Reportagens 2006

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Reportagens 2006

 

Reportagens 2006 ( 10ª parte)

Reportagens 2006

Tópico 1  Bancos privados aquecem crédito imobiliário à classe média baixa
Tópico 2  Obstáculo no combate à dengue
Tópico 3  Desmatamento foi invasão, diz Cesar
Tópico 4  Pacote para habitação pode chegar a R$ 19 bi
Tópico 5  Especialista da prefeitura: favelas estão contidas
Tópico 6  Margem de risco
Tópico 7  Imóveis de luxo também ocupam ilegalmente margens de rios e lagoas
Tópico 8  Imóveis perdem o valor
Tópico 9  RÍO DE JANEIRO espera investir 1.000 millones de dólares em programa de mejoramiento  de asetamientos     marginales Favela-Bairro
Tópico 10 Na véspera do carnaval, a convulsão social
Tópico 11 Mazelas do crescimento
Tópico 12 Invasões a terrenos são organizadas
Tópico 13 Como nasce uma favela
Tópico 14 R$ 4 milhões para regularizar moradias na Rocinha e no Vidigal
Tópico 15 Plano de regularizar favelas tem corte de verba antes mesmo de começar
Tópico 16 No Rio, 15% das famílias ainda não têm esgoto
Tópico 17 Câmara discutirá novo plano diretor
Tópico 18 Habitação social tem R$ 10,3 bilhões
Tópico 19 Lula assina medida para áreas invadidas
Tópico 20 Imóvel ocupado terá direito a financiamento
Tópico 21 Patrões poderão construir moradias
Tópico 22 Favela Bairro chega ao Recreio dos Bandeirantes
Tópico 23 O abismo social dos morros
Tópico 24 Favelas alojam 20% da população da capital
Tópico 25 Um xodó deixado de lado
Tópico 26 A desfavelização do Estado do Rio

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Bancos privados aquecem crédito imobiliário à classe média baixa

Valor, Alex Ribeiro, 18/jan

A classe média baixa, com rendimento mensal a partir de cinco salários mínimos, é a aposta dos bancos privados para expandir em cerca de 40% a contratação de financiamentos imobiliários com recursos da caderneta de poupança em 2006, chegando a R$ 6,7 bilhões. Ontem, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) divulgou o balanço dos empréstimos no ano passado, que somaram R$ 4,794 bilhões, expansão de 59,8% em relação a 2004. Foi o melhor desempenho desde 1994.

A forte disponibilidade de recursos já está obrigado o sistema a disputar nichos de mercado que antes eram ignorados. Dados do Banco Central mostram que, de janeiro a novembro, foram contratados R$ 618 milhões dentro da faixa de renda a partir de cinco salários mínimos, cuja aplicação foi incentivada por norma do Conselho Monetário Nacional (CMN). Essa faixa de renda representou, em 2005, cerca de 15% dos negócios.

"A minha expectativa é que os financiamentos para essa faixa representem cerca de 30% do mercado em 2006", afirma Décio Tenerello, presidente da Abecip. "Todos os bancos já lançaram produtos adequados aos incentivos criados pelo CMN."

Em janeiro de 2005, o CMN criou um multiplicador que estimula financiamentos à compra de imóveis avaliados em até R$ 150 mil e com juros menores que 12% ao ano. Bancos que cortam mais os juros e financiam imóveis de menor valor estão autorizados a computar até três vezes o valor da operação para fins de cálculo das exigências de aplicação de recursos de caderneta de poupança em habitação (pela regra em vigor, 65% dos saldos captados em caderneta devem ser destinados a financiamentos imobiliários). Assim, um financiamento de R$ 80 mil, por exemplo, pode ser computado como se fosse R$ 240 mil.

Antes de o CMN mudar a regra, de forma geral os financiamentos de imóveis de menor valor não tinham sustentação econômica, segundo Tenerello, porque o baixo retorno não cobria os custos de administração de contratos de longo prazo. Os bancos atuavam, até então, preferencialmente na faixa de alta renda.

O CMN criou o multiplicador em janeiro de 2005, mas, nos primeiros meses, os bancos relutaram a utilizá-lo, com receio de assumir compromissos de longo prazo num país com alta volatilidade na taxa básica de juro. Em julho, o CMN revisou a regra, permitindo que, se enfrentarem uma situação adversa, os bancos possam elevar os juros após 36 meses de contrato, deixando de usar o multiplicador.

Os bancos privados estão oferecendo empréstimos com juros de até 8% ao ano - e, com isso, passam a disputar parte do mercado hoje atendido pelos financiamentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), destinados a quem tem renda mensal de até R$ 4.900.

"Com o volume de dinheiro disponível para a habitação em 2006, os bancos privados não têm alternativa senão financiar imóveis para faixas de renda menores", disse o vice-presidente de Desenvolvimento Urbano da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda. "Começamos a sentir uma maior concorrência no segundo semestre de 2005, mas nossos produtos são competitivos para disputar esse mercado."

A Caixa já usava seus recursos próprios e da caderneta de poupança para atender preferencialmente a classe média baixa. Em 2005, foi aplicado US$ 1,1 bilhão em recursos dessas fontes, com valor médio de R$ 62,5 mil por financiamento. O valor médio dos empréstimos dos bancos privados foi de R$ 78,9 mil em 2005, segundo os dados divulgados ontem pela Abecip.

Tenerello diz que a construção de imóveis de valor mais baixo será uma variável importante para que sejam contratados financiamentos para a classe média baixa. A exemplo dos bancos, as construtoras atuavam preferencialmente na faixa de renda mais elevada. Os empresários da construção civil participaram da negociação com o CMN para a criação do multiplicador, e estão interessados em ampliar a oferta de imóveis de menor valor.

 

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Obstáculo no combate à dengue

Jornal O Globo, 31 de janeiro de 2006

Bernardo Mello Franco e Guilherme Freitas

A violência é a nova aliada do mosquito transmissor da dengue em favelas cariocas. Depois que agentes de controle de epidemia ficaram no meio de tiroteios, as visitas a algumas áreas de risco, como os morros do Dendê e Nossa Senhora das Graças, ambos na Ilha do Governador, foram suspensas. Em Vigário Geral, líderes comunitários reclamam que os profissionais se limitam a procurar focos no asfalto, sem entrar na favela desde 2004. O subsecretário de Saúde, Mauro Marzochi, admite que a violência tem prejudicado o combate aos focos de Aedes aegypti . Já foram notificados 428 casos de dengue na cidade desde janeiro, com uma morte confirmada.

- Quando há tiroteio durante uma visita, a primeira medida da secretaria é recolher os agentes de controle de vetores (responsáveis pelo combate ao Aedes aegypti ). Ficamos até seis meses sem entrar em algumas favelas - diz o subsecretário.

A presidente da Associação de Moradores do Morro do Dendê, Fernanda Araújo, teme um surto de dengue, já que os agentes não aparecem há mais de dois anos na favela, que tem caixas d'água abertas e acúmulo de lixo, condições que ajudam na proliferação do mosquito. Segundo o supervisor-geral do controle de vetores na Ilha, Roberto Rabanaque, não há prazo para a retomada das inspeções:

- Não podemos botar nossos agentes no fogo cruzado - justifica.

Ele conta que já precisou se esconder durante um tiroteio na Favela Nova Holanda, na Maré. Há três anos, um dos agentes que trabalhavam na Ilha teve o carro baleado enquanto inspecionava uma casa. O incidente é citado pelo supervisor como a gota d'água para a suspensão das visitas ao Morro do Dendê.

O secretário municipal de Saúde, Ronaldo Cézar Coelho, admite que a violência interfere no dia-a-dia dos agentes, mas diz que não há ordens para suspender as visitas.

- Em dias de situações de risco, não vamos às comunidades, como qualquer carro de entrega. Minha ordem é não submeter os servidores a risco. Suspensão temporária de visitas, desconheço.

Agentes adotam táticas de defesa

Nas favelas que continuam sendo visitadas, os agentes adotaram táticas para se prevenir da violência: chegam cedo e sobem em grupo para não serem confundidos com invasores. Segundo o relações-públicas da PM, tenente-coronel Aristeu Tavares, eles podem pedir ajuda.

- Se houver pedido oficial, podemos acompanhar agentes públicos em qualquer situação.

Segundo Marzochi, a única forma de contornar a insegurança é trabalhar em parceria com moradores. Líderes comunitários, no entanto, dizem que o diálogo não tem sido freqüente. Em dezembro de 2005, a Associação de Moradores do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Copacabana, marcou três reuniões com órgãos públicos para discutir problemas da área. O setor de controle de vetores só mandou representantes a uma.

- Eles prometeram inspeções para localizar focos, mas ainda estamos esperando - diz a presidente da associação, Alzira Amaral, que não se lembra da última vez em que agentes estiveram na favela.

Em Vigário Geral, a ausência também é regra. Líderes comunitários contam que a última ação municipal de combate ao mosquito foi em setembro de 2004. Durante a campanha de reeleição do prefeito Cesar Maia, a favela de 40 mil habitantes recebeu duas visitas de carros-fumacê. A vice-presidente da associação local, Neide de Souza, fez quatro pedidos de inspeção ao setor de controle de vetores nos últimos cinco meses, mas não foi atendida. Segundo ela, os agentes só vão até a entrada da favela.

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Desmatamento foi invasão, diz Cesar

Jornal O Globo, 02 de Fevereiro de 2006

Rodrigo March

O que era uma suspeita dos moradores o prefeito Cesar Maia confirma: o desmatamento ilegal que aconteceu a dez metros das varandas de um prédio no Leme foi uma tentativa de invasão.

Como O GLOBO-Zona Sul mostrou na edição passada, operários vestindo camisas da prefeitura desmataram duas áreas na parte baixa do Morro da Babilônia nos dias 7 e 8 de dezembro e 9, 10 e 11 de janeiro. As duas ações foram fotografadas e filmadas por moradores do Edifício Astúrias, na Rua Gustavo Sampaio.

Segundo o prefeito, havia apenas duas hipóteses para os operários estarem vestindo camisas do município nas duas ocasiões.

- O projeto Mutirão Reflorestamento usa apenas pessoas da comunidade. Ou as camisas foram desviadas para facilitar a invasão ou pessoas do programa se aproveitaram do projeto. Nossa análise chegou à primeira hipótese - informa o prefeito.

Cesar Maia diz ainda que a construção irregular mostrada na reportagem do GLOBO-Zona Sul, perto de uma das áreas desmatadas, foi demolida.

As áreas desmatadas, prossegue o prefeito, também já estão sendo reflorestadas pelos próprios integrantes do Mutirão Reflorestamento. Segundo os moradores do Edifício Astúrias, as pessoas empenhadas na tarefa são as mesmas que fizeram o desmatamento.

O presidente da Associação de Moradores do Morro da Babilônia, Isaías Bruno Ferreira, contesta a informação do prefeito de que houve invasão. Segundo ele, o desmatamento foi uma primeira etapa da ação de reflorestamento do projeto.

- Eles estavam limpando a área para plantar mudas no futuro, porque o capim-colonião é nocivo ao terreno. Mas a prefeitura não se preocupou em avisar aos moradores - explica Isaías, que, no entanto, reconhece que os operários não estavam preparados para aquela ação. - Não deu tempo de eles serem capacitados, porque o projeto foi implantado a toque de caixa. Mas eles não estavam sem supervisão como disseram.

Segundo Isaías, no dia 24, a comunidade recebeu a visita do subsecretário de Habitação, Paulo André Figueira, e de sua equipe, para supervisionar o projeto. Durante a visita, conta o presidente da entidade, foi confirmada a existência de duas obras iniciadas em áreas de risco, perto dos prédios da Rua Gustavo Sampaio.

Os moradores estão fazendo um abaixo-assinado pedindo medidas de controle do crescimento da favela, denunciado à Secretaria de Urbanismo em 2004. Mais de cem assinaturas já foram recolhidas.

 

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Pacote para habitação pode chegar a R$ 19 bi

Folha de S.Paulo, 02 de Fevereiro de 2006

Sheila D'Amorim

O pacote que está sendo preparado dentro do governo para estimular o setor de habitação empacou porque ainda não há consenso sobre a parcela da sociedade que será a mais beneficiada com as medidas. Além disso, há dúvidas sobre o volume de receita que o governo deixará de arrecadar com as medidas.

A idéia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva era anunciar as mudanças nesta semana. No entanto, os técnicos do governo ainda avaliam se o impacto que as medidas propostas terão para reduzir o custo dos imóveis compensam a renúncia de arrecadação que está em jogo e debatem o melhor foco de cada proposta.

Ontem, a previsão era a de que até amanhã os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Dilma Rousseff (Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), Márcio Fortes (Cidades), além do presidente da Caixa, Jorge Mattoso, deveriam se reunir para mais uma rodada de negociação.

O presidente Lula quer anunciar as medidas antes de embarcar para a África, na segunda-feira, mas ainda não se sabe se será possível fechar o pacote a tempo.

Segundo a Folha apurou, a idéia do governo é contar neste ano com cerca de R$ 19 bilhões para atender à demanda do setor de habitação de forma geral, incluindo aí recursos públicos e privados que serão direcionados para baixa renda e classe média.

Desse total, R$ 12,1 bilhões devem ser destinados para a população de baixa renda. Aí entrariam recursos adicionais de cerca de R$ 550 milhões para o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, criado no final de 2005 para financiar habitações populares. Com isso, o volume de dinheiro do fundo chegaria a R$ 1 bilhão. A medida está em discussão.

Outros R$ 6,7 bilhões devem vir do setor privado. Esses recursos, captados pelos bancos por meio das cadernetas de poupança, serão direcionados à classe média, juntamente com R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal. Esse ponto já foi aprovado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Uma parte dos ministros envolvidos nas discussões dentro do governo defende ênfase maior nas medidas para incentivar as obras individuais, feitas normalmente pelos próprios moradores e seus familiares e que incluem desde o famoso "puxadinho" à construção completa do imóvel.

Com isso, afirmam, o governo estará beneficiando uma camada da população que responde pela maior parte do déficit habitacional do país, atualmente estimado em cerca de 7 milhões de imóveis, e que também gera emprego.

Por isso, eles querem a redução de IPI para uma cesta de materiais de construção.

Outra proposta nesse sentido prevê o incentivo a empréstimos dentro do programa de microcrédito para financiar reformas residenciais ou ainda a criação de uma linha de empréstimos com desconto na folha de pagamento para a compra da casa própria. Dada a dificuldade em administrar índices elevados de atraso de pagamento, não há consenso.

Do outro lado, argumenta-se que a desoneração para construtoras trará maior benefício, com redução do custo de cada unidade habitacional e maior facilidade no controle por parte do governo.

Com essas divergências, os técnicos trabalham em um mix de propostas. Daí a idéia de diminuir a incidência de Imposto de Renda para quem construir casas e loteamentos populares.

 

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Especialista da prefeitura: favelas estão contidas

Jornal O Globo, 03 de Fevereiro de 2006

Túlio Brandão

O diretor de informações geográficas do Instituto Pereira Passos (IPP), Sérgio Besserman, contestou ontem a projeção de que Rocinha, Vidigal, Vila Parque da Cidade e Chácara do Céu estejam a caminho de se tornar um único complexo. A avaliação foi feita por urbanistas em reportagem publicada ontem no GLOBO. Para o especialista da prefeitura, a união das favelas é uma possibilidade descartada:

- Essas comunidades tiveram realmente um crescimento populacional grande, mas as construções cresceram verticalmente. Nosso levantamento cartográfico (que compara, por fotos de satélite, a área ocupada em 1999 e 2004) mostra que praticamente não houve avanço no território. Atualmente a possibilidade das favelas se tornarem um complexo é zero. Isso não quer dizer, no entanto, que a batalha esteja vencida. É um trabalho sem fim do poder público e da sociedade.

Sérgio Besserman falou também sobre a foto publicada no jornal que mostra uma área da favela Chácara do Céu já sendo vista da Praia do Leblon:

- Tudo indica que são residências antigas que cresceram verticalmente. Com mais andares, passou a ser possível enxergar da rua.

De acordo com o IPP, a Zona Oeste é o bairro com maior taxa de crescimento de favelas do Rio, com índices que chegam a 10% ao ano. As comunidades carentes consolidadas das outras regiões, de acordo com o diretor do instituto, estão estabilizadas: algumas apresentam queda e outras, aumento da população.

 

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Margem de risco

Jornal O Globo, 03 de fevereiro de 2006

Daniel Engelbrecht

Principal causa de assoreamento dos rios e, conseqüentemente, das inundações, a ocupação irregular das margens atingiu níveis alarmantes no município do Rio. A Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla) calcula que existam hoje na cidade cerca de 25 mil construções irregulares dentro da faixa marginal de proteção de 30 metros ao longo de rios, canais e lagoas. Em todo o estado são cerca de 60 mil imóveis nesta situação. Em rios como o Acari, na Zona Norte, há casas praticamente dentro d'água. Os aterros ilegais também proliferam, inclusive em regiões naturalmente sujeitas a enchentes, como a Baixada de Jacarepaguá, onde até porcos são criados em chiqueiros sobre canais.

A ocupação desordenada das margens provoca o assoreamento dos rios. Sem a
vegetação, a erosão acaba levando grande quantidade de sedimentos para os
corpos hídricos, além do lixo e do esgoto jogados por moradores.

- A água vai seguir seu curso sempre. Se o rio estiver cheio de lixo e sedimentos, ela vai subir. Se tiver uma parede ou laje na frente, vai derrubar - explica Rafael Zeitoune, um dos dois fiscais da Serla responsáveis por fiscalizar todo o município do Rio, exceto Campo Grande e Santa Cruz.

Barracos impedem dragagens

A presença de casas nas margens também dificulta o trabalho de dragagem feito rotineiramente pela Serla e pela Fundação Rio-Águas, da prefeitura. Foi o que aconteceu no Rio Pavuninha, em Jacarepaguá, que tem uma das margens tomada por 60 barracos da favela São Francisco de Assis, a poucos quilômetros da Vila Pan-americana. O rio chegou a ser dragado em 2004 pela Serla, mas seu leito não pôde ser aprofundado como deveria porque os barracos na margem poderiam desabar. Com as chuvas da última terça-feira, o rio subiu cerca de três metros, invadiu a pista da Estrada do Urubu e alagou também a comunidade do Caminho do Outeiro, que fica do outro lado. O problema na favela, que tem cerca de 1.250 moradores, se repete a cada chuva forte. Ontem, a aposentada Teresa de Moraes, de 76 anos, ainda estava com um palmo de água dentro de casa:

- Toda vez que chove, eu tenho que sair correndo.

As inundações no Caminho do Outeiro são provocadas também por um outro problema típico da Baixada de Jacarepaguá: os aterros irregulares. Diversos deles foram feitos pelos moradores e pelos donos de um terreno vizinho na área de alagadiço e no canal que ficam nos fundos da comunidade. As obras, sem licença, impedem o escoamento da água. Uma casa e um chiqueiro também foram construídos sobre o canal. Vinte porcos vivem dentro da água, que recebe todo o esgoto da comunidade.

- O chiqueiro existe há um ano. Já pedimos à Vigilância Sanitária que visse esta situação, mas nunca apareceram - diz o presidente da associação de moradores, Antônio Francisco.

Os moradores também correm risco de contrair doenças consumindo peixes contaminados pescados próximos a saídas de esgoto no Rio Pavuninha. Com a cheia do rio, centenas deles vieram da Lagoa da Tijuca e estão ficando sem oxigênio.

Aterros irregulares também podem ser vistos da Linha Vermelha. Na Vila do João, no Complexo da Maré, um caminhão despejava entulho ontem nas margens do Canal do Cunha, um dos mais problemáticos da cidade. Segundo levantamento da Serla, a bacia do canal, formada pelos rios Jacaré, Faria-Timbó e afluentes, tem quatro pontos de transbordamentos provocados pelo assoreamento.

Na margem do Rio Acari, o pior do município, com 27 pontos de inundação, até carcaças de automóveis podem ser vistas na altura da Via Dutra, no Jardim América. Na margem oposta, as casas da favela Beira-Rio, algumas com três andares, permanecem coladas ao rio. O esgoto e o lixo dos moradores são jogados na água.

Na opinião do coordenador do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, Paulo Canedo, as regras de construção na cidade não estão sendo minimamente respeitadas.

- O normal é que, cessada a chuva, a água escoe de dois a cinco minutos, como num chuveiro. Mas isso não está acontecendo porque a drenagem urbana não está sendo feita como deveria, antes dos meses chuvosos. Não é preciso grandes investimentos, mas fiscalização. Basta limpar bueiros e canos e fiscalizar construções à beira de rios.

Para Ícaro Moreno, presidente da Serla, é preciso que haja integração entre as três esferas de governo e uma mudança cultural na forma como as pessoas vêem os rios. Ele acredita ser possível remover boa parte das 60 mil construções irregulares do estado, transferindo as pessoas para locais fora de áreas de risco.

Mais 2 corpos encontrados: total chega a 18

Subiu para 18 ontem o número de mortes provocadas pelas últimas chuvas, desde sexta-feira. Os corpos de Lucian Silva dos Santos, de 16 anos, e de Luiz Henrique Costa, de 19 anos, foram localizados pelo Corpo de Bombeiros nos rios Acari, em Honório Gurgel, e Grande, em Jacarepaguá. Eles estavam desaparecidos desde o temporal de terça-feira, quando foram levados pelas águas.

De segunda-feira até as 17h de ontem a Defesa Civil municipal atendeu 976 chamados - quase os 995 de todo o mês de dezembro. Só ontem foram 336. De terça-feira até ontem a Comlurb recolheu 1.497 toneladas de detritos da chuva. O Instituto Climatempo prevê a possibilidade de novas pancadas de chuva hoje.

 

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Imóveis de luxo também ocupam ilegalmente margens de rios e lagoas

Jornal O Globo, Rio, 04 de fevereiro de 2006

Daniel Engelbrecht

Margens de rios e lagoas no Rio não estão sendo ocupadas apenas por pessoas de baixa renda. Nas lagoas da Baixada de Jacarepaguá, casas de luxo também desrespeitam a faixa marginal de proteção de 30 metros. Boa parte delas está localizada nas ilhas da Gigóia, Primeira e das Garças, na Lagoa da Tijuca, e na orla da Lagoa de Marapendi. Desde 2004, a Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla) intimou 110 proprietários de baixa e alta renda a demolirem imóveis na região, mas apenas um cumpriu a ordem até hoje.

Em março de 2005, uma vistoria da Serla e da polícia nas ilhas da Lagoa da Tijuca flagrou três imóveis em construção na faixa marginal de proteção. As obras foram embargadas e os proprietários foram intimados a fazer a demolição. Apenas um cumpriu a ordem. Outras 107 intimações aplicadas desde 2004 no complexo lagunar também foram ignoradas.

— Todas essas pessoas estão sendo multadas e os processos serão encaminhados à Procuradoria Geral do Estado para que ingresse na Justiça com ações de demolição — afirma a assessora jurídica da Serla, Mariana Brant.

Numa tentativa de diminuir a agressão ao meio ambiente, a Companhia Estadual de Habitação (Cehab) está construindo 400 unidades no conjunto Sepetiba 2, ao custo de R$ 30 milhões, que receberão moradores de áreas de preservação da Baixada de Jacarepaguá e de outros pontos da Zona Oeste. A Cehab e a Serla defendem a integração com outras esferas de governo para possibilitar a remoção das cerca de 25 mil famílias que moram nas margens de rios e canais no município, segundo levantamento publicado ontem no GLOBO. A Secretaria municipal de Urbanismo informou que “a responsabilidade de fiscalização de rios é da Serla”.

Crea denuncia obra de shopping

O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) denunciou, após vistoria anteontem, que o estacionamento de um shopping em construção na Estrada dos Bandeirantes, em Vargem Grande, estaria dentro da faixa marginal de proteção do Canal do Rio Morto. De acordo com o Código Florestal, a distância mínima necessária é de 30 metros. A empresa responsável pela construção do centro comercial diz que a avaliação do Crea está equivocada. Segundo a empresa, o shopping está a 50 metros do canal.

O empreendimento tem licença da prefeitura, que alega que a obra foi liberada pela Serla. A superintendência, no entanto, nega ter sido consultada.

A Secretaria de Urbanismo publicou ontem no Diário Oficial um relatório sobre o licenciamento do Penha Shopping. No estacionamento subterrâneo do prédio, erguido próximo a um curso d’água, seis pessoas morreram afogadas durante o temporal do dia 27. Segundo o relatório, o shopping estava licenciado e a tragédia ocorreu por fenômenos naturais.

 

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Imóveis perdem o valor

Jornal do Brasil, 17 de fevereiro de 2006

A insegurança e o medo de balas perdidas já fazem parte da vida de quem mora nos prédios em frente à Rocinha, em São Conrado. Mas, além disso, existe mais uma preocupação: a desvalorização dos imóveis.

- Para se ter uma idéia, os prédios que ficam sobre o supermercado Sendas tiveram uma desvalorização de 40%, enquanto os apartamentos do Village tiveram queda de 30%. Alguns vizinhos já tentaram vender, mas tiveram dificuldade. Para alugar é a mesma coisa. O meu vizinho de porta saiu daqui por medo de levar um tiro e o apartamento dele ficou sem alugar por mais de um ano e meio - conta o engenheiro W.C.L, que preferiu não se identificar.

O advogado Paulo Ribeiro Teixeira, de 52 anos, mora no bairro há 22 anos e relata a tristeza de ver São Conrado cada vez mais desvalorizado.

- Fico triste com o crescimento desordenado da Rocinha e as constantes guerras. Minha irmã, que morava no prédio do Village mais próximo à favela, tenta vender o apartamento desde o fim de 2004, mas não consegue. Nos prédios com vista panorâmica para a Rocinha ninguém quer morar - diz Paulo.

Laudimiro Cavalcanti, delegado do Creci na Barra, confirma a dificuldade para vender ou alugar certos imóveis no bairro.

- Lamentavelmente, em razão da violência sem controle, é difícil vender ou alugar um apartamento que seja de frente para a Rocinha. Essas unidades tiveram uma desvalorização média de 35%, mas mesmo com o preço inferior ao de mercado não encontram inquilino. Há muita oferta para nenhuma procura. Enquanto em outros bairros há uma valorização, em São Conrado a desvalorização é a cada dia maior - ressalta Cavalcanti.

 

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RÍO DE JANEIRO espera investir 1.000 millones de dólares em programa de mejoramiento  de asetamientos  marginales Favela-Bairro

http://www3.iadb.org/news/

BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO
Comunicado de Prensa
2 de octubre de 2003

En un seminario celebrado en el BID, autoridades municipales destacan el sólido apoyo de cariocas a proyecto emblemático

La ciudad de Río de Janeiro espera llegar a invertir un total de 1.000 millones de dólares en el Programa Favela-Bairro, una iniciativa reconocida internacionalmente como modelo para el mejoramiento de asentamientos marginales, afirmaron aquí autoridades municipales cariocas.

El alcalde César Maia y la secretaria de Vivienda, Solange Amaral, comentaron en un seminario celebrado esta semana en la sede del Banco Interamericano de Desarrollo en Washington que prevén una tercera etapa del Favela-Bairro, lanzado hace una década para integrar a los vecindarios pobres al resto de la ciudad.

“Favela-Bairro es sin duda el proyecto más importante para Río. Es un proyecto que el carioca reconoce como suyo. Y no soy yo quien lo dice. Es la ciudad,” aseguró Maia en su presentación sobre el programa, cuyo nombre sintetiza el objetivo de transformar a los asentamientos en vecindarios formales, brindándoles infraestructura básica y servicios públicos y sociales.

El presupuesto total para las primeras dos etapas del proyecto es de 600 millones de dólares, de los cuales 360 millones fueron aportados como préstamos por el BID. Amaral señaló que el gobierno municipal espera invertir otros 400 millones de dólares en Favela-Bairro para llegar a atender más de 330 asentamientos marginales.

“Las primeras dos etapas se atendieron 168 comunidades, entre favelas y urbanizaciones informales,” dijo Amaral, quien señaló que Favela-Bairro ha servido de base para otros programas dirigidos a los asentamientos más pequeños y más grandes de la ciudad.

Casi 1,7 millones de personas viven en favelas repartidas por toda la accidentada geografía de Río de Janeiro y en loteos suburbanos. Bajo el programa apoyado por el BID, se han atendido a medio millón de personas.

La fórmula de Favela-Bairro, que ya ha inspirado una decena de programas de mejoramiento urbano en otros países latinoamericanos, rompió con las antiguas políticas de erradicación de asentamientos marginales.

En lugar de arrasar las viviendas de los pobres y relegarlos a lejanos barrios populares, el gobierno carioca se propuso mejorar las condiciones de vida en sus vecindarios mediante la construcción de obras de infraestructura básica y la prestación de servicios sociales esenciales.

Favela-Bairro, que se concentra en asentamientos de 500 hasta 2.500 viviendas, utiliza una metodología participativa que involucra a los beneficiarios en todas las etapas de los proyectos. Bajo el programa, el gobierno municipal lleva servicios de agua y saneamiento, recolección de residuos, barrido y alumbrado público a las comunidades pobres, además de construir calles, plazas, canchas para deportes, drenajes, muros de contención y estabilización de laderas.

El programa combina esas obras con un menú de servicios sociales como guarderías infantiles, programas de retención y refuerzo escolar para niños y adolescentes, orientación para jóvenes en riesgo, actividades para estimular el liderazgo juvenil y femenino, y apoyo contra la violencia familiar, el abuso sexual, el embarazo precoz y las adicciones al alcohol y las drogas.

A estos servicios se le ha sumado un componente de generación de ingresos que ofrece educación para adultos, capacitación laboral y orientación para la integración al mercado laboral para personas que viven en asentamientos marginales.

Según evaluaciones del Favela-Bairro, las comunidades que han participado en el programa mostraron mejoras considerables en materia de cobertura de servicios de agua potable, alcantarillado y recolección de basura, apuntó Maia.

El alcalde también destacó la continuidad que ha gozado esta iniciativa, que ha perdurado durante tres gestiones municipales. Según encuestas de opinión realizadas este año, el Favela-Bairro fue señalado por los cariocas como el programa prioritario para su ciudad.

Por su parte, el presidente del BID, Enrique V. Iglesias, destacó el impacto que ha tenido la iniciativa de Río de Janeiro más allá de las fronteras brasileñas. “Favela-Bairro es un programa que trabaja por la dignidad de las personas,” afirmó. “Es un proyecto emblemático para el BID, y estamos orgullosos de haber estado asociados al programa desde sus inicios.”

Disponible también en:
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Na véspera do carnaval, a convulsão social

 
Tribuna da Imprensa, (25 e 26/02/06)
Helio Fernandes
Quando a Vila Militar descia e quando a Rocinha descer sem fantasia

Com a tomada do Poder em 1964, os generais perderam o Poder. Não é jogo de palavras ou contradição. É a realidade, indestrutível e insubstituível. Antigamente, antes do golpe de 1964, e até mesmo antes da criminosa mudança da capital, existia um lugar-comum irrefutável ou irrespondível: A VILA MILITAR VAI DESCER. E descia mesmo.

Em 29 de outubro de 1945, lembro do general Alcio Souto, comandante da Vila Militar, subindo num tanque para tirar o ditador do Palácio do Catete. Não precisou. O general Cordeiro de Farias já convencera Vargas que 15 anos era muito, ele estava no chão. E Vargas, que disse "só sairei morto", saiu bem vivo. (Sairia morto em 1954, os números das datas são invertidos, mas os fatos são os mesmos. Só que a hora de contar não é agora).

Com a obsessão desvairada de TODOS OS GOVERNOS de ALIMENTAR "credores" nacionais e multinacionais com o sangue do nosso trabalho, a situação piora cada vez mais. Chegará ao dia do confronto, mais perto do que muitos imaginam. Submetidos ao roubo de toda a produção de pelo menos 80 milhões de pessoas, os governantes se refugiam na MACROECONOMIA, que o povo não entende nem progride com ela.

Agora, a Vila Militar não desce mais. Só que surgiu a ameaça, mais identificada com a realidade e com o terror: "E SE A ROCINHA DESCER?". Quem passa por São Conrado vê mesmo que não queira aquela explosão de irresponsabilidade: prédios luxuosos e mirabolantes frente a frente com os barracos miseráveis da Rocinha. E a proporção é de 50 para 1, com o número maior sendo o da população da Rocinha.

Um dia, atacado duramente por um papa, Joseph Stalin, invencível, insensível e desprezível, perguntou: "Quantas Divisões tem esse cara?". Quando a Vila Militar ameaçava descer, quantas Divisões existiam? Agora a pergunta é rigorosamente a mesma: "Quantas Divisões e quantos generais têm os exércitos dessa Rocinha?". Ninguém responde, como também ninguém respondeu quando Stalin desafiou o papa.

PS - Em suma, não há suma. Só irresponsabilidade, imprudência, o deslumbramento da riqueza, a ausência de preocupação com a pobreza.

PS 2 - Hoje, começando o carnaval, a Rocinha está descendo. Em paz, escondida, na fantasia, na máscara e na satisfação da alegria. E quando essa Rocinha descer sem máscara, sem fantasia e sem satisfação, e sem alegria?

 

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Mazelas do crescimento

Jornal O Globo, Barra, 18 de março de 2006

Por Rodrigo March

Área de maior crescimento proporcional da cidade, mas que a reboque do boom imobiliário ganhou favelas, loteamentos irregulares, engarrafamentos e inúmeros problemas ambientais. A análise da Área de Planejamento 4 (AP-4) do município, que engloba 19 bairros nas regiões administrativas de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Cidade de Deus, é do próprio Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP) e consta do relatório “Informações da Cidade do Rio de Janeiro para Subsidiar a Câmara dos Vereadores no Processo de Elaboração do Plano Diretor 2005”, entregue pelo IPP à Câmara em dezembro do ano passado. Enquanto a população total da área cresceu 29,6% em dez anos, no mesmo período o número de moradores nas favelas mais do que dobrou, passando de 72.182 em 1991 a 144.394 em 2000. Do total de lotes distribuídos na região, 64,5% estão em loteamentos irregulares inscritos na prefeitura. E as áreas naturais diminuíram, nos anos 90, de 55% para 51% do território.

A AP-4, de acordo com o relatório, registra um “fantástico crescimento”, sobretudo na região administrativa da Barra, que passou de 5.779 moradores em 1970 para 174.353 em 2000 — uma variação de 2.917% em 30 anos. Já de 1991 a 2000, a população da AP-4 cresceu 29,6%, um ganho absoluto de 155.749 moradores. Na Barra, a variação no período foi de 76,5% (mais 75.562 habitantes), um “verdadeiro boom”, segundo o relatório do IPP.

O desenvolvimento acelerado da área é indicado também por sua participação, de 25%, na variação do total de domicílios da cidade entre 1991 e 2000. Em 2004, de acordo com a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), a região respondeu por 69,3% das unidades lançadas nos empreendimentos imobiliários da cidade. A AP-4 é a área do município com o maior número de licenças de construção.

Mas o “fantástico crescimento” também foi verificado nas favelas da região, que abrigaram a mão-de-obra da construção civil. Entre 1991 e 2000, a região recebeu um fluxo migratório de 38.379 pessoas, sendo que 60,7% tiveram Jacarepaguá como destino e 38,4%, a Barra. Do total de migrantes, 81,5% eram de fora do estado, o maior fluxo deste tipo entre as cinco áreas de planejamento da cidade.

Sem controle do município, os loteamentos irregulares acabaram também se multiplicando. Hoje, há 3.029 lotes distribuídos em quase um milhão de metros quadrados na região, sendo que 1.955 (64,5%) estão em loteamentos irregulares inscritos no Núcleo de Regularização de Loteamentos da prefeitura.

Com a expansão desenfreada, o impacto ambiental é notório. A cobertura vegetal nativa sofreu perda de 866 hectares de florestas, um hectare de vegetação de mangue e 27 hectares de vegetação de restinga. Na Praia do Pepê e no Quebra-Mar, houve redução das condições de balneabilidade, de acordo com o relatório do IPP

 

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Invasões a terrenos são organizadas

 
Jornal do Brasil, 18 de março de 2006

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informa que o projeto de revitalização do complexo prevê serviços de dragagem e outras providências que irão levar ao desassoreamento e desobstrução. De acordo com o órgão, a Lagoa de Jacarepaguá, por exemplo, terá 2,50 metros de profundidade em toda sua extensão e a da Tijuca, 1,50 metro, tendo um volume de material a ser retirado de aproximadamente 1,7 milhão metros cúbicos. Ao final, o complexo lagunar apresentará duas interfaces para o mar, através dos canais da Joatinga e de Sernambetiba.

Em relação às construções irregulares no Canal do Cortado, o subprefeito da Barra, André Duarte, diz que a prefeitura combate a situação.

- Nas últimas operações, retiramos dois galpões, um de dois andares, na Avenida das Américas, além de 20 barracos de madeira, na Avenida Célia Ribeiro, e oito na Estrada Velha da Barra.

Segundo o subprefeito, existe na região o que ele classifica como indústria da ocupação.

- Os invasores são organizados e, às vezes, têm apoio jurídico. Seria inocência acreditar que são pessoas carentes - disse Duarte.

 

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Como nasce uma favela

Jornal O Globo, 18 de março de 2006

Barracos se instalam em terreno de Manguinhos e deixam prédio dos Correios ilhado

Um cartaz num terreno no número 540 da Avenida Leopoldo Bulhões, em Manguinhos, anuncia: o Rio ganhou uma nova favela, localizada numa área de propriedade da Embratel. Já são 1.500 famílias morando na comunidade autodenominada Nova Era. Os invasores dizem estar preparados para resistir a qualquer tentativa de desocupação. O cartaz informa ainda que a comunidade foi "fundada" em 20 de julho de 2005. Com a saída da Embratel, que desativou suas instalações no terreno, a única grande empresa que restou naquele trecho da Avenida Leopoldo Bulhões foi a ECT (Correios). Apesar disso, o prefeito Cesar Maia minimizou os efeitos da favelização em Manguinhos:

- Talvez os dados dos censos de 1991 e 2000 possam mostrar que (a favelização) não é tanto assim. Mas, no caso da Embratel, foi descaso do governo federal na época, já que insistimos várias vezes.

A área de 30 mil metros quadrados, cercada de favelas, estava abandonada pela Embratel há três anos, segundo o presidente da associação de moradores do local, Leonardo Januário da Silva. Ele organiza a ocupação da área, que tem prédios pequenos e dois grandes galpões. Um dos prédios virou igreja há duas semanas, comandada pela pastora Maura de Santana Silva, de 43 anos, que se diz a primeira moradora oficial da comunidade. Já os galpões são mantidos desocupados. O da frente virou área de lazer da comunidade, onde são organizados até shows, e o de trás está abandonado, acumulando água parada.

- Este ano tivemos três casos de dengue. Já pedimos a presença de agentes de saúde, mas não fomos atendidos - diz Leonardo.

Prefeitura planejava construir moradias

Os barracos, boa parte de alvenaria, são dispostos linearmente. A energia elétrica vem de "gatos" puxados da favela vizinha, a Mandela 2. Os postes foram instalados pelos próprios moradores. Há duas bicas d'água comunitárias. Os invasores têm planos de construir prédios populares.

- Queremos regularizar a nossa situação, obtendo títulos de propriedade, para então podermos solicitar financiamento para a construção de pequenos prédios com boa estrutura - sonha Leonardo, que diz ter expulsado do local aproveitadores. - Só ficaram as famílias necessitadas. A maioria veio de palafitas no Canal do Cunha.

A ocupação do terreno foi facilitada pela falta de entendimento entre a Embratel, privatizada em 98, e a prefeitura. O município tinha um projeto de construção de mil residências populares, que dependia do desmembramento de parte do terreno. Mas não houve acordo com a empresa. Em 2003, segundo a Embratel, o processo de desmembramento proposto pela empresa em 2000 foi indeferido pelo 4º Departamento de Licenciamento e Fiscalização da prefeitura. Naquela época, uma área de 19 mil metros quadrados nos fundos já havia sido invadida e a empresa continuava operando nos 30 mil metros quadrados restantes. Quem vive hoje na Nova Era não admite a possibilidade de deixar o local:

- Vai ter até morte, mas ninguém vai sair. Queremos pagar para ter os serviços e construir as casas - diz a pastora Helena.

Se depender das intenções do prefeito, uma nova era pode de fato surgir para os moradores da favela. Perguntado se considera viável a compra do terreno ou a desapropriação, Cesar Maia foi lacônico:

- Certamente, e há seis anos, desde que era estatal.

A Embratel informou que tomou conhecimento da mais nova invasão em 26 de setembro passado e que ajuizou uma ação de reintegração de posse. Segundo a empresa, o processo está suspenso por acordo entre as partes para a elaboração de um parecer do Instituto Estadual de Terras (Iterj), órgão responsável pela política de assentamentos do estado. A empresa informou ainda que desativou as instalações em 2004 porque o terreno foi alvo de sucessivas invasões e precisava garantir a segurança dos funcionários.

 

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R$ 4 milhões para regularizar moradias na Rocinha e no Vidigal

Jornal O Dia, 03 de abril de 2006
 
RIO - Hoje, dia 3 de abril, às 15h, os ministros da Justiça, Márcio Thomaz bastos, e das Cidades, Márcio Fortes, assinarão convênio que garante a liberação da verba de R$ 4 milhões, medida garantirá a moradores da Rocinha e do Vidigal a posse de suas casas. De acordo com dados dos ministérios, há pelo menos 100 mil famílias morando em situação irregular nas duas comunidades.

Os ministros vão subir o Morro do Vidigal, onde assinarão o acordo.
No evento, chamado de Segurança Cidadã, os ministros ainda vão assistir à apresentação de um grupo de dança típica da comunidade, o Tudo de Bom, e de alunos da capoeira do grupo de teatro Nós do Morro.
 

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Plano de regularizar favelas tem corte de verba antes mesmo de começar

Jornal O Globo, 04 de Abril de 2006

Luiz Ernesto Magalhães

O projeto anunciado pelo governo federal de cadastrar 15 mil famílias para regularizar posses nas favelas do Vidigal e da Rocinha será bem mais modesto do que o previsto. Por falta de recursos, o programa sofreu cortes antes mesmo de começar: dos R$ 4 milhões, só serão liberados agora R$ 1,5 milhão, dinheiro suficiente apenas para atender a Favela do Vidigal. No caso da Rocinha, ainda não há prazo para atender à comunidade.

- Os trabalhos no Vidigal podem levar até um ano, mas acreditamos ser possível concluir o processo em seis a oito meses. Ainda não podemos afirmar quando iremos para a Rocinha - disse o ministro das Cidades, Márcio Fortes.

Faixas de divulgação citavam as 2 favelas

A exclusão da Rocinha surpreendeu líderes comunitários e, aparentemente, até os responsáveis pela elaboração das faixas de divulgação do projeto, espalhadas pelas ruas do Vidigal. Vários deles traziam o logotipo do governo federal e a informação que o programa atenderia as duas favelas.

O presidente da União Pró-Melhoramentos da Rocinha, William de Oliveira, lembrou que no ano passado o Ministério das Cidades fechou um convênio com a Fundação Bento Rubião para fazer o levantamento mas apenas em três sub-bairros da favela:

- Só que a Rocinha tem 28 sub-bairros. Não concluir esse trabalho deixa moradores com a pulga atrás da orelha - disse William, acrescentando temer que o projeto acabe sendo usado politicamente.

Líderes da Rocinha cobram investimentos

Antes do lançamento do projeto, no Mirante do Vidigal, líderes da Rocinha foram ao encontro do ministro Márcio Fortes, que almoçava no Hotel Sheraton, em São Conrado. O objetivo era entregar uma lista de reivindicações em que pediam mais investimentos da União na comunidade, incluindo a regularização fundiária. Um dos motivos para as reclamações, segundo o diretor-cultural da União Pró-Melhoramentos da Rocinha, René Mello, era o funcionamento de um centro cultural inaugurado há três anos pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil, onde são realizados projetos sociais:

- Houve problemas no uso das verbas pelos responsáveis pela administração da casa. E há cinco meses, ela está fechada - disse René Mello.

A data do Início do cadastramento dos moradores do Vidigal ainda é uma incógnita. A licitação para a escolha da empresa responsável não deve terminar em menos de 30 dias, segundo informações do próprio ministério. O contrato também não prevê a realiza ção da etapa seguinte: a regularização das terras em cartórios de imóveis da cidade.

- Nesta fase, será feito um levantamento topográfico e realização de pesquisas sobre a situação sócio-econômica dos moradores - explicou a secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, Raquel Roínik.

A cerimónia organizada ontem no Mirante do Vidigal serviu apenas para oficializar a participação do Ministério da Justiça no projeto. Do R$ 1,5 milhão, apenas R$ 500 mil sairão da pasta de Márcio Fortes. O R$ l milhão restante virá do orçamento que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dispõe para o Programa Segurança Cidadã dos Jogos Pan-Americanos de 2007, que prevê o emprego de recursos em ações de prevenção a delitos.

 

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No Rio, 15% das famílias ainda não têm esgoto

 

Jornal O Globo, 13 de Abril de 2006

 Luciana Rodrigues, Dicler Simões, Cássia Almeida e Flávia Oliveira

Abastecimento de água no estado, que é lanterna no Sudeste, exclui 11% dos lares, pior que a média do país

Apenas 7,5% dos lares urbanos brasileiros não têm abastecimento de água. A coleta de lixo chega à quase totalidade dos domicílios nas cidades (96,3%). Mas a rede de saneamento está ausente de mais de um terço (34,1%). E o Estado do Rio aparece na lanterninha da Região Sudeste no acesso à água e rede de esgoto. O abastecimento de água no estado deixa de fora 11% dos domicílios, taxa acima da média nacional. Há 3,3 milhões de lares urbanos sem abastecimento de água no Brasil, dos quais 525 mil estão no Rio.

No serviço público de esgoto, 15,8% das famílias fluminenses nas cidades estão excluídas. Parcela muito superior que os 7,8% de São Paulo.

Especialista: números refletem má administração

Para Ronaldo Seroa da Motta, coordenador de Estudos de Regulação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os números do Rio são reflexo de má administração estadual nos últimos 20 anos. Para ele, falta política habitacional ao estado. As ocupações irregulares, comuns em grandes cidades, no Rio criam uma dificuldade adicional. Como as favelas surgem nos morros, o relevo dificulta a instalação da infra-estrutura. O pesquisador lembra ainda que as cidades do interior são muito pobres. Na Região Metropolitana, o acesso à água e saneamento é melhor.

Em Pinheiral, no Sul Fluminense, pelo menos metade das 600 famílias que vivem no Parque Maíra não têm acesso à rede de esgoto. A água barrenta que recebem mal dá para lavar a roupa. Água para beber é obtida numa mina e o esgoto doméstico é lançado nas valas.

- Meus filhos estão com lombrigas. O terreno está contaminado pelas valas e fossas mal feitas. Não sabemos se a água que chega às torneiras está suja - contou Edileine Amâncio.

Na tarde de ontem, o morador Luiz Fernando Cupertino, capinava uma vala obstruída pelo mato em frente à sua casa, onde apareceram cobras.

A baixa cobertura de acesso à água encanada e rede de . saneamento no Estado do Rio de Janeiro surpreendeu Sérgio Besserman, presidente do Instituto Pereira Passçs (IPP):

- É sabido o reflexo do investimento em saneamento básico na queda da mortalidade infantil e nos gastos com saúde. Essa situação é urgente.

O problema do Rio aparece nas estatísticas da economia. No cálculo do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas) estadual de 2005, o setor de água e esgoto registrou queda de 0,14%.

Dados nacionais de acesso à água são positivos

Os dados nacionais, porém, mostram um quadro positivo de acesso à água, na avaliação de Seroa da Motta, do Ipea:

- Uma cobertura de 92,5% é praticamente universal, frente ao problema habitacional do Brasil. As ocupações irregulares avançam em áreas sem infra-estrutura. A rede de água e esgoto só é construída depois.

Ele afirma que, nos últimos 20 anos, quase cem milhões de brasileiros foram incluídos no serviço de água, o equivalente a quase três vezes a população da Argentina. A coleta pública de esgoto ainda é incipiente, mas tem crescido a taxas mais altas na última década, afirma. Os números do IBGE, por abordarem o acesso a serviços públicos, não consideraram as fossas sanitárias. Em 28,8% dos lares brasileiros nas cidades, a coleta de esgoto é em fossas.

- Em alguns casos, é uma alternativa barata e que resolve - afirma o técnico do Ipea.

 

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Câmara discutirá novo plano diretor

Jornal do Commercio, 20 de Abril de 2006

As áreas verdes da cidade do Rio terão mais um amparo legal que garante proteção e impede novas construções em trechos de preservação ambiental. O novo plano diretor do município, que ainda precisa ser aprovado pela Câmara Municipal, vai proibir a construção de favelas em áreas de preservação ambiental e de edificações que bloqueiem a vista de paisagens importantes na cidade. O plano divide o meio ambiente em duas partes. A primeira diz respeito às Áreas de Proteção permanente, que serão mantidas por recursos públicos. Poderão fazer parte destas áreas não só matas, lagoas e rios, mas também paisagens importantes, como o Pão de Açúcar. Caso o plano seja aprovado, qualquer nova construção que atrapalhe a vista dos monumentos pode ser proibida. Além das Áreas de Proteção, também seriam criadas as Áreas de Uso Sustentável, como a APA de Marapendi. Os donos de terreno que quiserem construir nos locais terão que investir, pelo menos, 0,5% do valor do empreendimento em projetos de preservação do local. Em casos de grandes obras, como indústrias, os investidores teriam que pagar uma taxa para investimento no meio ambiente do Rio. O projeto reforça o poder da prefeitura de retirar e reassentar comunidades instaladas em locais de proteção ambiental

 

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Habitação social tem R$ 10,3 bilhões

Jornal do Commercio, 28 de Abril de 2006

O Governo federal dispõe de R$ 10,3 bilhões para investir este ano em habitação de interesse social, com prioridade para famílias com renda mensal de até cinco salários-mínimos. Segundo o ministro das Cidades, Márcio Fortes, esse volume de recursos representa um aumento de 12% em relação ao ano passado, quando foram investidos R$ 9,2 bilhões.

O ministro lembrou que o déficit habitacional no País é de cerca de 7,2 milhões de unidades e reiterou que é preciso aumentar os investimentos para reduzir o problema da falta de moradias. "É uma corrida contra o tempo, o déficit continua a crescer, temos que ter recursos suficientes para ultrapassar esse crescimento."Fortes negou que o aumento de recursos para a construção de casas para famílias de baixa renda seja uma medida eleitoreira. informou que de 2002 para 2003 os investimentos destinados à parcela mais carente da população cresceram 77%.

De acordo com o ministro, os recursos para a população de baixa renda não se destinam apenas à construção de moradia, mas à reforma da casa e compra de lotes e de material de construção, por exemplo.Segundo ele, os esforços do governo federal para diminuir o déficit habitacional são importantes para que o Brasil cumpra os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

De acordo com Fortes, do total de R$ 19 bilhões que o governo federal dispõe para investir este ano na área de habitação, R$ 8,7 bilhões deverão ser destinados ao financiamento de moradia para a classe média.

 

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Lula assina medida para áreas invadidas

Folha de São Paulo, 28 de Abril de 2006

Luciana Constantino

Famílias que já tenham título de posse de áreas públicas invadidas ou irregulares poderão agora ter acesso a financiamentos para construção e reforma. Esse é um dos principais pontos da medida provisória 292, publicada ontem no "Diário Oficial" da União.

Assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a medida, que foi antecipada pela Folha, tem o objetivo de agilizar o processo de concessão de titularidade de posse a moradores dessas áreas. Traz mudanças relacionadas a imóveis da União. A possibilidade de financiamento, porém, é o único ponto que pode beneficiar também moradores de áreas municipais e estaduais.

Inicialmente, cerca de 213 mil famílias de baixa renda que já têm o título de posse poderão buscar crédito. Deverá chegar a 400 mil até dezembro e 1 milhão de famílias se o governo atingir a meta do programa Papel Passado. Até agora, bancos e instituições financeiras não aceitavam esse tipo de posse como garantia.

A cinco meses das eleições, a medida foi uma determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela se somará a outras ações (como o reajuste do salário mínimo de R$ 300 para R$ 350 e o aumento do limite de renda para inclusão no Bolsa-Família) visando criar uma "agenda positiva".

A MP beneficia famílias com renda de até cinco salários mínimos, faixa em que Lula tem o maior índice de aprovação, segundo o Datafolha. "Foi um pedido do presidente preocupado com esse ritmo da regularização fundiária", disse o ministro Márcio Fortes (Cidades).

Mais vagas

A MP também prevê claramente a possibilidade de a União retomar imóveis de sua propriedade e que estão desocupados para serem usados em programas de regularização fundiária destinados à população de baixa renda. São cerca de 600 mil imóveis registrados da União, mas ainda não há um levantamento de quantos poderiam ser destinados ao projeto.

"Todo o universo de sem-teto pode se beneficiar da possibilidade", disse Raquel Rolnik, secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades.

Outro ponto da MP é o que amplia a faixa de renda para isenção das taxas cobradas pela União sobre os imóveis, principalmente da Marinha, ocupados por famílias -passará de três para cinco salários mínimos. Ficarão isentas da taxa de ocupação, que corresponde a 5% do valor da propriedade no ato da compra e 0,6% do valor do imóvel pago anualmente.

Das cerca de 400 mil famílias que moram em áreas do governo federal e tiveram o processo de regularização fundiária iniciado, 240 mil estão em terrenos da Marinha. No caso desses terrenos, o texto da MP deixa claro que eles podem ter concessão especial.

A medida cria também a possibilidade de venda direta de imóveis do INSS e da RFFSA (rede ferroviária em liquidação) aos beneficiários de programas de regularização fundiária com renda de até cinco salários mínimos -antes a venda era por leilão.

O governo estima que haja entre 12 milhões e 14 milhões domicílios urbanos de baixa renda em locais não regularizados.

 

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Imóvel ocupado terá direito a financiamento

O Globo, Eliane Oliveira, 28/Abr

Mais uma medida popular foi anunciada ontem pelo governo, desta vez voltada para famílias de baixa renda que morem em favelas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou medida provisória (MP), já publicada no Diário Oficial, permitindo que, a partir de agora, quem receber título de cessão de uso pelo imóvel ocupado tenha direito a financiamento para construção e reforma da moradia. Serão beneficiadas, a curto prazo, 213 mil famílias que já receberam a titularidade.

- Até a MP, a Caixa Econômica, por exemplo, não liberava crédito para quem tivesse título de cessão de uso ou de usucapião - explicou o ministro das Cidades, Márcio Fortes de Almeida.

A MP elimina ainda uma série de normas e exigências burocráticas que atrasam a tramitação de mais de um milhão de processos de regularização fundiária. Destes, 400 mil tratam de imóveis da União.

Além da possibilidade de qualquer pessoa, desde que de baixa renda (até cinco salários-mínimos por mês), pegar financiamento em bancos que concedem crédito habitacional, a MP permite a titularidade a quem vive em terrenos da Marinha e dispensa a licitação de terras da Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Antes os imóveis eram leiloados, mesmo habitados. Agora, a negociação será direta, desde que o morador esteja inscrito em algum programa de habitação, municipal, estadual ou federal.

Segundo a secretária de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, Raquel Rolnik, estima-se que de 12 milhões a 14 milhões de domicílios não são regularizados e seus habitantes já adquiriram o direito de concessão de uso. Para obter esse direito é preciso residir no local há mais de cinco anos; ocupar uma área de até 250 metros quadrados; e usar o imóvel exclusivamente como moradia.

 

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Patrões poderão construir moradias

O Dia, 05 de Maio de 2006

Projeto prevê incentivo no IR a quem erguer casas para empregados

Patrões que decidirem investir na construção de moradias para funcionários poderão ganhar incentivo fiscal do governo, se for aprovada no Congresso proposta que visa facilitar o acesso de trabalhadores de baixa renda à casa própria. Ontem, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou substitutivo ao Projeto de Lei 412/05, a partir do qual o Poder Executivo poderia criar programa de estímulo a empregadores, permitindo deduzir despesas com a construção no Imposto de Renda devido.

Segundo a proposta, para ter direito ao incentivo, os patrões - pessoas físicas ou jurídicas - precisariam comprovar a aplicação dos recursos em edificação, melhoramentos ou regularização jurídica e urbanística de moradias para empregados com renda familiar mensal de até cinco salários mínimos (R$ 1.750). Mas os recursos aplicados não poderiam ser considerados verba salarial. A matéria vai a votação no plenário do Senado

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Favela Bairro chega ao Recreio dos Bandeirantes

Jornal O Globo, 25 de maio de 2006



 

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O abismo social dos morros

 

Jornal O Globo On Line, 29 set.2002.
Elenilce Bottari

A distância social entre favela e asfalto no Rio é cinco vezes maior do que a proximidade física faz parecer. Segundo dados do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os chefes de família nas favelas ganham em média apenas 23% do rendimento registrado no resto da cidade. Enquanto, em média, o morador do asfalto recebe R$ 1.533,74, na favela esse rendimento é de R$ 352,41. No caso de muitos bairros, no entanto, essa distância é ainda maior. Enquanto a média salarial de um chefe de família na Barra da Tijuca é de R$ 5.175.50, na Favela do Angu Duro, na Estrada do Itanhangá, esse rendimento cai para R$ 382,46.

Com base no programa Estatcart - Sistema de Recuperação de Informações Georreferenciadas do IBGE, O GLOBO calculou o rendimento médio em várias favelas do Rio e constatou o tamanho da desigualdade social. A distância entre favela e asfalto só cai à medida que os bairros se aproximam da periferia. É o caso da Penha, onde o rendimento médio de um chefe de família é de R$ 828,75, enquanto na favela Vila Cruzeiro, no mesmo bairro, esse valor é de R$ 358,94.

Segundo o chefe em exercício da Unidade Estadual do IBGE, José Roberto Scorza, o Rio tem 514 favelas. Para a realização do Censo foram contratadas 7.589 pessoas dessas comunidades:

- Escolhemos moradores para facilitar a apuração dos dados.

Morando há 40 anos na Favela do Angu Duro, na Barra, às margens da Lagoa da Tijuca, a dona-de-casa Maria da Guia da Silva Braga, de 51 anos, provavelmente nunca conhecerá o shopping Città America, que fica em frente. Ela cuida de seis filhos, enquanto o mais velho, de 20 anos, trabalha como carroceiro para reunir os R$ 200 mensais que alimentam oito bocas.

- As crianças dormem no chão e o frio entra porque não tenho dinheiro para fechar a parede (de compensado). Eu já tentei me inscrever no Cheque-Cidadão, mas não consegui. Os vizinhos tentam ajudar a gente, mas a situação é muito difícil - diz Maria da Guia.

São muito remotas as chances de ela conhecer uma vizinha de bairro, a escrevente Ana Cecília Nogueira, que vive com o filho Carlos Frederico, de 11 anos, no Jardim Oceânico. A renda mensal da família é de R$ 7 mil, 35 vezes a da casa de Maria da Guia:

- Eu não consigo imaginar como essas pessoas conseguem sobreviver com tão pouco. Isto é absurdo. A desigualdade social no Rio é com certeza um dos principais fatores de violência da cidade - afirma Ana Cecília.

No Borel, renda média é de R$ 290

O rendimento médio na Tijuca é de R$ 2.412,80, mas o chefe de família no Borel ganha muito menos: R$ 290,80. O marido de Lúcia de Jesus Pereira da Silva recebe, líquido, um pouco mais que isso:

- O salário é de R$ 380, mas com descontos fica na média de R$ 320. Aqui somos quatro. Dá para comer. O que salva é o vale-alimentação que meu marido traz para casa. Diversão é assistir ao culto da igreja, que fica aqui mesmo no morro.

Morando na entrada do Borel, de frente para a Rua São Miguel, a situação da auxiliar de enfermagem Leni Diamantes é melhor. Além da pensão do ex-marido, ela conta com R$ 400 para sustentar os três filhos:

- Juntando o que o pai dá para eles, tem sido possível sustentar a casa. Mas, se tivesse que pagar aluguel, já ficaria complicado.

Na Rocinha (que está entre os morros considerados em melhor situação socioeconômica, juntamente com o Vidigal), o chefe de família ganha em média R$ 451. Com status de bairro, o morro tem uma mistura de classes sociais. O fotógrafo Jerônimo Batista Ramos, de 50 anos, veio de João Pessoa com a mãe ainda bebê. Apesar das dificuldades, a lavadeira conseguiu criar o filho, que aprendeu uma profissão, tem uma loja de fotografia e outros três imóveis na Rocinha:

- Eu tiro por mês cerca de R$ 3 mil. Vivo com minha mulher e meu filho e ajudo minha mãe. Somos uma das famílias mais antigas do bairro. Nos anos 70 a vida aqui era boa, mas, com a crise econômica, as pessoas começaram a pensar que aqui era o Eldorado e a migração acabou por inchar a região. A situação está difícil outra vez - diz.

Na Favela Fé Em Deus, em Anchieta, a renda média é de R$ 328,43. Mas o lugar é tão esquecido que nem os moradores sabem direito o nome da favela:

- Fé em Deus? Eu nem sei mais. Tem gente que chama de Parque Aroeira, outros de Favela do Cocô. Mas eu prefiro dizer que é Parque Anchieta - conta a moradora Maria da Conceição Santana.

Morando com o marido e os filhos e com uma renda média de R$ 350, Maria lembra que foi sua barraca que deu nome à favela:

- Quando os homens da prefeitura chegaram, a única coisa que tinha nome aqui era a minha barraca de venda.

Professor titular de planejamento urbano e regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o sociólogo Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro analisou os dados do Censo 2000. Segundo ele, os dados demonstram discriminação entre moradores de baixa renda do asfalto e da favela:

- A renda pessoal na favela é sistematicamente menor que a renda fora da favela, mesmo comparando pessoas com as mesmas condições de instrução, idade, sexo ou raça - explica Luiz Cesar

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Favelas alojam 20% da população da capital

Jornal do Commercio, , 01 de Junho de 2006
Joana Fróes

A população moradora de favelas no Rio de Janeiro já ultrapassou a marca de 20% dos habitantes da cidade, informou ontem o diretor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ippur/ UFRJ), Adauto Cardoso, durante encontro promovido pelo Clube de Engenharia do Rio de Janeiro para debater as soluções para as questões urbanas do Grande Rio.

O percentual representa uma massa de cerca de um milhão de pessoas, disse Cardoso, ressaltando que a realização de obras de urbanização não é suficiente para integrar os moradores à cidade.

O coordenador de Fomento da secretaria municipal de Habitação, Jozé Candido Júnior, informou que o Rio de Janeiro tem 752 favelas registradas atualmente. De acordo com ele, a média de crescimento da área formal na cidade foi de 0,43% na última década, enquanto a das favelas foi de 2,4%. Ele lembrou que a cidade busca há anos equacionar a organização do espaço e suas questões sociais e ressaltou que o grande desafio é a contenção das favelas.

"A favela de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, por exemplo, cresce de três a quatro barracos por dia. É preciso criar uma política pública de habitação nacional, que trate a favela como cidade. Este plano deve ser atrelado a uma política de transportes, para que os moradores possam chegar ao mercado de trabalho", avaliou.

O diretor do Ippur/UFRJ, Adauto Cardoso, acredita que a favelização é um problema característico das grandes e médias cidades brasileiras. Segundo ele, 35% do território de Belém são considerados favela e 10% da população de Curitiba, vista como modelo no país, moram nos morros da cidade. Cardoso disse que a responsabilidade sobre a questão da favelização não é apenas do governo federal e destacou a necessidade de uma integração entre as três esferas.

"As esferas estadual e municipal não devem contar apenas com os recursos do governo federal. O Estado e o Município precisam se capacitar para criar uma política habitacional adequada. O poder municipal deve atuar de maneira mais próxima a população das favelas, já que tem mais conhecimentos sobre as questões locais. A solução para o problema da favelização deve envolver as três esferas governamentais", avaliou.

A promotora de Meio Ambiente, Denise Tarin, afirmou que a utilização US$ 600 milhões em obras nas favelas do Rio de Janeiro, em um período de 12 anos, não foi suficiente para reduzir os índices de violência na cidade. Ela acredita que o primeiro passo é realizar a contenção das favelas e ressaltou que as ações do Ministério Público Estadual são norteadas não apenas pela visão ambiental, como também pela social e econômica.

"Se projetarmos os problemas de hoje para os próximos 10 anos, teremos saudades do Rio de Janeiro em 2006. A contenção das favelas é essencial e o município deve fazer isto no momento da construção das fundações, já que muitas propriedades são instaladas em áreas de proteção ambiental. Existem ações pedindo a contenção da favela da Rocinha há mais de 18 anos, que ainda não passaram da fase pericial, pois os técnicos desistem por falta de segurança. Nossa visão é de que a sociedade civil deve pressionar as autoridades responsáveis para que isto seja possível", explicou.

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Um xodó deixado de lado

O Globo, 20 de junho de 2006

Daniel Engelbrecht

Ele já foi um dos xodós do prefeito Cesar Maia, mas, de tempos para cá, parece ter sido relegado a segundo plano. Obras do projeto Favela-Bairro 2 e de sua versão para comunidades com até 500 domicílios, o Bairrinho, estão paradas há mais de um ano em diversos pontos da cidade e, em outros, foram entregues com pendências. O principal motivo do abandono é o mesmo que explica as interrupções de obras do Rio-Cidade e do Urb-Cidade, como mostrado pelo GLOBO no sábado: a falta de pagamento da prefeitura às empreiteiras. Pelo contrato firmado entre a prefeitura e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em março de 2000, que previa investimentos de US$ 300 milhões (60% do BID e 40% da prefeitura), as obras em 65 comunidades deveriam estar concluídas em março de 2004. Em pelo menos 20 delas as intervenções estão paradas ou foram entregues incompletas.

Segundo o presidente da Federação das Associações de Favelas do estado (Faferj), Rocino de Castro Diniz, a maioria das obras do Favela-Bairro e do Bairrinho parou há cerca de um ano e meio:

- As obras têm sido uma enganação, são de fachada. Elas não transformam as favelas em bairros, servem apenas para a prefeitura pegar dinheiro com o BID. Quando a verba acaba, eles param a obra e deixam por isso mesmo.

Favelas como a do Cerro-Corá, no Cosme Velho, do Turano, na Tijuca, e da Caixa D'Água, na Penha, entre outras, se encaixam na descrição. Segundo o presidente da Associação de Moradores do Cerro-Corá, Jacir Urbano Silva Filho, as obras, que incluem as comunidades de Guararapes e Vila Cândido, estão paradas desde agosto de 2004:

- A obra era orçada em R$ 2,5 milhões, mas a empreiteira só recebeu R$ 600 mil por algumas escadarias e pela rede de água, que sequer foi ligada. A prefeitura ainda ficou devendo R$ 124 mil. O sonho da comunidade, que era a quadra de esportes, nem começou.

Cesar alega queda do dólar

De sete favelas que integram o Complexo do Turano, na Tijuca, apenas em duas, Chacrinha e Liberdade, as obras do Favela-Bairro foram de fato iniciadas, mas pararam no meio. Segundo a representante da Associação de Moradores da Chacrinha, Andréia Ferreira, o projeto começou a ser executado em agosto de 2004, sendo interrompido em dezembro de 2005. Ela conta que cerca de 50 famílias, que ocupam uma área de risco no alto do morro, num local conhecido como Pedacinho do Céu, deveriam ser indenizadas e realocadas, mas ainda não há previsão para isso.

- Nós enviamos à empresa responsável um documento relatando as pendências, como obras de captação de esgoto não concluídas, infiltrações e áreas que não foram contempladas. Fomos informados de que os trabalhos seriam retomados em janeiro deste ano. Depois o prazo foi adiado para março e, até agora, nada - afirma.

No complexo da Caixa D'Água, a interrupção do projeto deixou em situação de risco moradores dos morros do Sereno, da Fé, da Paz e da própria Caixa D'Água. Em documento enviado em 2005 à ONU, eles já relatavam os riscos advindos da paralisação dos projetos, principalmente o de deslizamentos.

Segundo Nazário Brandão, presidente da Associação de Moradores do complexo de Acari, que reúne três comunidades, apenas numa delas, o Parque Acari, o Favela-Bairro foi concluído, no ano passado. Na Vila Rica e na Vila Esperança, que têm cerca de 11 mil moradores, as obras, iniciadas no fim de 2003, estão paradas há mais de um ano.

- Na Vila Rica foi feito cerca de 60% do projeto, mas o mais importante, o sistema de esgoto, não foi concluído. A empreiteira, que mantém seu barracão, diz que não recebeu mais verbas da prefeitura. Na Vila Esperança a empreiteira até já foi embora. Só foi feita a parte de maquiagem, como construção de praças e plantio de árvores. A rede de saneamento não foi ligada no tronco coletor e o esgoto continua sendo despejado in natura no Rio Acari.

O mesmo problema acontece na Mata Machado, no Alto da Boa Vista, onde as obras do Favela-Bairro foram dadas por encerradas pela prefeitura.

- Eles instalaram uma placa anunciando o fim das obras, mas ainda há muita coisa a ser feita. Não foi executada a construção de uma estação de tratamento do esgoto prevista no projeto e a rede de abastecimento de água, com duas caixas d'água, funcionou apenas um dia - protesta o representante da associação de moradores, Jair Caldas Correia.

Na comunidade vizinha, a Tijuaçu, a vice-presidente da associação de moradores, Ana Maria Ferreira Givigi, conta que o Favela-Bairro foi interrompido sem que fossem feitas a contenção de encostas, o esgotamento sanitário e a construção dos muros das casas que abrigaram moradores de áreas de risco.

Outras comunidades que estão com obras paradas ou que tiveram as intervenções entregues com pendências são, segundo a Faferj: Morro dos Prazeres (Santa Teresa), Mineira (Catumbi), Vigário Geral, Parada de Lucas, José de Anchieta (Rio Comprido), Dona Marta (Botafogo), Pereirão (Laranjeiras) e Rio das Pedras. Representantes de algumas associações de moradores pediram para que os nomes de suas comunidades não fossem citados, mesmo havendo problemas nelas, temendo retaliações da prefeitura.

O prefeito Cesar Maia atribui os problemas à queda do dólar, que, segundo ele, exigiu a revisão de algumas situações:

- A queda do dólar mudou a relação de financiamento (do BID) e aporte da prefeitura. O valor em reais flutua com o câmbio. Este caiu de R$ 3,4 para R$ 2,10 e reduziu fortemente o valor dos recursos aplicados - explicou, minimizando os efeitos da demora. - O cronograma continua a tempo. O governo é de quatro anos. Se o Favela-Bairro 3 tivesse sido antecipado, teríamos que acelerar o 2. Como não foi, podemos administrar e ganhar tempo torcendo para que o câmbio suba e os recursos externos subam com ele.

Para o ex-secretário de Habitação Sérgio Magalhães, no entanto, a queda do dólar não justifica os atrasos. Magalhães foi secretário entre 1993 e 2000 e participou da assinatura do contrato do Favela Bairro 2 com o BID.

- O dólar está em queda há alguns meses, mas esteve em alta nos últimos anos como um todo. O cenário, portanto, seria favorável. Se as obras não foram concluídas até março de 2004, é preciso ver as razões. Podem ser dificuldades na execução dos projetos ou dificuldades financeiras da prefeitura em dar os aportes de verba correspondentes - disse.

Para representantes da Federação das Associações de Favela do município (FAF-Rio) , as comunidades estão sendo mais uma vez relegadas a segundo plano, em detrimento das obras dos Jogos Pan-Americanos.

- A prefeitura está voltada para o Pan - afirma um dos diretores da entidade, José Carlos de Souza.

Levantamento feito pelo vereador Edson Santos (PT), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Habitação Popular, revela que a prefeitura gastou menos da metade do total previsto para o Favela-Bairro em 2005: dos R$ 41,5 milhões constantes no orçamento, apenas R$ 16 milhões (38,9%) foram liberados e somente R$ 11,7 milhões (28,3%) efetivamente pagos. Já o Bairrinho teve apenas R$ 3,6 milhões (33,45%) liberados, de um total de R$ 10,9 milhões. O montante pago às construtoras foi de R$ 2,8 milhões (25,8%). A proposta de investimento da prefeitura para este ano é de R$ 26,5 milhões no Favela-Bairro e nada no Bairrinho.

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Invasões a terrenos são organizadas

 
Jornal O Globo, 29 de junho de 2006

Alexandre Arraes

O Rio de Janeiro vem sofrendo longo processo de esvaziamento econômico e desestruturação administrativa. Estamos no derradeiro degrau a caminho do caos na gestão pública, através da institucionalização da informalidade e ilegalidade. Presenciamos os setores informais e clandestinos da sociedade conquistando espaços na economia e nos setores públicos. A sensação de que é mais fácil alcançar sucesso por vias alternativas e escusas contaminou as relações entre o mercado, Estado e terceiro setor. Cresce com isso a criminalidade e a parcela de excluídos, uma vez que o interesse coletivo cada vez importa menos nas decisões em políticas públicas.

A região metropolitana do Rio de Janeiro segue continuamente perdendo importância econômica em relação às demais regiões metropolitanas e à Bacia de Campos. Os problemas estruturais se agravam sem qualquer plano de ação para revertê-los. A discrepância de valores de IDH entre cidades da região metropolitana chega a aproximadamente 100 anos de evolução. Este padrão também existe entre bairros contíguos da cidade do Rio. A despeito da relativa melhora do IDH na última década, o novo fenômeno que deve ser monitorado é a violência urbana. Taxas de mortalidade de homens jovens já impactam na expectativa de vida masculina nesta região.

Pobreza e violência não estão necessariamente correlacionadas. Por outro lado, é direta a relação da pobreza com o maior número de moradores por residência, ou seja, aglomerados populacionais com mais de dois moradores por cômodo por habitação. Assim, a pobreza se encontra espalhada para além das divisas das áreas favelizadas. Entretanto, quando se fala em violência urbana, a correlação se dá com áreas favelizadas.

A característica desestruturada do meio urbano da favela contribui sobremaneira para este fenômeno. Políticas públicas convergentes específicas para esta parcela da população serão mais eficazes se alterado o meio ambiente urbano. A recuperação estética dos aglomerados habitacionais é fator importante para elevação da auto-estima de seus moradores e da própria cidade.

Hoje é fundamental que se desenvolva um projeto estadual de desfavelização que contemple individualmente as regiões onde seja mais grave o passivo habitacional e onde estejam mais claros os efeitos de décadas de políticas públicas segregacionistas. São necessárias intervenções definitivas do tamanho dos problemas. Deve-se observar as conquistas desta população como: proximidade dos centros empregadores, transporte e lazer. Esta é a oportunidade de equacionarmos o atual impasse fundiário. A concessão de titularidade dos imóveis após as intervenções é uma questão de justiça. Habitação digna, revolução educacional, administração pública descentralizada, economia solidária, saneamento e prevenção na saúde devem ser compromissos do Estado atual, mais facilmente executados, se alterado o meio ambiente urbano.

É tal a magnitude do problema que as instituições e suas formas de relacionamento clássicas dificilmente darão conta de resolvê-lo. Há que serem criadas novas formas institucionais onde prevaleça o compromisso com metas de resultados, a transparência administrativa e orçamentária, o controle social, a competência técnica e a participação equânime na gestão dos diversos segmentos sociais e onde haja mecanismos eficazes de proteção contra a descontinuidade administrativa e os efeitos do ciclo político-eleitoral.

Um projeto institucional que vise à criação de um tripé composto por uma agência executiva, um conselho deliberativo e um fundo de habitação de interesse social de múltipla composição é a forma mais adequada de desenvolver o programa de desfavelização que indiscutivelmente mudaria a cara e a alma da região metropolitana do Rio de Janeiro e interromperia o processo de favelização em curso nas médias cidades do Estado. Sem medo de errar, este seria o maior projeto de inclusão já desenvolvido no país. Beneficiar populações alijadas e historicamente segregadas dos efeitos de políticas públicas ditas universalistas é sem dúvida uma questão de justiça social e redução das desigualdades, objetivo principal de toda ação afirmativa.

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