Reportagens 2006 (continuação)

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Reportagens 2006 (continuação II)

 "A omissão da prefeitura em aplicar a lei e exercer seu poder de polícia vem acarretando a expansão (da favela da Rocinha). Existiu um projeto de reflorestamento com pessoas da própria comunidade e estamos apurando como esse trabalho foi feito e se houve fiscalização. É inaceitável que haja emprego de dinheiro público num projeto sem fiscalização."  Rosani Cunha (Promotora de Justiça da Equipe do Meio Ambiente do Ministério Público do RJ)

Reportagens (continuação)

Reportagens 2006

Tópico 1  Casas construídas em áreas de risco não serão demolidas
Tópico 2  Popular, sim. E com qualidade também
Tópico 3  Em vez de mudas, barracos
Tópico 4  Nova favela ameaça São Conrado
Tópico 5  Sem-teto invadem prédio no Rio Comprido
Tópico 6  Fundo de habitação para conter invasões
Tópico 7  Relatório mostra que 225 mil cariocas são vizinhos de encostas com risco de deslizamento
Tópico 8  De palafitas a mansões no Rio, quase tudo ilegal
Tópico 9  Economia no Favela-Bairro
Tópico 10 Rio tem carência de 300 mil habitações
Tópico 11 Prefeitura vai derrubar 169 casas condenadas por incêndio na Rio das Pedras
Tópico 12 Crescimento sem limites
Tópico 13 Casa popular terá mais R$530 milhões
Tópico 14 Treze andares de contraste
Tópico 15 Até o favela-bairro é contestado
Tópico 16 Ontem vilas, hoje favelas
Tópico 17 Favela cresce em área ecológica
Tópico 18 Mata Atlântica na Zona Sul devastada por imóveis ilegais
Tópico 19 Falta dinheiro para casa popular
Tópico 20 Universidade amplia projetos
Tópico 21 Promotores acusam César de permitir favelas
Tópico 22 MP vai á justiça para conter 13 favelas
Tópico 23 Ação preventiva contra favelas
Tópico 24 Crescimento livre de imposto
Tópico 25 Da nascente à foz: a degradação dos rios cariocas
Tópico 26 Moradia popular é a nova fronteira do setor imobiliário
Tópico 27 Grilagem de terras é crime sem punição nas Vargens
Tópico 28 Sinduscon propõe ações de combate à favelização
Tópico 29 Ministério revê para 7,9 milhões de moradias o déficit habitacional

Voltar ao Topo       TÓPICO 1

Casas construídas em áreas de risco não serão demolidas

Jornal do Commercio, 30 de junho de 2006
Mariana Paiva e Paula Sarapu

Prefeito diz que remoções na área da Vila Autodrómo só ocorrerão com apoio da iniciativa privada

O prefeito Cesar Maia desistiu de remover casas em áreas de risco na Vila Autódromo - área próxima ao futuro Parque Olímpico do Rio, onde serão construídos um parque aquático, um ginásio poliesportivo e um velódromo, que ainda não foi licitado. A ação estava prevista no conjunto de intervenções para os Jogos Pan-americanos de 2007, mas o prefeito afirmou que as remoções ocorrerão apenas com apoio da iniciativa privada.

"O que tinha que ser feito, já foi feito. Removemos a comunidade Arroio Pavuna, na Zona Oeste, e estamos negociando com a Agenco (construtora da Vila do Pan) o aporte de recursos para a remoção de uma comunidade ao lado da Vila Pan-americana. Isso também é de interesse dos empresários. Em 1995, a iniciativa privada resolveu construir um conjunto habitacional próximo ao BarraShopping para abrigar as pessoas de uma comunidade como essa", afirmou Cesar Maia.

O Comitê Olímpico (CO-Rio), por sua vez, aguarda a elaboração de licitações que definirão as empresas que montarão as unidades temporárias dos jogos.

Instalações montadas 3 meses antes dos jogos

Durante almoço realizado ontem pela Câmara Britânica de Comércio (Britcham), no Clube Americano, o secretário geral do CO-Rio , Carlos Roberto Osório, informou que as instalações temporárias deverão ser montadas três meses antes da realização dos jogos, mas a expectativa é de que até outubro todas as unidades já tenham edital elaborado para que as empresas sejam definidas até o final deste ano.

Osório lembrou que a única instalação que ainda não foi definida como unidade permanente ou temporária é o velódromo. Essa é uma atribuição da Prefeitura e a sua situação ainda não preocupa o comitê. Segundo ele, estas unidades representam 50% das instalações que sediarão os jogos Pan-americanos de 2007e todas as especificações para a montagem das unidades já foram entregues aos três níveis de governo, que estão analisando as propostas para a publicação dos editais. "Chegou o momento dos nossos parceiros governamentais publicarem as licitações finais dos jogos. O Governo Federal está com uma licitação grande de tecnologia em curso e também outras, da mesma área, por fazer. Nossa previsão é de que este pacote seja fechado em no máximo três meses. Além disso, os governos têm que lançar as licitações para a montagem e acabamentos das instalações temporárias e de alguns tipos de serviço, mas está tudo ocorrendo no período correto, dentro do nosso planejamento", disse Osório. O <>secretário geral do CO-Rio afirmou ainda que empresas nacionais e estrangeiras demostraram interesse em participar das licitações. Segundo ele, a boa repercussão que os jogos e sua organização estão tendo dentro e fora do País reforça a possibilidade de participação das empresas internacionais no Pan. "O interesse da Câmara Americana demonstra a intenção de empresas internacionais participarem dos projetos de licitação. Além de confirmar a imagem de que os jogos estão sendo levados com seriedade", concluiu Osório.

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Popular, sim. E com qualidade também


Jornal O Globo, Rio, 02 de julho de 2006
Luciana Casemiro

Ambientes com iluminação e ventilação direta, captação de água da chuva para uso não-potável, infra-estrutura de lazer e apenas 30% da área do terreno construídos, privilegiando o verde. A descrição — que poderia estar em panfletos de diferentes empreendimentos pela cidade — é a base do “Projeto-piloto de habitação popular sustentável”, desenvolvido para a Região Metropolitana do Rio, para famílias com renda entre um e cinco salários-mínimos. A proposta é do Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Rio (Sinduscon-Rio) e tem apoio da Federação das Indústrias do Estado (Firjan).

Depois de muitos anos sem ter uma política habitacional definida, o país começa a registrar uma mobilização em prol do estudo de opções para reduzir o déficit habitacional. E sem perder de vista a qualidade arquitetônica. Mais que isso, visando à sustentabilidade dessas habitações — ou seja, esses projetos devem incluir, por exemplo, a preocupação com o consumo de água e energia elétrica.

É nesse espírito, por exemplo, que a Caixa Econômica Federal (CEF) está promovendo a terceira edição do “Prêmio Caixa/Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) — Concurso público nacional de idéias e soluções para a habitação social no Brasil”. E que a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a FAU, da UFRJ, criou seu Grupo de Arquitetura Sustentável.

— Na última edição do prêmio Caixa/IAB, foram 150 inscrições de profissionais e 300 de estudantes. A qualidade surpreendeu. Para esta edição é grande a expectativa — diz Carlos Fernando Andrade, coordenador do evento pelo IAB.

Prédios com quatro imóveis por andar

Um ícone de qualidade arquitetônica, quando se fala em habitação popular, é o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, o Pedregulho, de Benfica. O projeto, de 1947, do arquiteto Afonso Reidy, recebeu painéis assinados por Burle Marx e Portinari e virou um marco da arquitetura modernista internacional. Reidy também é o autor do Conjunto Habitacional Marquês de São Vicente (de 1952), o conhecido Minhocão, da Gávea.

— Além da beleza arquitetônica, a construção tem bons apartamentos, de tamanhos variados, e inclui uma proposta de socialização. O Pedregulho é quase um manifesto do que deveria ser uma habitação popular. Infelizmente, com o déficit que temos hoje dificilmente poderíamos reproduzir este projeto. Mas isso não quer dizer que não possa haver outros de qualidade — opina Andrade.

O presidente do Sinduscon, Roberto Kauffmann, conta que a idéia é criar pequenos bairros, de até 500 apartamentos, que seriam distribuídos em prédios de quatro a cinco andares, com quatro unidades cada. O imóvel, de dois quartos, teria 46 metros quadrados e custaria R$ 50 mil, mas seria subsidiado. A meta é ocupar vazios urbanos, às margens da Avenida Brasil e da linha férrea:

— Já há 200 terrenos identificados na Região Metropolitana do Rio, onde seria viável a implantação. Isso corresponde a cerca de cem mil novas moradias.

A presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho, se interessou pelo estudo do Sinduscon-Rio:

— A proposta é arrojada e inovadora, e será analisada pela Caixa e pelo Ministério das Cidades.

Projeto prevê subsídio e parceria com as três esferas de governo

Uma das preocupações do projeto arquitetônico do estudo do Sinduscon-Rio para habitação popular, diz o presidente da entidade, é que não haja possibilidade de acréscimos.

— Não queremos improvisações, como o uso da laje para ampliação de uma unidade ou dos pilotis para a criação de um quarto. A arquitetura é imutável para que não se degrade.

Para a arquiteta Alexandra Lichtenberg, que acaba de defender na UFRJ uma tese de mestrado sobre arquitetura sustentável, mais do que evitar acréscimo, para se ter uma habitação de qualidade, principalmente no aspecto da sustentabilidade, há várias orientações a seguir:

— A primeira delas é que sejam desenvolvidos projetos específicos para cada terreno. Afinal, a incidência de sol e vento não é a mesma em Jacarepaguá e Santa Cruz.

Até porque, iniciativas simples, como os telhados verdes, que reduzem a temperatura interna dos imóveis, podem se mostrar bastante eficazes, como afirma a arquiteta Lygia Niemeyer, pesquisadora do Programa de Pós-graduação da FAU e integrante do Grupo de Arquitetura Sustentável da universidade, criado recentemente:

— É importante ainda adotar modelos de janelas, que corram para a parede, por exemplo, para abrir todo o vão e, com isso, aumentar a ventilação. Os usados atualmente só permitem abertura de 50%.

Caixa monitora projeto de casas com energia solar

Alexandra discorda inclusive da tese de construtores de que o uso de energia solar ainda é inviável, quando se fala em habitação popular:

— Isso precisa ser uma política de governo. O custo é alto sim, um chuveiro elétrico custa R$ 15 e o sistema de aquecimento R$ 800, mas se paga em dois anos.

A Caixa Econômica, aliás, já monitora um projeto de habitação rural implementado com energia solar. E aposta na arquitetura sustentável para a habitação popular, como destaca a diretora da vice-presidência de Desenvolvimento Urbano da Caixa, Márcia Kumer:

— Temos acompanhado várias iniciativas Brasil afora nesse sentido. E estimular o desenvolvimento de projetos mais adequados a cada terreno é o objetivo não só do Prêmio Caixa/IAB, mas do Programa Melhores Práticas. Com moradias melhores, teremos cidades mais adequadas.

Proposta do Sinduscon cria cinco faixas de prestações

O projeto-piloto do Sinduscon abrange, além da arquitetura, a forma de financiamento das unidades. A previsão é que haja subsídios cruzados do FGTS e do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, além de parcerias com estados e municípios, informa Roberto Kauffmann.

A entidade estima que cada apartamento custaria R$ 50 mil — a unidade e o valor seriam os mesmos para os compradores, independentemente da renda (que teria de variar entre um e cinco salários-mínimos). Só que o subsídio seria maior para os que ganham menos: haveria cinco faixas de prestações, com variação entre R$ 70 e R$ 265.

O superintendente da Caixa no Rio, José Domingos Vargas, frisa que já há recursos para atender a esse público:

— Acho, aliás, que é possível ampliar a faixa de renda das famílias atendidas para quem ganha acima de cinco salários-mínimos. Acreditamos que haverá demanda com a criação de uma maior infra-estrutura nesses locais — diz Domingos, destacando que essas áreas devem ser futuramente designadas como de interesse social para evitar a especulação.

 
Caminhos que levam ao uso racional dos recursos naturais

Especialistas em arquitetura sustentável (a que prevê o uso racional dos recursos naturais) garantem que há técnicas viáveis para projetos de habitação popular. E enumeram algumas delas (destas, as que estão incluídas no projeto do Sinduscon são captação de água da chuva e áreas verdes, além de pintura externa clara, ventilação e iluminação diretas).

SEM PADRÃO: A primeira providência é desenvolver projetos específicos para cada terreno, levando em conta a rota do sol e a direção dos ventos. O que quer dizer também que as plantas dos imóveis não devem ser estanques. Pode haver padrão de tamanho de janelas e portas, mas quantas e em que paredes, isso, sim, varia de acordo com o local.

ÁGUA DE CHUVA: A captação da água de chuva e uso para fins não-potáveis, como lavagem de carros e irrigação de jardim, também é viável e barata, reduzindo o uso de água tratada, muito mais cara para o consumidor.

TRATAMENTO DE ESGOTO: A sugestão é que, com um empreendimento feito em blocos, cada um tenha a sua estação de tratamento. Isso reduz o custo de implantação das redes. Estudo australiano mostra que a medida representa uma economia de 50%.

AQUECIMENTO SOLAR: Apesar do custo inicial muito mais alto (um chuveiro elétrico pode sair a R$ 15 e o sistema de energia solar, a R$ 800), dizem especialistas, o aquecimento solar se paga em dois anos, além de reduzir os investimentos em novas usinas.

JANELAS: As janelas devem permitir abertura total do vão, ampliando a ventilação. Venezianas são bem-vindas, principalmente em fachadas voltadas para o Norte, que recebem o sol de meio-dia.

TELHADO VERDE: Muito usado na Europa, o telhado verde (coberto por vegetação) é uma opção barata e eficiente para reduzir a temperatura interna.

ÁREAS VERDES: Áreas verdes e revestimentos permeáveis em espaços abertos são importantes tanto para reduzir o risco de enchentes, como para diminuir a temperatura local.

PÉ-DIREITO: O ideal é que os apartamentos tenham pé-direito de três metros (o usual é 2,50m). Isto porque, como o ar quente sobe, quanto mais alto o pé- direito, maior a sensação de frescor.

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Em vez de mudas, barracos

Jornal O Globo, Daniel Engelbrecht, 01 de julho

Moradores de favela contratados pela prefeitura para reflorestamento teriam desmatado encosta

Os uniformes eram oficiais, mas o serviço, nem tanto. Com camisas da prefeitura e nomes listados num demonstrativo de pagamentos da Secretaria municipal de Habitação (SMH), 13 operários contratados para um projeto de reflorestamento foram flagrados desmatando a área tombada no sopé do Morro de São João, no Leme, onde deveriam plantar as mudas. No local, novos barracos da favela da Babilônia começaram a ser erguidos, segundo moradores de prédios vizinhos. Apesar de ter sido alertada no início do ano por moradores e pelo Ministério Público estadual, que abriu inquérito civil, a prefeitura pouco fez para conter as construções irregulares.

A chegada dos 13 operários usando camisas brancas da prefeitura à área de mata conhecida como Cemitério dos Vivos, entre a favela e os prédios da Rua Gustavo Sampaio, foi observada por moradores dos edifícios na primeira quinzena de dezembro. Ao longo dos dias 7 e 8, eles desmataram uma grande porção de mata. O trabalho foi filmado por um morador.

- Eles disseram trabalhar para a Secretaria de Habitação e afirmaram que estavam desmatando para reflorestar e recolher lixo - conta o morador, que pediu para não ser identificado.

Os mesmos operários voltaram nos dias 9, 10 e 11 de janeiro, desta vez com uniformes verdes da prefeitura, e desmataram outra porção de mata, a cinco metros do muro dos prédios. Segundo moradores, a expansão da favela, que já vinha em direção aos prédios desde 2002, seguiu pelas clareiras abertas, com a construção de novos barracos.

Quase R$3 mil pagos por quinzena

O demonstrativo de pagamento a que O GLOBO teve acesso mostra que a SMH gastou, por quinzena, R$2.964 com os 13 operários, todos recrutados na própria comunidade. Um deles, Isaias Bruno Ferreira, que recebeu por quinzena R$286, é o presidente da Associação de Moradores do Morro da Babilônia e responsável por indicar os trabalhadores.

Os indícios de improbidade administrativa e a omissão da prefeitura levaram as quatro promotorias ambientais do Ministério Público estadual no Rio a instaurarem em conjunto o inquérito civil MA 1986. A pedido do MP, policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) realizaram uma grande operação em 20 de abril, com apoio de um veículo blindado e de um helicóptero, para checar a situação. Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) constataram a existência de 30 construções irregulares no Cemitério dos Vivos, sendo dez em fase inicial.

Em depoimento à promotora Denise Muniz de Tarin, da 2ª Promotoria de Meio Ambiente do MP, em 18 de abril, o presidente da Associação de Moradores do Morro da Babilônia afirmou que o reflorestamento tinha como objetivo coibir o surgimento de ocupações irregulares e reconheceu que, em razão da sua urgência, foi realizado sem projeto e sem acompanhamento técnico da SMH.

Numa reunião em 5 de maio, a secretária de Meio Ambiente, Rosa Fernandes, a coordenadora do projeto Favela-Bairro da SMH, Márcia Garrido, e o procurador coordenador da Procuradoria Administrativa do município, Ricardo Almeida Ribeiro da Silva, reconheceram perante o MP a existência de ocupações irregulares e prometeram iniciar, no dia 11 daquele mês, as demolições. Até a minuta de um decreto autorizando o embargo e a demolição das construções irregulares foi apresentada, mas até hoje o decreto não foi assinado pelo prefeito Cesar Maia.

- O que a prefeitura vem nos informando é que, apesar das nossas reiteradas cobranças, a minuta ainda está na Procuradoria Geral para análise. Ou seja, de efetivo, a prefeitura não fez nada até agora. Se não tivermos uma posição em breve, não restará outra alternativa senão ingressar com uma ação civil pública pedindo as demolições e a apuração de responsabilidades - disse a promotora Rosani.

Embora evite falar que a prefeitura possa ter estimulado a expansão da favela patrocinando o desmatamento, a promotora Rosani Cunha é taxativa ao afirmar que a omissão da administração municipal é responsável pela ocupação desordenada da encosta:

- A omissão da prefeitura em aplicar a lei e exercer seu poder de polícia vem acarretando a expansão (da favela). Existiu um projeto de reflorestamento com pessoas da própria comunidade e estamos apurando como esse trabalho foi feito e se houve fiscalização. É inaceitável que haja emprego de dinheiro público num projeto sem fiscalização.

Para o prefeito Cesar Maia, a situação no Morro da Babilônia é exatamente o contrário do afirmado pelos vizinhos. Segundo o prefeito, a favela está na verdade diminuindo de tamanho devido à retirada de vários invasores pela SMH nos últimos meses. A Associação de Moradores do Morro da Babilônia e moradores das ruas Gustavo Sampaio e Anchieta afirmam, no entanto, que apenas duas construções, vazias, foram demolidas este ano, em janeiro.

Em nota oficial, a SMH informou que já foi concluído o reflorestamento de uma grande área do morro, mas que algumas pessoas que ocupavam anteriormente a área continuam no local. Segundo o órgão, os moradores estão sendo cadastrados para serem removidos. A secretaria afirmou ainda que algumas tentativas de novas construções foram inibidas este ano, sem informar quantas. O órgão não comentou as denúncias de desmatamento, nem de que os trabalhadores contratados teriam atuado sem supervisão. A coordenadora do Favela-Bairro, Márcia Garrido, não quis falar. A Procuradoria-Geral do Município também não se manifestou.

A secretária de Meio Ambiente, Rosa Fernandes, que participou da reunião com o MP em maio, disse que o órgão não recebeu qualquer denúncia de desmatamento no Morro da Babilônia:

- Se pessoas contratadas pela SMH tivessem feito isso, certamente seriam punidas.

Ela atribuiu o atraso no início das demolições à detalhada análise que está sendo feita pela SMH:

- Segundo o levantamento que está sendo concluído, as cerca de 30 construções irregulares estão em terrenos particulares tombados no sopé do Morro de São João. A Secretaria de Meio Ambiente nem poderia atuar, por não se tratar de área de preservação ambiental.

Líder comunitário desmente vizinhos

Já o presidente da Associação de Moradores do Morro da Babilônia, Isaias Bruno Ferreira, classificou de maldosas as denúncias feitas por moradores dos prédios vizinhos:

- A população do asfalto não gosta de ter uma favela na sua janela. Produzi e apresentei ao MP material suficiente provando que a verdade não era bem o que eles estavam dizendo. Jamais haveria uma equipe da prefeitura desmatando uma área de proteção. Hoje já é possível ver as mudas que plantamos crescendo.

De acordo com Ferreira, as 30 construções irregulares flagradas pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) eram, na verdade, reformas de casas já existentes.

- Essas casas têm entre 30 e 40 anos e estavam passando por acréscimos ou obras de melhoria. As duas únicas construções de novas casas que havia naquela localidade foram demolidas pela prefeitura em janeiro - garantiu.

Outra visão tem uma médica moradora da Gustavo Sampaio.

- É triste saber que o nosso dinheiro de IPTU está sendo usado para pagar o salário de funcionários que estão desmatando uma área tombada - diz ela, já de mudança marcada para Petrópolis.

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Nova favela ameaça São Conrado

Jornal do Brasil Barra, Karla Queiroz, 02 de julho

Uma nova favela da Rocinha começa a surgir na encosta da Avenida Niemeyer, em frente ao prédio abandonado do antigo Hotel Nacional, no bairro de São Conrado. A denúncia da construção irregular no morro foi feita pela Associação de Moradores e Amigos de São Conrado (Amasco).

Segundo a associação, a Patrulha Ambiental esteve no local no dia 2 de junho para fazer uma vistoria, mas ainda não divulgou o laudo.

Preocupados com a situação, os moradores do bairro apelidaram a nova construção de minifavela.

- Começa a surgir ali uma minifavela, que futuramente pode se transformar numa nova Rocinha. Se as autoridades não tomarem nenhuma medida preventiva, o morro da Avenida Niemeyer vai ser tomado por barracos daqui a cinco anos. Já nos bastam a Rocinha e o Vidigal - aponta Ricardo Macedo Borges, de 60 anos, morador de São Conrado.

José Britz, presidente da Amasco, conta que a denúncia surgiu a partir de um morador do condomínio Village, próximo ao local.

- No último fim de semana um morador decidiu investigar as notícias de que uma nova favela estava nascendo em São Conrado e foi constatada a existência de uma construção irregular - revela o presidente da Amasco.

Segundo Britz, a informação de que estão sendo construídos novos barracos dentro da mata na encosta da Avenida Niemeyer, entre o antigo Hotel Nacional e a Rocinha, já circula entre os moradores de São Conrado há algum tempo.

- Além do barraco erguido no local, já existem dois platôs, prontos para receber uma nova construção - diz.

José Britz informou que já entrou em contato com a Subprefeitura da Zona Sul para pedir uma solução urgente para o problema, que pode se agravar caso nada seja feito para impedir o avanço.

- Pedimos providências urgentes para a remoção dessa e de qualquer outra ocupação irregular na área, antes que a situação alcance proporções de difícil solução e se torne mais um foco de problemas na cidade e, em particular, no bairro de São Conrado - enfatiza.

Secretaria anuncia desocupação no local

Questionada pela equipe de reportagem do JB Barra, a Prefeitura do Rio, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, informou que vai providenciar imediatamente a remoção da construção irregular erguida no local, relatada pela Associação de Moradores e Amigos de São Conrado (Amasco).

- Recebi a denúncia e já programamos para a semana que vem a desocupação total da área. A nossa grande preocupação atualmente é manter as Áreas de Preservação Ambiental (APA) intactas. Para isso, estamos planejando uma vistoria em todas as áreas de preservação da cidade. A partir da semana quem vem, faremos uma incursão mais acelerada nesses locais para solucionar a questão e afastar o risco de haver novas ocupações -adiantou a secretária muni cipal de Meio Ambiente, Rosa Fernandes.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smac) informou que, durante a vistoria realizada no dia 2 de junho, foi verificado que há no local uma construção irregular, feita de lona, que atualmente abriga uma família, além de outras três demarcações feitas no terreno e uma trilha aberta para a mata.

Desvalorização imobiliária preocupa

O crescimento desordenado e o surgimento de favelas na Barra da Tijuca, no Recreio e em São Conrado é uma das grandes preocupações dos dirigentes do mercado imobiliário. Em São Conrado, os constantes tiroteios na favela da Rocinha chegam a causar uma desvalorização de até 30% nos imóveis do bairro.

Na Câmara Municipal, tramita um projeto de lei que prevê a redução ou até a isenção do IPTU para imóveis residenciais e comerciais em áreas de risco da cidade. O projeto, de autoria da vereadora Teresa Bergher (PFL), já foi aprovado pela Comissão de Justiça e deve ir ao plenário até o final do ano.

Segundo o presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), George  Eduardo Masset, a desvalorização dos imóveis está relacionada com a sensação de insegurança.

O diretor de marketing da Carvalho Hosken, Ricardo Corrêa, alerta que cabe ao poder público tomar atitudes capazes de conter o surgimento e a expansão das favelas. Ele afirma que não é possível acabar com elas, mas é necessário controlar seu desenvolvimento.

- A presença de favelas desvaloriza, e muito, um imóvel na vizinhança - ressalta.

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Sem-teto invadem prédio no Rio Comprido

Jornal O Globo, Taís Mendes, 04 de julho

Representantes de 150 famílias sem-teto invadiram ontem de madrugada um prédio desocupado há dez anos, no Rio Comprido. O movimento - denominado Quilombo das Guerreiras - contou com o apoio de universitários que enfrentaram durante a manhã a força policial solicitada pelo proprietário do imóvel. Após momentos de tensão, em que a polícia usou gás de pimenta para conter os invasores, representantes do Instituto Estadual de Terras (Iterj), órgão responsável pela política de assentamentos do estado, negociaram com os invasores o cadastramento das famílias. Por volta das 18h de ontem, o prédio foi desocupado.

Segundo o vigia Girceu Marins da Silva, quatro homens iniciaram a invasão ao Edifício São Francisco de Paula, na Rua Estrela 64, por volta de 1h.

- Acordei assustado com o barulho da porta sendo arrombada - contou.

Polícia dispersa os manifestantes com gás

Proprietário do prédio, o advogado Pascoal Scofano chegou ao local às 9h. Bastante nervoso, enfrentou os estudantes que, do lado de fora, davam apoio à invasão:

- Esta é uma propriedade particular, pago os impostos em dia e só está desocupada porque iniciei, há três anos, obras nos apartamentos. Este prédio pertence a minha família há 40 anos. O governo é quem tem que garantir moradia e alimentação.

Com a chegada de 20 policiais do 1 BPM (Estácio), os manifestantes foram afastados da portaria do edifício e teve início um tumulto. Depois de jogar gás de pimenta nos manifestantes, os policiais conseguiram isolar a área. No interior do prédio, os 150 invasores exibiam faixas reivindicando moradia e o direito à ocupação.

- Queremos moradia, um direito do cidadão. Não queremos ir para abrigos porque isso seria só um estágio melhorado da vida nas ruas. Queremos viver com dignidade - disse Ras Ali Mustafá, um dos líderes dos sem-teto.

Por volta das 12h, três advogados do movimento informaram ao proprietário do prédio e aos policiais as reivindicações dos invasores: a presença de representantes das secretarias de Direitos Humanos e Habitação e a garantia de que a polícia não invadiria o imóvel. Os pedidos foram atendidos e, com a chegada do subsecretário de Direitos Humanos do Rio, Paulo Bahia, da assessora do presidente da Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) Flora Maranhão e da presidente do Iterj, Célia Ravera, os invasores aceitaram deixar o prédio, mas após o cadastramento.

As negociações foram acompanhadas pelo tenente-coronel Álvaro Moura, comandante interino do 1 BPM (Estácio), e por três advogados do movimento. Os advogados Jorge Braga, do Centro de Apoio às Populações Marginalizadas, e Mariana Trota, da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares, lamentaram a falta de um representante da prefeitura.

Vizinhos dizem que prédio está desocupado há dez anos

Segundo moradores do Rio Comprido, o edifício, com dois blocos e um total de 32 apartamentos, está desocupado desde que pegou fogo, há dez anos.

- Não sei como não invadiram isso antes - comentou a secretária Lúcia Regina Silva.

Embora o proprietário tenha afirmado que vinha realizando obras há três anos, os representantes do governo do estado que participaram da negociação afirmaram não terem visto vestígios de obras. Um fotógrafo do GLOBO que permaneceu dentro do prédio durante todo o dia também não viu qualquer sinal de reformas.

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Fundo de habitação para conter invasões

Jornal do Brasil, Marcello Gazzaneo, 12 de julho de 2006

Governo poderá financiar moradias populares

As crescentes ocupações realizadas por trabalhadores sem-teto no Rio colocaram a Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) em estado de alerta. Deputados já se mobilizam para tentar conter a ação dos movimentos, que já contabilizam 10 invasões só na cidade, como o Jornal do Brasil vem mostrando desde segunda-feira. Entre os parlamentares, a criação de um fundo estadual emergencial de habitação será discutida e deverá chegar ao plenário da casa em agosto, depois do período de recesso.

A idéia é unir o governo estadual e as prefeituras em tomo do financiamento de material de construção para a população de baixa renda no Estado, principalmente na capital. De acordo com o deputado Geraldo Moreira (PMN), que esboça o projeto do fundo, o governo do Estado financiaria a compra de material de construção, enquanto os municípios cederiam os terrenos, com infra-estrutura, para a construção de casas pelos próprios moradores.

O dinheiro para financiar o projeto, diz o deputado, poderia vir dos 2% que são repassados pelas prefeituras ao Estado da arrecadação do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (TTBI). O financiamento seria a longo prazo.

- Falta política habitacional - garante Moreira. - É preciso financiar moradia para a população de baixa renda.

O projeto, conta o deputado, pode frear o crescimento de movimentos dos sem-teto, evitando invasões de imóveis ou a favelização das cidades, principalmente o Rio.

A falta de políticas públicas para habitação tem reflexos na Câmara Municipal. A aprovação do Projeto Bairros Populares é uma das apostas dos vereadores. O Projeto de Lei 579/2005, de autoria da vereadora Leila do Flamengo (PFL), tem como objetivo reassentar famílias removidas de favelas e ocupações. Através de parceria entre o poder público e a iniciativa privada, bairros populares, com toda a infra-estrutura necessária, seriam construídos ao longo da Avenida Brasil e em áreas como a Zona Portuária. O projeto está em análise nas comissões da Câmara.

- Esses moradores teriam acesso a serviços básicos, como saúde, educação e transporte - acrescenta a vereadora. - O poder público não pode continuar assistindo a essas invasões de braços cruzados.

A participação da iniciativa privada no projeto está prevista por intermédio de contrapartida do município, como incentivos fiscais.

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Relatório mostra que 225 mil cariocas são vizinhos de encostas com risco de deslizamento

Jornal O Dia, Michel Alecrim, 16 de julho de 2006

Pelo menos 225 mil cariocas vivem sob o risco de desabamento de encostas. Essa é a população afetada por 319 pontos já vistoriados pela Geo-Rio e com projeto de contenção orçado. A lista foi entregue ao Tribunal de Contas do Município (TCM), que aponta queda nos últimos anos nos gastos com esse tipo de obra pela prefeitura. Em 2002, foram executados R$ 13,23 milhões, enquanto no ano passado o número caiu para R$ 5,1 milhões. A previsão para este ano é de R$ 2,7 milhões.

Segundo balanço de maio deste ano, para livrar a cidade dos riscos de deslizamentos, seria necessário investir R$ 117 milhões. Como não há dinheiro suficiente para as obras, a Geo-Rio vem realizando as intervenções em casos de emergência e de acordo com o maior número de pessoas afetadas.

Mesmo no inverno, quando as chuvas são mais fracas e menos freqüentes, quem vive em áreas de risco não dorme sossegado. É o caso de morados do Morro do Borel, na Tijuca. Por conta de uma chuva intensa, no mês passado, famílias de 10 casas da localidade conhecida como Ladeira do Moreira que estão perto de barranco tiveram que se mudar para a casa de parentes.

"A cada chuva surgem novos pontos de risco e o problema se multiplica. Sempre mandamos fax para a prefeitura e ninguém responde", conta a tesoureira da associação de moradores, Márcia Rodrigues.

De acordo com Márcia, é comum moradores se alojarem na casa de amigos ou familiares para evitar um mal maior. Só no Borel, a Geo-Rio tem programadas sete obras, apesar de o local já ter recebido o Favela-Bairro.

No fim da Rua André Cavalcanti, entre o Bairro de Fátima e Santa Teresa, moradores aguardam há oito anos por uma intervenção. Em 1998, com as chuvas de verão, houve um deslizamento que arrastou parte de algumas casas. Apesar do trabalho de contenção feito na época, um trecho do terreno, nos fundos do número 173, continuou com risco. Por conta disso, algumas famílias se mudaram, mas só conseguiram vender as casas recentemente.

Por causa do atraso das obras, os novos moradores resolveram tomar a iniciativa de retirar o barranco. "Já perdemos a esperança de ver uma solução definitiva", contou Ivan Emilson Carnevale, 51 anos, que mora próximo ao local desde os anos 60 e já viu três desabamentos no morro.

Em três anos, verba encolheu a 20%

Na análise dos gastos com contenção de encostas, o TCM verificou redução no orçamento do órgão. Entre 2002 e 2005, ele foi reduzido em quase 80%, por conta de contingenciamentos de verbas e alterações orçamentárias. Entre as recomendações do tribunal está a de que não se diminua a dotação inicial da Geo-Rio para que, com o tempo, o número de pontos de risco caia. Em 2005, por exemplo, a dotação final correspondia a só 65% do previsto para o ano.

A programação de obras da Geo-Rio é feita de acordo com os pedidos da população. Normalmente, a prefeitura é alertada por chamadas feitas ao número 199, da Defesa Civil, que faz vistoria inicial. Em seguida, os técnicos da fundação fazem um relatório com cálculo dos gastos estimados. Os riscos são classificados em baixo, médio e alto. Segundo o relatório do TCM, a metodologia da Geo-Rio está sendo reavaliada para que o grau de perigo seja avaliado com mais precisão. Duas firmas foram contratadas para o estudo.

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De palafitas a mansões no Rio, quase tudo ilegal


Jornal O Globo, Rio, 30 de julho de 2006
Dimmi Amora

Cinco anos atrás, o sonho da casa própria tornou-se possível para Marcelo da Cunha, de 39 anos, quando ele viu o anúncio: “Condomínio Vale do Monte. Lotes: R$ 3 mil de entrada e 40 prestações de R$ 150”. O lote é bem em frente à Favela do Caboclo, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, onde dona Francisca Pessoa, de 43 anos, e sua família conseguiram uma área semelhantes à de Marcelo, sem pagar nada, numa invasão sete anos antes dele. O pedreiro preferiu pagar à imobiliária para ter sua casa com tranqüilidade, recebendo uma promessa de compra e venda. Semanas atrás, o sonho da casa própria foi paralisado por um embargo da prefeitura. E Marcelo acordou na triste realidade: sua construção é tão ilegal quanto a dos vizinhos da favela.

— Quando comprei, a promessa é que ficaria tudo pronto, mas a imobiliária fechou e estamos sem nada direito — lamenta Marcelo.

Marcelo e Francisca não estão sozinhos neste mundo da habitação informal. Estimativas do professor Luiz Cezar Queiroz Ribeiro, coordenador da ONG Observatório das Metrópolis, indicam que apenas 20% dos imóveis construídos na cidade do Rio estão legalizados. Do restante, metade está apenas parcialmente legalizada e a outra, nem isso. Nestes 80% de informalidade há de palafitas a mansões.

— A estimativa foi feita comparando números do mercado imobiliário, dos registros de licenciamentos da prefeitura e de ligações da Light. É uma estimativa do Rio, mas que não está longe da realidade da maioria das cidades do país. Sem transporte público de qualidade e com o desemprego, as opções são poucas e a pessoa tem que ficar perto de onde há emprego, nos serviços das áreas nobre — diz Cezar.

Laje pode custar R$ 15 mil

As novas tendências do mercado ilegal da habitação mostram que ele só cresce. No Rio, centenas de galpões industriais inutilizados foram invadidos para a construção de habitações sem a menor infra-estrutura. Além disso, moradores das favelas vendem as “lajes” de seus imóveis para a construção de novas residências.

— Uma laje pode custar de R$ 10 mil a 15 mil, dependendo da favela. A pessoa compra só o direito de construir. A casa ela faz. A pessoa não tem opção. Não há qualquer política pública para atender quem precisa de casa — diz Rocino Castro Diniz, presidente da Federação das Associações de Moradores de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj).

Além das favelas, na Zona Oeste são mais de 400 loteamentos irregulares, como o de Marcelo, segundo a vereadora Lucinha (PSDB), que trabalha desde a década de 80 no setor. Ela conta que os donos de terra dividem o terreno e, antes de o município dar o aval, os lotes são vendidos e o empreendedor some sem urbanizá-los.

A falta de planejamento afeta a qualidade de vida de toda a região. No caso do Vale do Monte, a construção das ruas sem rede pluvial fez com que a água escoasse diretamente para a Favela do Caboclo, num terreno mais baixo, alagando as casas.

— Um vereador deu umas manilhas, mas entupiu tudo — contou Francisca.

A esperança de receber serviços aparece nos anos pares, os eleitorais. No caso do condomínio Bosque dos Sabiás, em Campo Grande, semana passada chegaram a brita e o óleo queimado jogado sobre a terra batida, num torpe asfaltamento sem rede pluvial. E também placas de um candidato.

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Economia no Favela-Bairro

Jornal O Dia, 04/ago

Apenas um terço do valor aprovado no orçamento da prefeitura para o Favela-Bairro foi efetivamente gasto nas obras. Este foi um dos assuntos discutidos ontem em audiência na Câmara de Vereadores sobre falhas no programa apontadas pelo Tribunal de Contas do Município. Em relatório, o órgão cita intervenções incompletas.

A vereadora Andréa Gouvêa Vieira apresentou balanço da Secretaria Habitação com os valores no Orçamento de 2005. A Câmara destinara R$ 41,5 milhões para o Favela-Bairro, mas o veto do prefeito César Maia baixou para R$ 36 milhões. Apenas R$ 11,7 milhões foram gastos. A prefeitura não comentou.

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Rio tem carência de 300 mil habitações

Jornal O Dia, 10/ago

Na Região Metropolitana. 10,9% das casas estão em favelas

O déficit habitacional no estado do Rio chega a 300 mil unidades, conforme revelou estudo do Cide (Centro de Informações e Dados do Estado do Rio), baseado em censo demográfico de 2000 do IBGE. Em todo o País, faltam 7,5 milhões de unidades. Já a concentraçãode favelas na Região Metropolitana supera a média total do estado.

Os números indicam que seriam necessários investimentos de R$ 30 mil por família para conseguir diminuir o déficit habitacional, segundo o presidente do Cide, Ranulfo Vidigal. A longo prazo, investimento de R$ 10 bilhões pode representar 3% do PIB (Produto Interno Bruto). A pesquisa detalha que 96,36% do total de mais de 4 milhões de domicílios particulares estão em região urbana enquanto 3,64%, localizada na região rural.

FAVELIZAÇÃO

Ao todo, 9,43% das residências em todo o estado ficam em favelas. O percentual aumenta quando analisadas as cidades só da Região Metropolitana: 10,9%. O segundo maior índice, 6,19%, fica no Norte Fluminense. A área menos favelizada é a das Baixadas Litorâneas: 2,9%. O estudo visa melhorar o planejamento de políticas públicas habitacionais.

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Prefeitura vai derrubar 169 casas condenadas por incêndio na Rio das Pedras

Jornal O Dia, 15/ago

A Defesa Civil Municipal vai derrubar pelo menos 169 construções da Favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá. A estrutura desses imóveis foi danificada com o incêndio de domingo, que atingiu cerca de 500 casas. Até o fim da tarde de ontem, a Secretaria Municipal de Assistência Social cadastrou 414 famílias. Os desalojados foram para casa de parentes e podem ser levados a abrigos da Prefeitura do Rio.

O subsecretário estadual de Defesa Civil, Sérgio Simões, descartou a hipótese de o fogo ter sido causado por queda de balão. O órgão acredita que curto-circuito começou o desastre. "Há muitos emaranhados de fios de ligações clandestinas, e nas casas tinha material de fácil combustão. Botijões explodiram, o que alimentou o fogo", explicou Sérgio.

Mesmo com a interdição das casas, moradores tentaram recuperar roupas, eletrodomésticos e móveis. "Vou reconstruir o que foi queimado, não tenho outro lugar para ir. Mas vi que roubaram minha TV, meu DVD e meu som", indignou-se o faxineiro Evanildo Vicente de Oliveira, 32 anos.

Para outros, a tragédia ainda está bem viva. "Saí só com a roupa do corpo e consegui salvar meus três filhos. Quando vi, o fogo estava na casa da frente, e não deu tempo para nada", contou a dona-de-casa Maria Ivoneide da Silva Arnod, 42.

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Crescimento sem limites

Jornal O Globo Zona Sul, Gian Amato, 17 de agosto de 2006

Favelas no Laboriaux e no Dona Marta avançam, sem controle, em direção ao Parque Nacional da Tijuca

Nem mesmo a proteção divina do Cristo Redentor impediu que a favela do Morro Dona Marta, em Botafogo, invadisse os limites do Parque Nacional da Tijuca (PNT). Aos pés do cartão-postal mais famoso do Rio, a comunidade avançou, sem as bênçãos do Ibama, e ultrapassou, em cerca de três metros, a cota 200 (200 metros acima do nível do mar). A expansão sobre os limites do PNT também é nítida na Rocinha. No topo do morro, o local conhecido como Laboriaux está a 150 metros da cota 400. A favelização ameaça outros pontos da cidade. Na Urca, a Vúa Benjamin já é visível do Parque do Flamengo. E em Copacabana, a Ladeira dos Tabajaras e a Favela da Cocheira formaram um só complexo.

O sinal de alerta foi acionado no Ibama, há mais de 20 anos, quando o Laboriaux era apenas uma ameaça. A partir daí, o órgão iniciou um programa de educação ambiental com a comunidade, para tentar conter o avanço. O projeto, porém, foi interrompido, recentemente, por causa das constantes disputas de quadrilhas rivais pelo comando do tráfico de drogas no local.

- Temo que, se nada for feito, o limite seja ultrapassado. O único obstáculo para a expansão é uma barreira natural, porque a comunidade chegou até um ponto inclinado, que dificulta o avanço - alerta a bióloga e chefe do Parque Nacional da Tijuca, Sônia Peixoto.

Se não puder avançar em direção ao ponto mais alto, a tendência é que o Laboriaux ocupe as laterais do morro, juntando-se à Favela da Rocinha.

- Como não houve dificuldade em ocupar a crista do morro, eu não ficaria espantado se invasores procurassem as laterais para erguer novas construções. Em 1982, não existia nada no topo e, agora, até automóveis circulam lá. Nos próximos meses, a situação só tende a se agravar - ressalta Luiz Fernando Lopes da Silva, analista ambiental do PNT.

A favela do Morro Dona Marta levou menos tempo para romper os limites do parque. A comunidade chegou perto da cota 200 há cerca de três anos, e, ano passado, os técnicos do Ibama detectaram uma construção irregular além da área limítrofe.

- Há três anos foi feito contato com a prefeitura e as autoridades pediram paciência. Nada foi feito. Ano passado, a primeira casa ultrapassou o limite em aproximadamente três metros. Até agora, só não sofremos mais invasões porque a geografia do local dificulta. A natureza nos ajuda. Os órgãos públicos não - afirma Sônia.

Segundo a chefe do PNT, a fiscalização é responsabilidade da prefeitura, porque o Ibama não tem jurisdição nas áreas do entorno da floresta. O prefeito César Maia diz que há um projeto para conter a expansão do Laboriaux, mas só deverá pô-lo em prática ano que vem.

- Estimo que, até o fim de 2007, ele possa chegar à Rocinha. No Dona Marta, o governo do estado cuidou da urbanização e nós concordamos - explica o prefeito.

 

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Casa popular terá mais R$530 milhões

O Estado de São Paulo, , 19 de agosto de 2006
 Adriana Fernandes

Linha de crédito passa de R$ 1,3 bi para R$ 1,83 bi e beneficia famílias que ganham até 5 salários mínimos

O governo federal ampliou em R$ 530 milhões os recursos disponíveis neste ano para o financiamento de moradias de baixa renda. A linha de crédito é concedida com dinheiro subsidiado do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) exclusivamente para a construção de casas para famílias que ganham até cinco salários mínimos. O Ministério das Cidades calcula que 90 mil famílias poderão ser atendidas com esses recursos.

O Orçamento da União deste ano previa um aporte inicial de R$ 1,3 bilhão para essa linha de crédito. Segundo dados do Ministério das Cidades, até o fim de julho R$ 1,1 bilhão já tinham sido contratados. Com a ampliação de R$ 530 milhões, autorizada na quinta-feira, o montante disponível subiu 40,7%, para R$ 1,83 bilhão.

O ministro das Cidades, Marcio Fortes de Almeida, disse ao Estado que a ampliação foi necessária porque os recursos estavam terminando e isso poderia comprometer o andamento do programa, conhecido como "Resolução 460 do FGTS". Ele rechaçou qualquer relação entre a liberação do dinheiro e o calendário eleitoral.

O financiamento pode ser pleiteado por governos municipais, estaduais, cooperativas habitacionais, associações de moradores ou qualquer cidadão nas agências da Caixa Econômica Federal. A prioridade será para a construção de moradias de regiões metropolitanas, para as quais serão destinados pelo menos 30% dos recursos. São essas áreas que concentram a maior parcela do déficit habitacional do País.

Pelas normas dessa linha de crédito, o mutuário, governo ou entidade que acessar os recursos de subsídio do FGTS é obrigado a entrar com uma contrapartida em dinheiro ou em bens e serviços, como, por exemplo, terrenos, infra-estrutura ou mão-de-obra. Embora os pedidos de empréstimo possam ser feitos individualmente no balcão da Caixa, o esforço do governo é para que o financiamento seja executado por meio das operações coletivas, com investimentos do governo federal e dos governos locais.

A proporção do subsídio é baseada na localidade e na faixa salarial do beneficiário. Quanto menor a faixa salarial, maior o subsídio no financiamento. Com as parcerias entre governos, uma família que mora na região metropolitana do Rio e de São Paulo, por exemplo, e recebe R$ 350 por mês, pode obter subsídio de R$ 14 mil e empréstimo de R$ 2 mil. O subsídio é a fundo perdido, ou seja, não precisa ser pago.

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Treze andares de contraste

Jornal O Globo, Marcelo Dutra, 19/ago

Prédio invadido no Centro já tem 600 moradores

Invadido há dez anos, o prédio de 13 andares no número 24 da Rua do Resende, no Centro, já tem 600 moradores. Com esquadrias de alumínio nas janelas, mas até hoje com os tijolos aparentes, a construção contrasta com a modernidade de prédios vizinhos, como as sedes da Petrobras e do BNDES e o Conjunto Cultural da Caixa. Em três anos, todos os 78 apartamentos já estavam ocupados.

- O vigia que trabalhava aqui não recebeu os direitos trabalhistas quando o dono do prédio morreu. Então ele convidou alguns amigos, e estes trouxeram seus parentes. Assim começou a ocupação do prédio, que foi construído para ser um hotel, mas estava abandonado. Eu vim há sete anos e trouxe logo depois mais dois irmãos- contou o morador Antonio Vicente, que traba lha como porteiro na Tijuca.

Embora irregular, o condomínio tem até síndico: Francisco Gomes. Ele alega que os moradores já pagaram nove anos de IPTU atrasados e, agora, tentam conseguir na Justiça a posse dos apartamentos por usucapião. Segundo ele, o dono e construtor do imóvel morreu há mais de 12 anos:

- Pelo que sei, ele tinha uma fábrica de velas na Baixada e se chamava Israel ou Misael. Mas não pagava as contas do imóvel, que estava na Dívida Ativa do município há 29 anos.

Francisco, que trabalha numa padaria em Botafogo, conta que o prédio tinha uma série de problemas estruturais e um engenheiro foi chamado para ajudar no processo de recuperação do imóvel.

- Já conseguimos embolsar e pintar quase toda a parte interna - orgulha-se.

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Até o favela-bairro é contestado

Jornal O Globo, Rio, 27 de agosto de 2006

Técnicos do TCM apontam falhas no programa da prefeitura considerado modelo pelo BID

No momento em que a cidade enfrenta o crescimento desordenado de favelas, até um projeto considerado modelo pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sofre questionamentos. Um relatório feito por técnicos do Tribunal de Contas do Município (TCM) aponta que os US$600 milhões que estão sendo gastos desde 1994 no Programa Favela-Bairro pela prefeitura com recursos próprios e empréstimos do BID dificilmente conseguirão cumprir com o objetivo de transformar áreas carentes em bairros providos de infra-estrutura. A paternidade do programa foi até objeto de disputa política.

O documento constata que a prefeitura deveria ter se precavido para evitar que as favelas se expandissem entre o momento que a comunidade foi informada sobre as obras e o início efetivo do projeto. Como nesse intervalo muitas comunidades cresceram, o orçamento acabou sendo insuficiente e obras ficaram incompletas.

Os técnicos do TCM alertam para a necessidade de conter o avanço das favelas já urbanizadas: "A ausência de mecanismos de controle do crescimento das favelas e dos loteamentos irregulares beneficiados (....) pode ser considerada como um incentivo. A percepção de melhoria a ser obtida com a urbanização resulta em enormes movimentos migratórios".

Relatório critica a não-remoção

Os técnicos entenderam que em muitos casos a estratégia do programa de urbanizar comunidades carentes é equivocada já que, por suas características, jamais poderão ser transformadas em bairros. Seja por particularidades geográficas ou influência do tráfico de drogas. Os técnicos acrescentaram que a prefeitura deveria ter concentrado esforços na construção de moradias para a população de baixa renda no asfalto, em bairros já consolidados.

O trabalho foi realizado por auditores especializados em analisar contratos na área de habitação. O relatório alerta a prefeitura para a necessidade de se criar uma legislação urbanística para conter o crescimento desordenado que já causa impacto econômico na cidade. O texto critica a inexistência de uma política de remoções de comunidades carentes: "A política de não-remoção acrescida do descontrole da expansão e/ou surgimento de ocupações irregulares (...) vem inviabilizando a vocação turística do Rio de Janeiro".

Cópia do documento, que será votado no plenário do TCM na quinta-feira, foi obtida pelo presidente da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara de Vereadores, Luiz Guaraná (PSDB). Se aprovado, o relatório será enviado à Secretaria de Habitação.


ESPECIALISTAS DIZEM QUE A PROPOSTA É BOA

Arquiteto ressalta importância de outras ações paralelas em transportes e habitação

Apesar das críticas do relatório elaborado por técnicos do TCM, para especialistas em urbanismo, o conceito do Programa Favela-Bairro é bom. De acordo com Cristiane Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, a idéia de manter comunidades já instaladas há muitos anos no próprio local é, na maioria das vezes, o melhor caminho para a solução:

— A idéia de manter as pessoas que já estão há muitos anos na comunidade dando o título de propriedade é boa. Mas as ações urbanísticas precisam estar acompanhadas de outras, na área social, para que o projeto funcione em sua plenitude.

O arquiteto Sérgio Magalhães disse que o Favela-Bairro ainda continua sendo a melhor saída para os casos de comunidades grandes, já consolidadas. Ele ressaltou, no entanto, que o programa, realizado de forma isolada, não é a solução para o caos habitacional da cidade:

— Há favelas em que o melhor caminho é mesmo urbanizar. Pensar em remoção nas grandes comunidades está longe da realidade. Mas investir somente ali não basta. Se não há políticas habitacional e de transportes sendo desenvolvidas paralelamente por estado, município e União, as favelas vão continuar crescendo.

Há cinco anos, o Favela-Bairro esteve entre os melhores projetos do mundo apresentados na Expo 2000, em Hannover, Alemanha, evento que reuniu 173 países no fim do milênio. O prêmio permitiu que o Favela-Bairro use a logomarca do evento, uma espécie de selo de qualidade e reconhecimento internacional.

A secretária municipal de Habitação, Solange Amaral, afirmou através de sua assessoria de imprensa que o órgão está atento às recomendações dos técnicos do TCM para o aprimoramento do Favela-Bairro. No início do ano, o órgão já havia recebido relatórios aprovados pelo TCM com sugestões para outros dois programas: Bairrinho e Mutirão.

O prefeito Cesar Maia disse por e-mail que o relatório do TCM precisaria ser comparado com as análises feitas por técnicos do BID: "O Favela-Bairro é um projeto complexo que vai muito além da urbanização", afirmou Cesar. Desde a terça-feira passada, repórteres do GLOBO tentaram entrar em contato com representantes do banco, mas não houve retorno.

Para o vereador Luiz Guaraná, o Favela-Bairro está entre os melhores projetos do mundo, mas precisa vir acompanhado de fiscalização dentro das comunidades:

— Infelizmente, a fiscalização tem afrouxado. Se não há fiscalização, as pessoas se acham no direito de continuar construindo nas favelas e o crescimento não pára, já contando com a prefeitura para fazer as melhorias futuras.

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Ontem vilas, hoje favelas

Jornal O Globo Zona Sul, Gian Amato, 31/ago

Crescimento desordenado de comunidades no Humaitá e na Gávea preocupa moradores

A muralha de prédios na Rua Humaitá, na altura do número 282, esconde a verticalização da favela Recanto Familiar. Camuflada pêlos edifícios de classe média, as casas sobem em direção ao topo do morro, três delas com até cinco andares. O problema se repete na Gávea, onde a Vila da Major - construída para servir de moradia aos funcionários do Jardim Botânico - já subiu o morro provocando desmatamento e deixando os moradores indignados.

Segundo Paulo Giffon, presidente da Associação de Moradores do Humaitá (Amahu), a favelização leva prejuízo financeiro para os proprietários dos apartamentos, naquele trecho.

- A Amahu não quer a degradação ambiental da área. Além disso, os moradores reclamam da desvalorização imobiliária dos seus imóveis. Eles não comprariam um apartamento ali novamente - afirma Giffon.

Sérgio Leite, presidente da Associação de Moradores do Recanto Familiar, rebate as acusações de que a vila ajuda a degradar a região. No entanto, ele admite o seu crescimento:

- Claro que cresceu! Foi um filho que se casou, ganhou uma laje e subiu outro andar. Mas não provocamos danos ao meio ambiente.

Na Gávea, a discreta entrada da Vila da Major, na Rua Major Rubens Vaz, esconde o avanço sobre a Mata Atlântica. Segundo moradores, as obras são contínuas e causam desmatamento.

- Desmaiam na calada da noite - denuncia Renê Hasenclever, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Gávea (Amagávea).

Renato Rabe, procurador do Jardim Botânico, diz que o terreno, que pertence à Secretaria de Patrimônio da União (SPU), está sob jurisdição do instituto:

- Pedimos a remoção, e as casas estão sub judice, porque há um crescimento desordenado, completamente irregular.

A secretaria municipal de Urbanismo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que desconhece o crescimento da Vila da Major. Sobre a Recanto Familiar, a secretaria disse que só pode atuar quando a área é declarada de "especial interesse social", de acordo com um decreto municipal.

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Favela cresce em área ecológica

Jornal do Brasil, Ricardo Albuquerque, 10/set

Comunidade quer cancela separando a Rua Aperana do Morro Chácara do Céu

O crescimento imobiliário do Morro Chácara do Céu está tirando o sono dos moradores do Alto Leblon. Na tentativa de conter a expansão da menor favela da Zona Sul - seis casas foram construídas dentro de área ecológica - integrantes da Comunidade Alto Leblon reivindicam a instalação de uma cancela de segurança no Parque do Penhasco Dois Irmãos para impedir o acesso de veículos particulares sem o cadastro prévio. A advogada Evelyn Rosenzweig explica que a ideia é combater a desordem urbana que atingiu a Rua Aperana - único acesso viário ao morro - sem interferir no direito de ir e vir de quem mora no Chácara do Céu.

- Nós somos a cidade da ilegalidade - conclui Rosenzweig. - A inércia do poder público nos obriga a tomar iniciativas.

Na Rua Aperana, uma Kombi faz o transporte de moradores do Chácara do Céu, e outra permanece estacionada, em dias de sol, servindo de depósito para barraqueiros que trabalham na Praia do Leblon. O ruído do motor de um ônibus escolar interfere no sono dos moradores a partir das 5h.

- Meu despertador é a zoeira de um motor estridente - observa o arquiteto Robson Luiz.

Sucessivas reuniões com candidatos a deputado e representantes da prefeitura frustraram ainda mais os moradores do Alto Leblon. No último encontro, há 10 dias, representantes do morro alegaram o direito de fazer obras para ampliar as moradias, mesmo que elas sejam usadas para aumentar a renda familiar por meio de aluguéis.

- Tenho a impressão de que os políticos estão preocupados em manter currais eleitorais -esbraveja a publicitária Laura Lima, moradora da Aperana.

A indignação de Laura Lima aumentou na quarta-feira, quando o ministro das Cidades, Márcio Fortes de Almeida, anunciou investimento de R$ 2 milhões para regularizar a situação de 8 mil famílias na Rocinha e no Vidigal. Para a moradora, o incentivo à ilegalidade mostra que o poder público perdeu o controle sobre as invasões de terra:

- Já imaginor a classe média invadir o Jardim Pernambuco por achar que tem direito de morar num apartamento de luxo?

A pedido da Comunidade do Alto Leblon, técnicos da Secretaria Municipal de Urbanismo sobrevoaram a região, há seis meses, para analisar a constrição de uma rua ligando a Avenida Niemeyer ao Chácara do Céu. O relatório da secretaria considerou inviável a ideia, sem indicar outra solução para conter o avanço da favela.

- E lamentável você pagar impostos e perceber que não tem como lutar contra a ocupação irregular - diz Rosenzweig. - Se nada for feito, isso aqui estará tão ruim quanto a Rocinha.

Na segunda-feira, um caminhão abarrotado de tijolos subiu o Chácara do Céu. O arquiteto Robson da Cunha, morador da Aperana, diz que a quantidade daria para construir 12 casas de 80 metros quadrados, mas o JB constatou que a obra era para ampliar uma casa no Vidigal.

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Mata Atlântica na Zona Sul devastada por imóveis ilegais

Jornal do Brasil, Duilo Victor, 07 de outubro de 2006

Condomínios com imóveis vendidos por R$ 25 mil e prédios de até oito andares são parte do mercado irregular responsável pela expansão de favelas nas poucas áreas de Mata Atlântica na Zona Sul. Policiais da Delegacia  de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) constataram as denúncias durante operação, quinta-feira, nas favelas da Rocinha e do Vidigal, e vão enviar as informações ao Ministério Público (MP). Cinco famílias da Rocinha apresentaram documentos mostrando que R$ 46 mil foram pagos por escrituras ilegais ao suposto engenheiro Luiz Carlos de Castro Silveira.

Supostas notas promissórias e até registros em cartório indicavam que pelo menos quatro lotes e apartamentos foram comprados de Luiz Carlos. Nos documentos em poder da polícia, o responsável pelo loteamento assinava sobre carimbo de identificação de engenheiro registrado no Crea.

Antes da operação na favela, Luiz Carlos alegava que o terreno foi invadido antes que
conseguisse as licenças da prefeitura. As escrituras apresentadas ontem levantam suspeita, no entanto, que o engenheiro vendeu os lotes.

A destruição da mata não é apenas feita por pequenos barracos disse o delegado titular da DPMA, Rafael Menezes. Há um mercado imobiliário ilegal que lucra com a expansão.
O delegado comentou também a declaração do prefeito Cesar Maia publicada ontem no
JB, de que fiscais da prefeitura têm dificuldades de coibir construção irregular em locais onde a polícia, armada, já as enfrenta. Menezes sugere que, se a prefeitura construísse eco barreiras, teria mais facilidade em contar com força policial para interromper o desmatamento.

Um simples sobrevôo poderia constatar se as ecobarreiras estão destruídas explica o delegado. Confirmando que há destruição de patrimônio público, as polícias civil e militar podem ser chamadas.

Na mata do Vidigal, onde foram encontrados mais de 8 mil metros de área ocupada irregularmente desde 1999, moradores contaram ter comprado da associação de moradores uma autorização para construir. Para Menezes, a menos que a asso¬ciação seja proprietária legal do terreno, não poderia lotear terra nem vender documentos. O presidente da associação deve ser ouvido hoje na DPMA.

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Falta dinheiro para casa popular

O Estado de São Paulo, Isabel Sobral, 10 de outubro de 2006

Financiamento dos projetos apresentados este ano exige verba adicional de R$ 260 milhões

Os recursos destinados este ano ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), que financia a construção de moradias para a população de baixa renda, serão insuficientes para atender a toda a demanda, segundo avaliação da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Um estudo da entidade, com base em dados da Caixa Econômica Federal, revela que, para cobrir todos os projetos que já estão em análise pelo banco, faltam cerca de R$ 260 milhões este ano. Esse dinheiro teria que ser acrescentado ao orçamento de 2006 do PAR, que é de R$ 1,2 bilhão.

O Ministério das Cidades, responsável pelo programa, reconheceu que a demanda de projetos é maior que os recursos disponíveis, mas não considera isso um problema. "O fato de ter um número maior de projetos é até desejável porque eles precisam de tempo para maturação. Alguns deles, por exemplo, ainda dependem de licenças ambientais para serem executados", justificou a secretária Nacional de Habitação do ministério, Inês Magalhães.

Ela informou que os projetos em análise atualmente somam pouco mais de R$ 600 milhões e, até o fim do ano, o orçamento prevê a destinação de cerca de R$ 400 milhões.

A secretária ponderou, no entanto, que a possibilidade de fechar o ano sem contemplar todos os projetos não significa que eles não serão atendidos. "Ao contrário, é bom que no início do próximo ano existam projetos prontos para serem financiados com o orçamento de 2007", afirmou ela.

O vice-presidente da CBIC, José Carlos Martins, defendeu o PAR, criado em 1999, como o "programa de caráter mais social" da habitação. Segundo ele, a grande vantagem é a redução da burocracia existente em financiamentos habitacionais comuns.

O PAR garante a propriedade do imóvel ao final de 15 anos de pagamento regular de uma taxa de arrendamento. O governo federal estima que haja um déficit de moradias novas no País de 7,2 milhões de unidades e 84% disso está concentrado entre as famílias com renda de até três salários mínimos mensais.

O PAR é direcionado à população de renda familiar bruta de até seis salários mínimos ou até oito salários, no caso dos servidores da área de segurança pública. Os recursos são da União e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e desde a sua criação aplicou R$ 5,6 bilhões.

O estudo da CBIC revela ainda que, na faixa de mercado, até julho foram aplicados em financiamentos habitacionais R$ 4,9 bilhões das cadernetas de poupança, sendo 60% do total para novos imóveis. Por lei, 65% do dinheiro aplicado em poupança deve ser destinado pelos bancos aos empréstimos habitacionais. A avaliação da CBIC é que a regra está sendo cumprida.

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Universidade amplia projetos

Gazeta, Adriana Thomasi, 27 de outubro

Um dos objetivos é reduzir o problema habitacional da população de baixa renda no estado. O Escritório de Tecnologia Social (ETecS), da Universidade Federal do Ceará (UFC), que será inaugurado hoje, em uma casa de 45 metros quadrados, no campus do Pici, em Fortaleza, abre caminho para projetos destinados a reduzir o problema habitacional da população de baixa renda. "Não vamos trabalhar com demanda pessoal, mas identificar as necessidades das comunidades organizadas, que precisam de um projeto ou apoio tecnológico", diz o professor e pesquisador Alexandre Araújo Bertini, coordenador do ETecS, vinculado ao Centro de Tecnologia da universidade.

No projeto do escritório foram investidos algo em torno de R$ 20 mil, entre construção, mobília e equipamentos, com recursos da Associação Técnico-Científica Engenheiro Paulo de Frontin (Astef) e do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Ceará (Crea-CE), além de apoio de parceiros privados. Construída com blocos e telhas de concreto, segue os moldes de uma moradia popular - inclui salas de trabalho, de reunião e de recepção - e contou com parceria também da Associação Brasileira do Cimento Portland.

De acordo com o presidente do Crea-CE, Antonio Salvador da Rocha, a meta do programa Engenharia Social é beneficiar 2 mil famílias com renda inferior a três salários mínimos por ano. Esse número representaria, em média, seis comunidades. Ainda conforme o dirigente, além de orientações técnicas em construção de edificações autogeridas e autoconstruídas em comunidades carentes, o programa vai contribuir para a implementação do núcleo de informação tecnológica no Crea-CE e para a divulgação de novas tecnologias.

Com espaço físico próprio e equipado - já que o escritório funcionava há cerca de ano com estrutura informal -, a investida vai funcionar como ferramenta pedagógica na formação dos futuros engenheiros e arquitetos, segundo Bertini. "É uma via de mão dupla, pois a comunidade vai receber um trabalho de qualidade, enquanto os estudantes estarão aprendendo", afirma. A iniciativa abre espaço ainda para atuação de servidores técnico-administrativos dispostos a colaborar.

O professor observa que o modelo do escritório surgiu da necessidade e a intenção é que possa ser aproveitado por outras universidades. "Pretendemos ser copiados", diz. Integra o projeto de extensão, mas a idéia é envolver maior número de trabalhos. É o caso de mestrados na área voltada ao social e mesmo de projetos de final de curso e de pesquisa. O Centro de Tecnologia da UFC tem oito cursos, entre engenharias civil, mecânica, elétrica, de materiais, química, produção e teleinformática e o de arquitetura.

"A próxima investida do ETecS envolve o projeto de reforma e ampliação de uma associação de moradores que mantém creche para 700 crianças na Vila São José, na periferia de Fortaleza." Os contatos já foram feitos e vamos iniciar agora a parte de projetos de arquitetura", informa Bertini. No momento, engenheiros e arquitetos do escritório trabalham com a associação de bairros, no parque universitário, entorno da UFC, em um projeto de construção de uma cozinha-escola que vai servir para cursos na área de produção alimentos. "Vamos utilizar esse trabalho também para capacitar os adolescentes da comunidade na área se construção civil", adianta.

Em parceria com a Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), unidade de negócios da Petrobras, instalada no bairro portuário do Mucuripe, em Fortaleza, o escritório mantém um cursinho pré-vestibular. Todos os sábados os alunos de engenharia da UFC vão até os bairros Serviluz e Castelo Encantado para ministrar aulas aos moradores do entorno. A equipe do escritório conta com cerca de seis pessoas fixas, mas pode agregar até mais de 20, dependendo do projeto.

Bertini, também pesquisador da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com trabalho na área de sistemas construtivos para habitação de interesse social, observa que o Estado do Ceará tem um déficit habitacional da ordem de 400 mil moradias, quase a metade na região metropolitana da capital. O ETecS já manteve contato com o governo do estado e a prefeitura de Fortaleza, mas nada foi definido ainda.

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Promotores acusam César de permitir favelas

Jornal do Brasil, Renata Machado, 27 de outubro de 2006

Ministério Público estadual entra com ação civil pública contra prefeito exigindo remoção de comunidades localizadas em áreas de risco no Alto da Boa Vista

O Ministério Público estadual entrou, ontem, com uma ação contra a prefeitura para remover sete favelas do Alto da Boa Vista, que estariam invadindo áreas pertencentes à Floresta da Tijuca. A decisão foi tomada depois que um relatório sobre a expansão do desmatamento na região, elaborado pela 5ª Divisão de Levantamento do Departamento de Cartografia do Exército Brasileiro, constatou que a área perdeu 48% da vegetação nas últimas quatro décadas.

- A expansão desordenada é uma ameaça para aquela região - alerta a promotora de Meio Ambiente do MP, Rosani da Cunha Gomes. - A floresta vem sendo totalmente danificada.

Segundo o MP, eles concluíram no levantamento, que as favelas no entorno do Parque Nacional da Tijuca estão se expandindo rapidamente. Além disso, pelo menos 15 comunidades poderiam se juntar e se transformar em um grande complexo de favelas em apenas 10 anos.

- A necessidade de remoção, devido ao risco para os próprios moradores, foi reconhecida por técnicos da prefeitura, da Cedae e da Seria, portanto não é uma avaliação isolada do Ministério Público - acusa a promotora. - Isso revela a omissão patente do município.

César Maia, no entanto, eximiu-se de qualquer culpa. Alega que o governo federal toma conta da Floresta da Tijuca desde 1975, quando ela passou a pertencer ao Ibama. Por isso, segundo o prefeito, o município não tem nenhuma autoridade sobre a área.

- Entraram com uma ação contra o ente errado - explica César Maia, dizendo que a área poderia ser devolvida, através de um convênio, para que a prefeitura pudesse atuar. - Como não temos o problema da presença de traficantes, nesse caso, a questão é de responsabilidade e de ação do poder público.

Segundo a ação, é necessário que se faça uma remoção urgente das comunidades do Vale Encantado, João Lagoa, Açude, Fazenda, Biquinha, Ricardinho e a localizada na Estrada de Furnas, na altura do número 866. A ocupação irregular dessas favelas estaria produzindo impactos ambientais nas encostas, nascentes e rios, além de ser perigosa para os próprios moradores.

O MP deu um prazo de 30 dias para que seja apresentado um projeto de reflorestamento da área desmaiada e que as construções em andamento sejam demolidas. Exige, ainda, a remoção e o reassentamento dos moradores em 40 dias.

Risco de desabamento

O risco do crescimento desenfreado das favelas vai além de desmaiar uma área de Mata Atlântica. Segundo o ambientalista David Zee, à medida que a favela se expande, fica mais difícil retirar o lixo e, com o acúmulo de detritos, as chances de desmoronamento da encosta aumentam muito. - Além disso, há a proliferação de vetares, que podem trazer doenças - diz Zee.

Os moradores das sete favelas que o Ministério Público pediu a remoção estão revoltados com a ação.

- Essa medida é uma total falta de respeito - indigna-se o presidente da Associação dos Moradores da Favela Fazenda, Erisvaldo do Vale Lima, dizendo que a prefeitura deveria urbanizar e melhorar a qualidade de vida da população das comunidades. - Há moradores com mais de 70 anos que nasceram aqui. Vamos lutar e garanto que daqui a comunidade não sai.

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MP vai á justiça para conter 13 favelas

Jornal O Globo, Cláudio Motta, 27 de outubro de 2006

A equipe de Meio Ambiente do Ministério Público entrou ontem com uma ação na Justiça pedindo que a prefeitura seja obrigada a conter o crescimento desordenado e a demolir casas construídas em áreas de risco de 13 favelas do Alto da Boa Vista. Na ação, os promotores acusam o prefeito Cesar Maia de omissão porque essas comunidades encontram-se na Área de Preservação Ambiental e de Recuperação Urbana (Aparu) do  Alto da Boa Vista, que foi criada e teve a área demarcada pelo decreto municipal 1.301/92.

Na representação, os promotores pedem que sete favelas sejam integralmente  removidas; os moradores, reassentados; e as áreas, reflorestadas, no prazo de um ano. As favelas que devem sair são: Vale ncantado, João Lagoa, Açude, Estrada de Furnas, Fazenda, Biquinha e Ricardinho.

No Vale Encantado, por exemplo, as inspeções constataram que as casas põem em risco a integridade da Mata Atlântica e encontram-se na faixa marginal de proteção de um rio. No Açude, a água que abastece a comunidade é captada irregularmente da própria sede do Parque da Tijuca. A favela da Fazenda, que encontrase em expansão, está assentada em área de risco por ocupar a faixa marginal de proteção do Rio Cachoeira.

 - Além dos danos ambientais existe o risco de essas comunidades se unirem no futuro. Poderiam formar uma nova grande favela, como a Rocinha - explicou Rosani daCunha Gomes, que subscreveu a ação com outros três promotores.

Ainda segundo o MP, a prefeitura precisa adotar medidas para evitar o crescimento desordenado de outras seis comunidades: Morro do Banco, Tijuaçu, Agrícola, Furnas, Mata Machado e Estrada do Soberbo. Com base em informações da Superintendência de Gestão Ambiental da Cedae, os promotores citam na ação exemplos de como ocorre o crescimento desordenado. Na Mata Machado, reurbanizada pelo projeto FavelaBairro, por exemplo, das 250 residências, cerca de cem ocupam a faixa marginal de proteção do Rio Cachoeira. O MP denuncia que os moradores, inclusive, lançam esgoto em seu leito.

Prefeito alega que cabe ao Ibama fazer o controle O prefeito Cesar Maia alega que a responsabilidade pelo controle das comunidades não seria dele, mas do Ibama, devido à proximidade do Parque Nacional da Tijuca. Ele diz que controlaria o crescimento das comunidades se o Ibama, que divide com o município a gestão do parque, transferisse a área para a prefeitura: - Aí, sim, seria nossa responsabilidade.Poderíamos promover o reassentamento das famílias para um local próximo, já que a área não é dominada pelos traficantes.

A promotora Rosani responde lembrando que, na representação, são reproduzidas declarações de funcionários da prefeitura sobre a existência de projetos do município para reassentamento de comunidades.Eles não saíram do papel por falta de verbas. Rosani lembra que o decreto que criou a Aparu determinou que caberia à Secretaria de Meio Ambiente garantir a preservação.

Já o superintendente do Ibama no Rio, Rogério Rocco, contesta o prefeito. Ele diz que os fiscais do órgão são responsáveis pelo que se passa no interior do parque, localizado em terras federais. E lembra que a Constituição determina que cabe aos municípios  fiscalização do uso do solo:

Em parques nacionais, as terras vizinhas, localizadas num raio de dez quilômetros, são consideradas zonas de amortização para garantir a preservação ambiental. Se o Ibama for fiscalizar o que não é atribuição dele, para quê existe a prefeitura?
 
No processo, o MP pede ainda a condenação de Cesar por improbidade administrativa porque teria sido omisso por não conter o crescimento das favelas. E a suspensão dos direitos políticos do prefeito por período de três a seis anos.

Entre eles, está Maria das Graças Silva, de 53 anos, que vive há 30 deles no Açude. Ela reconhece que colabora para o crescimento da comunidade: está construindo um quarto para o seu filho morar:

 - A comunidade tem mais de 80 anos e todo mundo respeita o meio ambiente. Não deixamos que haja invasões. Só falam das favelas, mas há mansões próximas e derrubaram árvores para construí-las.

Armando Jorge de Oliveira, presidente da Associação de Moradores de Furnas, admite que há casas em áreas de risco. Mas diz que hoje a comunidade respeita a legislação.

 - Quem estiver em área de risco, tudo bem, pode ser deslocado, mas para uma distância de até 500 metros, como determina a lei - disse.


Com uma vista deslumbrante para a Barra e o Recreio, Fábio Ferreira, morador do Vale Encantado, afirma que os moradores da comunidade têm documentos comprovando a posse do terreno:

  - Temos todos os documentos para comprovar. Já o presidente da Associação de Moradores da Mata Machado, Josias Caldas, diz que a entidade denuncia quando há tentativas de invasão.
 

 

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Ação preventiva contra favelas

Jornal O Globo,Gulilherme Freitas,23 de novembro de 2006

O vazio deixado nas encostas de Laranjeiras pela remoção da favela Vila Alice, no início do ano, tornou-se uma preocupação para; a vizinhança. Para evitar que o espaço volte a ser habitado, o Comitê Ambiental do Vale do Rio Carioca  formado por associações de moradores de Laranjeiras, Cosme Velho e Flamengo apresentou à subprefeitura da Zona Sul 2 um projeto de ocupação da área.

O plano prevê o reflorestamento da região antes ocupada pela favela, que abrigaria uma sede administrativa do município, brinquedos e uma quadra esportiva. Seria também uma forma de conter o avanço da favela vizinha, Júlio Otoni, segundo uma das integrantes do comité, Flavia Cunha:

A Júlio Otoni está se expandindo em direção ao terreno de onde foi removida a Vila Alice. Os novos barracos já são visíveis da rua.

O comitê propôs também uma série de intervenções na Júlio Otoni, destinadas a evitar o crescimento da favela. A principal proposta é a inclusão da favela num programa de organizaçãourbanística e social da prefeitura, que forneça infraestrutura básica e saneamento aos moradores.

Também foi pedida a remoção de residências da Júlio Otoni que avançaram sobre áreas de proteção ambiental da encosta, e de outras, que estão construídas em lugar de risco de desabamento. O projeto solicita ainda a adaptação de construções que tenham excedido o limite de dois pavimentos, determinado pelo município.

O projeto prevê também a abertura de uma rua larga na Júlio Otoni, o que facilita-ria a circulação de pessoas e veículos e a oferta de serviços públicos, como coleta de lixo, policiamento e acesso a ambulâncias.

A subprefeitura fará uma Inspeçâo na Júlio Otoni para analisar o projeto urbanístico do município mais adequado à comunidade.

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Crescimento livre de imposto

Jornal O Globo Zona Sul, Rodrigo March, 23 de novembro de 2006

Arrecadação de IPTU na Rocinha diminui 12% em cinco anos, mas favela não pára de se expandir

Mais de uma década após ganhar o status de bairro, em 1993, a Rocinha continua a margem do município. É o que revela a receita de IPTU da prefeitura. Dados do Sistema Integrado de Arrecadação Municipal (Siam) mostram que, de 2001 a 2005, a arrecadação do imposto na comunidade diminuiu 12% (passou de R$ 25.342 para R$ 22.520).

No mesmo período, a arrecadação na cidade cresceu 53%, inclusive, em todos os bairros da Zona Sul. Na Gávea, vizinha à favela, os esforços da prefeitura levaram a um aumento de 40% de receita no qüinquênio.

O imposto é corrigido anualmente pelo município. Mesmo assim, a arrecadação diminuiu na comunidade, que não pára de crescer. Entre 2000 e 2005, a favela teve uma expansão imobiliária da ordem de 30%, conforme O GLOBO publicou em fevereiro deste ano. Os dados são da própria União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR), a maior associação comunitária local.

Em 2005, a associação contabilizou 189 novos domicílios num registro infor O registro de imóvel na associação não é obrigatório, por isso, a taxa de crescimento real pode ser ainda maior.

O prefeito César Maia recebeu e-mail do GLOBO-Zona Sul indagando o motivo da queda de receita. Ele o repassou ao secretário municipal de Fazenda, Francisco de Almeida e Silva, que não o respondeu. A assessoria de imprensa da secretaria também foi avisada sobre o e-mail enviado ao secretário de Fazenda.

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Da nascente à foz: a degradação dos rios cariocas

Jornal O Globo, 20/11/2006

Da nascente à foz: a degradação dos rios cariocas

Selma Schmidt e Taís Mendes

Ao longo de poucos quilômetros, a natureza perde vida pela intervenção do homem. Um passeio pelos rios dos Macacos, Carioca e Maracanã, da nascente à foz, revelou a degradação desses cursos d'água, cristalinos no alto da Floresta da Tijuca. O processo de urbanização, a favelização, a ocupação de faixas marginais e o lançamento de esgoto e de lixo transformam em fontes de poluição as águas que, no passado, chegaram a abastecer a população carioca. Primeira fonte de abastecimento de água do Rio, em 1724, e considerado revigorante pelos índios tamoios, o Rio Carioca pouco guarda do seu passado. Ele nasce nas Paineiras e, poucos metros abaixo, sofre os efeitos da Favela dos Guararapes. Apesar da obra de saneamento feita pela Cedae, a favela continua crescendo e despejando lixo e esgoto no Carioca. O Carioca também sofre os efeitos de ocupações irregulares nas margens de seus afluentes. É o caso das comunidades Casarão e Vila da Imaculada Conceição, na Ladeira do Ascurra. Moradores da Imaculada Conceição garantem que a água já chega poluída na comunidade e responsabilizam os vizinhos do Casarão. A presença de um lixão, porém, mostra que a Imaculada Conceição também contribui para poluir o afluente, que se encontra com o Carioca no Largo do Boticário, no Cosme Velho. - Quando vim morar aqui, há 27 anos, a água era limpinha - conta o comerciante Alfredo Vieira de Freitas. De acordo com o engenheiro Carlos Alberto Ribeiro de Brito, da divisão de esgotos da Cedae, todas comunidades no entorno do Carioca e de seus afluentes receberam rede de esgoto, na década de 90. Na foz do Carioca, cheiro de esgoto é forte Apesar das obras de saneamento e, posteriormente, da construção de uma galeria de cintura, o cheiro forte de esgoto podia ser sentido na foz do Carioca, na Baía de Guanabara, na tarde de quinta-feira. Funcionários da Serla informaram que, desde a véspera, faltava o produto necessário para fazer o tratamento primário da água na estação construída no local. - Está faltando polímero, o produto mais caro. Estão usando cloro e cloreto de sódio, mas o polímero é que elimina a poluição da água - diz a vereadora Leila do Flamengo (PFL). Com nascente no Morro do Sumaré, o Rio dos Macacos acumula problemas, embora suas condições ambientais tenham melhorado, segundo o biólogo Mário Moscatelli, após a realização de obras de saneamento. O rio, que no século XIX era utilizado para transportar barris de pólvora da antiga fábrica do Jardim Botânico, enfrenta a ocupação de margens e assoreamento. Outro problema, de acordo com Jorge Castelhano, que mora há 45 anos no alto da Rua Pacheco Leão, é a tubulação de esgoto aparente e frágil: - Pedras e galhos acabam rompendo a tubulação de PVC e provocando vazamento. Para Moscatelli, um melhor gerenciamento do poder público poderia salvar os rios: - No caso do Rio dos Macacos, por exemplo, é preciso dragar, proteger a tubulação de esgoto e colocar alambrados para evitar a formação de lixões. A família de Márcia Guedes é uma das poucas que têm o privilégio de morar no trecho do Rio dos Macacos ainda despoluído. Há 22 anos, Márcia vive na primeira construção após a nascente e aproveita as águas límpidas do rio: - Temos uma piscina natural ao lado de casa. Já no alto da Rua Dona Castorina, no Riacho Pai Ricardo, que deságua próximo à nascente do Rio dos Macacos, a beleza de uma cachoeira atrai visitantes. Para ter acesso ao paraíso, é preciso seguir uma trilha íngreme por 15 minutos: - O lugar ficou parado no tempo - diz o motoboy Eduardo Guimarães. Para o presidente da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla), Ícaro Moreno Júnior, o crescimento desordenado em torno dos rios é o maior problema dos cursos d'água. Ele defende a implantação de um programa semelhante ao adotado na França. - Lá, foram assinados mais de cem "contratos de rio". São pactos firmados em cartório, entre as partes envolvidas. Isso tem dado certo. Talvez essa seja uma saída para tentar salvar os rios cariocas. As ações podem ser implementadas independentemente do governo vigente. Maracanã vira valão a céu aberto O Maracanã, que foi um dos importantes rios que circundavam a Tijuca, hoje parece um valão a céu aberto. Com nascente na Pedra do Conde, o rio revela cenários diferentes ao longo de seus 8,5 quilômetros. Junto à Estrada Velha da Tijuca, as águas ainda claras do rio transformam-se em barrentas a partir do Largo da Usina, onde tem início a sua canalização. O que se vê desse ponto em diante são inúmeros lançamentos de esgoto e lixo flutuante. A partir da Usina e até a sua foz, no Canal do Mangue, os problemas do Maracanã se agravam. O primeiro foco visível de poluição do rio é junto à Favela do Borel. - A favelização é o maior inimigo dos rios. A prefeitura não faz rede de esgoto nas comunidades sob a alegação de que esgoto é responsabilidade da Cedae. Essa não faz porque a ocupação irregular é problema da prefeitura. Então, não fazem nada e favela hoje é terra de ninguém - criticou Adacto Ottoni, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da Uerj. Após seguir toda a extensão da Avenida Maracanã, o rio encontrase com seu maior afluente, o Rio Joana, próximo ao estádio de futebol. É nesse ponto, segundo Paulo Canedo, presidente do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, que está a causa das enchentes na região: - O Joana tem mais volume de água e, ao se juntar com o Maracanã, causa inundações O problema é provocado pelas ligações clandestinas de esgoto que assoreiam o Joana.

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Moradia popular é a nova fronteira do setor imobiliário

Valor, Yan Boechat e Vanessa Adachi, 06 de dezembro de 2006

Ele é motorista de ônibus urbano e ela, auxiliar financeira em uma lojinha no Centro de São Paulo. Juliomar de Souza e Rosemeire Silva entraram na Super Casas Bahia na última quarta-feira de novembro em busca de um sofá novo, mas saíram de lá de mãos abanando. Em vez do móvel que iria decorar a sala do apartamento que alugam na periferia da cidade, compraram o seu apartamento próprio. E, claro, não puderam carregá-lo.

Juntos, ganham pouco menos de R$ 2,5 mil por mês. Compraram o apartamento no estande de uma construtora em apenas 40 minutos, sem pensar muito no valor da dívida que contrairiam. Fecharam o negócio porque as prestações mensais de apenas R$ 400 cabem no orçamento familiar. O fato de que pagarão o financiamento por um bom pedaço de suas vidas não lhes causou incômodo.

Até pouco tempo, Juliomar e Rosemeire estavam à margem do mercado imobiliário brasileiro, que se desenvolvia com base em projetos de alto e médio padrão. Agora, famílias de renda inferior a dez salários mínimos estão se transformando em clientes vips às avessas das construtoras e incorporadoras.

Companhias como Gafisa, Cyrela, Rossi e Company já começaram a desenvolver empreendimentos para baixa renda, imóveis com preço médio de R$ 60 mil.

Apesar desses projetos ainda representarem pouco no faturamento das empresas de grande porte, prometem ganhar cada vez mais espaço, na mesma velocidade com que o crédito imobiliário se expande e os subsídios começam a aparecer. "Teremos que ir em direção à base da pirâmide", diz Luiz Zanforlin, diretor de desenvolvimento da Company.

Essa guinada encontra explicação na expectativa geral de que haverá um explosão da indústria imobiliária brasileira, a exemplo do que aconteceu no México nos últimos cinco anos.

O Brasil tem um déficit habitacional de 7,8 milhões de residências, quase todo na base da pirâmide. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, 92% do déficit está concentrado em famílias com renda de até 5 salários mínimos (R$ 1,75 mil). Na faixa de até três salários mínimos estão 83% do déficit.

Conforme o país se aproxima do esperado grau de investimento, os juros já começam a cair, popularizando o acesso ao crédito imobiliário. Ao mesmo tempo, o governo elegeu a construção civil como um dos vetores do desejado crescimento nos próximos anos. Entre outros incentivos, o Ministério da Fazenda anunciou a intenção de subsidiar até dois terços das prestações para moradias populares.

O movimento rumo à base é gradual e começou por projetos para o que se convencionou chamar de classe média-média. Muitas incorporadoras, no entanto, se arriscam em empreendimentos pilotos em faixas ainda inferiores do mercado. A Company, que até o ano passado construía apartamentos com preço médio de R$ 1 milhão, se prepara para lançar um loteamento em Guaianazes, na Zona Leste de São Paulo, onde cada unidade custará R$ 30 mil.

Caminho semelhante pretende seguir a Gafisa. Após comprar por R$ 380 milhões a AlphaVille, a companhia quer utilizar a experiência da nova unidade para atacar a baixa renda. "Queremos criar uma nova marca para atuar especificamente no mercado popular", disse Wilson Amaral, presidente da Gafisa, ao anunciar a compra da AlphaVille, em outubro.

A Cyrela, que até pouco tempo só lançava imóveis acima de R$ 200 mil, migrou para uma faixa entre R$ 90 mil e R$ 140 mil. Mas a empresa optou por não fazer esse movimento sozinha. Para os projetos do chamado "mercado econômico", fechou uma "joint venture" com a construtora Plano & Plano, no início do ano. "O produto para segmentos de renda mais baixa é diferente, buscamos alguém que já sabe fazê-lo", diz Antonio Fernando Guedes, diretor de novos negócios da incorporadora.

A Cyrela, como todas as empresas que abriram o capital, sabe que não conseguirá entregar os resultados que esperam os investidores atuando apenas no alto padrão. "Quem foi à bolsa precisa ter um crescimento forte e tem que olhar novos mercados", diz. Para Guedes, o segmento de alto padrão não estancou, mas não tem demanda para gerar o crescimento pretendido pela companhia.

Por outro lado, empresas especializadas em obras comerciais e industriais, como a Matec, também pretendem entrar no mercado de baixa renda. "Quando os juros nominais atingirem um dígito vai haver uma explosão nesse segmento, e nós estaremos lá", diz Luiz Augusto Milano, presidente da Matec, sem detalhar os planos.

As grandes empresas do setor seguem os passos de outras menores que se especializaram antes nesse segmento. Passaram por maus bocados nesses anos de juros altos e escassez de crédito e agora se prepararam para crescer como nunca. "Andam me chamando de McDonald's da construção. Mas eu sou o Habib's, McDonald's é muito caro", diz Henrique Alves Pinto, presidente da Tenda, que nesse ano está construindo seis mil apartamentos a um preço médio de R$ 70 mil.

Mesmo caminho segue a mineira MRV, que esse ano deve erguer algo próximo a 10 mil apartamentos e casas com valores entre R$ 60 a R$ 120 mil. "Esse é um segmento diferente, é preciso ter escala", diz Eduardo Barreto, vice-presidente comercial da MRV.

Tanto a Tenda quanto a MRV também querem copiar as grandes empresas do mercado. As duas companhias já anunciaram que pretendem abrir o capital em 2007 a fim de ganhar musculatura para acompanhar o esperado crescimento do setor. "Estou dois anos à frente das grandes", diz Henrique, da Tenda.

As duas, no entanto, são exceção quando o assunto é preço. Mesmo empresas menores que atuam em uma faixa intermediária encontram dificuldades em reduzir o valor final dos imóveis para R$ 50 mil, R$ 60 mil. Juros de um dígito nas operações de financiamento imobiliário são uma pré-condição para a maior parte das empresas atingir as camadas populares.

Além disso, em São Paulo, o maior mercado, o preço dos terrenos é outro obstáculo. "Imóveis de R$ 75 mil é o mais baixo que conseguimos chegar no atual cenário", diz Milton Goldfarb. Cerca de 90% dos negócios da Goldfarb estão no segmento econômico, entre R$ 75 mil e R$ 90 mil.

A construtora Tricury, de São Paulo, já concentra 25% de seus negócios em apartamentos para famílias com renda em torno de R$ 3,5 mil. São imóveis entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. "Esse mercado está quente", diz Alexandre Barrionovo, gerente de incorporações da Tricury. Segundo o executivo, entretanto, não há planos de ir abaixo da marca de R$ 80 mil, por enquanto. "Para manter nossa margem, teríamos que ter mais escala nessa faixa e isso ainda não é possível."

É por isso que as grandes do setor ainda não mergulharam na baixa renda. "Está todo mundo fazendo planos de como entrar de forma mais agressiva", afirma Leonardo Diniz, diretor de novos projetos da Rossi Residencial. Se, de fato, se confirmarem as expectativas de crescimento econômico e, principalmente, de expansão da renda, há um consenso no mercado: os planos sairão imediatamente das gavetas.

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Grilagem de terras é crime sem punição nas Vargens

Jornal do Brasil, 14 de dezembro de 2006
 
URBANISMO: Condomínios clandestinos são fonte de renda para invasores
Karla Queiroz
Não é apenas o processo de favelização nas Vargens Grande e Pequena que preocupa moradores e ambientalistas, conforme noticiou ontem o JB Barra, na primeira de uma série de reportagens que prossegue hoje e amanhã. A proliferação de condomínios clandestinos, já denunciados pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) e por moradores, continua a desmatar a vegetação local.

- Na Estrada dos Bandeirantes, 9.514, em Camorim, um loteamento ilegal está destruindo a encosta do Maciço da Pedra Branca, de onde está sendo retirado saibro, sem licença. Agindo demoradamente, a prefeitura permite que os grileiros executem as obras e vendam as casas. Depois, o município alega que nada pode fazer, por se tratar de problema de interesse social. Enquanto isso, os condomínios ilegais se proliferam - destaca o arquiteto e conselheiro do Crea-RJ Canagé Vilhena.

Ele denuncia que o mesmo problema ocorre no número 27.300 da Estrada dos Bandeirantes.

- As secretarias de Meio Ambiente e de Urbanismo assistem a tudo sem tomar providências que impeçam efetivamente a prática de crime ambiental. Apenas embargam obras, colocam um papel colado no poste e vão embora, permitindo que quadrilhas de grileiros e loteadores clandestinos continuem desenhando uma nova paisagem para o entorno do Parque Estadual da Pedra Branca - diz.

Maria Lucia Massot, moradora do bairro há mais de 20 anos e fundadora da Associação de Moradores e Amigos do Recreio Virtual (Amaraciv), garante que as ilegalidades acontecem sob consentimento da prefeitura.

- É a própria prefeitura que está ajudando a aterrar os terrenos clandestinos. Os caminhões utilizados neste processo têm a logomarca do município, só não vê quem não quer. É uma degradação do meio ambiente. O que mais me revolta é que o prefeito Cesar Maia se elegeu com o discurso da ordem urbana e, na realidade, criou a desordem - ela reclama.

Canegé Vilhena destaca que, além dos terrenos clandestinos, outros crimes ambientais acontecem no bairro.

- Estão destruindo monumentos paisagísticos, como o Morro do Bruno e a Pedra do Calembá, com a anuência da prefeitura (Geo-Rio e Secretaria de Meio Ambiente) para exploração ilegal de saibro, e fazendo um aterro na Estrada Benvindo de Novais, 500.

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Sinduscon propõe ações de combate à favelização

Jornal do Commercio, Beatriz Nascimento, 18 de dezembro de 2006

Sindicato quer aumento da parcela de FGTS para construção de imóveis
 
Reeleito para a presidência do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio (Sinduscon) no triênio 2006/2009, o engenheiro Roberto Kauffmann propõe aumentar a parcela do FGTS destinada à construção de novos imóveis de 40% para 70% do total para combater a favelização. A intenção de Kauffmann é de que sejam investidos R$ 4,48 bilhões na produção de novas unidades em 2007, como forma de reduzir o déficit habitacional do Estado, que hoje é de mais de 711 mil unidades.

"Atualmente, a maior parte do uso do FGTS, 60% do total, vai para compra de imóveis usados e materiais de construção. Neste último caso, muitas pessoas usam os recursos para aumentar as casas ou construir lajes, o que é comum em áreas de favelas. Se houver aumento da verba destinada à compra de imóveis novos, é possível reduzir a expansão das casas irregulares no estado e no País. O governo precisa oferecer moradias de qualidade para reduzir a favelização", explica Kauffmann.

Segundo ele, o setor precisa crescer 10% em 2007 na comparação com 2006, e financiar R$ 10,5 bilhões, contra R$ 9,5 bilhões referentes a financiamentos em 2006. O número de unidades construídas no ano que vem deve ser de 130 mil, ante 120 mil em 2006. No estado do Rio, foram usados R$ 147 milhões referentes ao FGTS para a produção de 2.964 milhões de novos imóveis, o que representa 2,64% das moradias construídas no Brasil.

"O setor da construção civil é o que mais rapidamente pode enfrentar os graves problemas sociais como a redução do déficit habitacional das populações mais carentes, a universalização do saneamento básico e o reordenamento das cidades, com a conseqüente geração de empregos em todos os níveis de atividade relacionadas", avalia Kauffmann.

Parceria. De acordo com o presidente do Sinduscon, a solução para construir moradias para a faixa da população entre um e cinco salários mínimos é a parceria entre governos municipais, estaduais e o governo federal, além do uso da verba do FGTS, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e Banco Mundial. Para isso, os governos locais precisariam criar fundos de habitação de interesse social, que entrariam com a contrapartida à verba oferecida pela União.

Dos R$ 10 bilhões necessários para construir as moradias populares, R$ 5 bilhões precisam vir do governo federal, por meio do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), já criado pelo governo federal. A verba do fundo prevista para 2007, no entanto, não passa de R$ 460 milhões, segundo Roberto Kauffmann.

"Esse repasse precisa ser de verba não onerosa, tem que vir do Orçamento Geral da União. O FGTS é oneroso e não pode cobrir todo esse percentual. É preciso rever a dotação ou encontrar alternativas que viabilizem atingir, pelo menos, R$ 10 bilhões por ano para subsidiar essas famílias", avalia. Kauffmann apresentou o projeto-piloto de habitação popular sustentável, que prevê a construção de 100 mil moradias em cerca de dez vazios urbanos na Região Metropolitana do Estado. O estudo, desenvolvido em parceria com empresas do transporte ferroviário e metroviário, indica áreas vazias próximas a linhas férreas, o que facilitaria a locomoção dos moradores.

"O grande erro do passado foi o governo ter sugerido a construção de moradias populares em lugares de difícil acesso. Sem meio de transporte de massa, a população de baixa renda não tem como ir trabalhar e, por isso, acaba ficando nas favelas, mais próximas dos postos de trabalho. Construir casas baratas perto de linhas de trem e de estações de metrô é uma alternativa para reduzir o déficit habitacional do Estado", explica.

8 milhões de metros quadrados vazios no Estado

As áreas livres no Estado do Rio de Janeiro totalizam 8 milhões de metros quadrados. Alguns espaços, próximos à Avenida Brasil, são de domínio militar, e são usados para prática de esportes de integrantes da corporação. Outros são de donos particulares, mas estão vazios. Kauffmann propôs que a prefeitura e o governo estadual faça acordos de cessão desses espaços para utilizá-los na construção de casas populares.

"A construção civil pode contribuir muito com a elaboração de projetos simples e de qualidade para essas casas", afirma, acrescentando que se o Estado do Rio recebesse R$ 1,5 bilhão do FNHIS e da contrapartida do estado e dos municípios, seria possível construir 30 mil unidades populares ao ano.

Para o ministro das Cidades, Márcio Fortes, as propostas do presidente do Sinduscon correspondem ao interesse federal de atingir as metas internacionais de redução do déficit habitacional e investir em construções para moradores de baixa renda para deter a favelização. "Precisamos correr atrás desse déficit e reconhecer a necessidade de oferecer infra-estrutura habitacional para a parcela mais pobre da população", afirmou.

O futuro secretário de estado de Habitação, Noel de Carvalho, afirmou que considera válido o projeto, mas não deu garantias de que ele será adotado durante o governo de Sérgio Cabral. "A situação do Rio é grave, e a favelização é crescente. A solução apresentada pelo Roberto Kauffmann é plausível", avaliou.

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Ministério revê para 7,9 milhões de moradias o déficit habitacional

Valor,27 de dezembro de 2006

Nova contagem feita pelo Ministério das Cidades, com base em dados da Fundação João Pinheiro, de Belo Horizonte, eleva de 7,2 milhões para 7,9 milhões de moradias o déficit habitacional brasileiro. Comparando com o déficit de 2004, de 6,4 milhões de unidades, houve crescimento de 23,4%.

Segundo o diretor de Produção Habitacional da Secretaria Nacional de Habitação, do Ministério das Cidades, Daniel Nolasco, o fenômeno está relacionado com o crescimento vegetativo da população e, também, com a questão social. "O desemprego tem relação direta com isso. A pobreza, apesar da melhora do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no país, também está relacionada diretamente com o déficit habitacional", afirma ele. "Quando se tem um crescimento da população, fatalmente você precisa de mais casas."

De acordo com o último censo demográfico, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e relativo ao ano 2000, a população brasileira evoluiu 15,7% em relação ao censo anterior de 1991, passando de 146,8 milhões de habitantes para mais de 169 milhões. As projeções são de que haverá no país, em 2050, 259 milhões de habitantes.

Daniel Nolasco estima que é possível equacionar o déficit caso a população do Brasil se estabilize em torno de 200 milhões de pessoas. "Aí você começa também a estabilizar o déficit habitacional e ter uma queda no absoluto e não só no relativo. Comparando o déficit com a população total do país, ele vem caindo. Comparando com déficits passados, não. Vem até aumentando. No censo de 2000 (o déficit), era 6,6 milhões. Cresceu mais de 1 milhão", diz ele.

Nolasco informa que as ações em realização pelo ministério já permitiram entregar 1,6 milhão de casas, sendo mais de 300 mil este ano. Os investimentos em 2006 devem alcançar R$ 24 bilhões, "um recorde de investimento habitacional", salienta Nolasco. Mas nem todo esse montante de recursos visou atender à população de mais baixa renda, alerta ele.

Segundo Nolasco, 86% do déficit habitacional de 7,9 milhões de unidades é constituído por pessoas com renda até três salários mínimos. "Quanto mais alta a concentração, mais baixa a renda e, portanto, maior a dificuldade para adquirir a casa própria", explica.

Daniel Nolasco lembra que os R$ 24 bilhões registrados este ano englobam desde operações de mercado até recursos subsidiados e recursos financiados a juros mais baixos para a população com renda de até cinco salários mínimos.

Do total de R$ 14 bilhões de crédito imobiliário disponibilizado pela Caixa Econômica Federal este ano, apenas R$ 2 bilhões são aplicados com recursos próprios da instituição. Dos R$ 12 bilhões restantes, R$ 7,6 bilhões são recursos do FGTS, cerca de R$ 3,1 bilhões da poupança e R$ 1 bilhão do Orçamento Geral da União (OGU). O restante dos recursos diz respeito ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), do Ministério das Cidades, que prevê o pagamento de aluguel pelo comprador da casa própria por um período de cerca de 15 anos, ao fim do qual ele se torna proprietário do imóvel.

Segundo Nolasco, o Ministério das Cidades pleiteia junto ao Ministério da Fazenda e à Casa Civil da Presidência da República a ampliação dos recursos disponíveis para aplicação a fundo perdido para a habitação de interesse social em 2007. Trata-se de recursos subsidiados para atender à população com renda familiar de até três salários mínimos. "Queremos obter mais de R$ 1 bilhão", disse.

 

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