, enquanto
mostra fotos do lugar onde vive com a mulher e o filho desde 1972. - Chamam isto de piscina, mas era o poço dos marrecos do ministro da Agricultura, que ficava na casa em frente quando vinha ao Rio.

A casa, convertida em sede da administração do Jardim Botânico em 1995, também serviu de moradia ao general Ernesto Geisel, antes de ele assumir a Presidência. Na ocasião, pesquisadores que trabalhavam com foices chegaram a ter problemas com seguranças militares. Hoje os problemas podem envolver a polícia e moradores como Conceição Maciel, de 74 anos:

- Eu não vim para cá. Nasci aqui, filha de um funcionário, e me casei com outro empregado do Jardim Botânico. Não tenho para onde ir.

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Caça aos grileiros em Jacarepaguá

Jornal do Brasil, Barra, 28 de fevereiro de 2005

Subprefeitura promete intensificar ação contra venda irregular de terrenos na região

Marisaura Amado

A Subprefeitura de Jacarepaguá vai intensificar a ação contra grileiros que atuam na região. Só ano passado foram registrados 48 casos de vendas irregulares de terrenos e lotes na Zona Oeste. O subprefeito Fernando Modolo alerta que os loteamento irregulares vêm se multiplicando na Barra da Tijuca e em Jacarepaguá. Segundo ele, o elevado número de terrenos desocupados nesses bairros facilita o trabalho dos grileiros.

O fechamento da Cooperativa Habitacional de Militares das Forças Armadas pela polícia, na última quinta-feira, pôs em alerta a subprefeitura, que pretende intensificar a fiscalização em operações conjuntas com o 7º
Departamento de Licenciamento e Fiscalização. Desde dezembro de 2004, a falsa cooperativa - que sequer tinha alvará - vendia lotes em um terreno de propriedade da União, em Curicica.

-Vamos combater esse crime desocupando e derrubando construções irregulares - promete Modolo.

O subprefeito de Jacarepaguá orienta aos interessados em comprar terrenos na região que, antes de fechar o negócio, se informem sobre e a origem e a legalidade dos mesmos nas sedes da subprefeitura ou no 7º DLF.

O diretor-jurídico da Associação Brasileira de Advogados do Mercado Imobiliário (Abami), Geraldo Beira Simões, explica que o primeiro procedimento a ser adotado para evitar comprar gato por lebre é a retirada de uma certidão negativa do imóvel ou terreno à venda.

- É importante ressaltar que as certidões devem estar em nome da empresa ou do proprietário do imóvel ou terreno a ser vendido. Só através delas é possível saber se o imóvel têm pendências, como hipotecas, penhoras ou outros problemas de origem jurídica. Também deve-se observar se os mesmos possuem matrículas no Registro Geral de Imóveis - ensina Geraldo Simões.

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Fiscais ameaçados por loteadores e grileiros


Jornal O Globo, Rio, 04 de março de 2005

Daniel Engelbrecht e Gabriela Temer

Ameaças de morte e pistoleiros agindo impunemente. Problemas que ocorrem em regiões do Pará e em reservas no interior fluminense também acontecem na cidade do Rio, nos bairros de Vargem Grande e Vargem Pequena. Fiscais da prefeitura e do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ) denunciam ameaças que vêm recebendo de grileiros e loteadores na região. Muitos fiscais já estão evitando ir a determinados lugares, como loteamentos em situação irregular, devido às ameaças e à presença de homens
armados.

De acordo com a Secretaria municipal de Urbanismo, em 2004 foram embargados 34 loteamentos em Vargem Grande e Vargem Pequena. Levantamento feito pelo Crea-RJ, contudo, estima em pelo menos cem o número de loteamentos em situação irregular. Já a Secretaria de Meio Ambiente tem atualmente 90 processos administrativos tramitando, a maioria por extração mineral e danos à flora.

Conselheiro do Crea e ex-diretor do setor de fiscalização, o arquiteto Canagé Vilhena diz temer pela segurança dos fiscais do órgão. Ele mesmo já foi ameaçado por um homem conhecido como loteador na região, Raimundo Soares Vale:

- Depois de ser autuado, ele veio até minha casa acompanhado de outros homens e disse que ia me quebrar e à minha família. Meu filho, na época com 8 anos, presenciou a cena - lembra.

Vilhena registrou a queixa na 16 DP (Barra da Tijuca) e procurou o Juizado Especial Criminal. Vale acabou assinando um termo garantindo que não atentaria contra a segurança do arquiteto e de sua família.

A maioria dos casos, no entanto, fica impune. Uma fiscal da Secretaria municipal de Meio Ambiente conta ter sido intimidada em duas ocasiões por homens que deram tiros para o alto. Ela diz que há até policiais envolvidos. Um dos casos aconteceu em Vargem Grande:

- Eu estava entrando num terreno para verificar as irregularidades quando ouvi três disparos de revólver. Fui obrigada a deixar o local sem fazer a autuação. Os fiscais estão trabalhando no limite.

O envolvimento de policiais e de políticos é destacado por um ex-funcionário da prefeitura, ameaçado diversas vezes:

- Certa vez, fomos vistoriar um terreno na Estrada dos Bandeirantes onde estavam desmatando e retirando terra de um morro. Logo após nossa entrada, quatro homens começaram a nos rodear de maneira a nos intimidar. Pedi apoio da Polícia Militar. Depois, um deles trouxe um telefone. A pessoa que estava na linha disse ser um deputado e pediu que aliviássemos a situação - conta ele, acrescentando que um dos loteadores chegou a ir até seu escritório na prefeitura, para dizer que não ia parar com as irregularidades porque "estava bem calçado".

O delegado titular da 16 DP, Eduardo Baptista, confirma que há indícios do envolvimento de policiais em loteamentos clandestinos e crimes ambientais. No dia 19 de fevereiro do ano passado, por exemplo, a prefeitura derrubou um prédio que estava sendo construído irregularmente na Avenida Jarbas de Carvalho, no Recreio, pelo policial civil Eugênio Gomes.

Além de funcionários da prefeitura e do Crea-RJ, moradores de Vargem Grande que fazem denúncias também se dizem ameaçados.

Secretário diz desconhecer o problema

O secretário municipal de Meio Ambiente, Ayrton Xerez, disse desconhecer que fiscais estejam sendo ameaçados em Vargem Grande e Vargem Pequena. Ele, contudo, não descartou a possibilidade de isso estar ocorrendo.

- Faço reuniões duas vezes por semana com a Patrulha Ambiental (que atende a denúncias de danos contra o meio ambiente) e em nenhum momento se falou em ameaças. Mas elas podem acontecer. Eu mesmo já fui recebido por homens armados num terreno na Zona Norte, certa vez.

Para o secretário de Urbanismo, Alfredo Sirkis, a intensificação da fiscalização, com aplicação de multas e demolições, e a realização de campanhas para evitar que pessoas adquiram lotes em situação irregular devem
reduzir a sensação de desordem na área. Segundo o secretário, a aprovação do Plano de Estruturação Urbanística (PEU) da região, com parâmetros mais flexíveis, também vai estimular a construção regular nos dois bairros.

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Tiroteios diários provocam um êxodo em Vila Isabel


Jornal O Globo, Rio, 23 de abril de 2005

Ronaldo Braga

Para mostrar às autoridades o terror que os moradores do bairro vêm enfrentando por causa dos tiroteios diários entre traficantes do Morro dos Macacos, a Associação de Moradores e Amigos de Vila Isabel vai fazer um
levantamento nos próximos dias de quantas pessoas, fugindo da violência, já saíram da região, vendendo ou alugando suas casas e apartamentos. Na noite de anteontem, mais uma vez os moradores da Rua Visconde de Santa Isabel,
vizinha ao morro, ficaram sitiados em seus imóveis por causa de uma intensa troca de tiros que durou cerca de uma hora.

- Temos diariamente várias reclamações sobre tiroteios e violência. A Secretaria de Segurança tem que tomar providências. As pessoas estão vendendo seus imóveis e saindo do bairro. Não sabem mais a quem recorrer -
explicou o presidente da Associação de Moradores e Amigos de Vila Isabel. Paulo Campos.

Casas têm desvalorização de mais de 100%

Um dos locais que mais tem imóveis à venda é o cruzamento das ruas Silva Pinto e Corrêa de Oliveira, na entrada do Morro dos Macados. Lá, um grupo de oito menores, entre 15 e 18 anos, toma conta armado da entrada da favela.

- Eles estão armados com fuzis e pistolas. Existem vários imóveis à venda nesse quarteirão. Tem casas que valem R$ 280 mil, mas estão sendo vendida a menos de R$ 100 mi - disse o dentista Wagner Figueiredo, que mora próximo ao
Morro dos Macacos.

O último tumulto na área aconteceu na noite de anteontem, por volta das 21h30m, quando moradores do Morro dos Macacos fizeram um protesto, fechando por meia hora a Rua Visconde de Santa Isabel, por causa da morte de
Mandelson René Nascimento, de 15 anos. Ele foi assassinado na subida do morro, a cerca de cem metros da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).

Delegacia recebe reforço para evitar invasão

Os PMs que estavam vigiando o local do crime foram surpreendidos pelos manifestantes, que bloquearam a pista com entulho. Logo depois, traficantes começaram a fazer disparos da favela, que fica atrás da delegacia. Temendo
uma invasão, agentes da DRE pediram reforço e policiais, em 20 carros, foram ao local. Moradores acusaram policiais da DRE de terem matado o menor quando ele saía de um ônibus.

- Temos testemunhas de que um policial mandou o menor correr e atirou na cabeça dele - acusou um líder comunitário no enterro da vítima.

Revoltados, moradores da comunidade Parques de Vila Isabel fizeram um protesto ontem no Cemitério do Caju, onde o adolescente foi enterrado.

- Foram muitos tiros. A situação está perigosa e eu sou um dos moradores da Rua Visconde de Santa Isabel que querem ir embora - disse o dentista Wagner Figueiredo.

Ele pretende reunir alguns moradores de Vila Isabel, para realizarem juntos um levantamento que será entregue à Secretaria de Segurança:

- Não é só o Morro dos Macacos. É Vila Isabel toda. Parece que está tomada de criminosos. Vamos levar para a Secretaria de Segurança um mapa da criminalidade no bairro.

Uma das informações que ele quer passar é sobre a Rua Engenheiro Gama Lobo, onde quase todo os dias à noite três homens com fuzis e uma mulher assaltam motoristas, roubando carros.

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Recordista de crimes ambientais

Jornal O Globo, Rio, 21 de abril de 2005

Por Daniel Engelbrecht

B são recordistas numa triste estatística: a dos crimes ambientais. Números da Secretaria municipal de Meio Ambiente (SMAC) mostram que, dos 18 tipos de agressões ao meio ambiente fiscalizados pelo órgão, em 11 a região tem o
maior número de processos em andamento, como nos casos de danos à flora, ocupação irregular e extração mineral. Das 256 ocorrências registradas em março pela Patrulha Ambiental da secretaria na cidade, 125 foram nos cinco
bairros. Dados da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) também colocam a região no primeiro lugar em número de ocorrências.

O deputado estadual Carlos Minc, presidente da Comissão de Meio Ambiente, aponta a falta de planejamento como principal responsável pela ocorrência de tantas agressões ao meio ambiente.

- Só uma expansão sem controle pode explicar tamanha violência contra a natureza. É uma área que tinha tudo para crescer ordenadamente, mas, por falta de planejamento urbano e fiscalização, é a que concentra o maior
número de crimes ambientais e a mais grave desordem. A maior taxa de crescimento de favelas da cidade, por exemplo, está na região de Jacarepaguá - afirma o deputado.

Os rios e lagoas e a cobertura vegetal da região, que fica no entorno do Parque Estadual da Pedra Branca e do Parque Nacional da Tijuca, sofrem as piores conseqüências do crescimento desordenado. Segundo a SMAC, tramitam
atualmente 110 processos relativos a danos à flora cometidos nos cinco bairros, contra 102 na Zona Oeste e 71 na Zona Norte da cidade. Os números relativos a construções irregulares, ocupações irregulares, parcelamento do
solo, extração mineral e movimento de terra, nos quais a região também é recordista, na maioria das vezes resultam também em danos à vegetação.

- O maior exemplo de um crime que acontece na cara de todos é a favelização, que está invadindo áreas de mata e as faixas marginais das lagoas, e a proliferação de loteamentos irregulares em Vargem Grande. A questão da ocupação do solo é a principal afronta ao meio ambiente atualmente - afirma o ambientalista David Zee.

A poluição das lagoas é outro risco à saúde

O problema do despejo de esgoto é resumido no exemplo do Canal das Taxas, no Recreio. Entre os parques municipais Marapendi e Chico Mendes, o canal recebe dejetos de diversos prédios de luxo e restaurantes que, embora com acesso à rede coletora construída pela prefeitura, ainda se ligam às galerias de águas pluviais. Após o Parque Chico Mendes, é o esgoto da Favela do Terreirão que polui o curso hídrico.

A poluição das lagoas também prejudica a pesca e representa riscos à saúde.

- Basta percorrer as margens do Rio Anil para ver a quantidade de barcos e tarrafas. Os moradores do Anil pescam na Lagoa de Jacarepaguá e levam para casa peixes contaminados - afirma Luci Augusta de Carvalho, presidente da Associação de Moradores da Orla da Lagoa (Amol).

Para o secretário municipal de Meio Ambiente, Ayrton Xerez, o crescimento da cidade para a região explica a maior quantidade de agressões ambientais:

- A cidade está crescendo para essa região, que é onde devotamos hoje a maior atenção. É só ver o número de ocorrências registradas pela Patrulha Ambiental, que tem uma de suas duas bases no Parque Marapendi. Em pontos
como Vargem Grande, há o problema do zoneamento urbano, que será corrigido com o Plano de Estruturação Urbana (PEU).

Desmatamentos preocupam IEF na Pedra Branca

Os desmatamentos e ocupações irregulares no entorno do Parque da Pedra Branca, área que abrange Jacarepaguá, Vargem Grande, Vargem Pequena, parte do Recreio e bairros da Zona Oeste, são hoje a principal preocupação do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Dos 39 autos de constatação aplicados pelo órgão esse ano no município, 27 foram por agressões ambientais cometidas no entorno do parque, área protegida pela legislação. A grande maioria (90%) foi referente a danos à flora.

- Em alguns lugares de Jacarepaguá, já constatamos casos de leishmaniose, comuns em áreas de desmatamento e expansão da fronteira agrícola, como Rondônia - afirma Minc. - No ranking da Comissão de Meio Ambiente, a região é recordista em casos de desmatamento e poluição hídrica. Vargem Grande e Vargem Pequena aparecem ainda como campeãs de loteamentos irregulares. Jacarepaguá também surge com destaque em relação à poluição sonora completa o deputado.

A poluição de rios e lagoas é um dos tipos de crime que mais chama a atenção dos moradores. De acordo com Sérgio Andrade, coordenador de Meio Ambiente da Federação das Associações de Moradores da Barra (Fambarra), os 43 rios que deságuam nas três lagoas da Baixada de Jacarepaguá estão poluídos nos cursos
baixo e médio:

- Já foi detectado até mercúrio na água do Rio Cachoeira, devido a um desmanche de carros na favela Fazendinha - diz Andrade. - O maior problema, no entanto, é o despejo de esgoto, proveniente também de condomínios de luxo.

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Policiais são suspeitos de grilagem

Jornal O Globo, Barra, 12 de maio de 2005

Por Daniel Engelbrecht
Gabriela Temer
Gustavo Goulart

A Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa está apurando o envolvimento de policiais no esquema de grilagem de terras e construção de loteamentos irregulares em Vargem Grande e Vargem Pequena. Segundo o deputado Carlos Minc, presidente da comissão, três nomes aparecem com freqüência nas denúncias recebidas. Dados obtidos com exclusividade pelo GLOBO-Barra mostram que pelo menos dois dos policiais denunciados estão sendo investigados pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) por suspeita de envolvimento na máfia dos caça-níqueis na Zona Oeste.

Segundo Minc, o nome que aparece com mais freqüência é o do sargento da Polícia Militar Geraldo Pereira, que faria a proteção de invasores. Ele e um policial civil, identificado apenas como Jorginho, aparecem também num inquérito da Draco.

- Estamos investigando o envolvimento desses policiais com o esquema de caça-níqueis - revela o delegado titular Milton Olivier.

Outro policial que aparece nas denúncias, segundo o deputado, é Ricardo Eugênio Paseli, hoje aposentado. Paseli já vinha sendo investigado desde 2000 pela 16 DP (Barra) por invasão e loteamento irregular de uma grande área na Estrada do Rio Morto. Além disso, na época, ele foi acusado de construir clandestinamente o prédio 77 da Rua Frederico Quartarolli, no Recreio. O imóvel hoje encontra-se em processo de legalização.

- Na maioria das vezes, os policiais são denunciados por dar apoio a invasores, que depois vão lotear e vender os terrenos; por ameaçar fiscais; e por fazer a segurança clandestina dos loteamentos irregulares que se formam - afirma Minc.

No dia 4 de março, O GLOBO mostrou que fiscais da prefeitura e do Conselho Regional de Arquitetura, Engenharia e Agronomia (Crea-RJ) estavam sendo ameaçados, inclusive por policiais, durante atos de fiscalização.

Até mesmo um ex-delegado da 16 DP aparece em inquéritos sobre parcelamento irregular do solo. Há cerca de 45 dias, o atual delegado titular, Eduardo Baptista, chegou a afirmar que daria prioridade a esses casos, que totalizam mais de 60 inquéritos na delegacia. Apesar disso, até o momento, as investigações não trouxeram qualquer novidade.

Hoje, de acordo com as secretarias municipais de Habitação e Urbanismo, existem na região cerca de 400 loteamentos irregulares e apenas 30 legalizados ou em processo de regularização. A falta de repressão, agravada pelo envolvimento de policiais, fazem dos bairros um terreno livre para a ilegalidade.

Grupos organizados agem na região

No dia 3 de abril, O GLOBO mostrou a existência de grupos que promovem grilagens e parcelamento irregular do solo na região de Vargem Grande e Vargem Pequena, aproveitando-se de registros fraudulentos em cartórios e da
falta de resultados práticos da fiscalização. Na maioria das vezes, são criados loteamentos que não atendem à Lei de Parcelamento do Solo e aos requisitos da legislação urbanística da área, revendidos como se fossem condomínios. As obras em várias construções embargadas pela prefeitura prosseguem.

PEU vai discutir condomínios irregulares

No próximo dia 23, será realizada audiência pública na Câmara de Vereadores para discutir o Plano de Estruturação Urbana (PEU) de Vargem Grande e Vargem Pequena. O projeto de lei, que modifica as normas de ocupação dos dois
bairros e de parte do Recreio, já foi aprovado em primeira discussão. Para o vereador Guaraná, presidente da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara, um ponto importante ainda não foi discutido: a adequação dos condomínios irregulares.

- Muitos condomínios, mesmo com a nova legislação, não atenderiam aos requisitos para se regularizar. O que fazer com eles é a grande questão. No meu entender, não é possível simplesmente demolir, pelo problema social que causaria. Deveriam ser admitidas algumas situações passíveis de regularização, mesmo que fora do estabelecido no PEU, respeitando-se, evidentemente, critérios mínimos - diz o vereador. - Isso precisa ser discutido.

O Condomínio Parque dos Coqueiros, na Estrada do Morgado, é um dos que figuram nesta lista. O loteamento foi erguido irregularmente e tem lotes menores do que o tamanho mínimo determinado pela legislação urbanística. Fora isso, o condomínio expandiu os seus limites invadindo e cercando parte da Estrada do Cabungui, uma via pública localizada nos fundos do loteamento. Agora, segundo moradores, a administração pretende instalar uma cancela na rua de acesso ao condomínio. A iniciativa isolaria outras casas situadas depois do terreno ocupado pelo Parque dos Coqueiros.

- Aqui é uma rua de servidão, que existia antes de o loteamento ser implantado, e onde pessoas moram há mais de 50 anos. Agora eles querem fechar o acesso da via e impedir a livre circulação dos moradores antigos. É mais uma irregularidade que os loteadores estão promovendo - acusa um morador da região, que preferiu não se identificar por temer represálias.

Arquitetos figuram em inquéritos

Arquitetos também figuram no rol de suspeitos de envolvimento com parcelamento irregular do solo na região. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) tem 24 inquéritos em andamento relativos a Vargem Grande. Segundo os policiais, dois nomes chamam a atenção: Sérgio Elias Dib, que responde a três inquéritos, e Marcus Vinícius Rodrigues Dib, indiciado em 2001 pela instalação do loteamento Verde Vale, no Caminho do Cabungui. Ambos são arquitetos.

Elias está sendo investigado por parcelamento irregular e falta de licença em loteamentos na Rua Rosa Antunes lote 10; Rua Esperança 375; e Rua Serviente 4, número 7. Ele se defende das acusações dizendo que não é o loteador, mas apenas o projetista dos condomínios.

- Três processos é pouco; devo ter uns 15. Eles (os policiais) vêem o meu nome na placa da obra e me incluem no processo. Mas não sou eu quem parcela o solo irregularmente, eu apenas desenho o projeto e entrego a planta para a prefeitura aprovar - defende-se, admitindo, porém, que sabe que a legislação de Vargem Grande não permite a construção dos loteamentos projetados por ele.

De acordo com o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ), Rodrigues está inadimplente com o órgão há nove anos e portanto não poderia estar exercendo a profissão. Já Elias está inadimplente há cinco anos, segundo o Crea-RJ, mas renegociou a dívida e está liberado para atuar.

O nome do administrador de empresas Marcos Antonio Amui dos Santos é outro que aparece com freqüência em processos administrativos da Secretaria municipal de Meio Ambiente (Smac) e num inquérito de 2000 da DPMA, relativo a irregularidades num loteamento na Estrada dos Bandeirantes 12.875, em Vargem Grande. Ele e a imobiliária Pedra do Recreio Empreendimentos Imobiliários, da qual costuma apresentar um cartão, já foram autuados pela Smac pelo menos seis vezes. Na Secretaria de Urbanismo, foram duas autuações. O GLOBO tentou localizar por telefone o administrador, sem sucesso.

Capitão é acusado de se apropriar de terreno no Recreio

Capitão do Grupamento Especial Tático-Móvel (Getam), Carlos Eduardo de Oliveira Bastos é mais um policial cujo nome aparece ligado à grilagem de terras. Ele é acusado de ter se apropriado indevidamente de um terreno na Rua FW, no Recreio, na época em que estava lotado no 31 BPM (Recreio). Bastos é réu numa ação de reintegração de posse movida por Lúcia Oliveira de Lima, de 51 anos. Segundo ela, seu ex-marido comprou o terreno em 1986.

- Em 2002, o terreno foi invadido por duas pessoas, Ezequias de Jesus Silva e Bernardo José Soares Taveiro. Este último foi assassinado a tiros cerca de cinco dias depois de vender irregularmente o terreno que não lhe pertencia
para o capitão. Bastos se apossou da propriedade e construiu uma mansão - diz Lúcia.

Procurado pelo GLOBO na casa em litígio, o capitão disse ter comprado o terreno por R$ 2 mil de Bernardo. Em seguida, alegou que nada mais tinha a declarar e que tudo o que conquistou na sua vida foi com o suor do seu trabalho.

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Vende-se o Rio em qualquer esquina


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30.05.2005

Xico Vargas

Não só a expansão das favelas que engolem o Rio de Janeiro tira o sono do carioca. Por toda a cidade move-se uma indústria imobiliária febril e clandestina, montada para transferir dinheiro do bolso de incautos para quadrilhas de espertalhões, muitas delas chefiadas por policiais. No início de maio, quando virou de pernas para o ar casas que estavam sendo erguidas numa área pública, destinada à praça, no Itanhangá, o subprefeito da região, André Duarte, viu entrar em funcionamento diante dos seus olhos um mecanismo há muito conhecido: em minutos, do nada, brotou um advogado. Com três ou quatro citações de leis e posturas bem decoradas embaralhou os PMs que davam cobertura à demolição, ameaçou levar os funcionários da prefeitura à delegacia e pára tudo. Não precisam de mais nada. Como nenhum meritíssimo deixa o gabinete para conferir a história, é só pedir que a liminar estará garantida.

Nas estradas que cortam o Itanhangá, bairro ao lado da Barra da Tijuca, existem hoje pelo menos oito loteamentos clandestinos. A maioria, em terrenos privados, é fruto da iniciativa dos proprietários. São apenas áreas que abrigam construções irregulares, em completo desacordo com regras de ocupação e posturas municipais. Mas isso ninguém está vendo. Geralmente crescem por trás de muros e a secretaria de Urbanismo passa batida. Exemplo é o loteamento que nasce na estrada de Jacarepaguá entre uma mesquita abandonada e ampla área que pertence à Caixa Econômica Federal. Embora seja destinada a construções de até seis pavimentos e ocupação de 40% do espaço a área será dividida em 90 terrenos de 10m x 20m (200 metros quadrados). As reservas já estão sendo feitas numa imobiliária instalada na favela Rio das Pedras que, conta-se sem cerimônia, tem a proteção da milícia que dá as cartas no lugar.

Por toda a cidade acontece isso. Na Avenida Brasil, um dos piores cenários do Rio, há meses estão sendo loteados galpões abandonados por indústrias que fugiram do tráfico aninhado nas favelas. Quadrilhas de grileiros dividem o espaço dentro de enormes pavilhões e promovem a construção de barracos de alvenaria que vendem ou alugam. No subúrbio da Leopoldina, ao longo da linha do trem, entre a Fiocruz, em Manguinhos, e a favela de Vigário Geral, o retrato é o mesmo. As favelas crescem, a violência toma as áreas, as empresas abandonam os prédios em fuga para outros bairros. O movimento seguinte traz o pessoal da rapina. “É coisa de gente grande”, diz o subprefeito da Leopoldina, César Cabral. “Caminhões com terra, com tijolos. Pobre não tem como fazer isso”.

Para a sorte de Cabral, os terrenos públicos este ano estão sendo poupados na Leopoldina. “Ainda bem, porque é tudo muito rápido. Quando a gente vê ou quando avisam, já era”, diz ele. Por rápido entenda-se até que os ocupantes ponham em pé a primeira casa. Se alguém bota um telhado sobre as paredes a Justiça considera a ocupação consolidada. Sobram dois caminhos: acender uma vela para o Demo ou dar o caso por perdido. A solução mais rápida não sairá antes de dois ou três anos. Até lá, dependendo do tamanho do terreno, algumas centenas de casas terão sido construídas. Quando, finalmente, a Justiça manda desocupar, nada poderá ser feito até que o último invasor seja indenizado e, ainda assim, o funcionário público que promover a retirada acabará processado pelos advogados das quadrilhas. Por sinal, em quase todos os casos são os mesmos.

André Duarte carrega seis desses processos no currículo. O último ganhou ano passado, quando removeu 15 pequenos comércios de uma área de preservação ambiental na comunidade Beira-Rio. A associação de moradores, que cobrava um pedágio dos comerciantes, não só o processou como conseguiu suspender a remoção na Justiça. Alegou que o subprefeito estava botando abaixo duzentas casas. E note-se que áreas públicas não podem ser objeto de usucapião, o recurso que dá posse legal após pelos menos cinco anos de ocupação pacífica.

No início do ano, o mesmo subprefeito suou a camisa para retirar as cercas que sinalizavam a posse de um terreno à margem da Avenida Ayrton Senna, na Barra. Além de pública, a área destinava-se ao alargamento da pista. Mas o ocupante havia pago R$ 30 mil ao policial Ricardo Pazelli pela posse. Pazelli é velho conhecido da prefeitura. Um ano antes tinha promovido um reboliço no Recreio dos Bandeirantes, a poucos quilômetros da Ayrton Senna. Construíra em áreas públicas prédios de apartamentos que acabaram demolidos depois de uma brigalhada na Justiça. Informado da identidade do vendedor, Duarte tentou demonstrar ao comprador a extensão do golpe. Perguntou-lhe quanto achava que valia o terreno que comprara por 30 mil pratas. “Uns dois milhões”, respondeu o homem, como se a diferença fosse a coisa mais natural do mundo.

São poucos, no entanto, os golpistas identificados. A maioria opera através de laranjas. Ano passado, o subprefeito de Jacarepaguá, Fernando Modolo, retirou uma ocupação ao lado do Projac, área da TV Globo. O terreno havia sido negociado por cinco laranjas com os compradores. O sistema é parecido com o da rede de casas de massagens que vende sexo em todos os bairros. Não é segredo que o negócio pertence a policiais, mas a parede de intermediários que os protege é intransponível.

No início da Barra da Tijuca, num dos pontos mais valorizados, à margem da lagoa da Tijuca e ao lado do shopping Barra Point, a prefeitura amarga há mais de 10 anos a desocupação de um terreno público. Ali o espaço vem sendo reconquistado prédio a prédio. Cada vez que a Justiça libera, o município vai lá e bota uma construção abaixo. É na faixa de domínio da Marinha, como são todas as praias e margens de lagoas e cursos d’água. Nem assim, no entanto, os juízes entregam. Um dos ocupantes, pai de Rogério Vargas, ex-diretor da Loterj, obteve liminar que lhe garante a ocupação de uma fortuna em terra pública, exatamente ao lado do shopping.

Ano passado, quando conseguiu uma dessas ordens de despejo, a subprefeitura passou o trator na construção que havia num dos terrenos. Dia seguinte, o policial Bernardo Freitas Filho foi ao local e arrastou para a delegacia o funcionário da subprefeitura Cristiam Carvalho do Amaral, que acabou autuado por abuso de poder. Bernardo entrou na história como vítima de Cristiam. No curso do inquérito, porém, foi possível descobrir que o policial, na verdade, era parte interessadíssima no assunto. Tinha vendido um pedaço do terreno por R$ 15 mil para uma mulher.

É feita dessa espécie de jogo a urbanização do Rio de Janeiro. Sob a proteção de bandidos e políticos as favelas avançam sobre a cidade. Sob a administração de policiais corruptos e políticos idem os espaços públicos e privados são invadidos e passados nos cobres nas barbas da Justiça. Sob a vista grossa do poder público o pessoal que paga essa festa vai perdendo o patrimônio, a liberdade e a capacidade de se indignar.

FALA LEITOR

Aconteceu comigo

De: Maria Lucia Massot
Para: Xico Vargas

Prezado Xico Vargas,

Parabéns pela matéria Vende-se o Rio em qualquer esquina.

Entretanto gostaria de acrescentar entre não só "Sob a proteção de bandidos e políticos" quadrilhas de espertalhões engordam o cofrinho. Contam com o apoio do Ministério Público.

Aconteceu comigo no Jecrim da Barra da Tijuca. Um dos policias, então chefe do P2 (serviço secreto) do 31º Batalhão, várias vezes denunciado por mim ao Comando do Batalhão e até na Ouvidoria das Polícia, sem que nenhuma
providência fosse tomada, me prendeu quando fui agredida por um favelado, morador de um conjunto habitacional em frente à minha casa, cujo terreno foi grilado pela Prefeitura, e me acusou de desacato. A testemunha foi um conhecido grileiro do local, rapidamente dispensado pela Promotora Anna Maria de Masi, que colocou o cidadão que me agrediu como testemunha do tal desacato. Um mês antes do meu julgamento foi distribuido um processo no mesmo Forum da Barra onde o tal policial chefe do P2, promovido depois de minha prisão a capitão, Carlos Eduardo de Oliveira Bastos, aparece como tendo grilado uma propriedade particular juntamente com outro policial, soldado Francisco Alves, e, pasme!, a testemunha da tal compra da "posse" do lote por R$ 5.000,00, que valia cerca de R$200.000,00 na época, é o mesmo que se apresentou como testemunha dos policiais contra mim por desacato, o grileiro Antonio Carlos Matias da Silva, morador da favela, e que se identifica como funcionário do Tribunal de Justiça do RJ, embora a Corregedoria afirme que não consta seu nome no DP do Tribunal.

Fui condenada pelo Juiz Dr. Joaquim de Almeida Neto, baseado na denúncia do MP, e embora tenha recorrido, nada aceitam. Nem a comprovação de minha luta contra essa imoralidade no Recreio dos Bandeirantes, nem a reportagem feita por você sobre mim, 20 dias antes de minha "prisão", nem a farta do documentação apresentada provando a perseguição do comandante e do policial a mim, nada foi levado em conta.

Como vê, o envolvimento das autoridades que deveriam defender os cidadãos é muito maior do que parece.

Maria Lucia Massot 

Nada é desconhecido

De: Daisy Pontes
Para: Xico Vargas

Prezado Xico Vargas,

Em relação a sua matéria em epígrafe, abaixo transcrita e, gostaria que o Sr. acrescentasse para os desinformados e demais leitores, que justamente nesta localidade - Itanhangá - em uma daquelas ruas que foram fechadas como se fosse um condomínio , reside o Sr. LUIS PAULO CONDE, ex prefeito de nossa cidade, e que também já esteve atuando na secretaria de Urbanismo... Assim sendo, nada do que é narrado passou e/ou passa desapercebido a qualquer tipo de autoridade, seja municipal ou estadual, a menos que a posse de tais cargos deixem os respectivos responsáveis deficientes visuais e auditivos durante a gestão de seus cargos. O que ocorre mesmo é pouco caso, mas, se for ano de eleição tem até promessa de regularização dos bens alheios em beneficio de terceiros.

"Nas estradas que cortam o Itanhangá, bairro ao lado da Barra da Tijuca, existem hoje pelo menos oito loteamentos clandestinos. A maioria, em terrenos privados, é fruto da iniciativa dos proprietários. São apenas áreas que abrigam construções irregulares, em completo desacordo com regras de ocupação e posturas municipais. Mas isso ninguém está vendo. Geralmente crescem por trás de muros e a secretaria de Urbanismo passa batida."

Cordialmente,
Daisy Pontes 

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Pancadaria em desocupação

Jornal O Dia, Quarta-feira, 8 de junho de 2005.

Três pessoas se ferem ao enfrentar a polícia em remoção de famílias que vivem em área da União, no Horto

Ao menos três pessoas se feriram em confronto ontem entre PMs e moradores da Vila Caxinguelê, no Jardim Botânico.  A confusão começou quando 60 homens do Batalhão de Choque e da Polícia Federal chegaram com oficial de Justiça para cumprir mandado de reintegração de posse de duas casas, expedido pelo juiz Eugênio Rosa de Araújo, da 17ª Vara Federal.
 
Às 6h, moradores fecharam o portão da vila e impediram a passagem dos policiais, que forçaram a entrada.  Carros foram posicionados nas ruas para impedir o acesso.  Houve empurra-empurra e correria.  Luiz Fernando Logane, 53 anos, Nilsa Silva Damata, 67, e homem identificado como Gilberto acusam os PMs de agressão.  Os três sofreram escoriações leves.

Moradores negam que invadiram o terreno

Os 589 imóveis foram construídos há pelo menos 70 anos no entorno do Jardim Botânico.  Os três mil moradores afirmam que o parque cedeu a área.  “Foi doado sem escritura, mas o Jardim mesmo fez o loteamento.  Minha avó tem 80 anos.  Se nos tirarem daqui, não teremos para onde ir”, disse o autônomo Renato Biazo Lagami, 32, que recebeu ordem de despejo.
 
São 250 processos para a retomada da área de proteção ambiental.  A ação foi movida em 1983 pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, o antigo Ibama.  A União quer retirar todos os moradores.  Em 2004, a Justiça determinou a reintegração de posse das casas de Renato e de Nayra Iorio, 55.
 
A confusão foi tanta que no local os moradores chegaram a dizer que Miguel Mendes dos Santos, 73 anos, vizinho do assentamento e amigo da maioria, havia morrido de enfarte ao ver o tumulto, mas a família nega.
 
Diante da resistência dos moradores, o ministro Álvaro Augusto Ribeiro Costa, advogado-geral da União, suspendeu a operação.  Os ministérios do Planejamento e do Meio Ambiente tentarão pôr fim ao impasse.
 

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Operário morre baleado em morro

Jornal O Globo, 9 de junho de 2005

Ana Cláudia Costa

O ajudante de pedreiro Alex Ventura Viana, de 29 anos, que trabalhava no projeto Favela-Bairro, morreu ontem à tarde, horas depois de ter sido baleado durante uma troca de tiros entre PMs e traficantes numa das escadarias do Morro da Mineira, no Catumbi. Durante a incursão, que foi realizada para coibir assaltos a motoristas na Rua Itapiru, dois traficantes morreram. Com os criminosos a polícia apreendeu um fuzil Rugger, uma pistola calibre 45, um caderno com contabilidade do tráfico, material para embalar drogas e pequena quantidade de maconha e cocaína.

Revoltados com a operação, moradores da Mineira tentaram fechar a Rua Itapiru. Eles disseram que, no dia anterior, outro trabalhador do Favela-Bairro, Bruno Vinicius Viana da Silva, de 22 anos, fora morto durante uma operação policial. A polícia, no entanto, não tem registro dessa morte.

Em outubro do ano passado, quando um pedreiro do Favela-Bairro foi baleado no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, moradores fizeram um violento protesto. A polícia alegava ter revidado tiros vindos do canteiro de obras. Sete dias depois, a prova de que os PMs estavam certos: O GLOBO publicou uma foto ampliada do protesto mostrando um homem, com uniforme da construtora responsável pelas obras, segurando uma arma.

Alex morreu no centro cirúrgico do Hospital Souza Aguiar, no Centro. A Secretaria de Habitação confirmou que ele era funcionário da empreiteira contratada para executar obras do Favela-Bairro na Mineira. Devido à manifestação, todos os acessos ao morro foram cercados.

A operação de ontem na Mineira foi realizada pelo 1 BPM (Estácio) e começou por volta das 6h30m. Segundo o subcomandante do batalhão, major Aleucy Bento, os PMs se depararam com traficantes descendo a escadaria que dá acesso à Itapiru para roubar carros. Os bandidos recuaram e houve troca de tiros. Alex, que estava sentado próximo a um barracão onde é guardado material de construção, foi baleado na cabeça.

Ainda na manhã de ontem, 80 policiais civis ocuparam o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, com o objetivo de prender os bandidos que na noite do dia 27 mataram a inspetora Andrea Ferreira Viana, Ninguém foi preso. De madrugada, PMs fizeram uma operação na favela Parque Alegria, no Caju. Dois carros blindados participaram da incursão. Não houve confronto e apenas um Astra roubado foi recuperado e levado para a 17 DP (São Cristóvão).

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Cruzada à espera de um horizonte

Jornal do Brasil, 13 de junho de 2005

Comunidade vive dias de expectativa pela chegada de shopping que empregará moradores em cotas reservadas

Mariana Filgueiras
 
 Os moradores da Cruzada São Sebastião vêem na construção do Shopping do Leblon  - empreendimento que abrigará 240 lojas e cinco cinemas -  a solução para a falta de empregos.  De acordo com o padre Marcos Belizário, representante da comunidade, a prioridade para a ocupação dos cerca de 600 empregos gerados será dos moradores da comunidade.  A Cruzada está completando 50 anos entre o luxo do Leblon e o improviso da falta de perspectiva, como noticiou ontem o Jornal do Brasil.

-  Já me solicitaram trezentos currículos.  A Livraria da Travessa, por exemplo, informou que só vai contratar os moradores daqui  - comemora o pároco.

A Associação de Moradores do Bairro São Sebastião (Amorabase) conseguiu que o Serviço Nacional de Indústria (Senai) treinasse 20 jovens para as funções de lanterneiro e soldador, para serem aproveitados ainda durante as obras.  Com o Serviço Social do Comércio (Sesc, conseguiu treinamento para a função de ascensorista e recepcionista, cargos disponíveis depois da inauguração.  O projeto fica ao lado do conjunto habitacional e ficará pronto no ano que vem.
 
Sacrificados pela falta de oportunidades, alguns moradores encontraram na própria Cruzada de São Sebastião uma maneira de ganhar dinheiro.  Uma lanchonete foi montada no lugar do parquinho do segundo bloco, uma pequena academia funciona no interior de um dos apartamentos do terceiro, mas a solução mais criativa foi de um rapaz que elaborou a ''Lona House''  - uma referência às já conhecidas Lan Houses, lojas convencionais de jogos eletrônicos, aluguel de computadores e competições em rede virtual.  Na Cruzada, porém, o real supera o virtual:  para improvisar, foi montada uma lona no meio da rua, disposta como um toldo e, numa mesa improvisada, ele instalou três televisões ligadas aos videogames.  Por R$ 0,50 as crianças podem jogar até uma hora.
 
No entanto, as mães não aprovam a solução.  A dona-de-casa Fátima Regina Medeiros  - que comemora 50 anos junto com a Cruzada, em setembro deste ano -  briga todas as vezes em que encontra um dos cinco sobrinhos na lona.
 
-  É estratégia para concentrar os moleques por ali, para depois atrair as crianças para o tráfico  - condena.
Comunidade tem bloco do nordeste

Conhecido como o ''Bloco dos Nordestinos'', é no bloco 7 que a maioria dos moradores vem do Ceará.  Os primeiros que ganharam os apartamentos de Dom Hélder Câmara, em 1955, foram trazendo parentes e amigos, transformando o prédio num pequeno reduto do estado.

Morador da Cruzada há 20 anos, o pescador Francisco Gomes das Virgens, 52 anos, diz que não sai dali de jeito nenhum.  Ele veio do Ceará para o Rio de Janeiro aos 19 anos, com os irmãos, e foi morar na Rocinha.  A mulher e os filhos vieram depois, mas não se acostumaram com a violência e voltaram para a Ceará.  Francisco também saiu da Rocinha e se mudou para a Cruzada.  Enquanto costurava a rede de pesca, ''Seu Juruna'', como é chamado pelas crianças, contou como é a vida no local.

-  Aqui é bom porque é perto do mar, posso ir de bicicleta.  Tenho muita saudade dos filhos, mas é melhor morar aqui sozinho do que passar fome no Nordeste  - lembrou.

Da nova geração, faz parte o vendedor Antônio Carlos Silva, 24 anos, que chegou há seis meses do interior do Ceará.  Ele veio com a família e alugou dois apartamentos:  um para morar e outro só para estocar os panos de prato que vende, de bicicleta, em Ipanema.  Mas antes de falar sobre a Cruzada, Antônio interrompe a conversa  -  ''ainda tenho que levar o carregamento para o quarto andar''  - desculpa-se.  E o vendedor sobe as escadas, equilibrando nas costas 50 quilos de panos de prato, apenas a primeira leva das sete restantes.

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Tráfico desafia a polícia na Favela da Rocinha

 
Jornal O globo, Rio, 29 de junho de 2005


Ana Claudia Costa
 
Um dia depois da troca de tiros entre traficantes e policiais, na qual um estudante morreu, a Favela da Rocinha amanheceu com os acessos ocupados por 25 PMs do Batalhão do Leblon e do Grupamento Tático-Móvel (Getam).  Apesar do aparato policial, que também se posicionou na mata e na parte alta do morro, traficantes passaram toda a manhã na mata, em cima do Túnel Zuzu Angel, desafiando a polícia.

Com um radiotransmissor, policiais conseguiam escutar as ameaças dos bandidos, que sem se intimidarem chegaram a exibir e soltar morteiros.  Os traficantes, um deles vestindo uma camisa com a sigla FBI, davam a posição de jornalistas e policiais na parte baixa do morro.

—  Olha lá eles no Gol Bolinha (carro da PM).  Bota a cara aí...  Vamos fazer os PMs tombar logo.  Manda a Core vir aqui em cima agora buscar os bagulhos deles...  — diziam os traficantes.
 
Rocinha protesta no enterro de estudante
 
Em uma outra conversa interceptada pelo rádio que estava com os policiais militares, os traficantes detalhavam a movimentação da imprensa na comunidade:

—  Vai tombar logo.  Olha só o repórter tirando foto aí da nossa base no Valão (rua da favela onde funciona uma “boca-de-fumo”).  Isso já é abuso.  Vamos tirar o prateado (arma cromada) para fora e mostrar para eles  — dizia um traficante pelo rádio.

Na manhã de ontem foi enterrado no Cemitério São João Batista o corpo do estudante Lucas Batista França, de 15 anos.  O corpo foi velado numa capela dentro da própria comunidade.  Durante o sepultamento, os cerca de 70 moradores que foram ao local em dois ônibus cedidos por uma empresa vizinha da favela pediram trégua à polícia.  Em uma faixa eles diziam:  “Rocinha é odiada”.  Após o enterro os dois ônibus voltaram para a Rocinha escoltados por dois carros da PM.  Na chegada à comunidade eles ainda desfilaram pela rua principal com a faixa como forma de protesto.  O pai do rapaz, Fernando da Silva Gonçalves de França, acusou a polícia de ter atirado em seu filho.

—  Nasci na Rocinha e fui criado lá.  Tenho certeza que foi a polícia quem atirou no meu filho.  O policial estava na laje do alto quando atirou.  Não foram os traficantes que atiraram nele não  — disse.

O secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, através de uma nota oficial, afirmou que a morte do estudante foi lamentável.  Segundo o secretário, as circunstâncias da morte serão esclarecidas e as informações iniciais, fornecidas pelo delegado Marcos Reimão, que comandou a operação, são de que os tiros partiram dos bandidos.  Marcelo Itagiba disse, ainda, que as operações da Core e do Bope, que são as unidades de elite das polícias Civil e Militar, continuarão sendo feitas na Favela da Rocinha para garantir a segurança dos moradores da comunidade e dos bairros vizinhos.
 
LEIA MAIS
 
A GUERRA Rocinha-Vidigal entra assustadoramente no cotidiano da cidade e transforma um dos cartões-postais do Rio em área de conflagração.

A INSEGURANÇA pública, além de vitimar de alguma forma toda a população, pobres e ricos, mina a principal fonte de renda do Rio, o turismo.

DEPOIS DE mais de um ano de conflito, período em que a região tem sido constantemente policiada, é oportuno perguntar: como armas e drogas continuam a chegar nas duas favelas?

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Remoção de barracos custará R$ 10 milhões

Jornal O Globo, 09 de setembro de 2005

Os barracos à beira da linha do trem, na favela do Arará, em Benfica, vão ser retirados até dezembro. A Prefeitura do Rio e os Ministérios das Cidades e dos Transportes assinam hoje um convênio para a aplicação de R$ 10 milhões na remoção das famílias e na reurbanização da área. O governo federal vai arcar com 70% desse valor, conforme noticiou Ancelmo Gois em sua coluna.

De início, serão liberados R$ 4,7 milhões, para realojar 290 famílias, que vivem em barracos colados aos trilhos. Segundo a secretária municipal de Habitação, Solange Amaral, numa segunda etapa sairão mais 210 barracos construídos embaixo da linha férrea.

- Vamos começar a cadastrar os moradores e perguntar a eles o que preferem: ir para um terreno que a prefeitura comprou do Ministério da Previdência, num dos acessos à favela, ou receber uma indenização - explicou a secretária.

O projeto prevê uma distância de 3,5 metros entre as casas e a linha férrea. Hoje, há barracos a apenas 30 centímetros dos trilhos. Serão construídos muros que impeçam novas ocupações.

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Encontrado acampamento do tráfico

Jornal do Brasil, 13 de setembro de 2005

Abrigo estava tomado por bandidos, que trocaram tiros com policiais militares do Batalhão Florestal

Uma cabana feita com galhos secos e tamanho suficiente para abrigar cinco pessoas foi encontrada ontem pela manhã por policiais militares do Batalhão Florestal e Meio Ambiente, em uma região de mata fechada no alto do Morro do Vidigal conhecida como ''Arvrão''.  Ao encontrarem o esconderijo, os policiais entraram em confronto com cerca de 15 bandidos armados com fuzis e pistolas, que abandonaram o abrigo por meio de uma trilha que leva à Rocinha.  Pelo menos um criminoso ficou ferido.

A operação, com apoio do 23º BPM (Leblon), do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do helicóptero do Grupamento Aéreo-Marítimo, ocorre desde sábado para identificar trilhas na mata usadas por traficantes no alto do morro e esconderijos de paióis de armas e munições.  Entre sábado e domingo, segundo o subchefe de Relações Públicas da Polícia Militar, major Oderlei Santos, outros três acampamentos feitos com galhos ou pequenas cavernas foram localizados.  Em uma semana, quatro pessoas foram mortas na disputa de facções rivais do tráfico por pontos de vendas de drogas no Vidigal.

-  O abrigo tem estrutura suficiente para um pernoite e é possível que enquanto bandidos se escondiam na cabana, outros serviam de sentinela do lado de fora, todos possivelmente vindos da Rocinha  - explicou o comandante do Batalhão Florestal, tenente-coronel Carlos Milan.  No local foram apreendidos 205 projéteis para fuzil calibre 762, 13 carregadores de munição para fuzis AK-47, FAL e G-3, uma escopeta calibre 12 identificada como da facção que controla o tráfico de drogas na Rocinha e 18 balas para a escopeta.  

A prática de traficantes em usar esconderijos e atalhos clandestinos na mata para fugir de um morro para outro é tema de um dossiê em fase de conclusão pela Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa.  O documento, conforme noticiou o Jornal do Brasil na edição de sábado, denuncia a influência do tráfico em áreas de proteção ambiental como o Parque Nacional da Tijuca. 

-  Todas as últimas operações da polícia no Vidigal, inclusive a de ontem, entrarão no relatório que estará pronto em até 20 dias  - informou o deputado André do PV, que é o relator do dossiê.

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ONU projeta déficit habitacional para 3 bilhões de pessoas em 2030

Folha de São Paulo, 13 de setembro de 2005

Antônio Gois,

Aproximadamente 40% da população mundial em 2030, ou 3 bilhões de pessoas, vai precisar da construção de moradias e serviços de infra-estrutura básica.

Segundo o Relatório Global sobre Assentamentos Humanos de 2005, divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, será necessário construir 96.150 unidades habitacionais por dia (ou 4.000 por hora) para atender a essa crescente demanda.

O déficit de moradia deve crescer, segundo a ONU, também porque a população vivendo em favelas ou áreas invadidas tende a dobrar nos próximos 25 anos. Hoje, segundo o relatório, são aproximadamente 1 bilhão de pessoas vivendo nessas áreas. Em 2030, serão 2 bilhões.

Anna Tibaijuka, diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, disse que, sem empenho de governos e outros investidores para resolver o problema, "essa população adicional se encontrará sob pobreza urbana, más condições de moradia e de saúde".

Um dos fatores apontados como entrave para o acesso à moradia é o pouco crédito oferecido às populações mais pobres. O Brasil aparece no relatório como um dos países onde é mais difícil obter financiamento para a casa própria entre os 33 comparados.

O relatório mostra que o débito da população brasileira com financiamento para compra de moradia representa apenas 2% do PIB. Esse é, junto com o Peru, a menor proporção encontrada nos 33 países pesquisados.

Esse percentual chega a 87,5% no caso da Dinamarca, 71% nos Estados Unidos e 70,4% no Reino Unido.

O fato de o valor total do débito da população da Dinamarca com moradia chegar a 87,5% do PIB indica que há grande oferta de crédito e facilidade da população para comprar uma residência com financiamento.

Em contrapartida, um percentual tão baixo como o apresentado pelo Brasil indica que há pouca oferta de crédito e em condições pouco atrativas para a maioria da população.

Para o representante de assentamentos humanos da ONU no Brasil, Erik Vittrup, o Brasil ainda não conseguiu criar condições para que o setor privado ofereça crédito atrativo para a população mais pobre.

"No Brasil, a taxa de juros cobrada no meu cartão de crédito é menor do que a cobrada de uma pessoa muito pobre que deixa para pagar a conta do leite na padaria da esquina mais tarde", compara Vittrup.

Para Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), o baixo acesso ao financiamento para moradia no Brasil se deve à instabilidade econômica e aos juros altos: "O Brasil passou nos últimos anos por várias crises. Isso traz incertezas para o credor com relação a capacidade de pagamento".

Oliveira diz também que as taxas de juros muito elevadas da economia brasileira inibem o comprador e acabam limitando o financiamento a um período muito curto de tempo.

"O Brasil não oferece crédito de longo prazo. A maioria dos empréstimos é de dez anos. Às vezes chega-se a 15 ou 20, mas isso é muito raro. Lá fora, o padrão normal de financiamento é de 30 anos, o que facilita o acesso", diz Oliveira.

Déficit

O Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos divulgou também a estimativa de que, no Brasil, o déficit habitacional seja de 7,7 milhões de moradias. Esse número é uma atualização feita a partir dos números oficiais do governo brasileiro, mas não é consenso entre especialistas do setor.
Há quem defenda que o déficit brasileiro esteja superestimado em pelo menos 3,1 milhões de moradias.

No ano passado, os pesquisadores José Eustáquio Alves e Suzana Cavenaghi divulgaram um estudo afirmando que a estimativa de déficit habitacional para o ano 2000 seria, na verdade, de cerca de 3,5 milhões.

Isso acontece porque, para o governo, toda família habitando no mesmo domicílio teria necessidade de uma nova residência. Para os pesquisadores, isso só aconteceria em famílias que vivem em domicílios com mais de três moradores por dormitório.

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Comerciante é assassinado no Recreio

Jornal O Globo, Rio, 19/09/2005
Tais Mendes

O comerciante Antônio Carlos Matias da Silva, de 45 anos, foi morto a tiros, na madrugada de domingo, na Rua do Arquiteto, no Recreio dos Bandeirantes.  Segundo a polícia, ele era dono de um depósito de gás e foi assassinado na porta do estabelecimento comercial.    Policiais civis investigam os motivos do crime.  Eles suspeitam que a vítima tenha reagido a um assalto.

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Vale tudo na Rocinha

Jornal O globo, Rio, 22 de setembro de 2005

Luiz Ernesto Magalhães
 
Sem regras urbanísticas estabelecidas, a Rocinha, a maior favela da Zona Sul, continua a se expandir de tijolo em tijolo, na informalidade.  E, por falta de terrenos disponíveis, principalmente na vertical:  alguns prédios já chegam a sete andares.  Na Rocinha são dispensáveis licenças de obras, vistoria prévia do Corpo de Bombeiros para o habite-se e outros documentos exigidos de qualquer pessoa que queira fazer obra no asfalto.  A associação de moradores União Pró-Melhoramentos da Rocinha, por sua vez, assume o papel de cartório de Registro Geral de Imóveis.

—  O proprietário chega aqui e informa que quer cadastrar uma nova residência.  Nós realizamos uma vistoria para confirmar que a casa é dele mesmo e fazemos o registro.  Por dia, atendemos de cinco a seis pessoas  — diz o
diretor cultural da entidade, Renê Mello.

O registro custa R$ 40.  Renê diz que
a prefeitura mantém na sede da Região Administrativa técnicos da Defesa Civil e arquitetos para aconselhar os moradores quando eles desejam construir ou ampliar imóveis.  O que não é uma garantia de segurança:

—  Tem gente que decide construir mesmo tendo recebido recomendações em contrário.  Nós não interferimos nisso.  Nosso trabalho se limita a registrar o imóvel  — acrescenta o diretor da entidade.
Prefeitura diz que tenta evitar expansão
 
A prefeitura, por sua vez, sustenta que tenta conter a expansão da Rocinha.  Segundo o censo de 2000 do IBGE, a favela contava à época com 16.999 domicíliosA União Pró-Melhoramentos, no entanto, afirma que seriam de 120 mil a 130 mil imóveis.

O Posto de Orientação Técnica (POT) da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU) concentra a fiscalização para evitar o crescimento horizontal.  Isso é feito com monitoramento dos eco-limites  — cercas que isolam a área construída das áreas verdes vizinhas às favelas.

Já a fiscalização do crescimento vertical depende da fixação de parâmetros urbanísticos que
ainda estão em estudo pelo POT.  Os trabalhos estão mais avançados nos bairros Laboriaux, Vila Cruzado e Barcelos, mas ainda não há prazo para a conclusão.  A prefeitura argumenta que como a Rocinha tem sub-bairros com características diferentes  — alguns têm perfil mais comercial, outros residencial —  são necessários muitos levantamentos técnicos.

Considerado um dos melhores pontos da Rocinha, a Via Ápia, no Bairro Barcelos, tem apartamentos vendidos em média por R$ 30 mil a R$ 40 mil.  Na Via Ápia e em ruas vizinhas, existem pelo menos três imóveis em obras.  Um deles é um prédio com
cinco andares, que está sendo construído em frente a um ponto de mototáxi, a cem metros da Auto-Estrada Lagoa-Barra.  Os outros dois imóveis encontram-se em obras para ampliação do número de pavimentos.  Os responsáveis não quiseram dar entrevistas.  A construção de andares adicionais também pode ser vista em casas construídas na localidade da Roupa Suja, perto do Túnel Zuzu Angel.
Secretaria:  casas vão ser demolidas
 
Em nota oficial, a SMU diz que as barreiras do projeto Eco-Limites estão sendo respeitadas.  Mas reconhece a existência de 70 imóveis que foram erguidos antes da demarcação.  A SMU acrescentou que as benfeitorias feitas estão sendo avaliadas para que os proprietários sejam indenizados e as casas, demolidas.

Deocliciano Pessoa Lima, conhecido como Deo, ex-administrador regional da Rocinha,
critica a prefeitura.  Deo, que deixou o cargo em agosto, após nove meses, reclama da lentidão da fiscalização, mesmo em relação a imóveis erguidos fora dos eco-limites e em áreas de risco.  Ele reconhece que a repressão até consegue conter novas invasões, mas não que os moradores continuem a ampliar as construções:

—  Devido ao risco de deslizamentos em alguns trechos, os prédios n
ão deveriam ter mais do que dois ou três andares.  Mas alguns já estão no quarto ou quinto pavimento.

Como exemplo da lentidão da prefeitura, Deo diz que, no período em que permaneceu à frente da Região Administrativa,
apenas um prédio foi demolido.  O imóvel derrubado em agosto tinha sido construído no meio da rua do bairro de Vila Verde. O responsável seria um integrante da quadrilha do traficante Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi.

A expansão da Rocinha é motivo de preocupação no asfalto:

—  Bairros ou comunidades que cresçam sem controle tendem a ter problemas graves de infra-estrutura.  A Rocinha não é diferente  — diz o presidente da Associação de Moradores de São Conrado, José Britz.

Já Gerônimo Emílio Leitão, professor de habitação urbana na UFF e autor de uma
tese de doutorado sobre o crescimento da Rocinha nas últimas cinco décadas, teme que, por causa da demora, a fixação de parâmetros urbanísticos da favela fique apenas no papel.  Segundo ele, a verticalização da Rocinha, que começou na década de 80, aumenta esse risco.

—  Com o inchaço da Rocinha, muitas construções podem não conseguir atender mais às mínimas condições de ventilação e iluminação para serem habitáveis.  Nos bairros formais, o afastamento mínimo (distância entre os imóveis) deve ser de 1,5 metro.  Em favelas, tem-se tentado fixar como regra uma distância de 80 centímetros —  diz.

Gerônimo identifica outro problema.  Os moradores de comunidades carentes como a Rocinha em geral não consideram prioridade a fixação de parâmetros urbanísticos.  A prioridade é tentar resolver problemas de segurança e de infra-estrutura, como saneamento básico e coleta de lixo:

—  Mesmo depois da criação das regras, a prefeitura pode enfrentar dificuldades para cumpri-las.  Quando alguém se casa, por exemplo, quer ter seu espaço.  Uma das soluções é construir um andar adicional no prédio onde a família já mora.  Isso ocorre com a cumplicidade dos vizinhos, que dificilmente vão denunciar o caso, pois poderão ter a mesma necessidade no futuro  — diz.

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Desordem sob investigação

Jornal O Globo, Rio, 23 de setembro de 2005

Luiz Ernesto Magalhães

O Ministério Público estadual instaurou ontem inquérito para investigar os motivos da expansão vertical da Favela da Rocinha — onde alguns prédios já chegam a sete andares — e quem são os responsáveis pelo problema. O promotor Carlos Frederico Saturnino, da 1 Promotoria de Tutela Coletiva e Proteção ao Meio Ambiente e ao Patrimônio Cultural, pretende estender a investigação a pelo menos mais três favelas da Zona Sul — Vila Alice (Laranjeiras), Babilônia (Leme) e Chácara do Céu (Leblon) — e uma de Santa Teresa (Júlio Otoni). Nessas quatro últimas, como mostrou ontem reportagem do GLOBO-Zona Sul, os barracos avançam em ritmo acelerado para as áreas verdes e o asfalto.

Carlos Frederico criticou a prefeitura por não conseguir conter a expansão vertical da Rocinha. Os técnicos da Secretaria municipal de Urbanismo concentram a fiscalização nos eco-limites: cercas que isolam trechos da Rocinha ocupados por casas das áreas verdes, para evitar o crescimento horizontal.

— Todas as construções em favelas são ilegais e portanto sujeitas a demolição. Claro que, se um imóvel já estiver ocupado, a prefeitura só poderá fazê-lo com autorização da Justiça. Mas é possível observar prédios na Rocinha ainda em construção sem ninguém vivendo neles. Nesses casos, a demolição poderia ser imediata — disse o promotor.

Secretário: tiroteios limitam trabalho

O secretário municipal de Urbanismo, Alfredo Sirkis, rebate as críticas. Ele argumentou que, desde abril de 2004, são constantes os confrontos entre traficantes na Rocinha, o que limita o trabalho de repressão às construções ilegais:

— De todas as favelas, a Rocinha foi onde fizemos mais demolições. Nos últimos quatro anos foram 13 grandes operações, com apoio policial, e outras 40 menores. É preciso ver que a Rocinha há muitos meses é praticamente uma zona de guerra. Nessas operações nossos técnicos arriscam as vidas. Merecem mais respeito.

Durante o inquérito, o promotor pretende identificar quem são os proprietários de 70 imóveis existentes fora dos eco-limites. E, com base nas informações, pedir na Justiça a sua demolição.

Já a Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara de Vereadores vai convidar Sirkis e líderes comunitários para uma audiência pública para debater a expansão das favelas.

— Há vários motivos que explicam esse crescimento. Em primeiro lugar, a prefeitura relaxou na fiscalização. Outro problema é a legislação urbana, que está ultrapassada. As exigências às construtoras são tantas que elevam os custos das obras. E desencorajam investimentos em projetos para loteamentos populares que poderiam evitar a favelização — disse Luiz Guaraná (PSDB), presidente da comissão.

Um concurso para mudar a comunidade


O governo estadual e o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) lançam hoje um concurso de projetos com propostas para criar um plano de urbanização para a Rocinha. Os arquitetos terão 30 dias para inscreverem seus projetos, que serão avaliados e julgados por um júri especializado. Os melhores trabalhos receberão prêmios no valor total de R$ 120 mil e as propostas do vencedor serão adotadas futuramente em projetos urbanísticos na favela .

— Há pelo menos 20 anos, discutimos formas de conter a Rocinha e a favela continua se expandindo. O concurso tem o objetivo de botar gente em todo o país pensando as melhores soluções para transformar realmente a Rocinha num bairro. Queremos que os arquitetos identifiquem as melhores soluções — explicou o vice-governador e secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Luiz Paulo Conde.

Com o estudo, será possível também determinar os custos para a urbanização da Rocinha. Conde, no entanto, preferiu não estipular prazos para o começo das obras.

— Mas os projetos já serão um avanço. Os projetos do Rio-Cidade e muitos do programa Favela-Bairro, que já saíram do papel, se originaram também em concursos de idéias como este — acrescentou o vice-governador.
 
 
Favela da Gávea rumo à Rocinha

André Miranda

Barracos da favela Vila Parque da Cidade, na Gávea, já podem ser avistados de prédios da Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon. Estimativa da associação de moradores dessa comunidade indica que o número de imóveis já ultrapassa 1.200. O principal receio dos moradores do Leblon e da Gávea é de que a Vila Parque da Cidade cresça em direção à Rocinha e se transformem num só complexo.

Dos prédios do Leblon, as construções da Vila Parque da Cidade confundem os moradores, pois aparentam ser um novo foco de favelização atrás do Jardim Pernambuco, como foi publicado, equivocadamente, na edição do GLOBO-Zona Sul de ontem. Na verdade, as fotos tiradas de dois ângulos diferentes — da Avenida Visconde Albuquerque e do Parque Dois Irmãos — mostravam o topo da favela do Parque da Cidade e não uma nova comunidade.

Associação diz que favela cresce para o alto da encosta

René Hasenclever, presidente da Associação de Moradores da Gávea, acredita que o crescimento da comunidade em direção ao topo mostra que a prefeitura não consegue conter a favelização na área.

— A Vila Parque da Cidade cresce em direção à Rocinha e não vai demorar muito para as duas se juntarem, tomando este lado do morro, como aconteceu em São Conrado — acredita Hasenclever.

Para Evelyn Rosenzweig, presidente da Câmara Comunitária do Leblon, o problema é a falta de uma política de habitação na cidade.

— As famílias, nessas comunidades, vão crescendo sem controle e precisam achar algum lugar para morar. O problema não é a favela em si e seus moradores, mas a falta de infra-estrutura nas comunidades e o tráfico de drogas, que se mantém presente nessas áreas — lamenta ela. — O Rio está chegando num ponto em que não há mais bairros sem favelas.

O vice-presidente da Associação de Moradores da Vila Parque da Cidade, Luiz Carlos Mendes, conta que uma estimativa da associação indica haver mais de 1.200 domicílios e 4.500 moradores na comunidade da Gávea. Mendes admite, porém, que a favela se expande para o alto da encosta.

— A favela realmente cresce para o alto e forma uma espécie de triângulo dentro da mata. Ela não tem como crescer para os lados e encontrar com a Rocinha porque há os limites impostos pela prefeitura — afirma ele.

A Secretaria municipal de Urbanismo, por sua vez, alega que não tem conhecimento de um crescimento exagerado da favela Vila Parque da Cidade. Segundo o secretário Alfredo Sirkis, não há possibilidade de a favela da Gávea se encontrar com a Rocinha:

— Como na Rocinha, o que existe na Vila Parque da Cidade é expansão vertical. Para conter uma expansão vertical, é necessário penetrar na parte mais densa da comunidade, entrar à força na casa do morador e demolir. Numa área militarmente controlada pelo tráfico, esta é uma operação bastante complexa.

 

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