Reportagens 2007

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Reportagens 20071

"Moça, no morro ninguém tem sonhos"
Edna Ezequiel (moradora do morro dos Macacos e mãe de Alana, 12 anos, morta por bala perdida, em 05/03/07)

Reportagens ( 11ª parte)

Reportagens 2007

Tópico 1  Medida para combater o déficit de moradias

Tópico 2  Déficit de 711 mil moradias

Tópico 3  FGTS irá para habitação Popular

Tópico 4  Serão erguidos entre 250 e 400 apartamentos

Tópico 5   Baixa renda terá ajuda para comprar casa própria

Tópico 6  CBIC defende mais verbas para habitação popular

Tópico 7  1.564 casas para começar

Tópico 8  Manifestação contra ameaça de remoção em Jacarepaguá

Tópico 9 Conter a favelização custaria 5% do PIB por dez anos, diz Jaguaribe

Tópico 10 Violência restringe direitos de cidadãos

Tópico 11 Campanha do imóvel

Tópico 12 Lei pode regularizar 12 milhões de moradias

Tópico 13 Habitação é um problema global

Tópico 14 Manifestação contra ameaça de remoção em Jacarepaguá

Tópico 15 Show às avessas

Tópico 16 Um apêndice da Rocinha nas barbas da prefeitura

Tópico 17 R$ 9 milhões

Tópico 18 Arco Metropolitano: ocupação desordenada preocupa empresários

Tópico 19 Favelização

Tópico 20 CPI vai apurar crescimento de favelas

Tópico 21 Fazenda socorre obras do Favela-Bairro

Tópico 22 Dez mil casas populares à vista

Tópico 23  Alemão: faltam policiais para vencer o tráfico - O Globo Online

Tópico 24 Leme sofre com a desvalorização

Tópico 25 Uma nova Rocinha em 40 anos

 Tópico 26 Ilegalidade oficial na Rocinha

Voltar ao Topo       TÓPICO 1

Medida para combater o déficit de moradias

Jornal do Commercio, Ana Carolina Diniz, 17 de janeiro de 2007

Secretário propõe a prefeitos a isenção do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis
 
O déficit estimado de moradias no estado do Rio é de 800 mil, principalmente da população de baixa renda, segundo estudo da secretaria de Habitação. Para combater o problema, o secretário da pasta, Noel de Carvalho propôs aos prefeitos fluminenses a isenção da cobrança do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), que representa 2% do valor da casa, e do IPTU (durante o período de financiamento), além de não haver cobrança do Imposto sobre Serviços (ISS) durante o período de obra.

Em contrapartida, o secretário vai negociar com o governador Sérgio Cabral a isenção ou a desoneração da cobrança de 4% de Imposto Sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Qualquer Bem ou Direito (ITD). Carvalho e Cabral participaram do I Encontro Estadual de Habitação, que contou com a presença do ministro das Cidades, Márcio Fortes, e de prefeitos. No evento, o governo estadual aderiu ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e Cabral assinou acordo de cooperação técnica com o ministério.

O secretário também pediu que as prefeituras criem fundos de habitação, com assessoria de técnicos do governo do estado. "A União, por exemplo, tem 1 milhão de imóveis no Rio que podem ser passados para o estado a custo zero", afirmou Carvalho, dizendo que apenas 10% destes locais estão cadastrados e regularizados.

Rocinha. Cabral afirmou que o governo federal vai reeditar a Medida Provisória que prevê o repasse de R$ 60 milhões a serem investidos na Rocinha. Segundo ele, o estado vai dar contrapartida de R$ 12 milhões para o projeto. "Falei com a ministra Dilma Rouseff (Casa Civil) ontem (segunda-feira) e a ministra está preparando a medida provisória para ser publicada e em seguida já começamos a trabalhar", disse. O recurso destina-se a melhorias no acesso ao local, a partir de projeto urbanístico formulado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil. O projeto prevê melhorias em ruas e cercas para evitar a expansão da favela, que tem população estimada em 100 mil pessoas.

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Déficit de 711 mil moradias

Jornal do Brasil, 28 de janeiro de 2007

O Rio é responsável por 10% de todo o déficit habitacional do país. Pessoas que moram em favelas ou em áreas de risco somam pelo menos 711 mil pessoas de acordo com os números oficiais do IBGE. No país, a dfra chega a sete milhões. O sindicato da Construção Civil, com apoio da Federação das Indústrias do Estado (Firjan) já apresentou projeto para a construção de 200 pequenos bairros em áreas ociosas da Região Metropolitana. O objetivo é oferecer financiamento para a compra da casa própria com a ajuda do governo. Nas contas do Sinduscon, pelo menos 100 mil unidades poderiam ser construídas próximas a estações de trem em Deodoro, Senador Camará, Santíssimo, Santa Cruz, Belfordroxo  Japeri, Queimados, Austin, Gramacho.

Um pequeno bairro teria até 500 apartamentos, cada um com 46 m2.

Estudos mostram que 60% alugam casas em favelas. O objetivo é que usem esse dinheiro para pagar pela casa própria diz Roberto Kauffrnann, presidente do Sinduscon e do conselho empresarial da indústria da construção da Firjan. As prestações partiriam de R$ 17. E o sonho da casa própria para quem ganha até cinco salários mínimos.

O governo federal chegou a anunciar R$ 10,4 bilhões para ampliar o número de mora¬dias no país de acordo com o Plano de Aceleração de Crescimento (PAC). De última hora, entretanto, boa parte do investimento foi retirada

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FGTS irá para habitação Popular

Folha de São Paulo, 27 de janeiro de 2007

Mesmo sem ter incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) a transferência dos recursos arrecadados com a multa extra de 10% paga por empresários que demitem sem justa causa ao FGTS para financiar programas na área de habitação, o governo irá utilizar o dinheiro para esse fim. De acordo com o que informou à Folha o ministro Guido Mantega (Fazenda), o R$ 1,4 bilhão que o FGTS recebe anualmente com a cobrança dessa multa extra servirá para engordar o orçamento de um programa já existente que subsidia a compra da casa própria para famílias que ganham até cinco salários mínimos.

O aumento da verba prevista para o programa para este ano de R$ 1,2 bilhão para R$ 2,6 bilhões deverá ser aprovado na próxima reunião do Conselho Curador do FGTS.

Com isso, o governo tentará se livrar da polêmica gerada com o empresariado sem abrir mão dos recursos.

Desde que anunciou, no ano passado, que pretendia manter a cobrança da multa, que foi criada em 2001 para pagar perdas dos trabalhadores com os planos Verão e Collor l, a equipe econômica tem se enfrentado com os empresários, que queriam que ela fosse extinta.Isso porque o governo encerrou o pagamento da dívida com os trabalhadores que havia sido parcelada. O último lote foi pago este mês.

Conforme antecipou a Folha, o problema é que a lei que criou a multa não previu a sua extinção. Com isso, o governo quer manter a contribuição para reforçar o caixa e financiar parte do PAC. Os empresários exigem que, nesse caso, pelo menos a multa seja reduzida de 10% do valor do saldo na conta do trabalho na hora em que ele é demitido para 5%.

"Não tenho simpatia pela redução", afirmou Mantega, ontem à Folha, antes de embarcar da Suíça para o Reino Unido, onde participa de uma série de encontros com investidores internacionais. Segundo o ministro, o governo "precisa de recursos para aumentar o total destinado a subsídios para moradia e a lei [que instituiu a multa] ainda está em vigor". Como o dinheiro entra no caixa do FGTS e não é carimbado, Mantega explicou que basta o Conselho Curador do Fundo aprovar o aumento da verba para esse programa.

Dessa forma, o governo se livra do risco de enviar um pro-jeto de lei ou uma MP para o Congresso Nacional e os congressistas reduzirem o percentual da multa.

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Serão erguidos entre 250 e 400 apartamentos

Jornal O Globo, Daniel Engelbrecht , 29 de janeiro de 2007

A proposta da Emop, numa primeira fase, é criar na localidade conhecida como Cidade Nova, no centro da Rocinha, uma área exemplar, de 5,6 hectares, onde seriam construídos uma creche, uma unidade préhospitalar e prédios, totalizando entre 250 e 400 apartamentos de um, dois e três quartos. 
Esses edifícios seriam usados para abrigar moradores que precisassem ser realocados em virtude do alargamento da Rua 4 e da abertura de uma nova via para carros, que seria chamada Rua 2 (continuação da Rua do Valão).
 
A abertura e o alargamento dessas vias, que passam pelo coração da Rocinha, são importantes para melhorar a prestação de serviços e o acesso dos turistas  diz Moreno. 
A primeira fase da urbanização englobaria ainda a construção de uma fábrica de prémoldados, do chamado arco viário e de um centro esportivo, ao lado do Ciep Ayrton Senna, na Auto-Estrada LagoaBarra, todos seguindo a linha ecologicamente correta. Uma "praçarela" (mistura de passarela com praça) faria a ligação com a Via Ápia. Junto ao centro, funcionaria ainda uma segunda creche e uma cooperativa de catadores.

'Queremos trazer a cidade para dentro da Rocinha'

Segundo o presidente da Emop, nenhum morador será removido da comunidade por causa da urbanização. A declaração tem por objetivo tranqüilizar a população, inquieta com tantas novidades. O presidente da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR), William de Oliveira, lembra que todas as idéias vão ser discutidas em reuniões e seminários na própria Rocinha. 
Serão elaborados uma base de mapas e um censo comunitário para orientar as obras.
 
Queremos trazer a cidade para dentro da Rocinha e ser um exemplo. Por isso, tem que ser tudo do melhor. Vamos dialogar e, se os moradores acharem que podem confiar, tenho certeza de que tudo que está sendo planejado vai acontecer e a qualidade de vida vai melhorar  diz Oliveira.

O arquiteto Luiz Cláudio Toledo, do escritório Mayerhoffer & Toledo  vencedor do concurso promovido pelo estado para escolher o plano de reurbanização da Rocinha acredita que uma versão definitiva do Plano Diretor só fique pronta no final do ano. As obras consideradas essenciais, como os prédios de apartamentos, a fábrica de pré-moldados e a unidade pré-hospitalar, no entanto, poderiam começar já no segundo semestre, de acordo com ele.
 
Dependemos apenas da assinatura do contrato com o governo para iniciar os projetos executivos  destaca.
 
Um total de R$ 72 milhões, sendo R$ 60 milhões do governo federal e R$ 12 milhões do estadual, já está reservado para as obras.

Prédios ecologicamente corretos na Rocinha

Responsável pelas obras de urbanização que prometem mudar a cara da Rocinha, a Empresa de Obras Públicas (Emop), do governo do estado, pretende adotar o conceito de green building , ou construção sustentável, nas obras que vierem a ser realizadas na favela. Nascido nos Estados Unidos ena Europa, na década de 70, o conceito abrange maneiras de construir com o menor impacto ambiental possível e com maiores ganhos sociais. Como O GLOBO noticiou ontem, a Rocinha deverá também ganhar um plano para ter seu potencial turístico explorado de forma organizada. As propostas em estudo incluem a criação de um corredor cultural, destacando, por exemplo, imóveis de interesse histórico.
 
Entre as técnicas que deverão ser aplicadas nos prédios na Rocinha estão a captação de água da chuva, a instalação de painéis de energia solar, o uso de materiais recicláveis e a construção de telhados verdes. Entre as técnicas que deverão ser aplicadas nos prédios na Rocinha estão a captação de água da chuva, a instalação de painéis de energia solar, o uso de materiais recicláveis e a construção de telhados verdes.
 
Segundo o presidente da Emop, Ícaro Moreno, o conceito será aplicado em todos os prédios que vierem a ser erguidos nas obras previstas no Plano Diretor Participativo, que está em discussão. Para orientar o trabalho, foi criada uma Divisão de Novas Tecnologias na Emop.
 
As vantagens de se adotarem essas técnicas são muitas, incluindo a diminuição nos custos de manutenção. Aágua da chuva pode ser utilizada, por exemplo, no esgotamento sanitário, barateando a conta de água. Já o telhado com plantas não deixa os prédios esquentarem tanto, diminuindo o uso de ar-condicionado  exemplifica Moreno.

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Baixa renda terá ajuda para comprar casa própria

Extra, Maria Fernanda Blaser, 28 de janeiro de 2007

O subsídio maior para a baixa renda realizar o sonho da casa própria deve ser anunciado nas próximas semanas pelo governo federal. Representantes do Ministério da Fazenda vão se reunir, nos próximos dias, com os bancos privados e a Caixa Econômica Federal. O objetivo é discutir como a compra do imóvel será subsidiada para os mutuários de menor renda.

A idéia inicial do governo era abater dois terços da dívida do mutuário com renda de até cinco salários mínimos (R$ 1.750), mas a proposta está praticamente descartada.

- Esta forma de subsídio não deu certo no passado. Isso porque os mutuários vendiam os imóveis financiados e nem sempre os compradores tinham direito ao subsídio - explica o diretor geral da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Osvaldo Correa Fonseca.

Mais mutuários

O novo subsídio poderá ser implantado na forma de desconto, e com isso poderá ser ampliado para mutuários que ganham até dez salários mínimos (R$ 3.500):

- É possível, por exemplo, dar desconto para quem paga a parcela em dia.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia anunciado no ano passado que a compra da casa subsidiada seria incluída no Pacote de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado na última segunda-feira pelo presidente Lula.

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CBIC defende mais verbas para habitação popular

CBIC, 19/janeiro/2007

Em evento realizado no dia 15 de março, em Brasília, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), representada pela grande maioria do seu Conselho de Administração e de vários empresários do setor, recebeu, para um café da manhã, 76 parlamentares federais de todos os partidos políticos e de todas as regiões do país.

Na ocasião, o presidente da CBIC, Paulo Safady Simão, fez uma breve apresentação da entidade e transmitiu aos senhores senadores e deputados federais presentes posição do setor a respeito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), recentemente lançado pelo governo federal.

Paulo Simão ressaltou o caráter desenvolvimentista do PAC, um plano de obras muito bem organizado, que foi criado a partir de critérios muito corretos, que privilegiaram a retomada de obras paralisadas, a recuperação do patrimônio destruído, o retorno econômico e social para o país e a sinergia entre projetos.

A CBIC também vê no lançamento do PAC a decisão correta do governo em priorizar, neste segundo mandato, uma política econômica e social que fortaleça o mercado interno com melhoria do ambiente de negócios, ênfase nos investimentos em infra-estrutura, principalmente por meio da iniciativa privada e das empresas estatais e preocupação com a boa gestão do programa.

Dois pontos específicos do PAC foram ressaltados na apresentação da CBIC - a habitação popular e a revisão da Lei 8666/93, que orienta os processos licitatórios no país.

O presidente Paulo Simão deixou claro que a verba destinada pelo PAC para a construção de novas moradias populares é absolutamente insuficiente para as metas ali traçadas, ou seja, a construção de quatro milhões de unidades. Na realidade, ficou demonstrado que, mesmo para uma meta mais modesta - 1,6 milhão de novas unidades -, ainda faltariam R$ 19 bilhões. Esta meta de 400 mil novas moradias por ano foi estabelecida no trabalho elaborado pela União Nacional da Construção (UNC), em conjunto com a FGV, e apresentado ao Presidente da República em dezembro de 2006.

Dentro dessa realidade, a CBIC solicitou aos parlamentares presentes que avaliassem com profundidade a possibilidade de rejeitar a MP 349, que retira recursos do FGTS para obras de infra-estrutura, quando, na realidade, o programa de habitação popular, finalidade primeira do fundo, ainda está longe de ser cumprido.

Ainda sobre o tema, a CBIC defendeu a alocação de R$ 300 milhões no Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), recursos esses que alavancariam R$ 2 bilhões adicionais do FGTS e permitiriam a contratação imediata de mais 63 mil novas unidades em projetos do Programa de Arrendamento Residencial (PAR). Atualmente encontram-se aprovados na Caixa, sem alocação de verba, R$ 1,2 bilhão em projetos, além de mais de outros R$ 800 milhões em processo de aprovação. Os R$ 300 milhões defendidos pela CBIC sairiam da verba de subsídio de R$ 2 bilhões/ano, estabelecida pelo governo no PAC, para apoiar os programas de habitação.

Em relação ao projeto que propõe mudanças na Lei 8.666/93, o presidente da CBIC chamou a atenção dos parlamentares para os riscos que o contratante público corre ao utilizar a inversão de fase e a modalidade de pregão nas licitações que envolvem obras públicas, ou mesmo serviços de engenharia considerados comuns, o que poderá levar ao comprometimento da segurança e da qualidade das obras.

Até mesmo a agilidade que se busca com a introdução dos novos instrumentos poderá não se confirmar, pois esse procedimento prejudica a isenção do administrador público ao analisar a documentação técnica e financeira do eventual vencedor da primeira fase. A CBIC entende que o mais adequado seria que a Lei 8.666/93 fosse analisada em seu todo, num prazo compatível com a complexidade do tema.

Ao final do evento, foi distribuído farto material para todos os presentes, contendo em detalhes as informações e posições da CBIC apresentadas no evento.

Para acessar o material distribuído no evento, clique nos links abaixo:

Regime Especial Tributário para Habitação de Interesse Social

Porque rejeitar a Medida Provisória 349

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)

Avaliação e Posicionamento da CBIC - O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a Habitação de Interesse Social (HIS)

PL 7.709/2007, que altera dispositivos da Lei nº 8.666/93, de Licitações e Contratos Públicos

Alguns posicionamentos e projetos de interesse do setor da construção

 

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1.564 casas para começar

Jornal O Dia,Cristina Campos, 21/mar

O governo do estado lança oficialmente amanhã, na Central do Brasil, a campanha habitacional com a oferta inicial de 1.564 unidades em cinco municípios. Entre eles está o de São Gonçalo, com 500 imóveis, pelo Programa de Arrendamento Residencial (PAR). A parcela será de R$ 263,87. No valor já está incluído o condomínio.

Em Mesquita outra cidade beneficiada, serão 264 unidades, com prestações de apenas R$ 247,78. O restante das moradias será distribuído entre Campos, Teresópolis e Município do Rio.

Segundo o vice-presidente da Cehab (Companhia Estadual de Habitação), Maurício Nascimento, os empreendimentos de São Gonçalo e Mesquita vão beneficiar famílias com renda que varia entre R$ 880 e R$ 1.200.

BANCO DE DADOS

A campanha favorece a servidores públicos estaduais, mas também é aberta à população em geral. O estado quer captar a demanda para construir as moradias. Por isso, conforme O DIA antecipou com exclusividade em janeiro, está cadastrando interessados pelo site www.cehab.rj.gov.br/demanda. O modelo já é usado com sucesso pela Prefeitura do Rio. Mais informações pelo telefone (21) 2299-3355.

A idéia é descobrir em qual tipo de moradia os servidores e a população em geral estão interessados. Segundo o secretário de Habitação, Noel de Carvalho, haverá um banco de dados detalhado com toda a demanda cadastrada. Estão sendo distribuídos 20 mil cartazes pelo estado, e os mais de 460 mil servidores receberam no último contracheque o aviso da campanha.

O governo vai disponibilizar linhas de financiamento da Caixa Econômica Federal aos interessados. Na maioria delas, é possível usar saldos do Fundo de Garantia para dar entrada nos financiamentos. Para funcionários públicos, o uso do FGTS de mulheres e maridos também é liberado. Segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio, déficit habitacional no estado chega a 700 mil unidades.

Caixa vai socorrer Morar Feliz

O governador Sérgio Cabral anunciou que 4 mil casas populares que estão inacabadas serão concluídas pelo governo do estado, com recursos da Caixa Econômica Federal. A construção das habitações, destinadas para famílias com renda máxima de R$ 300, começou na gestão Rosinha Garotinho.
O banco destinará R$ 40 milhões para acabar os projetos, que fazem parte dos programas Morar Feliz  que oferecia casas a R$ 1 , Padem e Habitar Brasil. Não serão cobradas prestações.

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Manifestação contra ameaça de remoção em Jacarepaguá

Jornal do Commercio, Felipe Werneck ,28/mar

A ameaça de remoção levou ao asfalto cerca de 200 moradores de favelas próximas à Vila Pan-Americana, em Jacarepaguá, onde ficarão instalados os atletas dos jogos, em julho. A presença de policiais militares foi ostensiva e a manifestação, pacífica. A prefeitura pretende remover cerca de 500 casas da favela do Canal do Anil, que fica ao lado da Vila do Pan. O protesto durou cerca de duas horas.

Os manifestantes saíram da favela carregando faixas e caminharam pela Avenida Ayrton Senna até a entrada dos 17 prédios da vila, que têm 1.480 apartamentos vazios. Eles fecharam por alguns minutos a pista no sentido Barra da Tijuca-Linha Amarela, mas não houve tumulto. Um morador segurava a faixa "Pan para os ricos. Rua para os pobres".

Maria de Lourdes Gomes da Silva, de 55 anos, disse que recebeu proposta de indenização da prefeitura pela casa onde mora, no valor de R$ 6,2 mil, mas recusou. "Onde vou comprar uma casa com isso? Aqui não é área de risco, como eles dizem, é área para botar os ricos", declarou.

Os moradores prometeram repetir o protesto. "Essa obra da vila foi feita com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), mas as unidades foram vendidas para a classe média alta e eles querem aproveitar para fazer uma limpeza social. É pressão sobre os mais pobres. Essa política de exclusão é que gera violência", disse Roberto Maggessi, do Conselho Popular, que acompanhou o protesto.

Em nota, a prefeitura afirmou que as famílias serão indenizadas com recursos do governo federal, no valor de R$ 3 milhões. "Os moradores (...) estão sendo chamados para conversar com técnicos que prestam esclarecimentos sobre a área ocupada. O local é considerado de risco, com terreno instável, sujeito a inundações. É proibida a construção de moradias na área."

O vice-presidente da Federação das Favelas do Rio, José Nerson de Oliveira, afirma possuir laudos "comprovando que a área não é de risco". Mas ele já admite a possibilidade de mudança, desde que seja para um local próximo, de qualidade e com apartamentos de no mínimo 42 metros quadrados. "Não queremos remoção, mas um reassentamento digno", declarou. Segundo ele, a comunidade surgiu a partir de uma antiga colônia de pescadores, há 50 anos, e estão cadastradas 542 famílias.

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Conter a favelização custaria 5% do PIB por dez anos, diz Jaguaribe

Jornal do Commercio,Victor Velasco,30/mar

Investimentos de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) durante dez anos conteriam o processo de favelização no Brasil, que hoje tem um déficit de 10 milhões de moradias, segundo cálculos do acadêmico Hélio Jaguaribe. A realidade em que vive um terço da população brasileira distribuído em 16,5 mil favelas em todo o País foi tema do seminário Brasil, brasis, que reuniu líderes comunitários, músicos do Afroreggae e cerca de 180 participantes no salão nobre Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras (ABL), na última quinta-feira.

Para o presidente da ABL, Marcos Vilaça, a exploração do petróleo no Rio de Janeiro gerou riqueza, o que ajudou no desenvolvimento de algumas regiões, sobretudo nas grandes metrópoles. "Essa atividade, no entanto, acarreta num processo de atrair trabalhadores em função da promessa de riquezas, o que contribui para a favelização", disse, durante a primeira palestra do ano promovida pela ABL e intitulada "A favelização, fenômeno das grandes cidades".

Uma das palestrantes, a socióloga e vereadora Aspásia Camargo, destacou a ocupação irregular de terrenos públicos e de propriedade privada, que chega a um milhão de lotes somente na capital. "Hoje, no Rio de Janeiro, existe uma fuga de camadas da população mais carentes para imóveis desativados, como nos situados às margens da Avenida Brasil e em outras áreas do interior. As favelas estão entranhadas em todos os bairros, e não isoladas na periferia como acontece em São Paulo", disse.

Para o arquiteto Jorge Wilheim a queda do poder aquisitivo da classe média estimula a ida para áreas carentes. "Esse fenômeno torna-se um dispositivo para o distanciamento entre ricos e pobres. A solução deve ser vir da integração entre o poder público e toda a sociedade civil". Segundo o urbanista, a ausência do estado pode ser notada na falta de cadastramento de ruas das favelas. "Sem endereço, as pessoas deixam de ser cidadãs", ressaltou.

O escritor Paulo Lins, autor da obra "Cidade de Deus", livro que inspirou o filme homônimo dirigido por Fernando Meirelles, explicou que o surgimento das favelas está ligado a questões como a falta do estado no provimento de necessidades básicas como educação e moradia.

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Violência restringe direitos de cidadãos

Serviços de entrega deixam de ser feitos a moradores de dezenas de ruas próximas a favelas
Carol Medeiros

Rio - Cerca de 60 ruas, praças e largos em 43 bairros do Rio, São Gonçalo e Niterói — nas proximidades de favelas dominadas por bandidos — foram classificados como áreas de risco por funcionários de empresas com serviço de entregas a domicílio, segundo levantamento feito por O DIA.

Os locais são riscados do mapa por carteiros, motoboys e até taxistas, que não querem se arriscar numa viagem a lugares onde a ocorrência de assaltos, seqüestros-relâmpago e tiroteios é constante. Assim, quem vive no ‘asfalto’ também começa a experimentar mazelas que moradores das comunidades já conhecem.

E foi exatamente o que aconteceu com o designer Cláudio de Souza Novaes, 45 anos. Ele esperava por um Sedex com exames de ressonância magnética que chegariam para ele e a mulher em seu apartamento, no Grajaú, mas foi surpreendido pela notificação da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) para que retirasse a encomenda na agência Cidade Nova, no Centro.

"A alegação para não terem feito a entrega foi: área de risco", conta. A Rua Alfredo Pujol, onde mora, dá acesso ao Morro da Divinéia, mas, segundo ele, isso nunca foi empecilho para que recebesse contas ou uma refeição pedida por telefone.
"Outra moradora do Grajaú também estava reclamando do não recebimento de um malote, mas ela morava na Engenheiro Richard, rua nobre. Então, o Grajaú inteiro se transformou em área de risco e, de agora em diante, não receberei mais nada em casa?", questiona.

A ECT informou que a interrupção de entregas na rua de Cláudio foi motivada por um tiroteio dias antes. A empresa não soube dizer quando as entregas seriam normalizadas.
Assaltos, humilhação e até surras

Carteiros e motoristas da ECT confirmam que a Alfredo Pujol não é o único local onde caixas de Sedex não são levadas. Sem querer se identificar, contam que são alvos constantes da violência. "Quando é área de risco ou tem conflito, o cliente fica sem receber. É como quando há um temporal e fica tudo alagado", admitiu um funcionário do Centro de Distribuição Domiciliar (CDD) Camará.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, há cerca de 10 assaltos a veículos, agências e carteiros todos os dias. "O trabalhador fica à mercê dos bandidos. Já teve motorista espancado e carteiro deixado sem roupa. Alguns têm se recusado a ir nesses pontos. Eles temem pela própria vida", alega o diretor jurídico do sindicato, Marcos Santaguida.

PM PEDE AJUDA DE VÍTIMAS

O relações-públicas da PM, tenente-coronel Rogério Seabra, reconheceu a existência de áreas de risco fora das favelas. Segundo ele, os batalhões priorizam o policiamento de regiões críticas. “Mas o crime migra, principalmente quando é acuado pela polícia”, afirma. “Colocar uma viatura em cada uma dessas ruas não resolve. Precisamos que o cidadão e as empresas nos ajudem, fazendo denúncias. Com base nelas, que podem ser fornecidas anonimamente ao Disque-Denúncia (2253-1177), a PM pode fazer planejamento”, diz.
 
Uma das categorias profissionais mais expostas é a dos taxistas. Com 15 anos de profissão, Paulo Nobre recusa viagens: “Já levaram até cadáver no meu táxi. Por isso, evito muitos lugares. Se um passageiro me pede para ir a Santa Teresa ou Santíssimo, peço desculpas e digo que não posso”.

“Observamos uma diluição da diferença entre favela e não-favela. As ruas de acesso e entornos são considerados extensão da favela e seus moradores sofrem exclusão: não podem sair e chegar quando querem, não conseguem receber encomendas, além de os preços de imóveis se tornarem inferiores ao valor real. É um escândalo que o cidadão, seja da favela ou do asfalto, não tenha direito a serviços”, opina o sociólogo Ignácio Cano, da Uerj.

Loja tem lista de ruas proibidas

Rede de supermercados oferece entregas a domicílio em suas filiais da Tijuca e Maracanã. Mas ao lado do balcão da Tijuca, há relação de 33 ruas ‘proibidas’. Funcionária explica: “É área de risco. Já tivemos mais de 10 Kombis roubadas e motorista feito refém”.

 “O que fazer? Não é pela mercadoria, que o supermercado cobre, ou pelo veículo, que tem seguro, mas é pela vida dos funcionários que estamos zelando”, alega o supervisor.
Entregadores já ficaram encurralados na Rua dos Araújos, na Tijuca, num tiroteio. A empresa teve também Kombi alvejada na Senador Nabuco, em Vila Isabel.

“Se houver muitos assaltos na mesma rua, avisamos à central e eles não aceitam pedidos do lugar”, disse Marcelo Moura, motoboy.

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Campanha do imóvel

Jornal O Dia,25 de fevereiro de 2007

A Secretaria Estadual de Habitação vai lançar campanha para reduzir o déficit habitacional no estado. A idéia é descobrir em qual tipo de moradia os servidores e a população em geral estão interessados. Segundo o secretário de Habitação, Noel de Carvalho, haverá um banco de dados igual ao da Prefeitura do Rio. Serão distribuídos 20 mil cartazes pelo estado, e os mais de 460 mil servidores vão receber no contracheque o aviso da campanha. Os interessados poderão participar se inscrevendo pela Internet ou pelo telefone da ouvidoria da Cehab (Companhia Estadual de Habitação) 2299-3355. Além dos postos de atendimento espalhados pelo estado. O governo pretende disponibilizar as linhas de financiamento da Caixa Econômica Federal para os interessados.

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Lei pode regularizar 12 milhões de moradias

Valor,Mônica Izaguirre, 27 de fevereiro

A reforma da legislação sobre parcelamento do solo urbano, cuja discussão acaba de ser retomada pela Câmara dos Deputados, vai permitir às prefeituras e governos estaduais promover uma ampla regularização fundiária no país. A expectativa do governo federal é que 12 milhões de domicílios sejam regularizados, trazendo para a economia formal cerca de R$ 120 bilhões em ativos imobiliários.

Raquel Rolnik, secretária de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, explica que o Brasil ainda não tem um marco regulatório que possibilite legalizar ocupações irregulares, nem mesmo quando de interesse público. "O problema é que as leis existentes não dialogam umas com as outras." Se forem observados, ao mesmo tempo, o Código Civil, a atual lei de parcelamento de solo, a lei de registros públicos e a legislação ambiental, "não se consegue regularizar nunca", afirma Raquel. "Então é preciso criar uma condição especial para a regularização."

É justamente a isso que se dedica boa parte do projeto de lei 20/2007, do deputado Fernando Chucre (PSDB-SP), cópia fiel do texto deixado pelo ex-deputado Barbosa Neto (PSB-GO), ao relatar, em comissão especial, na legislatura passada, o projeto 3.057/2000, apresentado originalmente pelo também ex-deputado Bispo Wanderval (PL-SP). Como o autor original não voltou à Câmara, o substitutivo do 3.057, arquivado por falta de votação, não podia ser desarquivado. Daí a decisão de Chucre de encampar a proposta.

Para facilitar a regularização de favelas e outras áreas de interesse social, o projeto flexibiliza o tamanho mínimo de lote. Pela atual legislação, não pode haver lote urbano inferior a 150 m². Se o projeto passar, dependendo do caso, esse limite pode cair para 100 m², se assim for decidido pelo município. Uma vez aprovada a nova lei federal, caberá a cada município aprovar lei local estabelecendo critérios para regularização de áreas localizadas em seus territórios.

Ocupações que não forem consideradas de interesse social também poderão ser regularizadas. A diferença é que regularizações de interesse específico implicarão custos para os interessados, já que o poder público será obrigado a exigir alguma compensação. Em Brasília, por exemplo, há muitos condomínios irregulares de classe média, parte por ter parcelado terra privada sem autorização e parte por ocupar terra pública.

Os títulos de propriedade que resultarem dos processos de regularização poderão ser comercializados. Em função disso, a expectativa é de que haja aquecimento do mercado de compra e venda de imóveis populares. Raquel reconhece que proibir a venda dos imóveis regularizados só geraria novas situações irregulares, já que não se conseguiria impedir a comercialização informal.

A secretária do Ministério das Cidades destaca que a regularização "representará impacto econômico tremendo". Ao trazer esses ativos para a formalidade, os donos poderão utilizá-los como garantia para tomar empréstimos, inclusive para viabilizar pequenos negócios, diz Raquel.

O Ministério das Cidades defende alterações pontuais no projeto de Chucre. Uma delas é tornar gratuito o primeiro registro dos imóveis que forem regularizados com base na nova lei, em caso de interesse social. O projeto prevê só desconto. Chucre não é contra e defende que o parlamentar responsável pela relatoria do projeto, ainda não nomeado, faça a alteração pedida pelo ministério. Raquel lembra que o projeto do deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA), anexado ao de Chucre, já prevê a gratuidade.

De acordo com Raquel, o deputado petista elaborou seu projeto encampando também outras preocupações do governo, como a a questão dos loteamentos com controle de acesso, proibidos por ambos os projetos. A diferença é que o de Chucre dá prazo de cinco anos para a transição, algo que o Ministério das Cidades não aceita. O governo entende que, uma vez aprovada a lei, não podem mais surgir loteamentos fechados. Por isso mesmo, os dois projetos criam uma nova modalidade, a dos condomínios urbanísticos, em que as ruas internas são área comum, mas privada.

Mesmo que o projeto de Fernando Chucre tenha ganhado prioridade, como a negociação avançou muito na legislatura passada, Raquel acredita que o assunto demandará menos tempo para se chegar a um acordo definitivo entre todos os setores envolvidos.

Ela ressalta que, além de proporcionar um amplo processo de regularização fundiária urbana, os projetos estimulam a oferta de lotes para a baixa renda de duas formas. Um delas é fixando regras claras para a relação de consumo entre adquirentes e empresas produtoras de lotes urbanizados. A outra é desburocratizando o processo de aprovação dos projetos de novos empreendimentos pelo poder público, integrando as licenças necessárias. Hoje, o empreendedor precisa, além da licença urbanística, da licença ambiental. Como são dadas por orgãos distintos, é comum uma sair muito depois da outra ou nem sair.

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Habitação é um problema global

Tribuna da Imprensa, 27 de março de 2007
Pedro do Coutto 

Reportagem da jornalista Geralda Doca, "O Globo", 21/03, revela que o governo federal vai destinar numa primeira etapa, de imediato, 960 milhões de reais para obras de habitação e saneamento no Rio, a começar pelos morros da Rocinha, Alemão e Manguinhos. Investimentos na urbanização, certamente, embora não tenham sido ainda especificados.

O cronograma de desembolso deve ser revelado nos próximos dias. Esperemos que o projeto não fique apenas no papel, como em tantos outros episódios. As obras no setor habitacional destinam-se, indiretamente, a conter os índices de violência, que, como todos reconhecem, a começar pelo governador Sérgio Cabral, estão ultrapassando todos os limites na cidade. Falamos em habitação, saneamento, urbanização. Trata-se de um problema global. Ações isoladas geram efeitos igualmente isolados, restritos.

É indispensável uma nova política, muito mais ampla. Mas esta não depende apenas de obras, até porque urbanizar favelas exprime uma idéia essencialmente conservadora. Implica em se aceitar a situação existente e não procurar mudá-la. A favelização não é uma causa em si, mas uma conseqüência do empobrecimento coletivo que avançou de forma extraordinária com o movimento político-militar de 64 e com o estabelecimento do ciclo militar de poder. Até 1963, a participação da massa salarial no PIB era de dois terços. Caiu para um terço. A do capital, que era de um terço, duplicou.

A concentração de renda está aí. Foi agravada sensivelmente pelo governo Fernando Henrique e ainda não revertida pelo presidente Lula. Permanece. Ele, há poucos dias, ao anunciar os investimentos do PAC para o Rio de Janeiro, afirmou, aliás com razão, que os jovens precisam encontrar um novo caminho em suas vidas, o rumo do emprego que os distancia da possibilidade de caírem no crime. Está perfeita a colocação. Mas como fazer isso? Aí é que reside a questão.

Enquanto a política econômica privilegiar o setor financeiro, colocando-o em patamar acima dos investimentos econômicos, não haverá solução. Isso porque o setor financeiro emprega pouco. E a população brasileira cresce muito. A cada doze meses, a economia teria que gerar pelo menos um milhão de empregos novos. Para empatar. Mas o empate nos desclassifica. Temos que vencer. Ou seja, produzir mais de um milhão de novas colocações por ano no mercado de trabalho. Com emprego e com os salários deixando de perder para a inflação, as favelas não se expandem. Elas são no fundo uma conseqüência direta da pobreza.

Em 1961, por exemplo, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, mandou fazer um levantamento da população favelada. Responsável pelo trabalho, junto com o secretário de Planejamento Helio Beltrão, o chefe da Casa Civil, Rafael de Almeida Magalhães. Eram 300 mil os moradores de favelas para uma população de 3 milhões de habitantes, dez por cento. Hoje, a cidade do Rio possui 6 milhões de habitantes, o dobro de 61, mas as favelas e cortiços reúnem 1 milhão e 500 mil pessoas. Cinco vezes mais.

Está aqui a prova do processo de empobrecimento. Precisa ser contido e revertido. Enquanto isso não ocorrer, não haverá solução. Os investimentos previstos para a Rocinha, que é uma cidade, para o Complexo do Alemão, onde morreu o jornalista Tim Lopes, para o conjunto de Manguinhos, não vão mudar o panorama social. Ao contrário. As aplicações de capital não podem por si enfrentar a criminalidade.
Não podem simplesmente porque não influem nas relações de dependência física entre os opressores dos morros e os oprimidos.

Ela continuará. Não deve, portanto, ser alçada à categoria de uma política de governo. Significa uma ação tópica, emergencial, mais voltada para o marketing do que para uma solução concreta. Ninguém se iluda. Sem emprego e salário não se chega a lugar algum. Os fatos estão diariamente comprovando e ampliando esta certeza.

Não quer dizer que as aplicações de recursos na Rocinha, Alemão e Manguinhos não sejam positivas. São positivas. Mas um programa de governo exige muito mais. Exige impulso voltado para a reforma. Não uma aceitação, conformismo. O governador Lacerda pensou - Rafael de Almeida Magalhães pode confirmar - em remover as favelas cariocas. Hoje tal idéia não é mais possível.

Para remover 1 milhão e 500 mil pessoas seriam necessárias, de imediato, 300 mil residências, já que a média brasileira é de quase 5 pessoas por unidade. Mas a questão não é só essa. Trezentas mil residências onde? E o abastecimento d'água, energia elétrica? A rede de esgotos? A coisa não é nada simples. É extremamente complexa. Um desafio.

Porém para enfrentá-lo é necessário fazer isso, não se pode partir da idéia conservadora. Conformismo não funciona. É indispensável um projeto reformista de governo. Uma nova política ecnômica capaz de fortalecer o salário e o emprego. Sem emprego e sem salário não vamos sair do lugar, nem as pessoas das favelas.

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Manifestação contra ameaça de remoção em Jacarepaguá

Jornal do Commercio, 28 de março de 2007
Felipe Werneck

A ameaça de remoção levou ao asfalto cerca de 200 moradores de favelas próximas à Vila Pan-Americana, em Jacarepaguá, onde ficarão instalados os atletas dos jogos, em julho. A presença de policiais militares foi ostensiva e a manifestação, pacífica. A prefeitura pretende remover cerca de 500 casas da favela do Canal do Anil, que fica ao lado da Vila do Pan. O protesto durou cerca de duas horas.

Os manifestantes saíram da favela carregando faixas e caminharam pela Avenida Ayrton Senna até a entrada dos 17 prédios da vila, que têm 1.480 apartamentos vazios. Eles fecharam por alguns minutos a pista no sentido Barra da Tijuca-Linha Amarela, mas não houve tumulto. Um morador segurava a faixa "Pan para os ricos. Rua para os pobres".

Maria de Lourdes Gomes da Silva, de 55 anos, disse que recebeu proposta de indenização da prefeitura pela casa onde mora, no valor de R$ 6,2 mil, mas recusou. "Onde vou comprar uma casa com isso? Aqui não é área de risco, como eles dizem, é área para botar os ricos", declarou.

Os moradores prometeram repetir o protesto. "Essa obra da vila foi feita com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), mas as unidades foram vendidas para a classe média alta e eles querem aproveitar para fazer uma limpeza social. É pressão sobre os mais pobres. Essa política de exclusão é que gera violência", disse Roberto Maggessi, do Conselho Popular, que acompanhou o protesto.

Em nota, a prefeitura afirmou que as famílias serão indenizadas com recursos do governo federal, no valor de R$ 3 milhões. "Os moradores (...) estão sendo chamados para conversar com técnicos que prestam esclarecimentos sobre a área ocupada. O local é considerado de risco, com terreno instável, sujeito a inundações. É proibida a construção de moradias na área."

O vice-presidente da Federação das Favelas do Rio, José Nerson de Oliveira, afirma possuir laudos "comprovando que a área não é de risco". Mas ele já admite a possibilidade de mudança, desde que seja para um local próximo, de qualidade e com apartamentos de no mínimo 42 metros quadrados. "Não queremos remoção, mas um reassentamento digno", declarou. Segundo ele, a comunidade surgiu a partir de uma antiga colônia de pescadores, há 50 anos, e estão cadastradas 542 famílias.

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Show às avessas

Jornal do Commercio, Aziz Ahmed, 02/maio

A ONU prevê que cerca de 1,4 bilhão de pessoas, em todo mundo, estarão vivendo em favelas em 2020, a menos que algo seja feito para melhorar as condições de moradia dos pobres.

Como nada será feito, o jeito é conviver com esse espetáculo de crescimento

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Um apêndice da Rocinha nas barbas da prefeitura

Jornal O Globo, 05 de maio de 2007
Daniel Engelbrecht,

Construções de dois e três andares invadem área de preservação ambiental na encosta do Morro Dois Irmãos

Uma nova favela está surgindo em São Conrado, na encosta do Morro Dois Irmãos, a 200 metros da Rocinha. Pelo menos cinco construções consideradas irregulares, com dois e três pavimentos, já podem ser vistas no meio da mata, a apenas cem metros do Centro de Cidadania Rinaldo Delamare, da prefeitura. A Associação de Moradores de São Conrado (Amasco) teme que o surgimento de novos barracos transforme a área num prolongamento da Rocinha. A entidade também denuncia o desrespeito aos eco-limites na parte alta da comunidade, com a conseqüente invasão de uma área de preservação.

O surgimento das construções na encosta do Morro Dois Irmãos, atrás da escola de samba Acadêmicos da Rocinha e da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de São Conrado, foi detectado pela Amasco em 2004. Os prédios, com dois ou três andares, ficam distantes cerca de 200 metros do Túnel Zuzu Angel e da Rocinha. Aparentemente, estão habitados.

Primeira reclamação foi feita em 2004, diz morador

A primeira comunicação do fato às autoridades foi feita em 2004, através de uma carta enviada pelo presidente da Amasco, José Britz, no dia 29 de setembro, à diretora da 1ª Divisão de Licenciamento e Fiscalização (DLF) da prefeitura, Maria del Pilar Proa. Como não houve resposta, novos pedidos de providências foram enviados ao subprefeito da Zona Sul, Mario Filippo, nos dias 22 de fevereiro de 2005 e 5 de fevereiro de 2007.

- Não tivemos nenhuma resposta até hoje. Nosso temor é que essa ocupação vire uma nova favela. Se nada for feito, em um ou dois anos poderemos ter um prolongamento da Rocinha - afirma Britz.

Filippo garante que está atuando para resolver a questão. O subprefeito alega que uma operação de demolição de casas foi feita em 2005, após o recebimento da primeira denúncia, mas que as construções ressurgiram. De acordo com ele, nem todos os prédios na área são irregulares.

- Alguns são legais, mas, aparentemente, sofreram acréscimos sem autorização. Precisamos fazer as distinção entre eles e também saber se estão em terreno particular ou público. Por isso, pedi ao Instituto Pereira Passos (IPP) um levantamento cartográfico da área, que ainda não recebi - diz.

Procurado, o IPP informou que os mapas estão prontos e devem ser enviados em breve ao subprefeito. A Secretaria municipal de Meio Ambiente prometeu vistoriar o local.

Enquanto a ameaça de uma nova favela no bairro tira o sossego dos moradores de São Conrado, a Rocinha continua com sua expansão vertical e horizontal. Nas margens da Auto-Estrada Lagoa-Barra, é possível ver puxadinhos sendo erguidos em dois prédios. Já na parte alta da favela, construções irregulares seguem para o interior da Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) que circunda a comunidade, criada em 2003. Instalados para evitar a expansão dos barracos, os eco-limites estão sendo desrespeitados nas localidades da Divinéia e do Portão Vermelho.

De acordo com o presidente da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR), William de Oliveira, cerca de 40 famílias construíram casas além do limite. O local não possui saneamento nem iluminação. Da mesma forma que a nova favela de São Conrado, o problema da expansão também foi comunicado à prefeitura, sem que providências concretas fossem tomadas.

- A invasão foi divulgada pela TV há um mês e o poder público tem ciência. Mas nada foi feito - diz Oliveira.

A intenção da UPMMR, que não tem poder para fazer remoções, é que as famílias sejam contempladas com imóveis nos prédios residenciais que devem ser construídos como parte do projeto de urbanização da Rocinha, a cargo do governo do estado.

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R$ 9 milhões

Jornal O Globo,  09 de maio de 2007
Flavia Oliveira,

R$ 9 milhões. É o valor pedido por um terreno na...Rocinha. Preço e tamanho estão pintados no muro do terreno, na estrada da Gávea, em São Conrado, ao lado do baile Emoções.

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Arco Metropolitano: ocupação desordenada preocupa empresários

Jornal do Commercio, Gisela Álvares, 14/maio

Riscos de favelização nas imediações da rodovia que ligará Itaboraí a Itaguaí levam à implementação de debates sobre a obra

Evitar a ocupação desordenada no entorno do Arco Metropolitano é o grande desafio do Poder Público, que vem intensificando a participação em debates sobre a obra, confirmada pelo Governo federal e que simboliza a boa relação
do governador Sérgio Cabral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parlamentares e empresários têm alertado as autoridades públicas para os riscos da favelização nas imediações da rodovia que ligará Itaboraí a
Itaguaí, passando por toda a Baixada Fluminense. O objetivo é esgotar o debate, para reunir sugestões que contribuam para a formulação do projeto, previsto para ser entregue ao Governo federal em julho.

Na última quinta-feira, na audiência pública da comissão especial da
Assembléia Legislativa que acompanha os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no estado, o presidente da Federação das
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, advertiu para a necessidade de complementar os investimentos do setor produtivo que o Rio vai receber nos próximos anos com infra-estrutura.


"Haverá necessidade de deslocamento em massa de pessoas no entorno da Baía de Guanabara. É impensável o pólo de Itaboraí existir se não houver um trem de superfície de Niterói para lá, e chegando também à Baixada. Não é difícil
implantar, porque a área do entorno é plana", observou.

De acordo com o vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, o projeto do Arco Metropolitano prevê ainda a criação de um Plano Diretor Estratégico de Desenvolvimento Sustentável das regiões localizadas no
entorno da obra. Pezão tem pressa para iniciar a obra porque, segundo ele, a região onde será construído o arco está sendo superpovoada rapidamente e isto dificulta eventuais desapropriações. Já os prefeitos de Maricá, Ricardo
Queiroz, e Nova Iguaçu, Lindberg Farias, reivindicam políticas integradas para o desenvolvimento econômico e social da região pois temem que a estrada acabe por se tornar mais um elemento para a ocupação desordenada do solo.

sonho. "Estamos fazendo não apenas os estudos de impacto para a implantação dessa que é a principal obra logística do estado, mas, principalmente, um plano diretor de desenvolvimento da região. O Arco Metropolitano garantirá a
infra-estrutura necessária para o resgate de uma dívida antiga com as cidades próximas à capital", frisou Pezão.

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Júlio Bueno, disse que a proposta do estado é transformar o Arco em um grande direcionador de investimentos para a região, alertando os prefeitos para que também definam um plano de
ocupação do solo, a fim de oferecer áreas com toda a infra-estrutura para futuras indústrias que estarão se instalando na área metropolitana.

"A aliança entre o Governo federal, o estado e os municípios está garantindo o combustível ideal para o desenvolvimento de nosso estado. Hoje temos não apenas grandes investimentos, como o complexo petroquímico de Itaboraí e a Companhia Siderúrgica do Atlântico, a maior usina do grupo alemão Thyssen no mundo, mas uma boa infra-estrutura em nossos aeroportos, grandes projetos turísticos, com a construção de inúmeros resorts na Região dos Lagos", defendeu Bueno.

Eduardo Gouvêa Vieira disse que a Firjan vem fazendo estudos ao longo dos últimos anos, apontando a estrada como o grande responsável pelo fim do gargalo de desenvolvimento da área metropolitana. Ele aplaudiu a proposta do
deputado André Corrêa (PPS), da Comissão de Indústria e Comércio, de se buscar uma integração maior entre os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mostrando as vantagens da utilização dos portos fluminenses para o escoamento da produção.

"Não podemos esquecer que num raio de 500 quilômetros do Porto de Itaguaí temos 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. A construção do Arco Metropolitano garantirá o sucesso dos grandes empreendimentos, geradores de
trabalho, diretos e indiretos, e renda, assim como incentivará a implantação de pequenas empresas", disse o presidente da Firjan.

Segundo o superintendente da Caixa Econômica Federal, Domingos Vargas, ao contrário do que aconteceu na época da construção de Brasília, as obras que serão implementadas no Rio de Janeiro, tanto o Arco quanto o saneamento
básico e a construção de habitações, não resultarão em dívidas para o futuro.

Arco Metropolitano

O Arco Metropolitano engloba as rodovias BR-101/Sul (Rio-Santos), BR-116 (Rio-Bahia), BR-465 (antiga Rio-São Paulo), BR-040 (Rio-Juiz de Fora) e BR 101/Norte (Rio-Vitória).

>> Extensão: 72 quilômetros

>> Cidades cortadas pelo Arco: Itaboraí, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Seropédica, Itaguaí, Guapimirim e Japeri (com perspectiva de chegar a Maricá)

População da área do entorno do Arco: 2,2 milhões

Custo: R$ 800 milhões

Expectativa de veículos/dia: 35 mil

Vantagens: desafogar tráfego da Avenida Brasil e Ponte Rio-Niterói; desenvolver a região, facilitar o escoamento de cargas e permitir a exploração do Porto de Itaguaí.

Investimentos chegarão a US$ 28 bilhões em cinco anos

O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Júlio Bueno, observa que o Rio de Janeiro receberá, nos próximos cinco anos, de US$ 25 bilhões a US$ 28 bilhões em investimentos para exploração e produção de petróleo. Deste montante, US$ 20 bilhões são provenientes da Petrobras. "O maior problema que enfrentaremos é transformar estes investimentos em desenvolvimento econômico. Precisamos também melhorar a infra-estrutura no estado para
possibilitar o desenvolvimento do estado e do País", disse Bueno.

Entusiasmado com a perspectiva de desenvolvimento que a obra do Arco traz para a cidade, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, afirmou que haverá um salto positivo para a economia do município. No entanto, ele disse estar preocupado com a ocupação desordenada da cidade.

"Na região onde o Arco Metropolitano vai passar, quase 50% da população vive com esgoto a céu aberto e sem água. Não há nada comparado a isso no Brasil. Que o Arco é uma maravilha, não tenho dúvidas, mas não podemos deixar de falar de alguns problemas, como o caso da ocupação desordenada. A história da Baixada Fluminense mostra que a linha do trem trouxe o desenvolvimento e a ocupação desordenada. Não podemos deixar que o Arco traga isso novamente", alertou o prefeito.

O vice-governador Luiz Fernando Pezão assegurou a data de início das obras para novembro deste ano e afirmou que o empreendimento é a grande oportunidade de virada para a Região Metropolitana, pois gerará emprego e
renda para população. Prevenir contra a ocupação desordenada também faz parte dos planos do governo.

"Vamos iniciar essa obra de dentro para fora, deixando um canteiro central gramado para futuras expansões, evitando assim a ocupação desordenada", informou Pezão.

O vice-presidente da comissão especial e presidente da CPI da Infra-estrutura dos Pólos, deputado Luiz Paulo (PSDB), defendeu a criação de acessos definidos e controlados e a interligação do Arco ao sistema viário local através de uma via de acesso. "Se os acessos não forem bloqueados, isso irá promover o desordenamento da ocupação. Por isso, estamos propondo um projeto de lei para que o Poder Executivo faça um plano diretor que promova o desenvolvimento e não o inchamento da região", frisou Luiz Paulo.

O prefeito de Maricá, Ricardo Queiroz, reforçou a necessidade de inclusão da cidade e dos municípios da Costa do Sol no projeto do Arco Metropolitano.
Segundo ele, tal medida é importantíssima para fomentar o turismo. Ele encaminhou a proposta ao vice-governador.

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Favelização

Tribuna da Imprensa, Sérgio Nogueira Lopes, 22 de maio de 2007

A ONU prevê que cerca de 1,4 bilhão de pessoas em favelas em 2020, a menos que algo seja feito para melhorar as condições de moradia dos pobres. Como nada será feito, isso significa que cerca de 18% da população mundial
estarão favelizados, uma situação verdadeiramente inaceitável, enquanto as autoridades constituídas a tudo assistem, passivamente, em ritmo de Favela-Bairro, institucionalizando a deteriorização da cidade

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CPI vai apurar crescimento de favelas

Jornal do Commercio, Alexandre Rodrigues, 22/maio


Líder comunitário da Rocinha diz que aumento desordenado tem apoio de autoridades

A CPI da Desordem Urbana, instalada na Câmara de Vereadores para investigar
as causas da proliferação de infrações nas ruas da capital fluminense, vai apurar também a desorganização em favelas, áreas marcadas pela informalidade. Ao iniciar, na semana passada, uma série de depoimentos de líderes comunitários da Rocinha, a maior favela da cidade, na Zona Sul, a CPI levou o caso à polícia. Ontem o presidente da Associação Pró-Melhoramentos da Rocinha, William de Oliveira, confirmou ter sofrido pressões e até ameaças físicas ao tentar coibir o crescimento imobiliário
irregular na comunidade.


Segundo Oliveira, o crescimento desordenado da comunidade conta com o incentivo de autoridades municipais. Ele confirmou o que dissera na última sexta-feira Carlos Costa, outro líder comunitário da Rocinha. Os dois, no entanto, preferiram não esclarecer de onde teriam partido ameaças que receberam de homens armados. As ameaças, segundo eles, aconteciam sempre depois que faziam queixas formais à prefeitura sobre construções irregulares.

Diante das denúncias, a vereadora Aspásia Camargo (PV), presidente da CPI, encaminhou a denúncia para abertura de inquérito pela delegacia da Gávea (15º DP), onde Costa e Oliveira registrariam sua versão ainda ontem. "Confirmo as ameaças, mas não confirmo suas origens. Tudo será esclarecido ao longo das audiências da CPI, pelo MinistérioPúblico e pela investigação policial", afirmou Oliveira.

Costa também não quis esclarecer as ameaças. "Não vou entrar nesse jogo. O importante é saber a causa delas", afirmou. Uma das ameaças teria ocorrido por conta da transformação de um trailer de lanches em quiosque de alvenaria ao lado da administração regional e de um posto de saúde da prefeitura com o consentimento das autoridades municipais. No depoimento que prestou à comissão ontem pela manhã, Oliveira disse que funcionários da administração regional da Rocinha encaminham moradores a um escritório de engenharia para a obtenção de plantas, sem fazer objeções a obras irregulares. A abertura de comércios ou construções sobre lajes que aumentam o número de pavimentos das casas sem qualquer controle são alguns dos fatores que têm contribuído para a acelerada verticalização da Rocinha.

DENÚNCIAS. O prefeito Cesar Maia (DEM), em sua newsletter diária, desqualificou as denúncias e acusou a imprensa carioca de ter "comprado uma matéria enganosa". Ele atribui as denúncias a uma disputa política entre duas vereadoras que cultivam votos na Rocinha e influenciam líderes comunitários. O prefeito demonstrou ainda não ver nada de errado na ocupação do espaço referido pelo tal quiosque de lanches: "Ainda há outro de que curiosamente nem se falou."

Os líderes comunitários disseram que o atual administrador regional da Rocinha, Jadir Guedes, foi indicado para o cargo por uma vereadora. Para o relator da CPI da Desordem Urbana, vereador Rogério Bittar (PMDB), os depoimentos cada vez mais confirmam sua tese de que boa parte da falta de autoridade na cidade decorre do loteamento de cargos praticado pelo prefeito Cesar Maia. Oliveira descreveu uma série de irregularidades que envolvem a coleta de lixo, a ocupação de áreas públicas e outros inconvenientes para a comunidade e afirmou que nunca viu a prefeitura aplicar uma multa sequer.

A CPI da Desordem Urbana ouviu ontem representantes de entidades de turismo, que contaram que problemas como calçadas sujas, população de rua, táxis irregulares, falta de informações ao turista e sinalização inexistente estão prejudicando o setor. A presidente da Associação Brasileira de Empresas Organizadoras de Congressos (Abeoc/RJ) disse que o Rio perdeu, no ano passado, seis congressos internacionais para São Paulo. O Rio foi ultrapassado pela capital paulista na liderança em eventos internacionais na América Latina.
 

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Fazenda socorre obras do Favela-Bairro

Jornal do Brasil, Fernando Nakagawa, 24/maio


A prefeitura do Rio de Janeiro conseguiu o aval do governo federal para tomar empréstimo de US$ 180 milhões e, assim, iniciar a terceira fase do Favela-Bairro. A intenção do prefeito Cesar Maia é iniciar as obras até três meses depois da aprovação final do Senado, que deve acontecer em 15 dias.

Com a terceira fase, a prefeitura quer atingir o primeiro milhão de pessoas beneficiadas no trabalho de urbanização de favelas. Até agora, 646 mil pessoas já foram incluídas nas ações do Favela-Bairro e a terceira fase terá mais 400 mil.

- Tivemos de pedir a aprovação com rapidez porque a segunda fase só tem mais US$ 20 milhões a serem aplicados e se a aprovação não saísse, poderíamos ter descontinuidade do programa - disse o prefeito depois de reunir-se com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

A nova etapa tem custo de US$ 300 milhões, sendo US$ 180 milhões do BID e US$ 120 milhões como contrapartida da cidade. O pedido da aprovação do empréstimo junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) esperava
autorização do Tesouro Nacional há mais de quatro anos, desde o final do governo Fernando Henrique Cardoso. Mas o dinheiro não era liberado porque uma medida provisória da época restringia a liberação de recursos para obras novas. E a terceira fase, apesar de ser a continuidade de um programa antigo, era considerada um novo empreendimento porque envolve novos locais.

Cesar Maia também pediu autorização para contrair empréstimos de US$ 60 milhões para educação infantil e US$ 254 milhões para a despoluição das lagoas da Baixada do Jacarepaguá. Para os dois pedidos, no entanto, a resposta foi negativa. Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Tarcísio Godoy, os pedidos serão estudados pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN).

- Para esses projetos, infelizmente, tivemos luz amarela - disse Godoy.

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Dez mil casas populares à vista

Extra, 19/maio


Com extinção da RFFSA, União pode usar bens abandonados para erguer moradias

Os imóveis da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) poderão se transformar em moradias populares para famílias de baixa renda. O Senado aprovou o Projeto de Lei de Conversão 5/2007, proveniente da Medida Provisória 353/2007, que trata do encerramento do processo de liquidação da RFFSA, com extinção definitiva da empresa.

O projeto será submetido ao presidente Lula. Se for sancionado, serão repassados para o patrimônio público da União todos os imóveis não- operacionais da empresa para serem direcionados a programas de habitação de interesse popular, com o objetivo de atender famílias de baixa renda.

Estima-se que a empresa tenha no Rio cerca de dez mil imóveis não-operacionais, ou seja, não usados para o funcionamento direto da rede. Após serem assumidos pelo patrimônio público, os imóveis poderão ser transformados em residências para serem vendidos ou leiloados.
 

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Alemão: faltam policiais para vencer o tráfico - O Globo Online

Publicada em 27/05/2007 às 11h07mO Globo

RIO - Pelo menos três especialistas em estratégia militar e segurança são unânimes no diagnóstico da operação nas 12 favelas: faltam policiais e equipamentos para garantir a ocupação da região, conforme reportagem publicada neste domingo no jornal O Globo . Frente ao déficit da tropa, o consultor em segurança Vinícius Domingues Cavalcante - que tem o certificado da American Society Industrial Security, em Virgínia (EUA) - sugere o emprego de operações psicológicas contra os traficantes que dominam o complexo de favelas.

- É evidente que faltam policiais e equipamentos para tomar do tráfico um complexo com quase 200 mil habitantes. Seria necessário pelo menos mil homens bem treinados para fazer o trabalho - disse Vinícius
Cavalcante.

O diretor do Departamento de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ronaldo Leão também identifica a falta de homens e equipamentos adequados para ocupar o Alemão. Na opinião dele, um trabalho integrado com as Forças Armadas poderia suprir o problema a curto prazo.

- O Exército não é treinado para fazer o trabalho da polícia, mas, em situações como a enfrentada hoje no Alemão, os militares poderiam auxiliar num cerco. O ideal seria um grupo subir o morro em veículos blindados e outros descer de helicóptero no alto do maciço. Esse é um outro problema já que a polícia não conta com aeronaves blindadas - disse Leão.

Vice-presidente do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos, o coronel do Exército Amerino Raposo endossa a análise feita por Ronaldo Leão. O militar, que lutou na Segunda Guerra Mundial e foi superintendente da Polícia Federal, na década de 60, não acredita em mudanças no Complexo do Alemão sem investimento maciço na área social.

- Não vai adiantar nada ocupar a comunidade apenas com a polícia. Não há efetivo para manter esse tipo de operação por muito tempo. É preciso urbanizar o complexo, transformá-lo num bairro, dar escola, saúde e perspectiva de futuro aos jovens. Caso contrário, o tráfico volta - argumentou o oficial.

Comentários

Hermann Tomás Mateo Mathow Jr. - e-mail
28/05/2007 - 09h 59m
Botar exercito na Rua é o maior erro que poderiamos fazer. No máximo ossas Forças armadas devem providenciar a e está tendo dezenas de baixas. Se o exercito náo der conta perdemos nossa última linha de defesa... E aí?

Fernando Luis Monteiro Soares - e-mail
28/05/2007 - 09h 45m
Anna Maria, o noticiário, mas também inquérito da Polícia Federal indicam que são policiais militares que "traficam" as armas. Existem rotas via exércitos latino-americanos, entre outras alternativas. O que interessa, no entanto, é que a criminalidade nas favelas é apenas a ponta deste sistema. Combatê-la é "enxuagar gelo"...

Fernando Luis Monteiro Soares - e-mail
28/05/2007 - 09h 41m
Anna Maria, não nos interessa a existência da criminalidade, mas tampouco estamos convencidos que a atual estratégia do governo trará resultados. Não acreditamos que vão conseguir reduzir concretamente a criminalidade por que usam estratégias equivocadas e racistas! As vítimas deste processo são os moradores inocentes, alunos sem aulas,etc ampliando o processo de exclusão social e, ciclicamente, de marginalização.


Pensator - e-mail
28/05/2007 - 09h 36m
Está faltando é inteligência. Quando prenderam o Elias Maluco, nenhum tiro foi disparado. Por que não adotam a mesma estratégia que foi utilizada naquela época. Cadê os intelectuais da segurança do governador Sergio Cabral?

Fernando Luis Monteiro Soares - e-mail
28/05/2007 - 09h 35m
O que os especialistas não dizem é que, mesmo que consiga invadir, a PM não têm qualquer condição de resistir a uma ocupação prolongada. O que se viu na Rocinha, por exemplo, foram invasões de casas de moradores, para roubo de mantimentos entre outras coisas... Qual será a tática empregada pelo governo para esta "ocupação"? Seria a
"institucionalização branca" das milícias?

José Fernandes - e-mail
28/05/2007 - 09h 31m
Até que enfim um depoimento sensato, frio, sem o emocionalismo que caracteriza tantos comentários aqui nesse espaço virtual. O do coronel Amerino Raposo - parabéns ao mesmo ! Minha contribuição : DESCRIMINIZAÇÃO DAS DROGAS, para acabar com o lucrativo comércio proibido, e SUBSTITUIÇÃO IMEDIATA DO DINHEIRO
FÍSICO POR TRASAÇÕES VIRTUAIS (CARTÕES BANCÁRIOS), acabando com os roubos por causa da identificação exigida para essas transações.

paulo cesar carneiro - e-mail
28/05/2007 - 09h 23m
por que não as foças armadas,os cara passam o dia todo fazendo nada e ainda tenho que pagar para eles,e o que o rio vive hoje é umaguerra.só os nossos governantes não ver isso.senhores governantes peloo amor de Deus botem essa tropas para trabalha!

Fernando Luis Monteiro Soares - e-mail
28/05/2007 - 09h 16m
Não faltam policiais. Os "especialistas" fazem análises fragmentadas, compartimentadas. Falta inteligência. Uma ocupação deveria começar com a articulação dos atores sociais locais em torno de um plano dedesenvolvimento, a partir dos recursos do PAC. Como o envolvimento eparticipação da população, projetos para prevenção e atendimento de sáude bio-psico-social para egressos da criminalidade, teríamos umprimeiro passo para um processo realmente eficaz de redução e controle as violências.

Rogerio Vitor de Freitas Junior - e-mail
28/05/2007 - 08h 52m
O dinheiro que não foi gasto com educação e saúde na passado, vai ter que ser gasto agora com munição e armamento para matar esses marginais. Tenho vergonha de fazer parte de um povo tão burro, é muito lamentável.

anna maria moura brasil - e-mail
28/05/2007 - 08h 52m
A aguem interessa que os bandidos do trafico continue traficando- Sao mais bem aparelhados do que a policia- pegunta: quem faz o trafico de armas para os bandidos?pobrezinhos... nao sabem responderou nao querem! Se queriam ja tinham ocupado a favela e obrigariam a confessar... mas ate quando nos brasileiros devemos acreditar nesta conversa mole... e ficarmos de braços cruzados?
 

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Leme sofre com a desvalorização

Jornal do Brasil, Breno Costa e Duilo Victor, 01/jun


Mais do que preocupados com a expansão do Morro do Chapéu Mangueira, os
moradores do Leme se preocupam com a desordem que vem tomando conta do  bairro. Carros em fila dupla, chuveiros instalados na areia, menores nos sinais e flanelinhas tiram o sono de quem escolheu o bairro para viver. Os tiroteios desta semana trouxeram à tona um problema mais grave: a falta de segurança. O pouco policiamento já faz com que os imóveis sofram com a desvalorização.

- Não há duvida de que o Leme ainda é uma área nobre do Rio. Mas ali sempre
foi uma região pacata e, hoje em dia, o tráfico de drogas tem espantado os
moradores e afetado o mercado imobiliário. Posso dizer que a região estaria 20% mais valorizada se o tráfico não estivesse por lá - diz George Masset,
presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Imóveis (Abadi). -
Normalmente, demoramos 10 meses para vender um imóvel. No Leme e em outras áreas que sofrem com a violência, esse tempo aumenta para 14, 15 meses.

Moradora do Leme há 42 anos, a aposentada Gracie Pagetti, 61 anos, não reclama apenas da violência, mas da falta de ordem nas ruas e do pouco
policiamento.

- A polícia é mal-equipada e o prefeito não consegue pôr ordem nas ruas - diz Gracie. - Tenho saudade de um Leme que não volta mais, quando o Ari Barroso comia bife acebolado no Alpino e o Roberto Carlos fazia show no clube da região.

Criada no bairro, a psicóloga Claudia Maria, 45, que hoje mora em Copacabana, ainda vai ao Leme para visitar os pais.

- Vivi em uma época em que o bairro parecia um condomínio fechado. Havia poucos carros nas ruas, menos barulho e menos sujeira - conta Claudia. - Hoje, vejo as estratégias dos meus pais, que mantêm uma casa em Arraial do Cabo para poder mudar se a violência realmente tomar conta do Leme. A gente imagina que com o Forte do Exército a segurança seja maior. Mas, infelizmente, não é o que acontece.

Mesmo afastada do burburinho do comércio, Ana Cristina Pastana, 34, gerente de uma pet shop na Rua Gustavo Sampaio, já viu que o bairro tem sofrido com os reflexos da violência.

- O Leme é como Copacabana e abriga muitas pessoas idosas, que ficam cada
vez mais fragilizadas por causa da violência:

Tendo de pagar entre R$ 650 e R$ 2.100, em média, de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), os moradores reclamam que há alguns anos o bairro
vem deixando de ser pacato.

- Já morei na Urca e antigamente o Leme tinha o mesmo perfil desse bairro. Hoje, infelizmente, já temos de conviver com o tráfico e com a desordem - resume a moradora Gilda Pimentel.

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Uma nova Rocinha em 40 anos

O Globo, Fernanda Pontes e Ruben Berta, 03/jun

Pesquisa revela que quatro favelas da Zona Sul cresceram 81% em quatro
décadas

Às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, que será comemorado na terça-feira, uma parceria inédita entre o Ministério Público (MP) estadual e o Exército revela o tamanho do estrago causado na Mata Atlântica pelo aumento da favelização numa das áreas mais nobres do Rio: a Zona Sul. O levantamento, com base em imagens aéreas, mostra que o crescimento de quatro comunidades - Rocinha, Vidigal, Chácara do Céu e Parque da Cidade - consumiu uma área verde de 548 mil metros quadrados entre 1965 e 2005. O espaço equivale praticamente ao tamanho da Rocinha em 1965: 519 mil metros quadrados.

De acordo com a pesquisa, a área das quatro favelas juntas cresceu 81,5% em
40 anos, o equivalente ao terreno do Parque Lage ou a 64 campos de futebol como os do Maracanã. Em 1965, as comunidades tinham 672 mil metros quadrados passando para 1,22 milhão em 2005.

- A impressão que temos é que, ao longo desses anos, os moradores dessas
comunidades viveram à margem de direitos e deveres. E isso certamente não
ocorreu por culpa deles, mas sim por causa do poder público. O estudo não
deve ser encarado como um objeto de polêmica, mas como um ponto de partida
para uma nova realidade - comenta o promotor Carlos Frederico Saturnino, da
equipe de meio ambiente do MP.

Apesar de ser menor do que a Rocinha, o Vidigal foi a favela que mais cresceu horizontalmente tanto em números absolutos quanto percentualmente (263 mil metros quadrados ou 216%). O levantamento mostra que o período crítico ocorreu entre 1965 e 1985, quando a comunidade triplicou de tamanho, passando de 121 mil para 376 mil metros quadrados. Nos 20 anos seguintes, o
crescimento foi de pouco mais de oito mil metros quadrados.

- Na verdade, acredito que o crescimento maior tenha acontecido entre o fim da década de 70 e o início da década de 80. Foi a época do fim do Milagre Econômico, em que a população de baixa renda não conseguia mais comprar
lotes na periferia e passou a se concentrar na Zona Sul. Estavam atrás do mercado de serviços oferecido pela classe média, mudando o perfil mais operário da década de 60 - analisa o coordenador do Observatório de Metrópoles do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro.

Vidigal: população e área triplicaram

Ribeiro diz ainda que o início da década de 80 foi crucial na mudança da curva populacional da cidade. No estado, este foi o período de transição dos governos Chagas Freitas e Leonel Brizola.

- Foi a época em que a população das favelas passou a crescer num ritmo maior do que a do asfalto.

Com base em dados dos censos de 1960 e 2000 do IBGE, o GLOBO comparou ainda os crescimentos populacional e territorial nas quatro comunidades. Na
Rocinha, por exemplo, embora a favela ocupe nos dias de hoje uma área 48%
maior que na década de 60, seu espaço interno é bem mais adensado. Em 1965,
havia aproximadamente 35 metros quadrados para cada habitante. Já em 2005, a estimativa é de 14 metros quadrados para cada morador. Nesse período, o
número de moradores na comunidade saltou de 14.569 para 53.338, um crescimento de 266%.

O adensamento da Rocinha não significa, porém, que a qualidade de vida dos
moradores tenha piorado em relação aos anos 60. Os barracos de madeira deram
lugar a construções de alvenaria, iniciando o processo de verticalização. No
Vidigal, a expansão horizontal da favela acompanhou o aumento da população.
Quarenta anos depois, ainda há cerca 40 metros quadrados para cada morador.
Nesse período, tanto os números de habitantes quanto os de território triplicaram.

O estudo, que será apresentado oficialmente na terça-feira, é um projeto-piloto de parceria entre o MP estadual e a 5ª Divisão de Levantamento do Exército, responsável pela área de cartografia da instituição. Foram escolhidas as quatro comunidades da Zona Sul por estarem situadas num mesmo perímetro. Estão previstos novos levantamentos no Morro da Babilônia, no Leme.

MP critica a fiscalização

De acordo com o promotor Carlos Frederico Saturnino, a idéia de calcular a área de crescimento das favelas surgiu por causa da grande quantidade de inquéritos em andamento para apurar a depredação de Mata Atlântica nessas regiões. No caso de Rocinha e Vidigal, há três ações civis públicas na Justiça desde 1991, sem sequer uma sentença em primeira instância. Como a perícia nas favelas é de difícil realização, principalmente por questões de segurança, uma saída encontrada foi o uso de imagens aéreas para mostrar o desmatamento.

Nos próximos dias, Saturnino vai encaminhar o estudo aos órgãos ambientais, sociais e de habitação do estado e do município, com uma série de recomendações:

- Em primeiro lugar, é preciso implantar os eco-limites em todas as comunidades. Na Rocinha, por exemplo, eles não existem em todo o perímetro. As construções fora desses limites devem ser demolidas e os moradores
reassentados, de preferência, na própria comunidade. E o poder público precisa oferecer a todas essas pessoas serviços semelhantes ao da cidade formal, inclusive com o direito de propriedade, para que possa cobrar deveres.

Saturnino afirmou que, se nenhuma providência for tomada, o MP poderá entrar com novas ações na Justiça. Ele citou exemplos recentes de descaso, principalmente por parte de autoridades do município:

- Na Rocinha, há pelo menos cem casas fora da área demarcada pelos eco-limites e nenhuma providência é tomada. Na Chácara do Céu, temos informações de que a expansão da favela é facilitada pela falta de controle no Parque Dois Irmãos. Os caminhões com material de construção estariam entrando por uma rua que passa por dentro do parque. A prefeitura não consegue controlar o acesso, que fica aberto 24 horas para quem quiser entrar.

A Secretaria municipal de Meio Ambiente confirma que os eco-limites foram desrespeitados na Rocinha, mas que as construções já teriam sido embargadas. Ainda segundo a prefeitura, a fiscalização por técnicos é feita periodicamente, mas nas vistorias aéreas nem sempre é possível verificar se há construções no meio da mata. Em alguns locais, o trabalho ainda é prejudicado pela falta de segurança.

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Ilegalidade oficial na Rocinha

O Globo, Elenilce Bottari, 19/maio

Moradores denunciam que funcionários da prefeitura incentivam crescimento
irregular da favela

A vereadora Aspásia Camargo (PV) encaminhou ontem à delegada Márcia Julião,
titular da 15ª DP (Gávea), denúncias de irregularidades contra o administrador regional da Rocinha, Jadir Guedes, e dois engenheiros da prefeitura que atuariam na mesma Região Administrativa (RA). As denúncias foram feitas por líderes comunitários da Rocinha durante audiência da CPI do "Ilegal. E daí?", instaurada pela Câmara dos Vereadores para apurar a desordem urbana no Rio. Segundo o presidente da Associação de Moradores do Laboriaux, Carlos Costa, em vez de reprimir, o administrador da Rocinha estaria estimulando ou apoiando construções ilegais.

Costa afirmou que teria sofrido ameaças e constrangimentos, por tentar impedir o crescimento de construções irregulares que supostamente teriam apoio de representantes da prefeitura. Segundo ele, o entorno da RA foi transformado num "cinturão da desordem urbana". Costa disse que, em novembro passado, um trailer de alumínio virou uma construção de alvenaria, onde funciona a Vitória Lanches. De acordo com o dirigente da associação, a lanchonete foi erguida num trecho de calçada ao lado da sede da RA e em frente a um posto de saúde.

Bem abaixo da RA, um terreno que abrigou uma praça foi parcialmente ocupado
por uma oficina e um estacionamento. Segundo o líder comunitário, no alto da
Rocinha também está sendo erguida uma nova construção ilegal, no terreno onde seria construído um mirante.

Prefeito: líderes comunitários incentivam ocupação irregular

O prefeito Cesar Maia afirmou que o encaminhamento do caso para a delegada
Márcia Julião veio em boa hora. Segundo ele, o administrador regional Wadir
Guedes informou que os líderes comunitários é que estariam incentivando a
construção irregular.

- Ergueram barracos com a expectativa de ganharem apartamentos no Projeto
Rocinha. Dizem que foi um presidente de associação quem estimulou. A iniciativa da vereadora é muito importante, e uma investigação policial
poderá apontar responsabilidades. Além disso, há conflitos entre igrejas e associações, o que parece ser o atual caso, pois o administrador é religioso - denunciou o prefeito. - Por que esse imbróglio surgiu agora e não surgiu meses atrás? Elementar: foram criadas expectativas de obras, de intervenções e de moradias, muito antes de serem realizadas. E há disputa de poder ou influência sobre elas. A delegada deve fazer urgentemente essa investigação.

Outro líder comunitário, o presidente da União Pró-Melhoramentos da Rocinha,
William de Oliveira, pediu para falar reservadamente com a presidente da CPI, depois de perceber a presença, no plenário, do administrador regional e da vereadora Liliam Sá, que teria indicado Jadir para o cargo. As denúncias de William serão conhecidas na segunda-feira, quando ele prestará depoimento oficialmente na CPI.

- Eles apresentaram uma farta documentação, mostrando que, apesar das denúncias de construções irregulares no local, a prefeitura nada fez - observou Aspásia.

A vereadora suspeita que, devido ao plano de reurbanização da Rocinha, algumas pessoas estejam tentando fazer especulação imobiliária.

- É uma situação nova. Sabíamos que havia uma certa complacência, uma falta de fiscalização, mas é um fato inusitado. Enquanto líderes comunitários tentam organizar aquele espaço, representantes oficiais da prefeitura estariam incentivando as irregularidades - comentou Aspásia.

Ela adiantou que chamará para depor o administrador regional e os engenheiros citados nas denúncias. Além de encaminhá-las para a delegada Márcia Julião, a vereadora afirmou que também pedirá ao Ministério Público que investigue o caso.

Segundo Aspásia, além de investigar denúncias de irregularidades na cidade, a CPI pretende promover mudanças de comportamento, visando à melhoria do espaço urbano da cidade. Criada há três semanas pela Câmara, a CPI do "Ilegal. E daí?" já recebeu cerca de 160 telefonemas, com reclamações, sugestões e denúncias sobre a desordemurbana e a privatização dos espaços públicos. O telefone do Disque-Desordem é 3814.2901.

 

 

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